06: Quem é pior?
CHASE, point of view
Nova Iorque
Acordei com uma dor de cabeça enorme, pareceu que eu bebi todo o bar ontem, e bebi mesmo. Me lembro de ter recebido uma secretária nova, o nome dela era Giulia. Ela começou logo porque Nessa estava esperando outro bebê.
Fiquei a tarde com uma angústia em mim, como se alguém estivesse dando tapas na minha cara falando que eu to fazendo tudo errado, talvez eu estivesse. Perguntei-me se estava sendo um bom pai, me perguntei se Charli estava feliz, ela não parecia muito. Também veio as dúvidas sobre meu real motivo para minha ida ao México.
Um lado de mim dizia que era para ajudar Charli ao contar para os pais que encontramos um bebê na porta da nossa casa e que resolvemos adotar. O outro lado era basicamente "deixar minha mulher longe do ex". Por que eu tinha tanto medo dos dois juntos?
— Senhor, eu trouxe suas planilhas — Disse Giulia — O Senhor precisa de alguma coisa.
— Sim, que pare de me chamar de senhor — Sorri, ela deu um sorriso tímido e logo ficou tensa — Vou precisar sair também, avisa para o Josh que eu vou sair e que não vou participar da última reunião.
Sai do meu escritório e fui direto para um bar em frente ao meu trabalho, uma amiga da faculdade trabalhava lá, na verdade ela era a dona do lugar.
— Chase amigo — Danny me recebeu com um abraço — Como é bom te ver aqui, o que vai querer pra hoje?
— Algo muito forte — Afirmei.
Lembro que bebi muito, não sei quem me deixou em casa depois daquela bebedeira, mas acordei na cama, sinal de que alguém me trouxe.
Eu não ia fazer esforço nenhum para lembrar a noite passada, o máximo que eu fiz foi tomar um banho, ter escovado os dentes e capotado.
Me levantei, olhei no relógio e já batiam as 6:30 da manhã. Me levantei e fiz minhas obrigações matinais. Arrumei uma pequena mala com algumas roupas, e sorri ao ver uma pequena mochila com roupas infantis. Enquanto terminava de arrumar a mala, escutei um ruído, olhei para o pequeno criado mudo ao lado de Charli e vi que vinham da babá eletrônica, corri para o quarto de Kiara e me deparei com ela sentada com as mãos na grade do berço.
— Olha só para você, amor. Agora consegue ficar sentada — Digo pegando ela no colo, ela sorriu com aquele lindo sorriso iluminado — Você sentiu falta do papai? Eu ando meio distante ultimamente, mas eu amo você agora, você está aqui a pouco tempo, mas já amo muito.
Brinquei com Kiara por um bom tempo, com todos os brinquedos que não mostravam risco no quarto, também separei alguns para jogar fora, alguns vizinhos deram, mas eram horríveis.
Cada brincadeira que eu fazia com Kiara, era um motivo estrondoso para uma gargalhada dela. Naqueles pequenos momentos eu fui um devido pai de verdade, meu amor por aquela pequena garotinha ia aumentar a cada dia.
Escutei algo vindo da porta, mas quando virei para ver se era Charli ou Alice, mas não tinha ninguém ali, seria um fantasma?
— Gof puf auu di up — Kiara disse — Petu uf gau mi na pa.
— Entendi — Peguei Kiara no colo e fomos em direção a cozinha — Vamos tomar café.
Preparei o leite de Kiara e dei para ela, depois preparei algo para mim e para Charli, mas ela parecia não estar em nenhum lugar. Nossa ida para o México seria às 10 e já devíamos estar nos preparando.
A porta da porta da frente se abriu e Charli entrou com a cabeça baixa, ela não parecia bem com alguma coisa.
— Tudo bem? — Perguntei, ela não respondeu — Fiz café para você.
— Obrigado — Ela disse bem baixo.
Ela se sentou no balcão e comeu uma torrada e os ovos mexidos que fiz. Queria puxar assunto, fazer algo para que aquele silêncio terminasse, mas vi que não ia ter sucesso, portanto resolvi ficar calado.
Depois de tomar todo café, Charli foi para o quarto junto com Kiara, resolvi ir tomar um banho e me arrumar. Assim que o fiz, coloquei as malas na porta, já preparado para nossa viagem.
Charli apareceu na sala e colocou Kiara no bebê conforto, ela continuava com a mesma expressão triste que tinha mais cedo, resolvi fazer algo para mudar aquilo. Me aproximei dela e coloquei minhas mãos sobre sua bochecha, fazendo seus olhos castanhos se encontrarem com os meus.
