VII -Visita-
Nunca havia pensado sobre ter filhos. Minha prioridade, desde que decidi cantar, era ser reconhecido, ter minha independência, casa e carro próprios. Planear os descendentes era um pensamento que deixava para o futuro, mesmo agora já estando com vinte e cinco anos.
Já que tudo mudou, preciso me organizar. Provavelmente, essa garota fará de tudo para pegar meu dinheiro, porém não entrarei no jogo dela enquanto não ter certeza de que esse filho é meu.
— Jhon, vim conversar com você — diz CJ enquanto dá algumas batidas de leve na porta.
— Está trancada.
— Então abra.
— Não lembro onde coloquei a chave. — Realmente não quero falar com ninguém. Quero apenas continuar deitado.
— Tudo bem! Falaremos por aqui mesmo. Como está se sentindo?
Não sei se minha mãe o convenceu a vir me perturbar ou se ele está fazendo por vontade própria. Será que não percebem que não estou afim de falar com ninguém? Não respondo para ver se ele vai embora, porém em vão.
— Já que você não quer falar... Eu to com uma namorada nova. Você iria gostar de conhecê-la. É sua fã — diz ele empolgado.
Fico surpreso por ouvir dizer que ainda tenho alguma fã.
— Ela pirou quando soube que eu era seu amigo — continua ele.
Rolo na cama de um lado para o outro, mas não consigo dormir. Acredito que tenho dormido tanto que meus olhos estão rejeitando se fecharem novamente. Pego meu celular e coloco os fones com música alta. Ele continua falando sobre sua namorada nova, porém paro de ouvi-lo por causa da música.
Troco a estação da rádio. Durante umas duas horas não toca nenhuma música minha. Será que elas não tocarão mais, permanentemente? Não. Estou exagerando um pouco — respondo para mim mesmo. Coloco o travesseiro sobre minha cabeça, ao invés de colocá-lo sob. Acaba uma música internacional e uma batida sertaneja começa. Dou um pequeno salto e sento na cama. Será? Será que é uma música minha? Percebo que não quando a voz rouca de Humberto Martins começa a cantar.
Arremesso meu celular contra a janela, quebrando ambos. Seguro o fone com as duas mãos e parto os fios. Levanto e derrubo tudo que vejo pela frente, nem mesmo meu aquário consegue se livrar de mim. Minha mãe e CJ gritam desesperados através da porta querendo saber o que está acontecendo, até que CJ arromba a porta. Ele e minha mãe me abraçam forte e me carregam para longe dessa bagunça enquanto continuo gritando.
Essa adrenalina me faz lembrar do balanço do ônibus enquanto capotava várias vezes. Flashes perturbadores invadem minha mente. Sinto uma forte tontura e uma acentuada dor de cabeça.
— Esse monstro — grito depois de minha mãe perguntar novamente o que aconteceu. — Meu pai deveria estar aqui, deveria estar aqui comigo nessa fase da minha vida. Mas por causa dele...
— Se acalma filho. Até quando você vai ficar assim por causa dele? — minha mãe diz em lágrimas. — Seu pai se foi. Foi um acidente. Aceita.
— Eu sei que não foi um acidente — pronuncio enquanto seco as lágrimas que insistem em cair.
A campainha toca e minha mãe lava o rosto marcado pelas lágrimas para poder atender. CJ sai pelas portas do fundo, já que estamos em conflito aqui em casa e agora temos visita. Caminho até o banheiro para lavar o rosto e respirar um pouco enquanto minha mãe caminha até a porta. Abro a torneira e enfio a cabeça em baixo da água para relaxar, porém sou interrompido por uma gritaria na sala.
—Vagabunda. — Ouço a voz da minha mãe. — O que pensa que está fazendo aqui. Eu vou arrancar essa criança de você.
Por um momento penso em correr para ver o que se passa, contudo, ao analisar as palavras ditas pela minha mãe, congelo. Será que é mesmo quem estou pensando? Não pode ser, é loucura!
