Capítulo 54
Oliver
Toc toc.
Me remexo na cama, ignorando a batida na porta.
— Eu sei que você está acordado, Oliver – a voz de Enzo atravessa a madeira.
Bufo, mas levanto da cama. Abro a porta para ele e volto para minha cama.
— Você está horrível – Enzo acusa e eu dou de ombros.
— O que você está fazendo aqui? – pergunto e ele senta ao meu lado, na cama.
— O que aconteceu ontem? – ele rebate
Finjo não entender a pergunta.
— Não aconteceu nada.
— Você está mentindo, solta logo – ele finge tédio, mas sei que está preocupado.
Conto a ele o que aconteceu, sem muitos detalhes, porque senão precisarei explicar sobre meu problema, e não quero isso. Enzo escuta atento, sem perder nenhum detalhe.
— Deixa eu ver se entendi certo — ele me interrompe. — Vocês brigaram por causa de um remédio que velho usa?
— Sim – resmungo.
— E não era seu?
— Não.
Ele parece sem saber no que acreditar e tento não me sentir ofendido.
— Tem certeza...?
— Sim, Enzo, eu tenho certeza — ele arquea uma sobrancelha para mim. — Eu só tomei isso uma vez, quando estava com a Penélope, depois disso nunca mais.
Eu tomei Viagra uma vez, quando namorava Penélope. Eu não tinha uma ereção e me forcei a tomar o remédio para conseguir ter relações com ela. Foi nojento e horrível para mim. Nós terminamos logo em seguida.
Enzo era meu único amigo na época, e sempre tivemos uma amizade boa, então eu acabei contando para ele, que primeiro riu de mim e depois quis me bater por ter sido tão idiota.
A verdade é que nunca me passou pela cabeça tomar nenhum tipo de remédio para ter ereção com Emily, já que as ereções estavam acontecendo de forma natural.
— E se você não acredita em mim — eu prossigo —, eu liguei para a recepção reclamando que as gavetas não foram limpas e eles admitiram que provavelmente a faxineira esqueceu de tirar.
Enzo abre a gaveta e olha para os objetos ali: o remédio para ereção, um isqueiro, um cortador de unha e um pacote de cigarro, que são coisas que eu nunca traria, já que eu nunca toquei em um cigarro na vida.
— Ok, foi mal, eu só estou perguntando — assinto e ele respira fundo. — Você vai procurar ela?
Coço o queixo.
— Não sei. Sinto que deveria, mas não sei como ela está e se vai querer falar comigo.
— Ela deve estar péssima e com raiva, mas eu acho que você deveria falar com ela ou pelo menos tentar.
Assinto.
— Eu vou. São que horas? – tento mudar de assunto.
— São três e meia e nem tente fugir — ele me corta e eu bufo. — Sabe o que eu acho?
— Não e nem quero saber.
— Eu acho que você poderia procurar um psicólogo – ele sugere.
O encaro, descrente.
— Eu não preciso de psicólogo. Não estou doente – retruco, irritado.
— Vou fingir que você não disse isso, porque sei que você não acredita nisso de verdade — Enzo rebate. — Só pense nisso, seria bom para você. Todo mundo precisa de psicólogo, até os próprios psicólogos.
Concordo com a cabeça, irritado.
— Fale com a boca. Você promete pensar?
Suspiro.
— Sim, eu prometo pensar nisso – digo só para deixá-lo feliz.
— Ótimo! — ele bate palma, levantando da cama. — Agora vai tomar um banho, você está fedendo a tristeza!
Enzo me puxa para fora da cama e eu reviro os olhos.
Pego uma toalha nova e me ando até o banheiro, mas paro no caminho.
— Obrigado – falo para Enzo, me sentindo ficar emotivo novamente.
Ele disfarça a emoção com uma tosse e assente.
— De nada. Amigos são para isso. Agora vai tomar banho, você realmente está fedendo.
🔆
Encaro a porta do quarto que Emily divide com o irmão, buscando forças para bater na porta.
Fiquei na dúvida entre avisar ou não avisar que vinha, mas optei por não avisar.
