07: Amor Falso

CHARLI, point of view
Nova Iorque

Eu podia ficar para sempre na casa dos meus pais, tudo estava tão leve. Eles estavam radiantes com a presença de Kiara, estavam mais felizes que nunca, a casa se iluminava com todos os sorrisos.

O dia foi tão exaustivo que acabei dormindo bem cedo, isso fez com que eu acordasse as 5 da manhã, as 6 Chase havia levantado, enquanto o resto ainda estava dormindo.

Minha relação com Chase ia de mal a pior depois da noite em que ele chegou bêbado em casa, eu sabia que não devia criar expectativas sobre aquela noite, mas o jeito que eu estava me apegando a ele, não tinha como ignorar tudo aquilo. Mas agora eu estava com raiva, confusa e magoada.

Ver Pepe na tarde passada foi como levar um soco no olho, e foi tão forte que as marcas estão lá e não vão sair tão cedo, e meu coração ficou doente ao ouvir ele falar de filhos. Kiara era minha filha, de fato, mas e quando ela partisse? Será que teria coragem de deixá-la partir? Será que eu ia me apegar a outra criança assim como me apeguei a ela?

— Estava pensando, podíamos dar uma volta hoje — Disse Chase sem olhar para mim, ele estava ocupado demais com seu café da manhã.

— Meus pais vão querer sair com Kiara, podemos ir com eles se quiser — Proponho, mas ele não ficou muito feliz com a idéia.

— Digo só nós dois, Char — As palavras de Chase me deixaram mais confusa, que jogo ele estava jogando? — Acho que precisamos disso, conversar, saber mais um do outro.

— Entendi — Digo desconfiada — Andou bebendo ontem a noite? Você normalmente não é você quando fica bêbado.

Ele arqueou a sombrancelha, parecia um pouco ofendido ou até mesmo confuso por não entender do que eu estava falando, claro que ele não sabia, ele também esquece das coisas quando acorda no outro dia.

— O que você quis dizer com isso? Te disse algo na noite em que eu cheguei bêbado em casa? — Chase parecia realmente preocupado, como se o velho Chase estivesse sido substituído por outro.

— Você não disse nada importante o suficiente para mim, só falou algumas besteiras que eu não compreendi.

— Chamar você pra sair é uma besteira?

— Tirando o fato de que não somos um casal apaixonado, não é besteira, mas é uma coisa que me deixa sem entender — Digo com sinceridade — Chase, você não precisa me consolar, eu estou triste sim pelo que Pepe disse, mas não quero que você sinta pena.

— Não é pena, eu quero mesmo conhecer você, quero passar tempo com a mãe da minha filha, quero cuidar de você não porque é minha obrigação, mas quero que você seja feliz e quero tentar ser feliz — Ele respirou fundo — Então porquê não tentar ser feliz com minha esposa?

"Ser feliz com minha esposa". Aquelas palavras tocaram tão fundo meu coração, que eu não conseguia processar nada direito. Ele queria tentar ser feliz comigo, ele estava disposto a tentar algo a mais entre nós dois. Mas como isso pode ter mudado de um dia para noite?

Eu queria muito acreditar que foi voluntário, que Chase realmente mudou de idéia porque queria ter uma família feliz e ser feliz, mas minha parte racional sabia que Chase se sentia culpado pela minha infelicidade mesmo que tudo tenha sido planejado pelos nossos pais, ele viu minha dor quando Pepe disse aquelas coisas a mim.

Cheguei a grande conclusão de que Chase não queria que nós dois fossemos felizes, ele queria que apenas eu fosse feliz, ele não queria mais ser culpado pela minha infelicidade. Mas o que Chase não sabia era que eu sabia tudo, eu era esperta. Se Chase ia tentar me fazer feliz, eu ia fazer de tudo para fazê-lo feliz.

— Ok, eu aceito sair com você hoje — Digo bebericando um pouco do café quente, que preferia gelado — Mas vamos aonde eu quiser, quero que você veja um lugar.

Chase riu, se divertindo de tudo aquilo.

— Ta bom então, não vejo a hora de conhecer esse lugar — Chase sorri com um sorriso malicioso e se levanta do balcão — Que horas senhorita Hudson?

— Às 17:00 horas, Cole — Sorri toda derretida para ele.

Depois do nosso momento fofo sem Chase estar bêbado, ele foi para o jardim, era o único lugar calmo para que ele pudesse terminar os relatórios da empresa e os custos dos últimos meses. Fiquei na cozinha até escutar um choro bem baixinho.

