Capítulo 60

Oliver

Dia do casamento, após a briga de Emily e Oliver.

— Você tem certeza disso? – Enzo pergunta novamente e faço que sim com a cabeça.

— Não vou me sentir bem sendo ignorado por ela tão de perto – respondo, sincero.

Meu amigo assente, finalmente me deixando em paz. Acontece que depois de ter sido expulso por Hugo do quarto que ele divide com Emily, eu percebi que não conseguiria ficar nem mais um minuto em Arraial do Cabo.

A consciência de que estou a metros de distância de Emily e não posso nem ao menos falar com ela me mata. Emily tem todos os motivos para estar puta comigo, mas isso não significa que não doa o fato de que ela não quer me ver. Por isso, decidi voltar para casa, não faz sentido permanecer aqui, só vai me deixar pior.

O Jeep branco de Anitta surge em minha visão.

— Eu já vou – digo a Enzo, quando Anitta buzina para mim.

— Se cuida, cara. — Ele me abraça. — Vê se não some e pensa no que te falei.

Jogo minhas coisas na mala do carro e abro a porta do passageiro, acenando para Enzo, dando tchau, enquanto ele acena de volta.

Sento no banco e minha irmã me examina de maneira tão atenta, que me sinto afundar no banco do carona. Sei que ela está se segurando para não falar nada, arrancando com o carro da frente do hotel. Quando não consegue mais aguentar ficar quieta, Anitta me olha rapidamente, antes de começar a dizer:

— Posso saber por quê tive de vir buscar você antes da hora?

Fico quieto, tentando saber o que falar e ela continua:

— Não vai me dizer nada? – insiste.

— Eu e Emily brigamos.

— Ué — ela solta, parecendo confusa. — Mas por quê? Foi antes ou depois de ela...?

Franzo o cenho.

— Antes e depois do quê? – pergunto, sem entender.

O rosto de Anitta se ilumina, e ela parece compreender algo que eu mesmo não entendi.

— Por que vocês brigaram? – ela volta a perguntar.

Como não existem segredos entre minha irmã e eu, conto tudo desde o momento em que estávamos na despedida de solteiro. Meu rosto queima de vergonha quando chego no momento em que Emily se esfregou no meu colo, o que não passa despercebido por Anitta.

— E aí quando eu vi, ela já estava indo embora. Tentei falar com ela hoje, mas não deu muito certo, por isso pedi para você vir me buscar. – Termino de explicar e coço a garganta, tentando diminuir o embargo da voz.

Minha irmã fica em silêncio, absorvendo tudo o que contei. Se eu me concentrar, consigo ouvir as engrenagens rodando em sua cabeça.

Abro a bolsa de Anitta, que está no console do carro e procuro por algo que eu possa comer. Por sorte, encontro uma barrinha de cereal e abro a embalagem, mordendo um pedaço.

— Você não vai dizer nada? – indago, estranhando todo o silêncio dela.

— Bom, já que você insiste — ela diz, sorrindo e eu reviro os olhos. — Eu ainda não entendo como você pode achar que tem algum problema com sexo.

— Eu já te falei — falo. — Sexo não é para mim.

— Eu acho que você só não tinha encontrado a pessoa certa, ainda. Você sempre foi muito exigente e suas namoradas eram todas escrotas, e nunca escondeu que não gostava nenhum pouco delas.

— Não sou exigente — me defendo. — E esse nem é o ponto. Eu não gosto de sexo porque é ruim.

— Ok — Anitta suspira, desistindo de tentar me convencer. — Então está claro que não podemos culpar a Emily por pensar que você não sente tesão nela. Porque você não contou sobre isso para ela, ou contou?

Nego com a cabeça.

— Não tive coragem — falo, derrotado. — Por isso fui procurar por ela hoje, para tentar me explicar, mas Hugo não me deixou falar com ela.

— Compreensível.

Olho feio para ela.

— Você não deveria me defender? – indago e Anitta encolhe os ombros.

— Desculpa.

— E o que eu faço agora? – passo as mãos pelo cabelo, desesperado por uma solução.

— Não sei — ela é sincera. — Você realmente gosta dela ou...?

— Gosto mesmo, nunca senti nada igual antes — afirmo. — Eu acho que amo ela, Anitta.

Confesso e Anitta assente.

E se Emily nunca me perdoar? E se ela me odiar para sempre? O que eu vou fazer? Nego com a cabeça, espantando esses pensamentos, não quero nem pensar nessas possibilidades. Se isso acontecer, vou perder duas pessoas que amo: Emily e Hugo.

— Acho que a única coisa que você pode fazer é esperar a poeira baixar e tentar falar com a Emily quando ambos estiverem mais calmos. E enquanto isso, você cuida de si mesmo, entende direito os seus sentimentos para não se machucar e nem machucar a menina.

— Pessoas confusas machucam pessoas incríveis – digo e minha irmã balança a cabeça em concordância.

— Exatamente, mas tenta não se martirizar por isso. Vocês dois são pessoas confusas, e é normal. Somos adolescentes.

— Você é adulta – implico, para quebrar o clima e ela revira os olhos.

— Nem me lembre disso.

