I - Primeira viagem em grupo

Abri os olhos confuso, uma figura embaçada estava em pé perto de mim. Tinha cabelos longos e brancos como seus olhos, usava uma armadura brilhante e de suas costas brotavam grandes asas douradas.

Será mesmo? Que merda, eu mal tinha começado minha aventura... tinha que tirar a dúvida da cabeça.

— Eu morri?

— Não, jovem. Você foi salvo.

Olhei em volta e um grupo diverso se espalhava pelo local.

Pude ver Elliot e Hawk serem acordados por um garoto que deveria ter a minha idade, era careca e tinha feições estranhas com olhos puxados, mas pelas vestimentas parecia ser um monge também.

Olhei melhor para o meu salvador, ele realmente parecia um anjo, eu já havia ouvido falar a respeito de meio-celestiais, deveria ser esse o caso ali... então só tinha uma coisa que eu poderia fazer.

— Meu herói!

Eu pulei e o abracei, enquanto delicadamente arrancava uma pena de suas asas, ele ficou tão surpreso com minha reação que nem percebeu, dei um pequeno sorriso antes de soltá-lo.

— Eeeerr... tudo bem, então. - Ele respondeu. - Agora me diga, o que você faz aqui?

— Eu? Bem, estava atravessando a floresta com eles. — Apontei para o monge careca e barbudo com seu porquinho minúsculo. — Mas fomos parados por umas bruxas de três olhos... e um mago. Lembro de sentir flechas e apagar.

Comecei a mexer os braços, fui vasculhando a sala. Vi um elfo de feições lupinas com vestimentas de clérigo e o símbolo de mitra ali perto, também havia um cara bem bonito sentado entre algumas ninfas com uma pequena arvore ambulante ao lado, Hawk parecia ter tentado comer alguns dos seus galhos e ele resolveu ficar próximo do dono.... Pareciam conversar sobre algo importante.

Também havia um guerreiro brutamontes com cara de poucos amigos e uma armadura pesada.

Só então percebi que eu vestia apenas minha calça de couro e olhei em volta atrás dos meus equipamentos. Avistei um baú onde provavelmente eles estariam, abri o baú e os peguei, jogando os do Elliot para ele. Havia mais algumas coisas ali inclusive uma garrafa interessante, mas o grupo parecia me observar demais então preferi não abusar.

O elfo com roupas de clérigo se aproximou de mim.

— Qual seu nome?

— Eariel.

— Iriél?

— É, mas se escreve com "ea".

— Entendo. Meu nome é Samhaime, quem tem acordou foi Maltael. Por que vocês estavam por aqui?

— Pergunta interessante... estávamos de passagem.

— Isso não diz muito.

— Eu sei, mas não sei se posso dizer muito mais. — Sorri para ele. — Tô brincando. Vocês são aventureiros, não são? Demais! A gente estava tentando chegar até o Reino Drow, mas como podem ver, não deu muito certo.... E vocês? Posso ir com vocês?

— Eu apenas fui contratado, pergunte o Linkas.

Ele apontou para o homem com as ninfas, fui até ele e descobri que esse grupo de aventureiros estava envolvido em uma grande confusão com essas bruxas, o Linkas era um druida meio dríade e as ações das bruxas na floresta parecia estar afetando as dríades ali, inclusive sua mãe. Me ofereci para ajudar, eles sabiam para onde elas tinham ido junto com o mago.

O grupo ali era grande e precisávamos sair depressa. O druida pegou um pergaminho de teletransporte na bolsa.

— Eu não vou tocar essa coisa! Rasgue isso - disse o guerreiro brutamontes, que descobri se chamar Darius.

Percebi que esse homem estava acabado, parecia não dormir a dias e ofegava mesmo sentado no chão. O Linkas também não parecia muito bem.

— E lá vamos nós de novo — disse Sanhaime balançando a cabeça. — Eu vou andando com o Darius e levo as coisas que achar interessantes do baú. Agora, vão logo!

Rapidamente o meio-dríade acionou o pergaminho e fomos parar em uma clareira com um carvalho. Uma dríade estava caída no chão, um falcão veio voando e se transformou em um homem.

— Ela está viva, filho, mas não tem muito tempo.

— Temos que tirá-la daqui, talvez se recupere.

— Eu faço isso, vocês têm que ir atrás do mago.

— Como?

— Ele e as bruxas entraram pelos carvalhos. Tinham laminas negras que pareciam acionar os portais dentro das arvores.

— E se destruirmos os carvalhos e os prendermos lá dentro?

— Linkas, essas são entradas para as raízes de Mitra. Grandes tuneis, que podem levar até a arvore deusa. Eles não podem ficar ali.

— Principalmente com aquelas laminas. — Eu interrompi.

— Por quê? — Linkas se virou para mim.

— Aquele metal negro. É a única coisa que pode cortar as raízes, a única coisa que pode machucar Mitra, era essa a missão em que eu e Elliot estávamos. Descobrir quem está atrás do metal e por que.

— Então você sabe onde consegui-lo? Vamos precisar dele se queremos seguir o Mago.