Caminho vagarosamente em direção aos gritos e, quando chego na porta da sala de estar, vejo minha mãe sobre Clarice, no chão. Puxo minha mãe para longe dessa maluca e ligo para os seguranças do condomínio. Em alguns segundos dois seguranças chegam e eu peço que tirem minha mãe daqui por um tempo, preciso conversar com a visita. Sei que Joana nunca sairia por vontade própria.
A adrenalina de ver minha mãe brigando passa e eu volto a sentir o corpo congelando. Tento me controlar para não parecer tão frágil diante do inimigo, porém é mais forte do que eu. Demoro alguns minutos para conseguir pronunciar algo.
— O que veio fazer aqui? — É o máximo que consigo falar nesse momento.
— Queria ver o pai do meu filho! —seu tom de voz é o mais sarcástico possível.
— Não tem como saber se eu sou mesmo o pai. — Tento imitar o tom de voz dela.
— Eu não saio transando com vários caras por aí. Naquela época foi só com você e a contagem do médico bate certinho com o nosso encontro.
Sinto uma pontada no estômago. Tenho pensado muito sobre tudo que aconteceu naquela noite em Noronha, mas parece que o remédio que ela usou para me dopar fez a minha memória falhar em relação àquela noite a qual passamos juntos. Depois de muito raciocinar, concluí que sempre uso preservativo e, apesar de não lembrar direito daquela noite, não acho que tenha sido diferente. Essa é a única arma que tenho para atacá-la.
— Não adianta tentar usar uma gravidez contra mim. Eu sempre me previno — declaro.
— Nem sempre. — Ela respira e solta um pequeno sorriso para mim. — Naquela noite você não usou preservativo.
Começo a suar frio.
— Tenho certeza que está errada.
— Você pegou a camisinha na carteira, mas jogou do lado da cama — rebate.
— Eu nunca deixo de me prevenir — insisto.
— Nunca, é uma palavra muito forte. — Ela continua com o sorriso debochado. — E, se serve de conforto, tinha furado a sua camisinha. Caso você decidisse usar, daria no mesmo.
Me condeno por ter vacilado tanto e me condeno ainda mais por ter a engravidado em apenas uma noite. É mais do que azar. Apenas uma vez... Jhon, seu idiota — digo para mim mesmo.
— Eu não vou me pronunciar enquanto não fizer o exame de DNA e ter certeza de que é meu.
— Você que sabe, mas preciso de dinheiro para o ultrassom. — Ela me encara.
— Não vou te dar dinheiro algum. — Aumento um pouco o tom de voz.
— Prefere um escândalo midiático?
— Mais um ou menos um não fará tanta diferença — zombo.
Ela me devora com o olhar.
— Você não deveria estar em casa? Em Noronha? — questiono.
— Moro aqui no Rio agora.
Só me faltava essa. O que ainda falta para desgraçar mais a minha vida?
— Vou te dar uma segunda chance — diz ela enquanto estende a mão e a mantém aberta no ar.
Internamente, me contorço de ódio. Para evitar confusão, um novo escândalo e calar um pouco a boca dela, decido dar o que ela pede.
— Se essa criança não for minha, você tá ferrada — ameaço e entrego um cheque.
— Posso me ferrar dez vezes que não ultrapassarei o quanto você está ferrado.
Ela sai mandando um beijo.
Após a porta fechar, caio sentado no sofá. Abaixo a cabeça pressionando a testa nos joelhos e a palma da mão na nuca. Estou desesperado demais para me recuperar desse pequeno encontro.
.....
Destruir tudo por causa de uma música? Se acalme, rapaz. Ainda bem que ele é rico e pode comprar tudo de novo.
Imagina o que seria de nós, pobres, com um problema como esse! Kkkk
Revelações sobre esse trauma do passado: triste acidente! Será que Humberto tem mesmo alguma coisa com isso?
Tem umas visitas que são tão indesejáveis não é mesmo?!
#ClariceFDP!
Preciso saber se estão gostando... Me ajudem aí votando e comentando!
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