Levanto o punho para bater na porta ao mesmo tempo que ela se abre e dou de cara com Hugo.
— Eu já me cansei da sua sombra na porta – ele diz.
— Posso entrar? – pergunto
Tento olhar para além dele, mas Hugo dificulta de propósito minha visão.
— Não – responde, grosso.
— Sua irmã te contou?
— Nem precisou – ele rebate.
— Eu quero falar com ela, deixa eu entrar, por favor.
Peço e ele abre espaço para mim, de má vontade.
Olho em volta, mas não vejo um sinal de Emily.
— Ela não está.
— Percebi – sou irônico.
Meu olhar para em uma caixinha preta de veludo em cima de uma das camas e franzo o cenho.
— O que é isso? – pergunto, apontando para a caixinha.
— Não interessa a você, Oliver — ele solta uma respiração ruidosa. — O que quer aqui?
— Eu já disse, vim falar com a sua irmã.
— Então pode ir embora.
Agora sou eu quem respira fundo.
— Hugo...
Ele me interrompe antes mesmo que eu consiga dizer algo.
— Nada de Hugo. Eu quero você longe da minha irmã – ele fala, sério.
— Você não manda em mim – cruzo os braços.
— Não mando mesmo, não sou sua mãe – retruca.
— Nós somos amigos, Hugo.
— Somos amigos, sim. Mas minha irmã vem em primeiro lugar. Por favor, vá embora.
Mantenho a postura, fingindo que nada do que ele está me dizendo me afeta.
— Você não vai deixar que eu me explique?
Ele ignora minha pergunta.
— Por favor, vá embora. Caso Emily queira falar com você, ela te procura, por enquanto, a deixe em paz.
Hugo se direciona a porta, segurando-a e aponta para fora, me expulsando.
Solto uma risada descrente.
— Tudo bem, então. Eu vou embora, mas achei que você fosse mais meu amigo. Meu problema com a Emily não deveria interferir na nossa amizade.
— Tchau, Oliver.
A frieza de Hugo me alcança profundamente, me magoando ainda mais. Isso vai ser mais difícil do que pensei.
🔆
Emily
Aliso a barra do vestido pela décima quinta vez, tentando conter o nervosismo e a ansiedade.
— Tem certeza de que está bem? – Caio me pergunta novamente.
— Não, mas vai ficar – digo, apertando ainda mais meu braço no dele.
Estamos na porta da igreja, em fila, para a entrada das madrinhas. Indo contra a tradição, as noivas não atrasaram e estão no carro esperando que a procissão de madrinhas e padrinhos aconteça antes da entrada delas.
Alice está uma pilha de nervos, junto com Camila. As duas são as primeiras da fila, com Alice e Davi em primeiro e Mila e Estefany em segundo. As outras meninas estão espalhadas pela fila, que já mudou de ordem vezes demais para que eu grave a sequência. Caio é meu parceiro-padrinho e somos o nono casal na fila. São dez madrinhas no total.
— Eu ainda não entendi o que aconteceu entre você e Oliver – meu amigo traz de volta o assunto.
— Eu já expliquei. Ele mentiu para mim, eu descobri, nós brigamos e eu fui embora – repito o que disse a ele mais cedo.
— Só isso? – ele insiste.
Assinto, sem alongar a conversa. Não tenho coragem de contar o que aconteceu, a ficha ainda não caiu. Parece meio surreal.
O sino da igreja toca e as portas pesadas de madeira se abrem. A introdução de Photograph, do Ed Sheeran começa a tocar, e as madrinhas começam a entrar, devagar.
Prendo a respiração quando chega a minha vez e a de Caio. Dou um passo a frente, tomando cuidado para não tropeçar na barra do vestido e cair, o salto é tão alto que eu preciso esticar meu corpo ao máximo para dar certo.
Tento não olhar para os lados ao passar pelo meio da igreja. Não sei se Oliver veio ao casamento, mas prefiro não arriscar.
Caio me conduz até o banco destinado para nós, e quando a voz de Ed Sheeran passa a reverberar pela igreja, as duas amigas entram lado a lado. Elas estão deslumbrantes em seus vestidos de noiva.
