8. Sobre despedidas e almas gêmeas
- Meu nome, Sirius, é Remus John Lupin. E eu sou o príncipe secreto de Nebelvir.
Foram com essas palavras que o príncipe Remus começou a falar. E durante a próxima hora inteira, ele falou sem parar. Falou sobre sua vida inteira, cada pequeno evento que o havia levado até ali. Falou sobre o ataque à vila, o casamento de sua mãe, a invasão ao castelo. Falou sobre Lily, sobre seu reino, sobre seu futuro como príncipe consorte. Falou sobre o desejo de vingança que esteve em seu coração desde que era dolorosamente jovem.
Sirius viu ali cada resquício de história que ele conhecia, viu as partes que eram verdade e aquelas que eram mentira, viu o Remus que ele conhecia e aquele que ele não conhecia, como se fossem duas pessoas completamente diferentes.
- E então – Remus disse, a voz levemente rouca de tanto falar – vim para o castelo, e conheci a porra do príncipe encantado, e vou te poupar dos detalhes sobre como me apaixonei por você porque não quero ser mais patético do que o necessário. E eu tentei, tentei com todas as minhas forças, fazer aquilo que eu deveria, porque todos esperam por isso. Minha mãe, meu padrasto, Lily. Eu tentei não... desapontá-los. Mas não consegui fazer isso com você. Quando percebi o que tinha feito, eu só... saí correndo. Saí correndo até você.
Sirius tem a expressão impenetrável, aquela expressão que Remus aprendeu a conhecer nos últimos meses, que é totalmente programada para não mostrar suas emoções. Como uma máscara, uma que ele nunca usava quando estava com Remus.
- Acho que você é a porra de um nebelvir no meu castelo, e que eu deveria estar cortando sua garganta agora, mas quero muito dizer coisas que não deveria.
Remus ergue uma sobrancelha, impressionado.
- Para começar, você é a pessoa mais forte que eu conheço.
A voz de Sirius é uma benção, um milagre, uma tempestade enorme depois dos meses de seca. E Remus quer se perder, se embebedar, esquecer que existe algo nesse mundo que não seja o príncipe spendat.
- E eu quero você, Remus John Lupin. Mais do que eu deveria. Desde o dia que te vi observando as estrelas, e juro por Deus, que vim te amando desde então.
Remus sorri, mas ainda há lágrimas nos cantos de seus olhos, ainda há dúvidas, tantas dúvidas sobre como eles vão fazer isso dar certo ‐ se eles vão conseguir fazer isso dar certo.
- Eu também. Eu também, mas preciso ir para casa, e você precisa ficar aqui, e nossos reinos estão em guerra e simplesmente não sei como isso vai funcionar.
Sirius abriu um sorriso lento.
- Eu sei como isso vai funcionar. Não vamos ser como nossos pais. Você ainda pode se casar com Lily, se quiser, mas vai ser meu. Vou tomar o controle de Spendat dos meus pais, assumir o trono assim que possível, e então vamos declarar um cessar-fogo. Vamos mudar tudo isso, porque a única coisa mais poderosa do que você ou eu somos nós dois. Juntos.
Os olhos de Remus brilharam na penumbra do quarto de Sirius.
- Você fica incrivelmente sexy falando sobre planejar uma revolta no próprio castelo.
- É mesmo, Vossa Alteza? - Sirius provocou, arrastando as últimas duas palavras enquanto levantou da cama e se abaixou para ficar cara a cara com Remus, segurando seu queixo com uma das mãos.
Ele beijou Remus, doce e lentamente, mãos se entrelaçando por seu cabelo, suspiros escapando por entre seus lábios.
- Me desamarra – Remus murmurou assim que eles se separaram.
Um sorriso maroto se abriu nos lábios de Sirius.
- Tem certeza?
Depois de duas semanas de burocracia, do plano incrivelmente detalhado de enterrar o corpo de um soldado morto em batalha como o corpo de Remus, e de convencer a todos de que o perigo já havia passado, Sirius tinha tudo pronto para os seus próximos passos.