— Enzo falou que eu deveria procurar um psicólogo – conto a ela, que pensa sobre o assunto.

— É uma boa. Você quer?

— Não sei – dou de ombros.

— Mal não vai fazer, né?

— Realmente – concordo com ela.

Eu tentei frequentar sessões de terapia quando mais novo, meu pai me colocou com o pretexto de que eu não me abria com ele e as sessões eram boas, porém minha mãe descobriu e me tirou do psicólogo, dizendo que eu não precisava disso e que era uma besteira.

🔆

Depois de horas na estrada, enfim chegamos em casa. Vou direto para o meu quarto, e depois de um banho, me jogo na cama para tentar dormir um pouco, estou exausto.

Na manhã seguinte, não perco tempo e ligo para uma das clínicas na lista de médicos que atendem pelo plano da família e deixo minha primeira consulta marcada. A atendente me explica que, primeiro, meu pai ou minha mãe precisa comparecer à clínica e realizar uma entrevista com o profissional que for me atender, para aí sim, eu começar a ser atendido.

Falo com meu pai sobre e agradeço mentalmente quando ele não pergunta os porquês disso, apenas diz que irá comparecer.

Olho a hora no celular e vejo que ainda são dez horas da manhã. Meu celular pipoca de mensagens dos meus amigos perguntando por mim, mas não respondo ninguém, precisando usar todas as minhas forças para não mandar mensagem para Emily. De tempos em tempos verifico se o online aparece escrito embaixo do seu nome, pelo menos ela não me bloqueou, o que é um alívio.

Uma cabeça felpuda se apoia em minha coxa, me tirando dos meus pensamentos. Encaro a minha Golden Retriever, que me encara parecendo compreender minha tristeza. Afago sua cabeça, passando meus dedos entre seus pelos caramelos.

Amora sai de perto de mim, indo em direção a porta do quarto, observo seu rabo balançando e logo ela volta, com sua coleira de passear na boca. Sorrio para ela, que se senta de frente para mim, esperando que eu levante.

Sem ter nada melhor para fazer, ponho a coleira nela e chamo meu irmão, Victor, para passear conosco.

— Vou só colocar meu tênis – ele diz, antes de sair correndo.

Saímos os três juntos de casa, com meu irmão contando como foram seus dias de férias na casa da avó, me distraindo.

— Quando a Emily vai vir me visitar de novo? – Victor pergunta, depois de um certo tempo.

Ele me olha ansioso, com o cabelo castanho meio loiro caindo sobre os olhos.

Fico sem saber o que responder e mudo de assunto, falando que nós vamos tomar sorvete.

🔆

Hoje é o dia da minha primeira consulta com o psicólogo que vai me atender nos próximos meses. Entro no consultório quando meu nome é chamado e observo o homem de pé próximo a porta, sorrindo para mim.

— Olá, meu nome é Rafael. Você deve ser o Oliver, certo? – ele se apresenta, me encaminhando para a poltrona preta acolchoada em frente ao que imagino ser a sua mesa.

Me sento no local indicado, passando a palma da mão suada em minha calça jeans.

— Sim, sou eu – respondo.

— Então... o que te traz aqui? – ele pergunta, direto, mas sem deixar o sorriso amigável de lado.

— Não sei — sou sincero. — Vim por muitos motivos, mas o principal é que quero me entender melhor.

— Aqui é o lugar ideal para isso. Eu costumo dizer para vocês que essa sala é o local onde vocês podem se abrir. Pode chorar, pode sorrir, pode rir e pode gritar. É só ser você. Quantos anos você tem, Oliver?

— Dezoito.

A sessão segue entre perguntas básicas, sobre como eu sou no colégio, minha relação com a minha família e amigos e coisas do tipo.

— E você nunca mais falou com a sua mãe depois que foi embora da casa dela? – Rafael pergunta, entre uma anotação e outra.

Gostaria de saber o que ele tanto escreve sobre mim, porém, ao mesmo tempo, prefiro nem saber.

— Sim, eu falo com ela algumas vezes, mas nada além de algumas ligações muito rápidas – digo.

— Você não sente saudades dela? Ela nunca mais tentou manter contato e marcar alguma coisa?

— Eu sei que ela é minha mãe, e que eu deveria amá-la acima de tudo, mas eu simplesmente não consigo sentir falta dela. Depois que fui embora, para morar com meu pai, e me vi distante da minha mãe, percebi o quanto ela me fazia mal e o tanto de traumas que ela me rendeu. Ela até tentou me convencer de voltar a morar com ela ou pelo menos nos encontrarmos, mas eu não tive vontade de ir e aos poucos ela foi parando de me perturbar. Imagino que meu pai tenha algo a ver com isso, também, porque minha mãe é insuportável.

Rafael assente e volta a escrever em seu caderno de capa preta, que possui um sol no centro.

O tempo vai passando e eu me permito relaxar tanto que quando a consulta chega ao fim, eu me assusto com o quão rápido a hora pareceu passar.

— Te espero na semana que vem, certo? No mesmo horário – Rafael diz.

— Ok. Tchau, até semana que vem – me despeço, saindo da sala.

Aperto o botão do elevador. De alguma forma já me sinto melhor.

quem aí também estava com saudades do Oliver?

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