Capítulo 13.B
Maria Eduarda
Dias bons
Acordei cedo com a missão de fazer meu dia render. Como de costume fazia a lista. Gosto de sempre organizar minha vida com listinhas. Pode acontecer até de deixar de fazer alguma coisa. Então, ela vai para o dia seguinte em primeiro lugar da lista. Isso se for algo que eu possa fazer pela manhã.
Como teria balé, precisava organizar as outras coisas por ordem de prioridade e horários. Isso porque, hoje eu precisava chegar mais cedo por causa do trabalho a ser apresentado.
Essas minhas atividades, incluía supermercado, padaria e material de limpeza.
Depois das aulas iria com o Bil e o Lim conversar com o diretor do festival.
Quando passei na portaria com as minhas compras, seu Josué perguntou:
— Maria Eduarda, se você precisar de uma faxineira pode falar, pois a nora da Tereza está acostumada a fazer faxina aqui no prédio.
— Obrigada seu Josué, por enquanto estou fazendo tudo. Depois se apertar eu te falo.
— O nome dela é Mara, faz faxina, arrumação, passa e lava roupa, essas coisas. Hoje ela vai fazer um extra no seu vizinho, o Rafael. Parece que aprontou maior sujeira lá ontem e hoje pediu para ela ir no apartamento dele.
— Entendi — falei, e se eu ficasse ali saberia aonde ela iria faxinar o dia inteiro —, tá bom, vou subir, pois está pesado.
— Vai sim menina, desculpe te incomodar.
— Imagina, o senhor está sempre me ajudando.
Já no apartamento, guardei as compras, troquei-me para o balé.
Conversei com minha professora sobre o festival da faculdade. Ela disse que conhecia o diretor e que ele estava muito entusiasmado com o espetáculo. Acabou me incentivando a participar, até ofereceu ajuda para montar a coreografia, disse até que poderia usar as aulas para ensaiar. Acabei gostando da ideia.
Fui mais cedo para a faculdade, nosso trabalho era o primeiro a ser apresentado e precisávamos arrumar os equipamentos. Estava tranquila, a medida do possível. Já sabia lhe dar com a pressão, controlava bem a ansiedade. As competições souberam me treinar para isso.
E tudo correu super bem, o professor até nos elogiou. O restante da turma apresentou em seguida e eu também achei que o nosso trabalho foi o melhor. Modéstia parte.
Na troca de aulas o Bil e Lim vieram confirmar se eu iria ao anfiteatro com eles depois das aulas.
— Preciso comer alguma coisa antes, pois se for demorar vou ficar com fome — expliquei.
— Jantamos no RU, o que acha? — perguntou Lim.
— Hum... acho que não, prefiro um vitaminado. Enquanto vocês jantam, vou na lanchonete do Zeca. Pode ser?Encontramos na frente da biblioteca depois.
— Combinado! — Sorriu Bil.
— Você é 10! — falou Lin.
E assim fizemos. Fui à lanchonete, tomei uma vitamina e comi um lanche natural. Passei na biblioteca, escovei os dentes, depois fiquei sentada esperando por eles olhando o movimento e pensando na vida. Gostaria de ver o Rafael.
Meu celular tocou.
"Eie, filha!"
— Pai... Que bom ouvir você.
"Ligou para falar comigo mais cedo? Está tudo bem?"
— Sim, está.
— Por que não falou com sua mãe, fiquei preocupado.
— Sabe o que é? Vai ter um festival aqui e fui convidada a participar. Pensei... se você falar que viria, eu participo dançando para mamãe. Fazer um agrado surpresa, o que você acha?
"Quando vai ser?"
— No próximo final de semana.
Nossa filha! Acho que não vai dar. Tem uma feira de tecnologia e treinamento que eu irei participar. Mas por outro lado, sua mãe iria adorar.
— Que pena! Então acho que não aceitarei participar.
"Mas filha, por que não? Participa sim, você gosta tanto."
— Seria por causa da mamãe que pensei.
"Vou ver aqui, qualquer coisa eu te ligo."
— Está tudo bem aí? E a Carol?
"Tudo certo. Beijos. Te amo filha."
