Capítulo 17.B
M
aria Eduarda
Quem sou eu?
Fiquei pensando o que fazer?
Chamá-lo e contar agora não daria certo. Talvez ele nem fosse me escutar. Porém, não poderia demorar, ficava perigoso ele descobrir que sou sua vizinha e não querer olhar na minha cara. Pior, espalhar o que imaginava acontecer no meu apartamento. Ao mesmo tempo onde arrumar coragem. Admitir o que fiz não ia ser fácil. Ai meu Deus!!
Cada uma que eu entro... E ainda teria esse festival.
Cadê Bil e Lim que andam sumidos? A culpa de tudo isso eram deles.
Eu estar neste festival foi ideia dos dois. Essa furada era culpa do Bil, não do Lim, apesar de que o Bem tinha parte nisso tudo.
Fiquei quieta contorcendo minhas mãos. Sabia que não era totalmente verdade, aceitei participar porque quis. Admito que gostei no final das contas.
Mas o que importava neste instante? A minha resposta para o Rafa. O que faria? Tudo bem! Pense Maria Eduarda, pense!
Deitei no sofá com o celular em mãos pensando, de repente comecei a digitar. Iria começar a revelar aos poucos, dar algo para ele pensar, começando por saber que tenho um segredo. Outra coisa, ele precisa saber que não sou esse tipo de garota que ele imaginava. Posso não ter experiência, mas não sou boba.
Poderíamos ficar de rolo, afinal sou muito nova para firmar compromisso. Mas também não queria ser como eles dizem: "água boa" ou "bebedor". Quando der vontade vai lá, da umas apertadinhas, passa a vontade e pronto!
Então mandei uma mensagem.
Esperei que a resposta fosse imediatamente, pois ele viu assim que enviei. Mas nada! Demorou bastante até ele enviar alguma coisa.
Quando veio, não entendi.
Olhava a mensagem diante dos meus olhos há um tempo. Ele respondeu ao "pé da letra" minha mensagem. Mas será assim tão fácil como ele colocava?
Um safado não muda de uma hora para outra, isso era certo. Também o que eu queria? Não o aceitava e nem queria um caso, ao mesmo tempo penso em não me prender.
Balancei a cabeça como se pudessem ordenar as ideias.
Na verdade, queria não estar a fim dele. Apenas isso!
Sabia que seria mais uma de tantas, estava mais na cara que meus olhos! Iludida por conta e risco.
O caso foi que tornei uma conquista nada fácil para ele, como todas. Um jogo a ganhar.
A minha decisão dependia se queria isso ou não! Precisava encarar os fatos:
Um, ele é lindo e gostoso. Curtir os bons momentos que poderia ter com ele, era um fato.
Dois, aos dezoitos anos precisava aproveitar minha fase de faculdade e curtir e não ficar amarrada em alguém.
Três, se apaixonar por ele, vai sofrer. Isto é garantido.
Quatro, a mulherada sempre cai matando em cima dele. Estou preparada para aguentar isso?
Cinco, seis, sete... Se eu for fazer uma lista ficaria a noite toda entre o pós e o contra e nunca chegaria à conclusão nenhuma.
Precisava pensar e pensar...
E outra coisa, fundamental nessa história toda, contar a minha identidade: sou a vizinha.
Chegar para ele e dizer:
— Oi, tudo não passou de uma brincadeira aquelas coisas, sabe?
Essa parte era a pior, assumir que eu o escutava e fiz o que fiz de raiva dele.
— Ai meu Deus! Maria Eduarda, que encrenca você foi se meter. Como vou contar isso? Vou morrer de vergonha de admitir isso!
Não mandei mais nada. Parecia mais sensato afastar-me dele e não contar nada.
O deixar saber que sou sua vizinha safada. Pronto! Ficava por isso mesmo. Tudo resolvido. Melhor que chegar para ele e contar a verdade.
Já havia decidido tudo comigo mesma e assinado em três vias de pensamento.
Entrei no meu quarto e abri o notebook. Daria uma olhada na rede social das meninas do curso.
A praia. Abri meu álbum. Fotos dele, dos pais...
"Como ficar longe de uma pessoa tão linda?, pensei.
Precisava ter foco e força. Não pensaria mais nele. Fechei o arquivo e o notebook.
No dia seguinte, recebi uma mensagem dele na hora do almoço:
"Espero que você pense mesmo. Mas somente em mim."
Resolvi ignorar, era essa minha tarefa. Lembra que registrou e assinou?
Agenda cheia funcionaria como uma ajuda a não pensar nele, pois não queria e nem podia.