Fui para o quarto e tirei Kiara da cama, fizemos um montinho ao redor dela para que ela não caísse. Assim que os olhos dela entraram em contato com os meus, a melhor parte do dia aconteceu. Ela abriu um daqueles sorrisos iluminados, genuínos e cheios de alegria.

— Olá querida, você parece bem feliz hoje — Ela soltou um gritinho agudo e agitou as mãos — Você é o amor da minha vida, se você não estivesse aparecido na minha porta, eu iria atrás de você em qualquer lugar.

Levei Kiara para o banheiro e lhe dei um bom banho, troquei a fralda e a roupa. Ela ficou linda do vestido amarelo que coloquei nela, fui para sala exibir ela para os avós, eles ficaram impressionados e começaram a paparicar a mesma, deixei que ela ficassem com eles um pouco e fui tomar um banho.

Meu dia estava sendo ótimo, as palavras de Pepe nem me prejudicam mais. Eu pensava em como seria meu encontro com Chase, em nosso futuro, em como podemos ser felizes com um pequeno esforço da parte de ambos.
Acho que passei muitos minutos no banho pensando, que a água acabou, mas não fiquei estressada nem nada do tipo, resolvi que ninguém ia estragar meu dia.

[...]

Eram quase 17:00 da tarde e eu já estava pronta, mas não mentalmente. Eu me encontrava ansiosa e com uma leve dor de cabeça, me respiração era pesada e as palmas das minhas mãos suadas.

A porta do banheiro se abriu e Chase apareceu, ele vestia uma blusa branca com uma jaqueta marrom e uma calça jeans cinza. Seus cabelos úmidos levemente bagunçados eram o charme dele, nunca vi Chase tão bonito quanto naquele momento.

— Você está bem? Parece meio pálida — Ele quebrou o silêncio e fez eu lembrar da minha real situação.

— E-eu estou bem... — Meu nervosismo parece ter aumentado mais minha dor de cabeça — Vou esperar você na sala.

Sai do quarto e fui direto para cozinha, tomei um comprimido para dor de cabeça e fui para sala como tinha dito a Chase.

Fiquei triste de repente, eu estava mal por não sentir a mesma empolgação de mais cedo, a dor de cabeça e mal estar estavam acabando comigo, mas eu não podia mostrar isso a Chase, não podia estragar o nosso dia.

— Estou pronto, vamos? — Chase pegou a chave do carro e abriu a porta, esperando que eu levantasse e passasse primeiro, mas não foi o que aconteceu — Char, você está mesmo bem?

— Claro — Levantei de uma vez, que resultou em uma escuridão passageira que eu disfarcei de Chase — Eu só estava meio aérea.

Ele sorriu, era como os sorrisos de Kiara, cheios de luz e ternura. Me perguntava se um dia ele ia ficar cheios de amor, se um dia ele ia sorrir de felicidade e não só porque eu sou engraçada.

— Você precisa dizer aonde vamos, eu vou dirigir — Disse Chase fingindo indignação.

— Não se preocupe, eu vou guiar você.

Chase bufou e entrou no carro, assim que ele começou a dirigir, comecei a orientar para que lado ele deveria ir. Ficamos em silêncio o caminho todo, as únicas vezes que eu abria a boca era para dizer para qual lado ele devia ir. Meio que eu agradeci o silêncio, não sei se conseguiria conversar com ele com essa dor de cabeça.

O nosso destino chegou e Chase sorriu ao olhar para ele.

— Que lugar é esse? Vai me matar e me jogar do penhasco? — Brincou ele, sorri um pouco.

— Você vai ver — Digo, saindo do carro.

Caminhos até um lugar onde havia um tapete e vários travesseiros no chão, bem atrás havia um restaurante que eu conhecia bem. Na nossa frente estava o horizonte e abaixo a mar.

Estávamos no pico de uma montanha com uma bela vista.

— Uau — Chase suspirou — Uau.

— Lindo né?

— De quem é esse restaurante? — Ele apontou para o simples lugar atrás de nós — E que criatividade, ao invés de mesas a gente fica aqui — Ele apontou para o tapete confortável.

— É da minha amiga.

Assim que digo isso, a morena sai correndo de dentro do restaurante na minha direção. Ela tinha um sorriso imenso no rosto e assim que me alcançou, me deu um abraço bem forte, um abraço que eu senti muita falta.

— Não acredito que você está aqui — Addison disse toda feliz para mim — Você está linda, vi algumas fotos do seu casamento, você estava divina, parecia um anjo.

— Eu senti muita saudade de você também — Dei um soco de leve no seu braço — Olha só isso aqui, ta muito mais sofisticado, como esses panos todos não vão embora com o vento?

