🌺 Capítulo 1 - Adrielle Machado 🌺
__ Senhora, o translado de sua bagagem atrasou. Aguarde, por favor.
Ouço a explicação objetiva vinda da atendente do Aeroporto Internacional de Dubai pela terceira vez nessa tarde.
Me despedi de Abigail e Susu na primeira troca de aviões. Elas seguiram para os EUA ao encontro de Kayke. A muito contragosto minha irmã partiu. Ficou o quanto pôde aguardando o embarque no voo que me trouxe aos Emirados Árabes.
A princípio, tudo ocorreu como o combinado entre a agência e a empresa contratante. Porém, a demora exaustiva no aeroporto está começando a me deixar ansiosa.
A maioria dos passageiros que chegaram em meu voo já partiram para seus destinos. Poucas pessoas aguardam no saguão.
Caminho de um lado para o outro inquieta. Meu tornozelo começa a fisgar. Precisei me levantar da poltrona onde aguardava para evitar os olhares insistentes de um sujeito de meia-idade.
O homem parece ser nativo dos Emirados, nota-se pela aparência e vestimenta. Apesar da elegância, não demonstra a mínima discrição. Me analisa de cima a baixo como se avaliasse uma mercadoria.
Meu sangue começa a ferver. Paro e o enfrento com meu melhor olhar gélido. Ergo o queixo com segurança. Prometi a mim mesma que jamais permitirei que um homem me oprima novamente. Finalmente ele desvia o olhar.
__ Ouça, estou há quase duas horas aguardando minha bagagem.__ Me aproximo do balcão novamente. __Estou cansada e muito aborrecida com a falta de explicação de vocês.
Uso um inglês "enferrujado", mas acho que a atendente entende o que digo. Acena a cabeça, se vira e conversa baixo com outro atendente. Chama um terceiro, que após alguns minutos cochichando em árabe se aproxima do balcão onde aguardo.
__ Boa tarde, senhorita.__ Se dirige a mim em um português claro.__ Lamentamos a demora. Estávamos apurando o que aconteceu com sua bagagem. Infelizmente, sua mala foi desviada durante o translado.
__Quê?! E agora? Onde ela está?__ Uma sensação de impotência toma conta de mim.
__Não fazemos ideia, senhorita. Estamos investigando.
__ Como assim não fazem ideia?! O que vou fazer sem minhas coisas?__ Começo a elevar o tom de voz.
__Acalme-se, senhorita. Nos responsabilizaremos por todos os danos materiais e morais.__ Ele olha de um lado para o outro.
__ Não está entendendo. Tinha objetos pessoais de extrema importância naquela mala. Vai demorar para restituí-los.__ Apoio braços e cabeça no balcão.
__ Entendo, senhorita. Garanto que faremos o possível para ressarcí-la. Já estamos entrando em contato com um transporte que a levará a um hotel totalmente pago pela empresa.
__ Não acredito que isso está acontecendo comigo.__ Passo a mão por meus longos cabelos lisos e castanhos. Giro pensativa em busca de uma solução. Volto e puxo o braço do atendente. __ Meus remédios para dor estavam naquela mala. Não posso ficar sem eles e não sei como os conseguirei aqui.
__ Senhora, acalme-se.__O atendente desvia o olhar sem jeito.__ Tudo se resolverá da melhor forma.
__ Como pode me garantir isso se nem sabem onde foi parar a minha bagagem?
Um dos seguranças do aeroporto se aproxima ao ouvir minha voz alterada.
__ Com licença, o que está acontecendo?__ Outro passageiro intervém. O atendente parece conhecê-lo, pois arregala um pouco os olhos.
Viro em direção ao recém chegado. Ele tem traços parecidos com os do homem de meia idade que me encarava. Deduzo que também seja árabe. Porém esse é bem mais jovem e seu olhar parece amistoso.
__ Nada demais, senhor.__ O atendente acena a cabeça como em uma reverência. __ Já estamos providenciando tudo para a estrangeira. Nos perdoe pelo transtorno.
__ Nada demais uma "ova"! E por que está pedindo perdão a ele? Perdem minha bagagem e ainda me tratam como um estorvo? A prejudicada aqui sou eu! Não venha "passar panos quentes" na incompetência de vocês.__ Sinalizo com o dedo englobando todos.
__ Sinto muito. Não entendo, senhorita!__ O atendente fica atordoado.
Em contrapartida, o outro passageiro me observa interessado com um leve sorriso.
__ É brasileira, não é?__ A atenção totalmente voltada a mim.
__ Sim, por quê?__ O observo séria e desconfiada.
__ Tenho bons amigos brasileiros. __ O árabe abre mais o sorriso e estende a mão de um jeito bem ocidental. __ Permita me apresentar. Sou Kaled Al-Abadi.
__ No momento, só quero ir para um hotel e esperar que encontrem minha bagagem.__ Ignoro sua mão.
__ Senhorita! Esse é o Sheik de Durab fi Alsahra...__ O atende me observa indignado.
__ Que bom para vocês. Quando o transporte chega?
__ Que desrespeito!__ O atendente sacode a cabeça inconformado.
__ Acalme-se. __ O jovem árabe toca a mão do atendente. __ Resolveremos isso.
__ Como preferir, senhor. __ Outra reverência.
Toda essa bajulação já está se tornando algo chato.
