CAPÍTULO 21

Atenção

A música no link acima faz parte do capítulo. Portanto, para uma experiência total, aperte play e comece a leitura.

Já do outro lado do portal, a garota procurava uma saída naquela imensidão de árvores pelo raiar do sol naquele horário. Sua mente a trazia sempre a uma coisa que a Rihanna lhe havia contado sob o cume daquele edifício. Outras pessoas haviam passado o mesmo que ela estava passando, porém foi a falta de fé de ambas as garotas que a cantora havia contado que as fez desistir de tudo isso. Enquanto procurava uma saída do parque entre as árvores, sua mente foi lembrando de uma pessoa que se adequava quase ou perfeitamente em tudo que a Rihanna havia falado. Dona Meire.

Aquela senhora bibliotecária poderia estar nesse momento organizando alguma prateleira, talvez poucos livros deixados fora do lugar, ou até mesmo, enchendo o saco de algum jovem ou estudante com que ela não fosse com a cara. Quem a vê hoje, uma velha séria, rabugenta, que parece apenas esperar que a vida a leve com desgosto do que viveu, não falaria da adolescente que ela era ao seus 17 anos de idade.

Meire cresceu em um lar pobre, porém numa família de músicos. Seus pais cantavam no coral da igreja presbiteriana de sua cidade, e acabou herdando esse dom desde cedo. Seu sonho era ser professora, mas algo gritava mais alto dentro dela em ser cantora, e estava se preparando para isso. Certo dia, algo lhe chamou atenção naquele clássico prédio no centro de cidade e resolveu entrar. Era a biblioteca nacional. Um livro a chamou atenção naquele passeio inusitado na qual a fez pegar uma das brochuras antigas de capa dura. Ela viu um brilho vindo de dentro e quando abriu, percebeu como as páginas, história e frases se mostravam a ela, e ficou maravilhada com o livro, pensando ser algum novo tipo de edição ou tecnologia da época.

A adolescente começou a lê-lo, porém fez o erro de o levar para casa. Seus pais, sempre muito religiosos, levavam muitas coisas a sério. Certa vez sua mãe a pegou lendo uma parte do livro, e logo após questioná-la do que estava fazendo, viu a menina lendo uma página em branco. Para sua mãe, que não enxergava com a mesma fé, ficou cega diante da história e magia em que o livro possuía, a castigando de não lê-lo a partir daquele momento. Durante semanas, Meire procurava incansavelmente o livro por toda parte de sua casa, lugar em que desconfiava que havia escondido.

Em uma casa abençoada por Deus não se lê nada que não for Dele ou para Ele!, disse sua mãe certa vez enquanto via sua filha chorar por apenas querer ler aquele livro.

Foi nessa época que foi ouvindo certas coisas de seus pais e amigos próximos que a garota foi se afastando da igreja e do sonho de ser cantora. Aos seus 18 anos, começou a fazer novas amizades, e novos interesses foram aparecendo. Anos mais tarde quando se deu conta do que havia passado com o livro, perguntou a sua mãe onde o havia escondido, e até mesmo ela, não se lembrava muito, procurou onde havia escondido, porém o livro não estava mais lá, deixando as duas confusas.

Anos se passaram. Novos interesses, novas situações e amadurecimentos. A vida se torna tão imprevisível que muitas vezes ela nos oferece grandes oportunidades disfarçadas de pequenos acontecimentos. E mesmo assim as perdemos. Meire se formou em letras, e os livros acabou se tornando uma de suas paixões depois de ensinar. Com quase 30 anos, ela mantinha uma turma em sua casa aos finais de semana na qual lecionava português e inglês, enquanto que na semana, trabalhava na biblioteca Nacional do centro da cidade, lugar marcado pela sua infância. Porém o que ela não esperava era que em um dia corriqueiro, em suas tarefas diárias, encontraria o mesmo livro de sua adolescência. O livro Divas estava novamente diante de seus olhos, no qual o segurou e o abraçou como os filhos abraçam seus pais quando estes voltam de uma guerra. Uma lágrima escorreu por suas bochechas rosadas, e a nostalgia a tomou, se lembrando de tudo e de seu antigo sonho. O arrependimento foi grande, porém quando o abriu para reler, a única coisa que pôde ver foram apenas folhas em branco. O sonho havia se perdido, e a fé esvaeceu-se como o sol ao anoitecer.

Dona Meire dedicou todo seu tempo em proteger aquele livro como se ainda fosse seu. Continuou trabalhando no mesmo lugar durante toda sua vida, na mesma profissão, apenas para tê-lo mais perto. E durante anos, presenciou o desaparecimento contínuo do livro, o qual ela mesmo espalhou para alguns leitores frequentes da biblioteca de que era um livro mágico, e de algumas experiências que já havia presenciado com ele. Seu humor foi alterado conforme suas esperanças diminuíram e seu arrependimento aumentou. Quando ela comentava sobre a magia do livro, as crianças achavam aquilo incrível. Os jovens achavam tudo isso um passatempo por conta de idade avançada. E os adultos sentiam pena, sabendo que sua filha já havia tentado colocá-la em uma casa de repouso e recuperação para senhoras da mesma idade que ela, onde em alguns lugares o chamariam de hospício - ou asilo.

Nesse momento, atrás de seu balcão na enorme e glamurosa biblioteca, ela se sentava, pensando naquele livro que já havia sumido há um tempo por uma menina morena dos cabelos cacheados. Mal sabia ela que quem escolhe não é a pessoa, mas sim o livro. Porém, é através das suas atitudes que ele te condiz capaz ou não de seguir adiante em suas profundezas. A única coisa que ela sentia falta naquele momento era de ler aquela página já amarelada com o tempo falando sobre a história da Whitney enquanto ele mesmo a fazia ouvir um trecho de sua música. São detalhes únicos que marcam a todos nós. Detalhes que nos fazem quem somos hoje.

Esther começou a perceber que aquele parque estava muito grande, e não conseguia ver nenhuma cerca ou a presença de outra pessoa. Ela ouviu um estalo de madeira quebrando atrás de suas costas e paralisou. Ao olhar para trás, cada árvore ali plantada parecia esconder algo a esperando para atacá-la pelas costas. Foi quando começou a apressar o passo. O sol brilhava entre as folhas de árvores lá pelas três da tarde pela posição no céu. Mas percebeu algo o tapar e uma sombra se formar no chão conforme avançava pela floresta. Ao olhar a frente, pôde ver um portão alto de ferro, porém era o que estava atrás dele que a fez ficar boquiaberta.

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