Capítulo 4. B
Maria Eduarda
Quero conhecer
Depois que fiquei sozinha, ou melhor, meu vizinho saiu, tentei estudar. É tentei, mas fracassei terrivelmente. Fui para cozinha olhar a geladeira. Dizem que frustração se resolve comendo, pois, a vontade era fazer um brigadeiro e sentar na sala com a panela no colo. Ainda bem que sou sensata. Faço o pensamento controverso, o que aprendi com uma amiga. Ela sempre dizia assim:
"Quando você estiver ansiosa, triste, angustiada e acabada mesmo, três coisas básicas têm que ser feita logo." Primeiro, bloquear ou cortar o cartão de crédito. Depois você desbloqueia ou pede outro. Segundo, nunca deixe sorvete no freezer ou chocolate no armário. São venenos neste caso. Terceiro o celular, às vezes essa é a que mais te ferra! Depois que enviou mensagem ou ligou, arrepender já é proposta inválida. Então pensado em não ganhar quilos extras e a primeira nem a terceira era alvo no momento.
Eu fiz uma salada, uma panqueca, suco de melancia com limão e fiquei na frente da TV, vegetando, ou seja, sem prestar atenção em que passava. Somente cumprindo tabela. Mas consegui relaxar e era o que importava no momento.
Mais tarde voltei a estudar. Os textos dados para fazer relatório eram até que interessantes, porque conseguiu tirar os meus pensamentos sacanas e focar na realidade. Assim que terminei, tomei uma ducha e fui dormir.
Mais cedo eu tinha recebido uma mensagem de uma amiga me convidando para uma festa, mas nem respondi. Para mim, final de semana começava na sexta.
Acordei de madrugada com um grito, assustei. Sentei na cama até entender o que aconteci. Na hora achei que o meu vizinho estivesse acompanhado. Fiquei quieta para escutar alguns resmungos, percebi que ele tinha tido um pesadelo.
"Santo Deus!" Ele repetia várias vezes e algumas frases soltas difícil de entender. Depois acho que levantou e saiu do quarto. Pelo jeito tentou dormir, mas não conseguiu.
Eu fiquei acordada e deitada, escutava os movimentos do lado de lá, com isso mais cedo que o normal levantei e fui patinar. Precisava de exercícios para fazer minha cabeça parar de funcionar ao contrário.
Fui para a pista de exercício da faculdade, coloquei meus patins, fone no ouvido e pronto.
Deslizei.
Após ter dado várias voltas em velocidade acima da média fui diminuindo para poder parar. Sabia que tinha exagerado, tanto na velocidade quanto nas voltas.
Quase caí ao ver meu vizinho começando a correr.
Uau...
Ele vinha em direção contrária à minha.
Pensei: vou passar mais devagar na próxima volta. Queria ver se ele me notava igual no RU. Mas a hora que ia aproximar dele, ele abaixou para arrumar alguma coisa no tênis, acho que foi o cadarço.
Iria dar mais uma volta, mais devagar, pois já me encontrava cansada. Foi então que percebi seu olhar antes de ultrapassá-lo. Fingi não o notar. Santo Deus! Iria dar mais uma volta, morreria isso já era certo.
Passei devagar, quase parando e próximo dele, tirei o capacete e soltei os cabelos. Ele me olhou e foi virando de costa. Percebi que voltou em minha direção.
Não podia deixar ele me alcançar. E quase chorando de cansaço, acelerei até o portão de saída. Olhei para os lados e verifiquei que ele tinha parado, mas permanecia com as mãos na cintura olhando em minha direção. Abaixei, tirei os patins e fui embora bem rápido.
Como tive perna para isso? Até agora não sei.
De que maneira cheguei no apartamento tão rápido? Medo e adrenalina misturados. Só pode.
Agora se perguntarem sobre minhas pernas, acho que elas faleceram na metade do caminho e, na certa precisavam de um desfibrilador.