— O que você tem? Vai, conta pra mim — Insisti com a pergunta de hoje cedo — Por favor.
— Não é nada, é sério. Deve ser a ansiedade, vou ver minha família — Ela dá um sorriso fraco e tira as minhas mãos de seu rosto — Vamos?
Assenti. Ela sorriu novamente e foi direto para a porta junto com Kiara, o táxi devia estar nos esperando. Mas antes que Charli continuasse andando, ela parou na porta e virou para mim.
— Chase, você lembra de algo que aconteceu ontem a noite? — Ela franziu o cenho.
— Não. Por que? — Perguntei engolindo o seco, que merda eu fiz?
— Não, por nada, eu imaginei mesmo.
Ela simplesmente se virou e saiu, batendo a porta. Será uma grande viagem.
[...]
Kiara ficou quieta quase o vôo todo, mas em alguns momentos ela teve ataques de choro por conta de fome. Mas ela passou quase todo o vôo dormindo no meu colo e no de Charli.
Os pais de Charli queriam nos buscar no aeroporto, mas Charli deu uma desculpa para os pais e eles acabaram acreditando. Tínhamos pouco tempo para pensar. Pegamos um táxi e para nossa sorte tinha trânsito, o que podia ser bom para pensar em uma idéia.
— Podemos dizer que eu estava me sentindo sozinha, então adoramos uma criança — Disse Charli.
— Eles não vão acreditar, os processos de adoção são bem mais longos — Digo desanimado — Podemos dizer que fizemos uma barriga de aluguel.
— Mas não somos casados a muito tempo, e ele com certeza vai querer saber tudo sobre essa mulher que não existe.
— Só nos resta a verdade então.
Ficamos em silêncio, não tinha outra opção a não ser isso.
— Chegamos, vai custar 30 dólares — Disse o taxista.
Pagamos e saímos do carro, os pais e vários empregados vieram para pegar nossas coisas, e como já era de se imaginar a primeira coisa que eles viram foi Kiara.
— Olá querida — A mãe de Charli lhe deu um sorriso falso e olhou para Kiara.
— Filha, de quem é essa bebê? — O pai dela perguntou logo de cara.
— Surpresa — Charli disse — Chase e eu adotamos um bebê.
— Adotaram? — Os pais de Charli falaram em uníssono.
— A gente queria fazer uma surpresa — Mesmo um pouco tensa, Charli estava se saindo bem — A gente entrou em processo de adoção a algum tempo e recentemente conseguimos a guarda da Kiara.
— Tão rápido? — Senhor D'amelio perguntou — Isso não leva tempo?
— Somos ricos, somos casados, tínhamos condições de cuidar dela, então foi que foi — Eu disse tentando inventar qualquer coisa — Já que não podemos ter uma filha, adotamos uma.
Eles se olharam com um olhar de tristeza, era doloroso para eles também. Deviam ter pensado na felicidade da filha antes de fazer isso.
— Bom, então passa minha netinha linda pra cá — A mãe dela deu um sorriso verdadeiro dessa vez.
— Ela é tão linda, olha para esse cabelinho enroladinho — O pai de Charli disse todo babão — Ela vai no jogo conosco.
— O que? — Eu e Charli dissemos sérios, mas não avia nada que pudéssemos fazer.
[...]
O chapéu que estava na cabeça do senhor D'amelio estava agora na cabeça de Kiara, ela sorriu como se ela estivesse ganhando uma coroa.
— To apaixonada por ela — Disse Charli toda rendida.
— Eu também.
[...]
Charli olhava com admiração o jogo, seu pai estava ao lado da mesma forma, só que sendo um avô meio babão de olho toda hora em Kiara.
Queria entender o pequeno incomodo dentro de mim. Talvez podia ser pelo fato de eu não torcer para o time do México. Podia até mesmo ser... não! Me recuso a dizer que é ciúme, nem sou apaixonado ou menos amo ela. Mas também não entendo as minhas atitudes de ter arranjado qualquer desculpa para vir, o que eu tinha na cabeça? O qua anda acontecendo comigo ultimamente?
— Querendo ou não, meu ex joga muito — Charli dispara — Será que ele está solteiro?
— Que diferença faz se ele estiver ou não? — Pergunto com desdém.
— Não sei, queria saber para poder dar uns conselhos sobre como ela não será uma prioridade na vida dele.