— É segredo — Sussurou ela rindo — Então esse é o seu marido?

— Sim.

Addison deu um abraço em Chase, o que fez ele ficar um pouco surpreso, mas logo retribuiu o abraço e sorriu.

— Você é o cara mais sortudo do mundo — Ela diz com uma voz carregada de carinho — Charli é a pessoa mais doce que já conheci.

— Felizmente posso dizer o mesmo — Diz Chase, fazendo eu ficar corada.

Ele disse porque queria manter a farsa com Addison sobre nós dois ou foi mesmo real?

— Eu vou preparar algo para vocês, sintam-se a vontade — Addison deu um tchauzinho e saiu.

Chase foi o primeiro a se sentar no meio do tapete, me sentei a sua frente, um pouco afastada. Ele ficou me olhando por um tempo, mas logo desviou o olhar para o horizonte a nossa frente.

— É lindo aqui — Ele disse com um ar de admiração — Como Addison conseguiu isso aqui.

— Parte daqui era uma fazenda, o avô dela deu pra ela, assim ela constituiu um restaurante. Costumava vir aqui com Addison sempre já que o dono da fazenda era o avô dela. Conheci muitos amigos aqui, inclusive...

Não terminei de falar, Chase ficou me analisando, mas não prosseguiu. Não queria contar a Chase que conheci Pepe ali e que vivemos uma linda história de amor proibido, essa história era totalmente desnecessária naquele momento.

— Sua história é tão clichê, mas daqueles de época — Chase se apoiou com um dos cotovelos no chão — Você é prometida a um cara rico que você odeia, enquanto vive uma paixão proibida com um homem sem recursos. Geralmente as mocinhas ficam com os caras que elas amam. Qual será o seu final?

Aquilo me deixou encabulada, não sabia como agir, como falar e o que falar, por isso resolvi ficar quieta até Addison aparecer com a comida.

— Eu fiz o melhor prato da casa — Ela diz, começando a ajeitar a comida no meio do tapete — Espero que gostem.

Addison sumiu tão rápido que não pude nem desfrutar da distração, Chase estava me deixando nervosa e qualquer pessoa além dele ali, seria muito necessário.

— Essa é a melhor comida que eu já comi na vida — Diz Chase.

Eu estava tão perdida nos meus pensamentos que nem percebi que Chase já estava devorando a comida a nossa frente. Tentei comer pouco, o mal estar ainda estava em mim, então qualquer coisa que eu comesse podia me fazer mal.

Não sobrou nenhum pouco de comida, talvez eu tenha comido mais do que minha meta, mas era impossível não querer comer a comida da Addison, era expendida.

Fizemos tudo em silêncio no nosso incrível passeio. Viemos em silêncio, comemos em silêncio e até mesmo olhamos o pôr do sol incrível do México em silêncio, foi bem monótono.

— Foi muito legal vir aqui — Disse Chase.

— É, foi mesmo — Eu digo meio desanimada — Foi bom vir aqui novamente.

Ele olhou para mim, mas dessa vez seu olhar ficou fixo em mim por bastante tempo, até ele dizer:

— Eu vou ser sincero com você, Char — Ele disse, o que resultou em batimentos cardíacos mais avançados — Eu me sinto mal todos os dias, me pergunto se podia mudar isso. Eu vi nos seus olhos que você ainda ama o Pepe, e por mais imbecil que ele tenha sido no passado, eu sei que ele ama você também.

A dor de cabeça voltou, junto com ela veio o mal estar.

— Eu quero ver você feliz, mas não sei se você será comigo — Ele suspira — Eu quero que você tome uma decisão agora, preciso que você me responda com toda a sinceridade. Você prefere viver um amor falso para manter uma empresa ou prefere perder tudo e ser feliz com o cara que você realmente ama?

Segurei as lágrimas. A dor crescia dentro de mim e algo rasgava meu coração. "Amor falso" "amor verdadeiro". Era isso, ele viu que não é possível ser feliz comigo porque ainda existe um amor entre Pepe e eu. Ou ele acha que nunca vai haver um amor entre nós dois.

Não tive palavras para responder aquilo, sei que não era a intenção dele, mas aquilo me deixou muito magoada.

— Char... — Chase sussurou quando as primeiras lágrimas saíram dos meus olhos.

Me levantei o mais rápido e que pude do chão, foi a pior coisa que eu fiz. Nesse exato momento, tudo ficou escuro, e não foi a mesma escuridão de mais cedo que foi passageira, dessa vez a escuridão não possou e eu fui consumida por ela.

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