— Pai? Te amo!
Desliguei e lágrimas escorriam. Tinha horas que batia uma saudade que chegava a doer. Sempre fui muito independente, mas perto das pessoas que amava e cuidava de mim. Agora por mais gostoso que era ter meu canto, eu sentia falta.
Quando levantei o rosto, meus dois amigos me olhavam com cara de pena.
— Oie... Já chegaram? Nem percebi. Vamos? — convidei.
— Que foi amadinha? Aconteceu alguma coisa? — perguntou o Bil.
— Nada! Tudo bem, foi apenas um sentimentalismo.
— O que foi? Quer conversar? — perguntou Lim.
— Não! Conversava com papai e fiquei emotiva, só isso. Já passou. Vamos?
Então saímos em direção ao anfiteatro.
O local se encontrava movimentado. Fui apresentada a várias pessoas.
Num certo momento, todos se sentaram no chão em círculo, teve início às falas sobre o andamento de seus grupos. O diretor geral se apresentou como Alfredo, mas todos o chamava de Godoy. Não me pergunte o porquê, não sei. Após um tempo e algumas discussões ele me olhou e perguntou:
— Maria Eduarda, você dança há quanto tempo?
— Desde os dois anos de idade. Parei aos quinze e comecei a patinar, mas hoje faço as duas coisas.
— E o que você pretende fazer no festival?
Olhei para Lim e ele ficou quieto. Não disse nada.
— Veja bem, foram eles — Apontei para os dois. — que me fizeram vir aqui, disse que você, quero dizer, o senhor gostaria que eu dançasse. Não sou eu que quero. Se já estiver tudo certo e completo não tem problema nenhum.
— Não! Eu gostei sim da ideia deles. Você pode esperar um pouco e depois fazer uma pequena demonstração para nós?
— Tudo bem. Espero sim — falei.
Meu celular tocou e era mamãe.
— Oi mãe — atendi —, espera um pouco que já falo com você.
Saí para uma área afastada do palco.
— Oi, pode falar agora. Tudo bem?
"Filha, seu pai me contou do festival de dança. Eu gostaria muito de ir. Fiquei tão feliz de você ter pensado em mim."
— Oh mãe, por que você está chorando... não faz isso comigo. Eu queria te ver feliz, não assim.
"Mas eu estou feliz filha, muito feliz. É que está difícil ficar sem você aqui. Pensei que viria no fim de semana, que não aguentaria ficar muito tempo longe. Que teria saudade..."
— Eu estou com saudade sim. Não fui, porque tenho que me acostumar com a distância. Aceite o meu convite e venha!
"Nós gostaríamos muito de ir, mas seu pai tem compromisso, pensei em ir com a Ana Carolina. Mas ele fez aquele bico que você conhece."
— Eu fico feliz mesmo assim, com o que você faria por mim.
"Vou tentar convencê-lo. Quem sabe vamos, pelo menos nós duas!"
Ela tentou parecer feliz e animada.
— Tudo bem. Decidam aí e depois me liga. Eu te amo!
Queria vê-la feliz, não assim, triste.
Ao me virar, quase não acreditei, Rafael estava a minha frente e com os olhos cravados em mim. Aqueles azuis sempre vivos, estavam quase negros, pareciam sem o brilho e tristes. Mamãe falou mais alguma coisa, mas naquele instante já não a ouvia direito. Eu acho que foi sobre o papai estar por perto.
— Deixe-me dá um tchau — falei, com o olhar fixo nele —, então espero a resposta, tá bom? Tchau então.
"Vou passar para seu pai. Fique com Deus."
Os olhos dele estavam no meu celular e em mim. Eu entendi o que se passava. Agora estava na dúvida se o deixava acreditar...
– Pai? Eu te amo, viu?
Desliguei o celular.
Ele se aproximou e me beijou. Não deu tempo nem de eu pensar.
Eu não tive reação. Estava nos braços dele e pensei que era o lugar certo naquele instante. Abracei a sua cintura, queria desta vez sentir cada parte daquele corpo. Fui subindo devagar as mãos e senti as contrações de seus músculos. Ele tinha uma urgência nos seus beijos que parecia querer me devorar, ao mesmo tempo uma delicadeza que me dava medo.