Julia, irmã de Alice, é branca, de estatura média, tem os cabelos castanhos na altura dos ombros. O vestido dela é estilo sereia, branco perolado, com pedrinhas no corpete do vestido. Isabella, irmã de Camila, está usando um vestido da mesma cor, mas de modelo princesa, com a saia esvoaçante, ela é baixa e tem os cabelos pretos lisos cortados no ombro. O branco do vestido contrasta perfeitamente com a pele de Isabella, que tem pele amarela, assim como Camila. O tataravô, por parte de mãe, de Camila e Isabela era filipino, ele veio para o Brasil junto com a família. A mãe delas se casou com um brasileiro e os traços se misturaram.
A cerimônia acontece de forma tranquila e calma, com direito a choro livre e palmas. Na hora em que os noivos trocam suas confidências, preciso, assim como os outros, me segurar para não chorar. As palavras são tão lindas que me deixam ainda mais sensível.
Nunca vou viver isso, ninguém nunca vai me amar assim. Tenho vontade de revirar os olhos para mim mesma, quanto drama.
Na saída, jogamos arroz nos noivos, que entram em uma carruagem, indo para o salão de festas. Nós, os convidados, vamos andando, já que o salão fica próximo a igreja.
Mais uma vez, preciso me impedir de olhar para os lados a procura de Oliver.
— E aí! – Enzo aparece do meu lado, sorrindo. Ele está de terno, todo engomadinho, com o cabelo crespo penteado. Ele está tentando deixar crescer e o resultado está sendo positivo.
Caio o cumprimenta e eu aceno.
Sem parar de andar, Enzo me examina de cima a baixo, como se procurasse por algo.
— Diga – falo, tentando nos poupar da enrolação.
— Nada — ele nega e lanço um olhar descrente. — É só que... você parece bem.
Ergo uma sobrancelha para ele.
— E...? – digo.
Ele dá de ombros, fingindo casualidade.
— Só estou dizendo o que vejo.
— Entendi.
Ficamos em silêncio, focando só em andar. Nos aproximamos mais do salão e observo meus amigos conversando e rindo.
"Você parece bem." Dá até vontade de rir, ou de chorar, não sei. Eu também estaria surpresa por eu não estar surtando, se eu não me conhecesse. A fase inicial é sempre assim, é como estar anestesiada, meus sentimentos não se expõem e eu consigo agir de forma tranquila, levando tudo como se nada tivesse acontecido.
— Oliver veio? – escuto Nina perguntar.
Olho discretamente para Enzo, esperando que ele responda.
— Ele precisou ir embora, a família dele teve alguns problemas.
Enzo conta, me encarando enquanto fala. Sei o que ele está fazendo. Enzo está garantindo que eu entenda que tudo que ele diz é mentira. Assinto, sem dizer nada.
— Ele foi embora!? – Camila pergunta, quase gritando.
— Por quê!? – Alice se mete
— Você sabia!? – Davi vira para mim.
Eu não contei para ninguém, além de Caio, o que aconteceu ontem. Ainda não sei como explicar o que houve. E no fundo, uma parte minha está morrendo de vergonha, não tenho coragem de contar que eu e Oliver brigamos porquê descobri que ele não se sente totalmente atraído por mim.
Você nem ouviu os motivos dele. Não tinha o que ouvir. Você não tem como saber, já que NÃO ouviu ele. Agora não importa mais, já foi.
Nem quero pensar nas alianças dentro da minha mala. Elas são um constante sinal de que me precipitei.
— Emily? – Arthur estala os dedos na frente do meu rosto, me tirando dos meus pensamentos.
— Ahn... Sim, ele me disse que precisava ir. Mas tá tudo bem, gente, relaxa – minto, torcendo para que eles não percebam. Sou uma péssima mentirosa.
Não dou espaço para mais perguntas e adentro no salão.
vocês vão querer me matar pela hora, sim ou claro?
fiquei com peninha do Oliver agora, juro
capítulo sem revisão, então qualquer erro vocês podem comentar que depois eu conserto.
capítulo calminho, mas vem mais por aí
uma dica: em alguns dos próximos capítulos, uma pessoa diferente vai narrar...
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