PERNAMBUCO - BRASIL

Quarta-feira — 7H00 — Casa de Ana Júlia — Recife.

Quando a mãe de Ana Júlia, Dona Charlene, chega na cozinha, a filha já encontra-se lá. A menina está colocando café, feito por ela, numa xícara azul.

— Caiu da cama meu amor?

— Bem por aí. — Com os cotovelos na mesa, Ana segura a xícara com as duas mãos, e sorve fazendo um barulhinho. — Preciso te contar uma coisa.

— Eu detesto quando você toma café fazendo esse chiado.

— Ô mãe, o café está quente. — Justifica-se Ana.

— Então sopre, coloque água gelada, espere esfriar, mas não faça esse barulho irritante.

— Só quando tiver mais de quarenta anos, até lá, vou sugando pela borda da xícara. — A menina faz o sonzinho irritante novamente. — Posso ou não te contar uma coisa? — Dona Charlene senta ao lado da filha, e debruça-se sobre a mesa quadrada da cozinha.

— Eu aposto que tem homem no meio dessa novidade! — Ana Júlia gargalha com a intuição da mãe.

— Bingo! Acertou em cheio!

— Você já tem dezoito anos, o que eu posso fazer? Nada!

— Mamãe, a senhora colocou açúcar no café?

— Não. Por que?

— Logo vi. A senhora não é amarga desse jeito.

— Seu pai esteve inquieto a noite toda. Uma suadeira. Passou mal. Agora, ele está dormindo e eu acordada.

— Entendi.

— Ele não foi nem trabalhar. A pior coisa é você não conseguir dormir.

— Eu também não dormi bem. Mas só foi um pesadelo. — Ana levanta-se da cadeira e coloca a xícara dentro da pia, quando iria começar a lavar, sua mãe diz:

— Pode deixar minha filha. Eu lavo. Já são quase sete horas, senão vai se atrasar para faculdade. — Ana Júlia abraça a mãe e beija seu rosto.

— Obrigado mãe. Eu te amo.

— Mas, você ainda não me falou o que tinha para dizer.

— Na próxima quinta-feira, eu vou acampar com o pessoal da faculdade.

— O rapaz é da faculdade? — Ana Júlia sorri de felicidade para sua mãe.

— É sim. O nome dele é Douglas. A senhora e o papai irão gostar dele.

— Seu pai não vai gostar dessa ideia de você acampando sozinha com o bonitinho.

— Mas não vamos sozinhos! Nós vamos com pessoal da faculdade.

— E aonde vai ser?

— Camping do Arrasta, na Ilha de Itamaracá. Pense num lugar lindo mãe. É cheio de árvores, lagos, lagoas... e tem zeladoria lá.

— Não entendi. Você já foi?

— Eu vi as fotos pela internet. A senhora me ajuda com o papai?

— É para o quê a mãe presta. E paga?

— Sim! O lugar é organizado e seguro. As pessoas pagam para acampar. Fora as trilhas que podemos fazer e que vão até o Forte Orange. Mas não vamos fazer isso, a ideia é curtimos a natureza em volta de uma fogueira.

— Ana, você está usando drogas? — A menina olha perplexa para mãe. — Tá bem. Entendi pelo seu olhar. Graças a Deus. — Responde Dona Charlene, levantando as mãos para os céus.

— A Benção mãe. — A voz de Ana Júlia sai desanimada por causa da pergunta de sua mãe.

— Deus te dê juízo menina. — Responde Dona Charlene.

A Faculdade de Economia não fica tão longe da casa de Ana Júlia Sobreira. Na verdade uns trinta e cinco quilômetros. Porém, ter que andar até a parada, esperar o ônibus e a boa vontade do trânsito, é de tirar a paciência de qualquer ser-humano.

Ana Júlia procura pensar em Douglas. O rapaz é descendente de europeus. Do leste europeu. O pai é brasileiro,
mas a mãe é sueca. Eles viveram muito anos na Suécia, mudaram-se o ano passado. Douglas lembra um viking. A faculdade colocou o apelido nele de: "Ofusca Sol".