Afastou um pouco a boca da minha e olhou no meu rosto por inteiro e disse:
— Estou louco por você!
No mesmo instante, me pegou de novo, prendeu meus cabelos em suas mãos.
Eu, por outro lado, tracei caminhos nas suas costas delicadamente para guardar na minha memória cada pedacinho.
Cheguei ao seu cabelo, acariciei sua nuca devagar e passei minhas unhas o fazendo tremer por baixo das minhas mãos.
Ele mordia meu queixo, puxava meus lábios com os dentes e como um desesperado beijava todo meu rosto. Meu corpo percebeu sua excitação e por isso me afastei, falei que precisava voltar e conversar com o diretor.
Soltei-me dele e comecei a andar quando ele me puxou pela mão e beijou-me de novo.
Porém, no instante que ele perguntou se podia me buscar mais tarde, caiu a ficha e entendi. Fiquei furiosa.
Era isso que ele queria?
O que eu pensava? Que ele seria diferente do que eu já sabia?
Burra, burra e burra.
Deixei-o para trás e com muita raiva segui em frente. Ao chegar na entrada da lateral do palco, me virei, ele continuava parado e me olhava sério, nem saiu do lugar.
Virei novamente e entrei.
Fiquei na reunião um pouco aeria. As pessoas apresentavam suas danças e davam opiniões e eu, totalmente dispersa.
— Maria Eduarda, você tem em mente o que poderia apresentar? — escutei alguém perguntar.
— Hum... Na verdade, eu gostaria de saber o que vocês esperam de mim? Uma coisa mais clássica ou algo mais moderno, contemporâneo?
— Nossa, como você é chique garota! Podemos até escolher? Você faz de tudo? — perguntou uma garota num tom de ironia.
— Desculpe, eu não quis vangloriar. Tenho formação clássica, mas de uns anos para cá faço patinação e balé contemporâneo.
— Achei interessante sua colocação — falou um senhor que eu não tinha visto antes — como nós vamos fazer para um público jovem, a maior parte, talvez algo com uma linguagem corporal moderna fosse interessante.
— Já vamos ter dança de rua — falou alguém.
— Sim, por isso mesmo. Entraremos com vários estilos — continuou ele. — Você pode dançar alguma coisa para nós vermos o seu estilo?
— Eu não tenho troca de roupa aqui, pode ser assim mesmo.
— Se toca, garota! Aqui ninguém está a fim de ver showzinho particular não! — falou a mesma garota de antes.
Fiquei chocada com sua grosseria e meus amigos vieram na minha defesa.
— Ei, pare de ser estúpida!!
— Grossa até na foto! — falou Bil já levantando — Quem você pensa que é?
— Eiê! Vamos parar? O que é isso Maria Guilhermina? Ela foi convidada para estar aqui. E quem comanda esse espetáculo por enquanto sou eu e o Godoy. Se eu precisar de sua opinião, vou pedir, por hora fique na sua. Que é quieta.
Eu estava muito constrangida, minha vontade era levantar e ir embora. Mas coloquei minha melhor cara de "tudo bem" e me levantei. Resolvi fazer tudo por minha conta. Pequei meu celular no bolso, busquei uma música que adorava dançar e patinar. Começava com um clássico e pegava umas batidas, suavizando e terminava na balada. Tirei meu tênis e coloquei uma sapatilha de ponta, que levara.
Posicionei no centro do palco com a música já tocando. Fiquei parada até chegar num ponto que queria iniciar.
Assim comecei.
A dança mostrava passos básicos do balé e alguns saltos e piruetas. Abaixei num certo ponto da música, de repente na virada da melodia misturei o balé com uma dança mais ousada e alegre, mas sempre na ponta dos pés. Terminei com um impulso para fazer os giros, que era a elegância do 'Aplomb', neste momento, eu sempre gostava de imaginar que voava.
Ao parar estavam todos os participantes a frente do palco e me olhavam em silêncio. De repente começaram a me aplaudir. Fiquei tímida, confesso, como sempre por perceber ser o centro das atenções, esse era um ponto que não gostava.
