15: Divórcio
CHARLI, point of view
Nova Iorque
Me assustei com algum barulho vindo da sala, não fazia idéia do que era e nem queria saber. Continuei deitada com uma dor de cabeça insuportável, daria de tudo por um remédio e um chá quente, mas Alice não trabalhava aos domingos e Chase...
Apalpei com a mão o lado dele na cama, ele não estava ali. O barulho prosseguiu, mas agora um bebê chorava alto. Por que tem tanto barulho na minha casa? Por que tem um bebê chorando?
Meu deus, Kiara.
Me levantei com um impulso e acabei derrubando o abajur em cima da mesinha de canto, o vidro se quebrou no chão e algo dentro de mim partiu, igual aqueles vidros.
Corri para o quarto de Kiara e encontrei minha filha berrando no berço, ela devia estar com muita fome. Fui para a cozinha, e quando dobro o carredor, minha sala estava fazia. Fui assaltada?
Se eu tivesse sido assaltada, com certeza eu ligaria depois, tinha um bebê faminto no meu colo e eu precisava agir rapidamente, ou me sentiria a pior pessoa do mundo por deixar a filha com fome porque se importa mais com seus móveis levados por ladrões.
Assim que o leite ficou pronto, coloquei na boca de Kiara e instantaneamente ela parou de chorar e sugou o leite desesperadamente. Outra pontada no peito, e tive que me sentar pra não cair no chão com Kiara no colo.
Depois de terminar todo leite, coloquei Kiara no bebê conforto e fui para sala, mas dessa vez eu não estava sozinha. Meu advogado, Tomás, estava lá, ele olhou pra minha roupa e revirou os olhos, não era pra menos, eu estava só com uma blusa até a coxa e nada mais, e Tomás era do tipo gay que não gostava de olhar meninas seminuas.
— Eu acho que fui assaltada — É a primeira coisa que digo a ele, simplesmente ele ri.
— Para de ser idiota, Charli. Aliás, sua filha é linda, espero que ganhe a guarda na justiça — Ele disse, não entendi nada. Guarda na justiça?
— D-do que você está falando?
— Hora do quê, ganhamos Charli — Ele diz todo feliz — Ficamos com 70% do patrimônio do Chase. Pena que não conseguimos os imóveis da casa, é tudo dele. Mas nada que você não possa comprar.
— Tomás, o que está acontecendo? — Minha voz estava trêmula, e as lágrimas já começavam a se formar nos meus olhos.
— Eu que pergunto. Você me procurou lembra, entramos com um processo contra os seus pais e os de Chase. Vocês assinaram papéis que anularam o contrato e a empresa não ia ser tirada de vocês, mas que a quantidade maior ia ficar só com um caso vocês pedissem o divórcio.
— Mas a gente não vai se divorciar! — Gritei desesperada.
— Não minha querida, vocês não vão se divorciar — Ele pega o papel da sua pasta e me entrega — Vocês já se divorciaram.
Olhei o papel carimbado com o selo oficial do cartório da Califórnia. Minha assinatura e a de Chase estavam nela. E no outro papel era um papel de processo de guarda compartilhada.
— Que merda é essa, Tomás? Eu não assinei merda nenhuma.
— Eu não falsifiquei nada não, amor. Você assinou isso depois daquela sua viagem ao México — Mais outra pontada no coração, mas foi mais forte e dei um grito de dor — Anjo, você está bem?
Comecei a chorar desesperadamente, meu coração estava literalmente doendo por causa daquela situação.
— Quando o Chase assinou?
— 5 dias atrás, foi por isso que só conseguimos agora, estávamos esperando a assinatura dele.
A 5 dias atrás eu não estava lá e Nessa está de licença a maternidade. A única que estava era Giulia, e ela é estagiária. Chase não olha os documentos antes de assinar, ele confia nos funcionários. Puta merda.
— Não, não, não, isso não pode estar acontecendo — Digo ainda com as lágrimas escorrendo sobre meu rosto — Preciso ir atrás do Chase. Toma conta da Kiara enquanto eu me troco?
