Vou até a casa de CJ que é no mesmo condomínio que o meu. Ao abrir a porta da minha casa, vários jornalistas vêm para cima de mim. Ainda com lágrimas no olhar, passo por eles com um certo esforço e me certifico em não pronunciar nada. Chego na porta de CJ e dou sorte de ser atendido rápido. 

 — Que loucura! Esses jornalistas não desistem — ele diz antes de perceber que estou chorando. 

    Demorou alguns minutos para contá-lo toca a conversa que tive com minha mãe.

— Mano, ela está certa. Estou preocupado com você. — O tom dele realmente denuncia preocupação.
— Não tem com o que se preocupar. — Tento tranquilizá-lo.
—Não? E essas crises repentinas?
— Foram só três — rebato.
— Poxa, Jhon. Há muito tempo não via você descontrolado. — Ele cruza os braços como de costume.

    Realmente, há meses não acontecia. Acho que estava tão ocupado com milhares de shows que não tinha tempo de nem mesmo ouvir o nome de Humberto.

— Há muito tempo não via e nem ouvia nada sobre ele. Tomava cuidado, mas estou muito frágil ultimamente — explico a CJ.
— Mesmo assim, não era para ocorrer. O que aconteceu com os meses de tratamento que você fez após o acidente?
— Nunca adiantaram. Esses tratamentos recentes também nunca adiantaram, porém sou obrigado. Eu tenho que tomar esses remédios igual a um maluco pra nada mudar — desabafo.
— Você sabe que esses medicamentos não são em vão. Isso é uma doença, cara. Você desenvolveu um transtorno contra aquele acidente e direcionou a Humberto. Tornou-se obsessão — diz ele diretamente.
— Não fala o nome dele — repreendo-o um pouco irritado.

    Acho impressionante como ele convive comigo e sabe que odeio aquele cara e, mesmo assim, pronuncia o nome dele.

—Fiquei sabendo sobre o festival. — Sua intenção em mudar de assunto é evidente.
— Estou receoso quanto a isso.
— Eu acho que é o momento certo para reaparecer.
— Por que? — questiono sem nem mesmo ter deixado ele terminar a frase.
— Porque já se passaram meses. Ninguém mais fala sobre aquele vídeo.
— Podem não falar, mas não se esqueceram — suponho.
— Se você soubesse quantas fotos de famosos vazaram recentemente! — Seu tom soa quase pervertido.
— E a notícia da gravidez?
— Vários escândalos aconteceram na mídia após isso — continua.
— Sério? — questiono um pouco animado.
— Semana passada mesmo um casal famoso se divorciou após o homem ter traído a mulher com outra atriz. — Faço um som de surpreso. — Na mídia é assim, o povo só fala até acontecer outra coisa. Depois mudam de assunto.

— Você pode estar certo. Só repercutem por um tempo, até acontecer outra novidade. 
— Nas suas redes sociais quase não criticam mais. As únicas críticas são sobre você ter sumido— ele tenta me tranquilizar.
— Você tem razão. Talvez seja mesmo melhor eu tomar uma atitude. Cantar é o que eu faço de melhor não é mesmo? — Forço um pequeno sorriso.
— É assim que eu gosto de te ver, mano. Com esse brilho de artista no olhar — diz ele entusiasmado.
— Vou fazer um teste. Irei apenas cantar uma música como Charlie disse que vai ser e depois eu vejo no que vai dar. Quem sabe eu não levo um choque de realidade e esse músico dentro de mim ressuscita?!

    CJ para e faz cara de pensativo.

— Sabe do que você está precisando? — questiona ele e eu balanço a cabeça em negativa.

    Ele vai até a mesinha de centro, pega o celular e liga para alguém, convidando essa pessoa.

— Quem virá aqui?  —  Tento disfarçar a curiosidade..

    Ele não responde e tenta me enrolar com alguns assuntos sobre seus pais. Em menos de uma hora a campainha toca. CJ abre a porta e entra uma linda menina morena clara. Olho para ele sem entender nada quando vejo os dois darem um beijo.

— Vai dizer que não se lembra de Kate? — pergunta ele de uma forma quase agressiva. 

    Eu realmente não faço ideia de quem seja, até que lembro de quando CJ ficou do lado de fora do meu quarto, através da porta, me perturbando. Lembro que ele começou a falar sobre uma namorada nova que era minha fã, porém coloquei os fones no ouvido e não prestei atenção em nada do que ele disse. Antes tivesse lhe dado a devida atenção, pois assim não teria escutado a música de Humberto e iniciado uma crise.

— Claro que lembro. A namorada nova — respondo ainda um pouco perdido, pois se ele me perguntar qualquer coisa sobre ela não saberei dizer. — Tudo bem, Kate? — pergunto ao perceber que ela está paralisada olhando para mim.
— Hoje é o melhor dia da minha vida — ela grita antes de pular em meus braços.

    Passamos horas conversando. Kate me incentiva tanto a voltar aos palcos que fico receoso por um dia te-los abandonado. Ela diz que participa de vários grupos de fãs e me mostra as mensagens. As chefes dos grupos marcaram vários encontros na porta da minha casa e nunca foram atendidas, passaram completamente desapercebidas assim como todos os jornalistas. As mensagens são motivacionais, até mesmo as críticas são. Kate me mostra que essas fãs me defendiam também nas redes sociais. Desde que "sumi" não entrei em nenhuma rede social, apenas minha mãe, Charlie e CJ olhavam de vez em quando. Agora, vejo tudo que perdi esse tempo todo. Uma enxurrada de críticas, questionamentos e até mesmo notícias falsas de shows aos quais nunca tive conhecimento.

    Agradeço à Kate por tudo que ela me mostrou, por todo o apoio. Ela tira uma foto comigo para postar nos grupos e dizer que ainda resta esperança para a minha volta. Digo a ela sobre a pequena participação no festival e ela posta junto com a foto. Isso viraliza nas redes em apenas uns minutos. Kate não disfarça a alegria em estar comigo e isso me remete a muitos momentos bons com as minhas fãs. Vejo através de Kate que não posso simplesmente abandoná-las como estou fazendo há meses.

    De tudo o que vi, a única coisa que me incomodou muito foi ver notícias sobre vários shows de Humberto. Tive que me controlar ao extremo para não assustar Kate. Pelo que percebi ele tem se aproveitado da minha ausência para disparar pelo país. Não posso deixar que isso continue a acontecer.

— Eu sabia que se você relembrasse de momentos com as fãs, que algo mudaria dentro de você. Nada melhor do que uma fã para resgatar essas memórias  — CJ diz e me abraça.
— Valeu, mano! — agradeço-o e me despeço dele e de Kate. 

    Volto para casa me sentindo um pouco mais leve, de uma maneira como não me sentia há muito tempo. Percebo que solto um sorriso quase que involuntário. Acho que é o único sorriso verdadeiro há meses.

.....

Parece que Kate foi tipo "a luz no fim do túnel" para Jhon!

Fico feliz em ver que ele está um pouco melhor. Pelo menos conseguiu se segurar para não ter uma crise perto de Kate.

#VoltaJhon

O que acharam da atitude de CJ em trazer Kate para animar o amigo?