A noite outra mensagem:
"Na hora que der vontade de me ver, é só chamar que eu vou."
Arrependi de ter olhado, porque agora não conseguia dormir pensando nele, o que foi proibido por minha mente.
Os dias seguiram com bastante ensaios, na verdade, nem via a hora passar.
E o Rafa não cooperava com os meus propósitos. Todos os dias recebiam uma mensagem dele. E a cada uma mais falsa aos meus olhos. Aparentava alguém que disputava um prêmio, que neste caso: eu.
Na quarta mensagem eu não aguentei e respondi:
"Nenhum tempo para ver esses olhos que tanto quer te ver?"
Ai Jesus!! Literalmente Jesus... O que faço? Precisava ignorar. Mas como? Pense Maria Eduarda! Respirei fundo e respondi: Curta e direta.
"A semana está muito corrida, me desculpe, não vai dar".
Foi difícil aperta o "enviar", mas precisava ser assim, sem romance. A minha vontade era dizer "venha aqui, meu lindo! Mata o que está me matando e te matando." Mas como sou sensata e penso muito, não rolava.
Na sexta à tarde meus pais chegaram. Vieram antes, porque teriam que voltar no domingo cedo.
Foi muito bom vê-los, não imaginava a saudade que sentia até mergulhar nos braços da minha mãe. Sentir o cheiro do meu pai e até a pentelha da minha irmã.
Eles me pegaram na faculdade final da tarde e fomos jantar. Os levei para conhecer onde seria o festival no sábado e a continuação do evento nos dias seguintes.
Levei também a um restaurante na cidade, nem sabia onde seria legal, afinal não conhecia muita coisa, além da faixa da faculdade, a não ser a academia, supermercado e padaria.
— Eu não conheço quase nada, vamos aprender juntos. Acho aquele lugar bonito, perguntei a uma amiga e ela disse ser bom — Mostrei um restaurante que a Joy havia falado.
— Você não sai de casa, Duda? – perguntou Carol.
— Em restaurante não! Comida assim é caro, somente com o pai pagando que dar para entrar — comentei rindo.
— Filha, tem faltado dinheiro para você? – perguntou mamãe preocupada.
— Não mãe, estou de zoeira — respondi.
— Ãn? Zuira? O que é isso? – perguntou papai.
Dei risada.
— Estou brincando.
— Pai, esse povo aqui falam tantas gírias que às vezes fico perdida. Finjo até que entendi para não pagar de boba.
— Conte para mim, — pediu a Carol — vamos ver se aprendo para sair na frente em Paraíba.
— Deixe-me ver... zoeira né, bolado é chateado, trolar é gozação, antenado – ela me interrompeu.
— É ser ligada, essa até eu sei. Trolar também já sabia. Conta coisa bem moderna.
— Essa você não sabe, leles ou lelesques, sabe?
— Não.
— Garota ou garotos. Outra é Milgrau, sabe?
— Também não. Fale!
— Uma coisa exagerada, muito bom. Mil grau entendeu?
— Essa turma devia está aprendendo é a fórmula da relatividade, gravidade e calcular a distância da terra na lua. Agora essas coisas eles não querem — papai fingiu falar sério.
— Sabe que o senhor tem razão, saber a distância daqui a lua seria ótimo para fazer um implante ou extrair um dente — comentei rindo, todos me acompanharam.
Falei para Carol mais baixo:
— Depois te conto mais alguns que os velhos não podem saber.
— Hein! Onde estão esses velhos por aqui, eu não estou vendo — exclamou papai.
— E vocês nos respeitam, viu crianças! — mamãe de cara fechada reclamou – Velha é sua vovozinha, mãe dele. Não a minha.
— A minha mãe é mais nova que a sua, querida, esqueceu! — retrucou papai.
— Éh porque está cheia de plástica — revidou.
Pronto, o assunto mudou e a família estava ali de volta, sempre assim. Qualquer coisa já era motivo de um pegar no pé do outro, mas sempre uma grande brincadeira. Quem visse de fora podia até estranhar, mas era simplesmente "zoaçao".
Durante o jantar ficamos eles me contaram as novidades da família e da cidade.
🦷
No apartamento precisamos arrumar o sofá cama. Meus pais não queriam que eu fosse para sala, mas nem aceitei discutir o assunto. Dormiríamos eu e a Carol na sala e eles no quarto.
Depois de tomarmos banho, ficamos nós duas conversando deitadas. Ela queria saber tudo, sobre como funcionava a faculdade e morar sozinha. Os garotos, se todos eram lindos e maravilhosos, davam em cima de mim e mil outras coisas. Um parêntese aqui é saber que a Carol, apesar de ser mais nova, era bem saidinha. Acho que se fosse ver, ela já teria beijado muito mais que eu. Ela não via a hora de ir para o ensino médio e sair de casa.
