Capítulo 19.B
Maria Eduarda
Conversar
Agora?
Sua indignação era palpável.
Ele estava sendo sarcástico comigo, provavelmente iria jogar na minha cara o que ele escutou do outro lado.
Até a hora que levantei e abri a porta para que ele saísse e disse para ir embora.
Pensei que falaria para mim que eu era safada igual a ele. Então, eu teria que contar a verdade. E talvez com pressão, as palavras saíssem sem tanta dificuldade como era começar o assunto.
Mas não... ele me pressionou sem ser direto e isso me fez que eu sentisse mal com aquela situação.
Gritei com ele.
Tive medo.
Ele encostou-me na parede e segurou meu queixo com força. Achei que ele fosse me bater, tamanha sua fúria, ele deu um soco na parede que eu, por um segundo, achei que seria na minha cara.
— Sai daqui Rafa, por favor! — Soltei-me dele e abri a porta. Apavorada. Tremendo e com muita raiva.
Se eu falasse a verdade agora fosse perigoso, ele poderia dar mesmo em mim.
Ai que ódio.
Ele não sabia a verdade, mas eu via em seus olhos que eu era a maior safada do planeta no seu pensamento. Mas a raiva me consumia do jeito que ele me tratava.
Meu subconsciente sensato falou para mim: chegou a hora de falar, não adie mais.
Mas a minha parte medrosa se borrava de medo e dizia: enrola ele e vai ficar tudo bem.
Ele, passava a mão no cabelo irritado e andava de um lado a outro. Um bicho enjaulado. Olhou para mim pensativo e devagar tentou parecer calmo.
Eu buscava entender o que ele queria de mim e as coisas que falava.
Fechei a porta e voltei a sentar no sofá. Era agora ou nunca, pensei.
— Rafa, eu estou confusa, acho melhor... — Assustei quando ele gritou comigo e não me deixou prosseguir.
Ele cuspia as palavras como se eu fosse uma qualquer, mesmo depois de conhecer minha família.
O que ele falava, meu Deus?
Pronto!
Iria começar seção revelação. Tudo que eu já sabia e ele pensava que eu era igual.
Pode?
Nem sei se queria falar, tamanha era minha vontade de chorar e não desejava que fosse na frente dele.
Pedi que saísse.
Nem ao menos olhei em sua direção. Foquei as minhas mãos.
Falei na tentativa de manter a calma. Ele não se mexeu.
— AGORA!! - gritei.
Indignado, ele foi embora e bateu a porta, com força, para ser honesa.
Eu? Eu me derramei em lágrimas. Corri até a porta e a tranquei.
Eu espera o que dele? Romantismo?
Enganei porque quis, ele nunca demonstrou que seria diferente. Embarquei consciente de onde entrava.
Foi bom acontecer dessa forma, assim não contei nada. Seria muita humilhação o ver rir da minha cara.
Agora eu precisava chorar. Extravasar a tensão, medo e decepção. Sabia que o fim, o ponto final, tinha sido colocado na página.
Comigo sempre foi assim, quando algo dava errado eu precisava botar para fora para esquecer e aliviar.
Já me apaixonei antes e não fui notada pelo cidadão. Também não fiz nada para que ele soubesse. E nem por isso havia morrido.
Precisaria de um tempo para sofrer a decepção e pronto. Passar pelo luto, como as meninas gostavam de dizer. Coisa feia, eu sei, mas revelava bem o que sentia.
Em alguns dias, ficaria renovada.
Afinal, sempre soube o canalha que habitava naquele corpo, lindo por sinal. Deixei-me levar totalmente consciente.
Após resolver isso na minha cabeça, eu seguiria em frente.
Quanta balela, até parece que seria desse jeito e não iria sofrer.
Meu celular vibrou na mesa me tirando dos meus pensamentos. Levantei do sofá e peguei para ver. Se fosse ele com a lorota de sempre para pedir desculpa eu o mandaria pastar, catar coquinho no deserto.
Não era.
E o meu coração besta ficou triste.
Bri: "Olá amiga, tudo bem? Vamos ao cinema ver a turma?"
Sabrina me convidava para assistir o filme produzido pelos estudantes do festival. Escutei falar que tinha ficado muito bom. Faltava qualidade de produção apenas.
Peguei o celular e caminhei para meu quarto.
"Não sei, estou no meio de uma crise emocional."
Bri: "Quer q eu passe por aí?
"Não quero incomodar com meus lamentos.
Bri: "Então quer... Sei! Estou indo. Bjs"
Ok, quero sim.
Deitei na minha cama e relembrei os acontecimentos após a saída dos meus pais.
Uns vinte minutos mais tarde Sabrina chegou.
— O que está pegando? Aposto que tem Bem no meio deste pastel? Acertei?
— Em cheio. No recheio e na massa.
— E com certeza no óleo frio e fedorento. — Tive que rir. — Venha me contar. — Ela me puxou pela mão até o sofá.
Comecei a contar tudo, desde a noite anterior depois do festival até aquela manhã. Ela ouvia e em alguns pontos se manifestava.
— Amiga... isso tudo é novidade para ele. É evidente que está sendo difícil. Não quero defendê-lo, longe de mim, sei que é um safado credenciado, mas deve ser complicado. É tudo muito novo.
— Sei disto, sempre soube que a coisa com ele gira em torno do sexo, mas eu quero outra coisa para mim, entende?
— Vai me dizer que você não gosta de sexo? — Deu uma risadinha. — Estou brincando, sei o que quer dizer.