__ Almir!__ O jovem Sheik chama alguém.
Imediatamente surge o homem de meia-idade que me encarava mais cedo.
__ Pois não, senhor.__ Almir não tira os olhos sinistros de mim. Agora de perto, noto que são de um tom castanho-avermelhado como nunca vi.
__ Perderam a bagagem desta jovem.
__ Ah, que desgraça! __ Almir exclama de forma teatral.
__ Providencie tudo o que ela precisa, além de uma suíte no melhor hotel.
__ Sim, senhor.__Almir faz uma reverência e saca um celular.
__ Desculpe todo esse transtorno. __ Kaled Al-Abadi estende novamente a mão.__ Seria muita audácia perguntar seu nome para providenciarmos tudo?
__ Adrielle Machado. __ Aperto sua mão com má vontade.__ Não se incomode. O aeroporto tem obrigação de providenciar tudo o que preciso. Conheço meus direitos.
__ Que desfeita imperdoável!__ O atendente parece cada vez mais escandalizado com o que falo.
Kaled Al-Abadi dessa vez diz algo em árabe ao atendente que o faz se afastar respeitosamente.
__ Ouça senhorita Machado, está certa em defender seus direitos. Mas a alerto porque conheço os serviços oferecidos. Irão hospedá-la em um hotel econômico e talvez demorem para reaver seus pertences.
__ Não me importo em ficar em um hotel popular. Estou aqui a trabalho. Em breve retornarei ao Brasil.
__ Aceite minha assistência como um pedido de desculpa pelo prejuízo que sofreu.
__ Porque insiste tanto? Qual sua intenção?__ Dou um passo atrás.
__ Sempre admirei o espírito espontâneo dos brasileiros. Dou a palavra que minha única intenção é ajudar. Como disse, tenho vários amigos de seu país. Acabo de retornar de uma temporada nos EUA. Cursei Relações Internacionais na Universidade de Yale.
__ Por isso fala tão bem inglês e português. __ Concluo baixando um pouco a guarda.
__ Obrigado. Essa é uma das exigências de minha família.
__ Entendo... __ O examino com mais atenção, porém com cautela.
Kaled Al-Abadi é um homem jovem. Talvez de vinte e poucos anos. Apesar dos traços típicos dos homens do Oriente Médio, veste-se e comporta-se como um ocidental. Mas esse fato não anula um ar meio que principesco. Realmente parece ser uma espécie de líder ou nobre.
__ Tudo já foi providenciado, senhor.__ Almir se aproxima.
__ Ótimo!__ Kaled sorri satisfeito.
__ Senhor Sheik...__ Mais uma vez tento recusar sua ajuda.
__ Kaled. Por favor, me chame de Kaled.
__ Certo. Kaled, agradeço sua boa vontade, mas não me sinto confortável aceitando ajuda de um estranho. Prefiro ligar para minha agente. Tenho certeza que ela dará um jeito.
__ Tem muita sorte em cair nas graças do Sheik de Durab fi Alsahra, senhorita. Deveria se sentir grata.__ Almir me repreende.
__ Almir, deixe-a. Respeito sua vontade, Adrielle.__ Kaled faz uma reverência com a cabeça.__ Estarei por um tempo ainda no aeroporto, se mudar de ideia, basta me procurar. __ Kaled se afasta seguindo pelo saguão e se misturando a outros passageiros.
__ Deveria aproveitar o privilégio que recebeu, senhorita. A família Al-Abadi faz parte da nobreza. São conhecidos pela fortuna incalculável e a honra com que governam seu pequeno país há gerações. __ O atendente balbucia enquanto assino os documentos de extravio de bagagem.
__ Não vejo privilégio algum em ficar devendo favores a estranhos. __ Resmungo.
O atendente sacode a cabeça como se me achasse uma tola.
Me afasto do balcão agora mancando muito pelo tempo em pé. O vai e vem de passageiros no aeroporto desconhecido me deixa desnorteada. Recebo alguns empurrões. Quase me desequilibro e caio. Sinto uma mão firme segurar meu braço.
__ Perdão. Te feriram, Adrielle?__ Ergo a cabeça e encaro Kaled novamente. Me observa preocupado.
__ Não.__ Dou um sorriso amargo.__ Tenho um problema no tornozelo.
Ter que dar explicações a estranhos é tudo o que não preciso no momento.
__ Ela é coxa?__ Almir se materializa entre nós. Me analisa com desprezo.
__ E daí? O que tem a ver com isso?
__Almir!__ Kaled o repreende.__Por favor, não se ofenda, Adrielle. Almir não sabe usar as palavras em seu idioma com tanta destreza como eu.
__ Perdoem-me.__ Almir acena a cabeça e se afasta.
__ Não o prejudique. Não tem culpa. Por isso fiquei tão nervosa. Preciso de meus medicamentos para aliviar a dor. Estavam todos na mala perdida...
__ Venha.__ Kaled estende a mão amigavelmente mais uma vez.__ Vamos providenciar seus medicamentos.
Aceito sua ajuda agora de bom grado. Talvez a dor tenha me quebrantado...
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Inspirações:
Zayn Malik como Kaled Al-Abadi.
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