Lembrei instantaneamente das histórias de vida da Charli. Ela contou que Pepe desistiu de fugir com ela por medo e que alegou na noite da fulga que "estaria estragando a fama de jogador".
Eu ri só de saber do fato de Charli ter certo ranço por Pepe pelo que ele fez. Fiquei um pouco grato a Pepe para falar a verdade. Se eles estivessem fugido, eu perderia automáticamente a empresa e não conheceria Kiara. Mesmo que não houvesse nenhum tipo de sentimento entre Charli e eu, também sinto grato por tê-la ao meu lado e de conhecer a pessoa doce e boa que ela é.
O jogo finalmente encerrou e dei graças a Deus por ter terminado o mais rápido possível.
— Foi um jogo épico — Disse Charli toda alegre.
— Foi chato — Digo — Basebol é bem melhor.
Ela fez uma careta engraçada como se não quisesse discordar daquilo. Óbvio que ela também gostava de Basebol, quem não gosta?
— Bom senhor Hudson, você está me devendo um ingresso para um jogo de Basebol — Ela bate no meu peito — Vamos embora.
Sorri e sai atrás dela, enquanto isso Marc estava na frente com Kiara. Se meu pai estivesse vivo, com certeza ele ia paparicar Kiara a todo o instante, ele era assim com todos os sobrinhos da família, não seria diferente com a neta.
— Peguem ela, preciso ir no banheiro — Disse senhor D'amelio entregando Kiara para Charli — Me esperem na entrada.
Ele se foi, então fizemos o que ele mandou.
Estávamos andando para a entrada quando avistamos um grupo de jogadores. Uns estavam tão suados e outros bem limpos, um pouco afastados do grupão.
— Não posso crer — Ouvi uma voz estranha, ao virar vi o dono dela vindo na nossa direção. Percebi que Charli deu uma estremecida ao meu lado — Charli D'amelio ou devo dizer Charli Hudson.
— Pepe — Charli sorriu ironicamente — Parabéns pelo jogo, foi ótimo.
Eles ficaram se olhando por um tempo, como se tivesse uma grande conexão entre os dois. A questão era, conexão de amor ou ódio?
— Quem é essa bebê? — Ele finalmente perguntou sobre ela.
— Minha filha — Ela disse tranquilamente, Pepe riu.
— Você vai ser tão infeliz Charli, nem mãe pode ser de verdade — Meu sangue ferveu com aquelas palavras, mas Charli continuou tranquila.
— Eu sou feliz, você não sabe nada sobre minha felicidade — Charli se manteve firme — E mãe, senhor Gonzalez, não é só quem tem, mãe é quem cuida e ama. Eu amo e cuido da minha filha, e eu sou mãe sim. Agora vai lá com seu time e treina viu, eu fui irônica quando disse que você foi bom.
Pepe ficou sério, Charli venceu a briga, mas percebi que ela ficou magoada. Kiara não seria nossa para sempre.
Charli virou e foi embora sem dizer mais nada, Pepe ficou olhando como se estivesse arrependido pelas palavras. Ele parou de olhar para Charli e virou para me encarar, eu o encarei de volta.
— Ela não ama você — Afirma ele — Você também não ama ela, você nunca vai fazer ela feliz.
— Então você é o sujo falando do mal lavado, porque quem ama não abandona. E além disso, você fez uma escolha, e ela não foi a Charli — Revido.
— Você usou ela pra ganhar sua empresa.
— Você trocou ela por sua fama — Digo, fazendo ele se calar — Charli também escolheu quando se casou comigo, eu não obriguei ninguém. Quem é pior Pepe?
— Eu não tive escolha, você não entende.
— Se eu fosse você e a amasse de verdade, nenhum dinheiro ia me fazer largar dela.
Não tinha mais diálogo entre eu e ele. Mesmo que eu não gostasse dele, mesmo que ele tivesse abandonado Charli, eu vi em seus olhos que ele amava ela ainda.
— Só faça ela feliz, ok. Eu não suportaria carregar a culpa de que ela é infeliz por minha causa.
Ele se afastou na mesma hora em que Marc apareceu, por sorte eles não se encontraram.
Depois de sair dali, encontramos Charli do lado de fora com Kiara. Para o pai dela estava tudo bem, mas eu sabia que o inchaço nos olhos era por causa do choro que ela escondeu.
Pepe fez Charli sofrer uma vez, eu faço ela sofrer todos os dias por ter colocado ela nessa situação. Então eu decidi, mesmo que eu seja infeliz, eu vou fazê-la feliz.
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