— Tem sim, muitos garotos bonitos. Mas tem cada "bicho" feio na mesma proporção. Apesar de achar que alguns se esforçam para ser assim.
— Como assim? Quem quer ser feio? Tá doida? — perguntou indignada.
— Carol, tem uns caras que deixam o cabelo comprido, mal cuidado, uma barba estranha que mais parece um bode. Têm outros que andam tão relaxados que parecem estar de pijamas na sala de aula. É cada uma que se vê, que você nem acredita.
— E o vizinho? Conheceu? – Na hora que ela perguntou, eu não sabia o que responder. Isto porque em uma das nossas conversa ela já tinha perguntado e eu falei que não o conhecia.
— Pela sua cara conheceu e gostou do que viu, acertei?
— Se eu te contar uma coisa, promete manter sigilo? – Ela arregalou os olhos e sorriu.
— Claro! Conta. Agora fiquei curiosa.
— Ele é lindo. Um "deus grego", mas por outro lado "o maior galinha" da faculdade.
— Mas onde já se viu um cara lindo ser santo!
— Pois é, não podia ser perfeito mesmo.
— Mas ele é tudo isso? Ou você está exagerando?
— Quem me dera se tivesse – falei, fechei os olhos e o vi a minha frente, pior me beijando. — Não! É lindo mesmo.
— Duda, você já ficou com ele? — Ela chegou mais perto. — Não minta para mim!
Eu balancei a cabeça que sim e ela deu risinhos e apertou minhas mãos.
— Silêncio! – pedi.
— Conta tudo! Mais o quê? Estão namorando? Vocês já?
— Espera! Calma, Carol! – falei sentando – Não é nada disto. Eu disse que o beijei, mais nada. O que está pensando?
— Que você precisa desencantar. Arrumar um namorado.
— Mas não é tão simples assim, é uma confusão nossa relação, ou melhor, a minha cabeça não entende essa modernidade.
Levantei e fui à cozinha tomar água e ela foi atrás.
— Posso te contar amanhã, preciso dormir.
— Ah não vai mesmo! Você acha que vou conseguir dormir curiosa igual estou agora?
— Então venha aqui. Vou fazer um resumão, depois te conto com mais detalhes.
— Hum... Adoro correria, babado e confusão! – falou ela.
— Essa é outra frase que a galera fala de montão aqui – falei.
— Mas essa já chegou faz tempo lá em Paraiba.
Fomos para a cama e comecei a contar, sem alguns detalhes. "Aqueles".
Como se diz: tem coisas que você não conta nem para seus pensamentos.
Isso porque teria que estar cedo na faculdade para o ensaio geral, o último. Apesar de achar que não necessitava.
🦷
Sábado foi corrido, nem vi o dia passar. Pouco deu para curtir meus pais. A parte da manhã, o ensaio demorou mais que o previsto. Sempre acontecia algum babado com algumas meninas e sempre a tal Magu no meio, uma "dona encrenca".
Almocei em família. A Carol queria me contar algo, mas não tivemos oportunidade de ficar a sós, depois me esqueci completamente.
Voltei ao apartamento com tudo programado: banho, maquiagem e cabelo. Tinha horário para me apresentar e não podia perder tempo. Meu cabelo eu mesma fiz em casa com a ajuda da mamãe, ela era especialista em coque de bailarina. Fazia isto desde sempre. A maquiagem para adiantar, eu fiz o básico, porque o restante seria feita por uma pessoa que faria de todas as dançarinas. Meu pai me levou e eles iriam mais tarde.
Quando estava pronta, já maquiada, fui para um canto, sentei ao chão para me concentrar.
— Tudo bem, Maria Eduarda? — uma das coreógrafas preocupada, veio perguntar.
— Sim. Estou fazendo respiração para me concentrar.
— Ah tá, achei que não se sentia bem. — Bateu palmas para diminuir o barulho. — Gente! Por que vocês não fazem igual à Maria Eduarda, concentram-se! Ao invés de ficarem de fofoca e falando igual maritaca.
Escutei alguém fazer gracinha com meu nome. Como se eu fosse "sempre" a certinha. Levantei e fui à frente. Chamei as garotas que me relacionava bem.
— Querem relaxar para entrarem neste palco leves e soltas?
Todas aceitaram. Então comecei.