— Sei, no Reino Drow, era para onde estávamos indo. Esse mago foi quem começou a dar ideias aos radicais de Pelor.

Cocei a cabeça tentando me lembrar de tudo que havia descoberto naquele mês de andanças com Elliot.

— Esses servos do deus da humanidade e do sol ofereceram ajuda aos drows radicais para armar um golpe que derrubaria Aliandra... — Percebi que alguns me olhavam, confusos. — A rainha dos drows, galera.... Bem... em troca essas pessoas poderiam escavar o minério, já que a entrara para as minas de metal negro estão no Reino Drow.

— Então parece que estamos todos no mesmo caminho.

— Yeeeaaah! — Soquei o ar.

Finalmente estava em um grupo de aventureiros, e iria em uma jornada de verdade!

Linkas deixou um colar que tinha com a mãe, para dar mais tempo de vida a ela, no entanto, longe do colar, era ele que estaria com os dias contados. Entendi o por que dele e Darius estarem mal, estavam amaldiçoados, mas não entendi bem como eles tinham conseguido isso.

Assim partimos pela floresta das fadas, rumo a Iberlim. Sim, eu iria voltar a minha cidade, afinal estava no caminho para o Reino Drow. Éramos sete aventureiros, dois guerreiros, dois monges, um clérigo que também era feiticeiro, um druida, e bem... eu...

Seguimos um tempo pela floresta, paramos para almoçar um momento quando ouvimos um barulho.

O monge de olhos puxados, Oguway, se levantou com os punhos levantados.

— Eu disse para desviarmos, estamos próximos demais de uma área de fungos perigosos.

— Isso não parece som de planta. Eu respondi.

Todos se levantaram, mas era impossível ver a criatura, no entanto suas pegadas sugeriam algo enorme.

Antes que pudéssemos reagir direito ele passou atropelando todos, uma massa invisível que jogou todos para o lado, eu consegui desviar olhando para as patas no chão, não vi se alguém o acertou, mas a criatura passou diretamente por nós e sumiu.

Ficamos um tempo atentos para ter certeza de que ele tinha ido embora, só depois continuamos viagem.

A noite acampamos e deitamos para dormir, Oguway ficou de vigia no primeiro turno...

— Acordem!

Levantei de um salto com as espadas já na mão, uma bagunça começava a se instalar ali, ouvi o barulho das pisadas de um bicho grande, mas não conseguia vê-lo, era o mesmo bicho que havia passado por nós mais cedo, tinha certeza disso.

Sanhaime e Linkas faziam suas magias faiscarem, a criatura estava preso em uma teia de aranha que parecia ter vindo da varinha que o feiticeiro tinha na mão. Alguns ainda dormiam, Oguway e Elliot estavam em meio as teias socando o ar, mas pareciam não acertar a criatura.

Me juntei aos monges, consegui atravessar a teia sem ficar agarrado e comecei a golpear áreas acima das marcas de pegada no chão, mas a sensação não foi o que esperava, não sentia cortar carne, couro, como um animal. Parecia algo macio e meio gelatinoso.

A criatura se forçava para fora do lugar, conseguiu arrebentar os fios que a seguravam e começou a correr, corri atrás dela e saltei para tentar ficar em cima dela... não deu muito certo, cai de bunda no chão, os monges olharam para criatura que se afastava, resolveram deixa-la partir.

Apenas torci para que ela não voltasse.

Continuamos seguindo um tempo pela floresta, estava tudo tranquilo, comecei a conhecer meus companheiros e rir de suas piadas. Era um grupo bem interessante e eu estava adorando a experiência.

Tínhamos parado para o almoço quando a tranquilidade se foi, comecei a ouvir um barulho estranho, como o arrastar de correntes. Engoli em seco, já me disseram uma vez que aquela área da floresta, próximo a Iberlim, era assombrada, mas sempre pensei que fosse besteira, coisa de tempos mais antigos.

Resolvemos não nos atrasar por ali, catamos nossas coisas e nos apressamos. Um tempo depois ouvimos o barulho de novo, e eu pude jurar ver um vulto em meio das arvores. Apressamos o passo e uma figura de um homem surgiu a nossa frente, com roupas brancas e grilhões nos braços.

Parecia pedir por ajuda, flutuava nas nossas frentes e entrou nas arvores.

— Vamos ajudá-lo — disse Oguway

— O que? — perguntei.

— Olhem, espíritos ficam na terra quando ainda tem assuntos a resolver, podemos ajudar aquela alma a se libertar.

Vi alguns se entreolhando e dando de ombros... bem, então acho que não tinha escolha.

Seguimos o fantasma até uma clareira, nos aproximamos... e o mundo rodou.

De repente olhei para os lados e vi que quase todos, inclusive eu, estávamos presos em redes. Apenas Elliot havia conseguido desviar e agora parava em posição de batalha esperando o primeiro movimento hostil.

Uma armadilha, e eu não a vi, quem quer que tivesse feito era realmente bom, não resisti a vontade de rir daquela situação, quando finalmente pude ver que estávamos completamente cercados. 

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