O diretor que eu não conhecia aproximou.
— Muito lindo! Isso por que você improvisou? — perguntou chegando mais perto – Prazer em conhecê-la. Sou Lucas, e gostaria que você fizesse a abertura do festival, o que você acha?
— Eu? — Assustei com o convite. — Será que seria boa ideia?
— É uma ótima ideia JL, pois ela é uma profissional e aqui temos apenas amadores — comentou o Godoy.
Escutei um zum zum, olhei a cara da garota que já tinha se mostrado que não gostou de mim e reparei ali um ódio de cão bravo.
— Vocês não acham que poderiam fazer uma votação? Já que eles estão aqui há mais tempo, tem muito mais direito que eu de escolhas. Talvez não seja o mais justo, eu fazer a abertura.
Eles se olharam e viraram para a turma, que estavam quietos.
— E aí galera! — Bateu palmas. — Qual a opiniões de vocês? Querem uma profissional para começar o espetáculo de vocês ou não?
Não foi justo a pergunta que ele fez, pois era muito manipulativa, mas eu já havia feito minha parte. O zum zum começou de novo e aos poucos eles manifestavam suas opiniões. O Godoy então falou:
— Quem aceita a Maria Eduarda como nossa estrela de abertura levante a mão. Nem preciso contar que Bil e Lim foram os primeiros a levantarem as mãos, seguidas pelas outras pessoas. Ficando somente de braços cruzados a garota que não sei por que, não foi com minha cara.
— Você, Maria Guilhermina, tem alguma coisa para falar? Não concorda? — perguntou o Lucas.
— Para que vou levantar a mão? Essa turma toda já aprovou a bailarina — respondeu levantando e pegando sua mochila. — Já terminamos por hoje? Posso ir embora? E outra coisa, pare com essa coisa de Maria Guilhermina, é Magu.
— Por que Magu, quando estamos num grupo é importante a opinião de todos. E eu de forma alguma quero ser o impedimento para alguma ideia que você possa ter para embelezar o festival — falei e ela me olhou com uma expressão indefinida.
— Tudo bem. Concordo e me desculpe. Você deve ser legal, eu que não sou.
— Eiê... pode parar com isso! Magu, você é ótima e por este motivo está a frente de muitas coisas por aqui. — Olhou para os demais. — Estão todos dispensados por hoje. Agora vamos ter os ensaios somente de grupos e marcamos o geral na semana que vem. Todos os contatos estão atualizados?
Dispensados o pessoal foram saindo. Fiquei para deixar meu número de celular. E o Lucas chegou perto de mim.
— O Godoy disse que você é patinadora? De gelo?
— Não, comum. Já fiz algumas coisas no gelo, mas somente por diversão.
— Seria legal se fizesse algo sobre os patins, o que acha?
Os garotos e o outro diretor se aproxinaram para escutar.
— Eu também pensei, mas o palco é pequeno para fazer uma coreografia legal. Precisaria ter uma área maior para pegar velocidade. Mas posso pensar em alguma coisa.
— Pense e depois trocamos algumas ideias. — Sorriu e piscou para mim de uma maneira atraente.
Ele era bem mais novo que o Godoy. Deveria ter uns trinta e poucos, se tivessem, era bonito e simpático. Talvez fosse esse o X da questão que irritou a Magu. Pensei.
Saímos, eu, os dois e mais duas meninas, fomos conversando sobre os acontecimentos e eles contaram que a Magu sempre se metida em discordância. E como já passava das dez da noite, eles, foram comigo até a porta do meu prédio.
— Entregue! — disse o Bil — Agora elas serão as próximas.
Entrei no hall dos nossos apartamentos, olhei a porta do Rafael, então os acontecimentos vieram a minha mente. Por um tempo tinha me esquecido, mas agora estava de volta com força total ao olhar para porta dele.
🦷🦷🦷
Oi amores, gostaram?
Que pegada tem esse Rafael, hein?
Será que Maria Eduarda está certa? Ou ela está pegando pesado mesmo com ele?
Deixe sua opinião.
Até mais...
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