— Sentem em uma posição confortável com a mão no abdome, respirem profundamente. Enche o diafragma e soltem devagar. Repitam. Assim... Agora vamos inspirar em três segundos bem fundo e segure por dois, solte em três bem devagar. Mexam os ombros para trás assim...
Sentada, mostrei como era os movimentos.
— O pescoço assim para o lado e respire fundo simultaneamente. Agora fechem os olhos, pensem numa fumaça. Ela é escura. Agora a sopre para longe. Soprem! Soprem. Deixem uma branca chegar perto de vocês. Respirem. Inspirem... Um, dois, três. Pronto! Conseguiram relaxar?
Bateram palmas e foi que percebi mais pessoas participando.
O coordenador entrou e avisou que o diretor da faculdade subia no palco para fazer a abertura. Isto significava hora de posicionar atrás da cortina.
A música anunciou o inicio das apresentações. O diretor cumprimentou a todos fazendo abertura. Os clipes passaram nos telões, nós tínhamos assistido anteriormente.
As luzes abaixaram.
Chegou a minha hora. Quebra perna, pensei.
A cortina foi aberta, uma luz iluminou o palco diretamente sobre mim. Respirei fundo e procurei pensar somente na minha dança. Esqueci que me apresentava para muitas pessoas. Naquele instante gostava de pensar que era apenas eu e o palco. Consciente de cada passo a ser executado eu me entreguei a dança.
Aproximou o fim, deitei ao chão, e a luz dançou colorida por tudo, enquanto eu colocava os patins. A música mudou o tom e eu apareci deslizando sobre o palco. Os gritos e aplausos tiraram um pouco minha concentração, mas não chegou a me atrapalhar em nada.
Terminei no centro do palco com minha posse final após o giro que saiu fantástico. Melhor que todos os outros.
Fui muito aplaudida.
Agradeci emocionada e saí do palco.
As apresentações se seguiram. Participei de outro número e depois da parte final, a impressão que tudo foi muito rápido.
Quando percebi já posava para fotos com todo grupo, sozinha, com as meninas com os rapazes. Todos felizes com o resultado final. O que mais me surpreendeu em tudo foi a Magu chegar perto de mim e dizer:
— Du, eu quero te parabenizar, você é ótima, muito boa mesmo. Eu te invejo — Fiquei de boca aberta e sem fala.
— Não precisa me invejar, você é muito talentosa. Tenha mais confiança em si mesma. — Sorri e lhe dei um abraço.
— Obrigada. Se eu tivesse no seu lugar, eu me mandava "pastar". Sou insuportável eu sei, todos falam que não me aguentam.
— Não pense que isso é verdade. Acredite que você possa ser uma pessoa melhor se tiver essa vontade a cada dia.
— Parceira? — Levantou a mão para eu bater.
Meus pais esperavam ansiosos para me abraçar. E eu pude mergulhar nos abraços deles.
Abraçada, beijada e escutando elogios deles, senti um olhar sobre mim. Quando virei o rosto encontrei um brilho azul muito conhecido.
Minhas pernas bambearam e eu senti um calafrio percorrer minha coluna. Nada parecido com a emoção de estar no palco. Era uma sensação muito forte. E ele veio até mim, devagar e com uma expressão estranha.
Eu não sabia o que falar quando ele se aproximou.
— Oi. Gostou? Esses são meus pais. — Tive que apresentar-lhes.
Falar mais o quê? Eles me olhavam a espera de explicação de quem era ele. E foi neste instante que eu morri com o que papai falou:
— Olá Rafael, muito bom o festival, você estava certo. – Fiquei muda, surda e burra. — Nos conhecemos hoje cedo filha.
Pensei em falar alguma coisa, mas minha mente esvaziou.
Eu não sabia o que fazer.
Ele já sabia que era eu sua vizinha?
Eles encontraram lá no prédio?
O que ele pensava de mim?
Então ele falou e eu precisava de um buraco para me enfiar.
— Qual novidade? – perguntou mamãe.
Não havia a menor possibilidade que eu explicasse alguma coisa.
Não conhecia este lado cínico dele. Também não sabia o que se passava na sua cabeça. Com certeza, me matar era o certo.
Na minha volta os sons sumiram e nem o que meus pais falavam eu entendia.
Carol pelo jeito entendeu minha situação e me salvou daquela situação catastrófica.
Ficamos nós dois.
Eu pensava não ter pernas para sair do lugar, quando comecei a caminhar.
Alguns passos depois ele puxou meu braço e falou:
— Quando ia me contar?
🦷🦷🦷
Oi?
Ferrô geral.
O que vocês acham?
O que vai acontecer agora?
Alguém arrisca?
Lena Rossi
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