Ela sorri ao lembrar-se desse apelido. As pessoas no ônibus olham de lado, porque a risada não foi tão baixa assim.

Ana Júlia pega seu celular e começa a escutar sua banda favorita internacional "Snow Patrol" com a música " Chasing Cars". Ela sente uma leve pontada na cabeça. É a segunda vez que isso acontece. A primeira foi ontem. Nada que
preocupasse, mas, dor de cabeça nunca é bom.

A pontada parece sumir quando Ana Júlia olha à parada. Douglas a está esperando.

Sem demorar, ela olha-se pelo celular, como se fosse um espelho. O cabelo, maquilagem e batom... tudo em ordem.

Ana vai fazer de conta que não o viu, e vai criar uma cara de surpresa quando Douglas falar com ela. O coração da menina parece que vai se juntar ao estômago.

— Bom dia!

— Amor... você aqui? O que aconteceu? Não vai ter aula?

— Estou esperando a mulher da minha vida. — Douglas beija e abraça-a gentilmente. No seu interior, ele está sorrindo. Ana Júlia mente péssimo. — E ela acabou de chegar. — Terminou o galanteio. Douglas pega os livros que Ana Júlia está carregando, e os dois seguem para o Bloco G, da Universidade Católica.

— Eu tive um pesadelo horrível. Se bem que sonhar com coisa ruim, é horrível, mas, a sensação era que não estava dentro de um sonho... — Ana olha para Douglas, que está escutando. — não sei se estou sendo clara. Você entendeu?

— Eu entendi sim meu amor. — Eles entram embaixo do Bloco G. — Eu já li que as vezes o nosso espírito viaja para outros lugares, enquanto estamos dormindo.

— Mas não foi isso! Eu não estava nesse século, e também aquela coisa não chamava o meu nome, mas o de uma outra mulher. Eu era a outra mulher.

— "Aquela coisa?"

— Sim! Estava chovendo muito, a coisa parecia não ter cabeça.

— Você sonhou com monstro? — Douglas falou "Mooontrroo"tentando imitar a voz de Salsicha do desenho animado "Scooby-Doo". O casal para na frente do elevador, que está no décimo andar.

— Pensei que fosse levar a sério o que estava falando. — Reclama Ana Júlia.

— Foi mal. Eu fui engraçado na hora errada. — O elevador continua no décimo andar. Ana Júlia olha para o número dez e o número digital começa a piscar em cores diferentes. Ela dá um passo à frente e franze o cenho. — O que foi? Que cara é essa? 

— O elevador... digo, ele continua no décimo andar.

— Caramba, vai descer carregado.

— Não é isso Douglas. As luzes... piscando. Várias cores... e rápido.

Ana Júlia tem um dejavú. Ela vê uma mesa redonda, velha, feita de madeira e colocada no alto de uma pedra, que é cercada pela mesma floresta do sonho. Em cima da mesa tem dez nomes e alguém está na sua frente.

— Ana! Acorda! — Grita Douglas. Ana Júlia desperta assustada e com um pulo, embora esteja deitada nos braços de Douglas, levanta-se do chão. A sensação de está caindo, deixa-lhe com vertigem. Zonza.

— O que aconteceu comigo? — A Pergunta de Ana, encontra-se com os olhos assustados do namorado.

— Eu não sei. — Responde Douglas, equilibrando-a em pé. — Os seus olhos virarão, depois caiu e começou a falar numa língua estranha.

As pessoas que estavam próximas ao casal e do elevador, se afastam um pouco. Uma moça de cabelos curtos fala:

— Por que você não a leva para pegar um pouco de ar fresco?

— Verdade. — Responde Douglas olhando para a moça de cabelos curtos. — Subir agora nesse elevador lotado, não é uma boa ideia. — Ana Júlia, é trazida para perto do corpo do namorado, que leva-a até um banco de cimento, comuns nas faculdades, embaixo da sombra de uma mangueira.

Quando o casal senta no banco de cimento, Douglas apoia a cabeça da namorada no seu peito. Porém, ele franze a testa, quando sente as mãos de Ana Júlia geladas e suadas.

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