— O que, nã...
Não deixei Tomás terminar, bati a porta e comecei a trocar de roupa. Escovei os dentes e arrumei o cabelo. Nada de maquiagem, não ia dar tempo.
Sai do quarto e vi Tomás sorrindo com Kiara no colo. Ele seria uma ótima babá enquanto eu me resolvo com Chase.
— Não inventa — Ele diz como se já soubesse o que eu ia pedir, fiz uma cara triste e ele bufou — Não demora, se ela fizer cocô eu não vou limpar.
Dei um beijo em sua bochecha e corri para o carro, eu tinha que manter o autocontrole ou se não eu acabaria batendo o carro e ia para o hospital, novamente.
[...]
Olhei para a porta marrom a minha frente, lembrei que eu costumava entrar e sair várias vezes. Nunca batia ao entrar e sempre batia muito forte ao sair. Chase odiava isso, mas no fundo eu sabia que ele não ia viver sem isso.
Entrei sem bater (como sempre fazia). Chase estava de frente pra vidraça e olhava para cidade, enquanto eu olhava para sua coluna tensa. Tinha duas caixas na mesa, todos os seus pertences deviam estar ali dentro. Eu preciso mudar isso.
— Quando assinou? — Ele pergunta. Claro, ele sabia que eu estava ali.
— Depois...da viagem do México.
Vi ele suspirar e passar a mão no cabelo, Chase se virou e olhou pra mim. Seus olhos estavam abatidos como se estivesse esfregado muito, tentando se esforçar pra não derramar nenhuma lágrima. O meu por sinal já devia estar inchado com tantas lágrimas que derramei.
— Eu fiquei a manhã toda pensando — Ele anda até a mesa e se senta na cadeira dele ou antiga cadeira — Pensei que você tinha esquecido ou não sei, assinou sem querer. Eu nem me importei em perder a empresa, se você tivesse feito as primeiras coisas, eu me casaria com você novamente, e não por causa da empresa.
Mas foi exatamente isso que aconteceu, eu não fazia idéia que esse processo ainda tava na justiça e que Tomás ainda estava cuidando disso. Se eu soubesse... tudo seria diferente.
— Mas...— continuou ele — ...eu vi a mensagem dele essa manhã. Eu acho que até decorei “vamos nos encontrar logo, preciso falar com você também. Espero que se divorcie logo para que possamos ficar juntos”. — Merda, Pepe. — Vocês já estavam planejando — Sussurra ele.
— Não — Sussurrei.
— Você disse ontem que mesmo que eu te deixasse ou partisse meu coração, você nunca me deixaria ou partiria meu coração — Ele encostou os cotovelos na mesa e afundou a mão no cabelo — Você até falou que meu sentimento por você era falso. Você falou que me amava, porra. E no final de tudo, você me deixou e partiu meu coração. E até mesmo o seu sentimento era falso.
Queria falar alguma coisa, mas minha voz não saia, literalmente.
Chase se levantou da cadeira e andou em minha direção. Outra pontada. Ele ficou na minha frente com sua expressão séria.
— Eu não quero fazer briga pela Kiara, eu só quero ver ela regularmente, ok.
Chase estava quase saindo da minha frente quando eu segurei sua blusa e encostei minha cabeça em seu peito.
Ele segurou meu braço e me afastou delicadamente, mas eu segurei mais firme sua camisa.
"Chase"
Minha voz não estava saindo e meus batimentos cardíacos estavam em disparada. Minha respiração era pesada, mão conseguia sentir o ar.
Outra pontada.
Coração disparado.
Sem ar.
Outra pontada.
Lembrei das palavras da médica quando eu estava no hospital do México: “Não pode ter emoções fortes e nem estresse, isso pode causar infarto e você pode morrer”
— Charli? — Escutei a voz de Chase como um eco e vi sua expressão de desespero enquanto eu estava em seus braços, não faço idéia como fui parar ali — Calma, ok. Vou chamar a ambulância, vai ficar tudo bem.
Queria acreditar, mas eu não estava bem, e não sei se dessa vez teria salvação pra mim.
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