TEXAS - ESTADOS UNIDOS DA AMERICA

Capital do Texas, Austin, Terça-feira, 04 de Novembro de 2019. 5:30 pm.

Harry a cinco dias não consegue dormir bem. Sente-se observado. Seguido. Sabe aquela sensação, quando olhamos para todos os lados, e não vemos ninguém, nem nada diferente ou suspeito? É exatamente assim que ele está se sentindo.

Uma sensação mórbida e ao mesmo tempo sufocante, entra e sai na sua alma, igual o ar em seus pulmões.

As pessoas que o olham caminhando apressadamente, pensam que ele está com asma... mas na verdade é o pavor incontido. O medo de morrer. A sensação de que algo eminente vai acontecer... o friozinho na espinha.

Ele é funcionário do governo, no Estado dos Texas, Estados Unidos. Harry Singer, comanda a pasta de Saúde Publica.

Para um país desenvolvido, talvez não seja lá essas coisas. Mas, o salário é extraordinário e consegue manter seus custos, como o mestrado que está perto de acabar e suas noitadas de orgias.

Orgias... como ele as amam. Ah, mas hoje seus pensamentos estão iluminados pelo sentimento de morte, e não do prazer.

O homem de cabelos pretos, olhos arredondados castanhos e que está usando um terno cinza escuro, atravessa a rua, olhando fixamente para todos os lados.

Harry Singer tem os traços afilados, queixo quadrado e corpo atlético.

Embora não tenha anoitecido, ele está nervoso. Ansioso. Amedrontado. Harry está na Bolivard Martin Luther King Jr, como chegou ali? Pouco importa.

Ao dobrar a esquina, volta a olhar para o outro lado da rua, pensando ter visto um cavalo olhando para ele.

Os prédios vão passando e a cada segundo, sente que precisar de uma dose. Uma bebida.

"Preciso de um gole. Preciso urgente"— Pensa ele, enquanto caminha apressadamente, sem olhar pra trás. O medo já mudou de tamanho e transformou-se em pavor.

Uma placa luminosa vermelha, em neon, com o nome "Budweiser" em branco, no mesmo padrão de luminosidade, lhe sobressaltam aos olhos.

"Maravilha!"

Harry Singer entrar no bar que está meio na penumbra. Normal. Aconchegante para quem deseja beber e pensar na vida, ou mesmo curtir uma dor de corno. Qual universal é a "sofrência" de uma traição.

Porém, esse não é o caso de Harry. Ele quer beber. Apenas beber. Dentro do bar há outras pessoas sentadas sozinhas, mas parecendo estarem bebendo acompanhadas da amargura.

Harry sorri quando olha para o barman. O homem aparentando seus mais de cinquenta anos e corpulento, tem uma barba grande. Bem feita, mas grande. E usa uma camisa xadrez vermelha e azul. Foi por isso o achou sorriu, ele achou parecido com o Papai Noel.

— Eu quero uma caneca grande de chopp. — Harry pede depois que sentou no banco, de frente para o barman.

— Só trabalhamos com Budweiser.

— Pode ser... eu quero beber! Encher a cara.

— Hum... — O Papai Noel pega uma caneca de 750ml e começa a encher. Harry bebeu de uma vez só. — Levou uma galhada? — Pergunta o Barman.

— Galhada? — Pergunta Harry sem entender. — O que é isso? Galhada?

— Chifre meu bom rapaz. Ponta. Gaia. Cornos.— Harry sorri, com a pergunta e os adjetivos. — A propósito meu nome é John Wayne. — Completa o Barman.

— Muito prazer John Wayne. Eu sou Harry Singer. Outra caneca por favor.

— Meu pai era fã dos filmes dele. Mas pode me chamar de "Little John".

— Foi o que pensei. — Fala Harry, se referindo ao nome de Little John e virando novamente a caneca que tem quase um litro de chopp. — Eu trabalho no Serviço de Saúde. — Harry entrega a caneca para uma nova rodada, e pensa que com certeza o apelido é para tirar sarro com a cara dele. Porque o cara deve pesar uns cento e setenta quilos.

— Amanhã está de folga?

— Não! Por que a pergunta? — Bebendo agora mais devagar.

— Porque se continuar nesse ritmo, amanhã irão sentir sua falta no trabalho. Se bem que não tenho nada a ver com isso.

— Muito obrigado pela preocupação.

— Preocupado? Eu quero mais que você gaste todo seu dinheiro, mas antes, deixe uma gorjeta gorda.

"Se for igual a você vou à falência." — Logicamente Harry não disse isso, foi um pensamento rápido.

As horas vão passando. A conversa não para. Eles contam suas vidas. Compartilham seus segredos.

— Mas, nessas orgias — Pergunta Little John. — Você...

— Eu o quê?

— Você sabe...

— Não sei. Vamos caralho termina a frase! — Harry bate com a palma da mão na mesa. — Somos amigos! Pergunta logo!

— Alguém come seu traseiro? — Harry sorri tanto, que quase caiu do banco de aço inox, colado com o balcão.

— Porra Little John! Lógico que não!