Os dois príncipes estavam dentro da floresta, se despedindo longe do castelo e de olhares indesejados. Haviam passado os últimos dias aproveitando cada segundo perto um do outro, porque sabiam que esse momento estava por chegar, e que a partir daí, as coisas não seriam nada fáceis. Remus iria para Nebelvir. Sirius ficaria em Spendat, se preparando para o golpe.
Os olhos verdes de Remus brilhavam ainda mais no meio da escuridão. Sirius segurava seu corpo junto ao dele, o beijando uma última vez antes que ele partisse, tentando forçar seu cérebro a guardar na memória cada detalhe sobre seu John.
- Vou sentir sua falta – ele murmurou – vou sentir tanto a sua falta.
Remus também sentiria sua falta. Ao acordar e ao pegar no sono, ao ver as estrelas, ao visitar bibliotecas e ao ver casais felizes passeando pelas ruas, despreocupados, casais que não eram como eles – complicados e cheios de defeitos, mas que passariam pelo inferno apenas para ter um ao outro.
O loiro tinha lágrimas nos olhos.
- Acha... que eles vão me perdoar?
Sirius suspirou antes de responder.
- Não posso prometer que sim. Mas acho que devem te perdoar. Você tem uma bondade dentro de si que... talvez eu já não tenha mais. Acho que é uma das coisas mais lindas em você. Como não deixou a guerra te destruir.
Remus o beijou novamente. O caminho pela frente seria difícil, mas ele faria o que fosse necessário.
Na calada da noite, o príncipe nebelvir partiu de Spendat.
Ela o esperava em casa, os cabelos ruivos caindo como cascatas, olhos verdes como uma floresta brilhando pelas lágrimas.
Lily, sua melhor amiga, sua irmã, o recebeu com abraços e soluços engasgados de emoção, e Remus precisou encarar as consequências das próprias decisões e falar que ele não havia conseguido. Não porque tivesse alguma piedade do rei e da rainha, principalmente não depois de ouvir sobre a infância traumática de Sirius nas últimas semanas, mas porque não conseguiria condenar o príncipe daquela maneira.
Remus contou sobre Sirius. Sobre seus cabelos longos e olhos profundos, sobre seu carinho e sobre aquela sua outra parte – fria e cruel - que o príncipe spendat jurou que Remus nunca veria novamente.
Contar foi reviver tudo aquilo, pensar em cada decisão diferente que ele poderia ter tomado e questionar para onde elas o teriam levado. Mas ele preferia estar ali, porque estava vivo, tinha um futuro planejado com Sirius, e esperava, com toda sua alma, que Lily o perdoasse.
A princesa chorou com sua história, mais de uma vez. Aqueles quatro meses, contados daquela maneira, pareceram quatro anos de indecisão, amor e dor, misturados de tal maneira que as vezes era difícil distinguir um do outro. Ela chorou quando Remus falou sobre o momento que envenenou as taças, o instante em que foi descoberto, o frio da faca contra sua garganta e a espera pela morte.
- Vejo agora – ela disse, os olhos úmidos, a voz chorosa – que você não poderia ter feito nada diferente.
Remus a segurou com força contra o peito, a abraçando.
- Se existirem outros tipos de almas gêmeas – ele murmurou por entre as mechas de cabelo de Lily - então você é a minha.
O perdão – e a compreensão – de Lily pareceu a melhor coisa do mundo inteiro a Remus, mas ele ainda precisou conversar com sua mãe e seu padrasto. Com ele, a conversa foi mais política, e o príncipe precisou confirmar várias vezes que tinha certeza, que haveria um golpe e que o novo rei spendat estaria completamente aberto a um tratado de paz. Ele sorriu e bagunçou os cabelos de Remus, dizendo que ele havia feito "um bom trabalho". Apesar de nunca terem sido próximos como pai e filho, o ato aqueceu o peito de Remus.
Sua mãe, que nunca teria feito nada diferente, beijou cada pedaço do seu rosto e disse que não importava o que havia ou não sido feito: o importante era que seu filho estava vivo e em casa.
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