Cheguei no apartamento e capotei no sofá. Precisava urgente de água, a minha garrafa se encontrava vazia há um tempo, mas a distância até a cozinha nunca pareceu tão distante. Talvez a quilômetro de distância. Se meus joelhos não doessem tanto teria ido de gatinhando. Pouco tempo depois escutei o elevador parar no andar, alguns barulhos e mais nada. Tomei minha água e consegui chegar a minha cama. Minha manhã foi perdida, tive que descansar senão ir a aula a tarde estaria comprometido.
Andar até a faculdade depois do almoço foi terrível, continuava cansada. Fui para aula e fiquei muito dispersa, pensando no vizinho. Balancei a cabeça na tentativa de espantar os meus pensamentos. Eu precisava tomar jeito.
Alguém me cutucou e passou um bilhete. Olhei o papel escrito a caneta: "oi, estou com muita dor de dente, você vai comigo no ambulatório da faculdade?", olhei para os lados para saber quem passou. Apesar de que, já imaginava. Então Sabrina colocou a mão no rosto e fez cara de dor. Balancei a cabeça que sim para ela.
Assim que terminou a aula ela chegou perto de mim.
— Duda! Vamos agora?
— Vamos. Você está com muita dor? Não dá para esperar a última aula?
— Não dá. Vai ficar tarde.
— Tarde pra quê?
— Ãn... pode fechar lá. Vamos? — Puxou-me pela mão.
— Espere, preciso pegar minhas coisas.
Saímos em direção ao ambulatório. Ela parecia estranha, retorcia as mãos. Devia estar com muita dor. Chegamos à recepção ela pediu para eu pedir a consulta.
— Boa tarde, minha amiga está com dor, tem horário para atendimento? — perguntei à recepcionista.
— Sim, claro. Aguarde um pouco. Ela tem ficha aqui? — Olhei-a sem saber a resposta. Sabrina fez sinal que sim e estendeu a carteirinha que entreguei a moça.
Sentei perto dela. Saiu de um dos consultórios alguém e pensei que chamaria a Sabrina. Mas a porta se fechou de novo. Passou alguns minutos e do outro consultório saiu mais alguém. Então Sabrina foi chamada.
Resolvi esperar lá fora para não atrapalhar as pessoas que esperava por consulta.
Assim que chegamos a sala de espera foi enchendo. Pensei: chegamos na hora certa.
Quando por fim ela saiu, estava com um sorriso de fora a fora no rosto.
— Nossa! A consulta foi boa, hein? Melhorou?
— Você não imagina quem me atendeu?
— Quem? Não faço a mínima ideia.
— O Filé. E sabe quem atendia do lado? Seu vizinho, o Bem.
Olhei desconfiada para ela que tinha cara de culpada.
— Fala a verdade. Você não tinha dor nenhuma, sabia que ele estaria aqui. Veio por isso, certo?
Ela me deu uma olhada de lado e começou a rir. Nem precisava responder, eu já sabia.
— Você me perdoa, amiga? Não falei verdade com medo de você não vir comigo. Você é toda certinha... — choramingou ela revirando os olhos para mim.
Respirei fundo e caminhei em direção a saída do hospital.
— Não faça isso de novo. Perder aula por mentira sua, eu realmente não quero.
E pensar que poderia ter dado de cara com meu vizinho, me fez ficar mais irritada.
Voltamos para assistir a última aula.
Mas o estrago já tinha sido feito, eu não conseguia parar de pensar se tivesse dado de cara com ele. A Sabrina contava que tinha dado certo seu plano, pois iria sair com o tal Filé à noite.
Garotas e seus planos infalíveis...
Aposto que você já fez algo assim também.
Conta verdade?
Gostaram do capítulo?
Comentem e aproveite para me contar uma que já aprontou para encontrar alguém.
Vai! Conta!
Abraços...
Lena Rossi
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