— Tenho certeza que essa deve ser à parte boa de uma relação, mas eu não quero que seja a única. Afinal, se uma relação não tiver conteúdo o que vai acontecer fora disto?
— Por isso, eu sempre digo, namoro e os amigos sempre têm que andar juntos. Afinal, homem não gosta de falar mal das roupas das outras garotas, ver vitrine em shopping, sair para compras, todas essas coisas e nós não gostamos de futebol e nem escutar papo de campeonato brasileiro. Verdade?
Tive que rir dela novamente, afinal tinha razão.
— Você é única Bri. Nesta altura me fazer rir quando tenho vontade de chorar. Obrigada por ter vindo. — Apertei sua mão. — Já almoçou?
— Não! — Parou um pouquinho, acho que analisando seu estômago. — Estou morrendo de fome. Vamos a algum lugar?
— Gosta de comida da mamãe? Neste caso, minha mãe?
— Opa! Você acha que gatinha gosta de leite?
— Então venha aqui na cozinha.
Fomos ver quais as opções teríamos, mamãe deixou vários pratos prontos e era para eu congelar depois.
Conversamos bastante durante e depois do almoço. Eu a vi receber uma mensagem e escreveu de volta. Depois falou:
— Filé está com o Bem, foram almoçar e vão para o cinema depois. Ele disse que o amigo está "malzão".
— Mais um motivo para eu não ir. Ele deve está se fazendo de vítima agora. Preciso de distância dele.
— Fico com você!
– De forma alguma, pode ir curtir seu namorado. Estou bem agora.
— E perder uma tarde de papo com minha amiga querida? Hoje a tarde é nossa! O que vamos fazer?
— Sorvete e filme? Ou pipoca e filme? Ou...
— Patinação e muita caição! O que acha?
— Você quer patinar? — Estranhei a ideia dela.
— Patinar é para você! Esborrachar no chão é para mim. Mas gostaria de aprender. Principalmente se for tornear minhas pernas e arrebitar meu bumbum. Topa? — Ela ficou de pé, apertou a perna e empinou o bumbum.
Sabrina era linda, muito diferente de mim. Morena, olhos amendoados, seu cabelo era curtinho deixando seu rosto perfeito em destaque, não era alta, porém tinha um corpo perfeito. Não sei o que queria mais.
— Claro! É uma das coisas que melhora meu astral são aquelas rodinhas.
— Você disse que tem um para emprestar para mim, lembra?
— Claro! Tenho vários.
— Se me agradar, eu irei comprar um.
— Tenho certeza que não vai querer parar mais.
— Ah vou sim... Sou a preguiça em pessoa para exercitar... mas nada impede de um sorvete antes... — falou rindo - e outro depois.
No final das contas, meu dia não foi totalmente perdido. Passamos horas muito agradáveis e de muitas risadas. Ela era uma verdadeira peça. Eu ri muito do seu jeito de começar a entrevista com os patins.
— Boa tarde, eu sou a Sabrina, então situa que mudou de parceira. Aqui agora, é você que precisa fazer por mim, não eu por você. Concluiu?
— Ele entendeu muito bem - falei rindo.
Ela não chegou a cair, mas tudo foi muito engraçado.
No final da tarde, ela já deslizava sozinha e sem ficar dura igual um manequim de loja.
E gostar, foi à melhor parte. Ela adorou sentir a liberdade de soltar minhas mãos. Na hora de parar ela não quis. Então alertei as dores nas pernas que ela teria no dia seguinte. Não poderia ficar brava comigo, pois foi avisada.
À noite minha campainha tocou.
Era ele. O Bem estava na minha porta. Fiquei com o coração apertado e indecisa.
Olhei pelo olho mágico.
Ele tinha cara de moleque arrependido, de ter jogado pedra na vidraça do vizinho. Se eu abrisse a porta cairia nos seus braços. E isso, eu precisava evitar. Decidida a não ter mais nada com ele não atendi.
No outro dia, ele tocou a campainha novamente.
Olhei. Ele usava a mão para tampar minha visão.
Até que desistiu, eu o vi encarar a porta.
Recebi mensagens e ligações dele, não respondi nenhuma. Precisava ser firme em minha opinião. Esse era meu orgulho, não voltar atrás numa decisão.
A Sabrina me ligou e me convidou para ir almoçar com eles, não aceitei, pois poderia dar de cara com ele e isso eu não queria.
Meu domingo foi ficar em casa. Estudei e chorei um pouco, por quê? Porque era besta.
Contei para Carol os acontecimentos e ela ficou brava comigo. Disse que era para eu ser mais direta com ele e contar a verdade e, se ele insistisse em transar daria um pé na bunda dele, caso contrário ele poderia esperar meu tempo e tirar uns bons máios.
— Máios? O que é isso? — perguntei.
— Amasso, sarro, casquinha, essas coisas Duda. Até parece que você é uma santa assim. Você pode fazer não fazendo, entendeu?
— Claro que não! Carol! Quem te ensina essas coisas? Estou assustada com você, mamãe conhece esse seu lado?
— Dãn Dãn, claro que não! E você nem ouse a falar!
— Tudo bem... mas juízo, pelo amor de Deus.
— Acho que não! Hoje tomei sorvete e no palito estava escrito. "Tome menos juízo e mais sorvete." Gostei da ideia.
— Muito engraçada você.
— Obrigada, também acho.
Meu domingo terminou com pipoca e filme. Chato por sinal. Dificilmente alguma coisa iria me agradar na atual condição que me encontrava: coração partido.
🦷🦷🦷
Por que queria não é mesmo?
Deixe sua opinião.
Abraço,
Lena Rossi
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