— Pensei... que, você... sabe. Eu não tenho nada contra, mas fico mais aliviado agora. Recebo muita cantada de homens, e não queria perder sua amizade. — Harry não acredita no que escutou.

— Eu tenho jeito de ser gay?

— Como disse, nada contra... mas, não queria ser deselegante. — Harry olha para o rosto de Little John e gargalha. Ele acha engraçado a forma como a boca dele se mexe, junto com a barba. Aliás, ele só ver a barba movendo-se.

— Amigo acho melhor você parar. — Sugere o Barman.

— Que horas são?

— É hora de parar de beber. Se você estiver de carro, deixa o número do seu telefone, eu passo o do bar, fico com a chave do seu carango e te chamo um Uber.

— Eu estou sem carro. John posso te fazer uma pergunta? — O barman apoia suas duas mãos sobre o balcão, esperando a bomba. — Você já sentiu... como se alguém estivesse te perseguindo?

— Não. Nunca. Você acha que tem alguém te perseguindo?

— Hoje eu passei o dia todo com esse sentimento. — Harry está falando, olhando para a caneca, enquanto a gira sobre o balcão. — Meus pais moram em Nova York. Sou filho único. Mas hoje tem sido um dia diferente. — Harry para de falar, e fica olhando para dentro da caneca sem chopp. — Coloca a saideira e chama um Uber. Pode ser? — Little John faz o que Harry pediu. O Uber chega e o rapaz deixa uma boa gorjeta para o sósia do Papai Noel. No íntimo, o barman sente pena do rapaz. A infelicidade dele parecia uma despedida.

O caminho até a sua casa vai durar uns vinte minutos. São quase dez horas da noite. Harry está em silêncio. Encostado no vidro da janela, olhando para as luzes dos postes.

— Amigo eu vou descer aqui. — O motorista pensa em avisar que ainda não chegaram ao destino. Mas o rapaz falou tão determinado, que desistiu. Harry paga a corrida e sai caminhando.

O movimento continua intenso para uma terça-feira a noite. Talvez, ele nunca tenha parado para observa antes, como as terças eram de fato movimentadas.

Ele escuta alguns "potocs" atrás dele. Rapidamente olha para trás e vem um casal sorrindo e conversando apressadamente.

"Eles vão transar!" — Afirma Harry.

Mais alguns passos dados, escuta novos trotes de cavalo. Olha para trás e nada. O prédio que ele mora não está muito longe.

Harry apressa os passos. A rua que ele está é paralela com outra à sua direita. Foi então que ele percebeu que o som estava vindo dos becos escuros paralelos.

Sim. O animal estava daquele lado. Os "Potcs" continuam. O medo volta mais latente. A embriaguez parece ter sumido. Ou o som será fruto dela?

Harry anda quase correndo. E a cada esquina olha à sua direita. Ele agora vê o cavalo preto! Passando juntamente com ele, porém na rua paralela que é dividida pela escuridão.

Como um maratonista, ele corre atravessando a rua. Os carros freiam. Um ainda toca de raspão nele, o fazendo cair na calçada, batendo nas pernas das pessoas.

— Você está doido? — Pergunta um rapaz negro, que o olha de cima para baixo, depois de Harry ter trombado nos pés da sua namorada.

— D-desculpa. Foi o cavalo. — O jovem casal de namorados, ajudam Harry a levantar-se, para novamente ele sair correndo feito um louco. Para seu alívio, ele está se aproximando do prédio que mora. Mais algumas quadras e tudo estará bem.

Harry olha para trás e para o outro lado da rua. Nada. Ninguém. Ele suspira e relaxa.

Um relinchado é escutado por ele.

Harry está sem ação, e sente seu coração querer pular para fora do seu peito. O cavalo se encontra ali, parado no beco escuro à esquerda dele. Como o animal passou para o outro lado? Harry não sabe. Embora ele não o esteja vendo, mas está sentindo a fome do animal pela sua carne.

Dois pontos vermelhos acendem na escuridão. Os olhos do cavalo parecem duas brasas vermelhas e vivas. O animal vem se aproximando. Harry fica parado. O pavor trava-lhe as pernas. Ele não está hipnotizado, a grande verdade é que não adianta fugir, ele sabe que vai morrer.

— Harry Singer? — A voz grossa, gutural, demoníaca fala com ele.

— Q-quem é você? — Harry não consegue ver direito, mas há alguém montado no cavalo. O rapaz é sugado pelas trevas para dentro do beco.

— Harry Singer sua cabeça foi me dada, e sua alma seguirá comigo para o inferno.— Harry ver uma lâmina subir, reluzindo na escuridão, e mostrando que o homem montado no cavalo não tem cabeça.

Ele sente um calor no pescoço. Depois vem o engasgo do sangue abundante que sai da sua boca.

E antes da sua face beijar o chão, Harry percebe que não era o cavalo quem falava com ele, mas uma cabeça humana, pálida e demoníaca, que sorria para ele, segurada gentilmente pelo braço esquerdo do cavaleiro.

Harry, agora sabe que não passa de quinze segundos, míseros quinze segundos, para a cabeça viver fora do corpo, enquanto este se estrebucha no chão.

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