SETE

No hinduísmo e no budismo, o carma tem a definição simples onde diz ser a lei que afirma a sujeição humana à causalidade moral, de tal forma que toda ação gera uma reação que retorna com a mesma qualidade e intensidade a quem a realizou, e se tinha uma coisa em que Dexter acreditava era no carma, e na situação em que sua vida se encontrava, ele tinha certeza de estar sentindo na pele o peso de todos os seus pecados.

Enquanto refletia sobre tudo o que vinha acontecendo, sentado no bar do clube no porão da D'short, se serviu de uma cerveja e abriu outra deixando-a ao seu lado no balcão, batendo com sua garrafa de leve nela em um brinde póstumo e melancólico, mas que em seu coração estava sendo feito na companhia do irmão. Se Conrad estivesse ali naquele momento, ele teria algum comentário sarcástico e idiota para fazer sobre a situação de Dexter, algo que faria com que o ruivo quisesse socar a cara dele, mas que ao mesmo tempo lhe arrancaria uma risada e quebraria a tensão da situação.

Fazia quase uma semana que Anelise estava desacordada e a espera por uma melhora em seu quadro estava fazendo com que ele ficasse agitado, e naquele momento tudo o que ele queria era que o irmão estivesse ali, lhe dando apoio e lhe dizendo que tudo ficaria bem, que Ane era forte demais para que um atropelamento a deixasse na cama.
Dexter levou a garrafa de cerveja aos lábios deixando que o líquido âmbar-ouro escorresse por sua garganta, o sabor malte apoiado por um amargor refrescante e um aroma floral dançou por suas papilas gustativas, trazendo o frescor e dormência momentânea para seus sentimentos.

— Você está com uma cara péssima – a voz de Simon soou atrás de Dexter trazendo os pensamentos do ruivo para o mundo real.

— Eu estaria com uma cara melhor, se ninguém estivesse tentando matar minha esposa.

— Ex-esposa. – Simon o corrigiu, apenas para irritá-lo.

— Não assinei o divórcio, então ela ainda é minha esposa. – rebateu bebendo mais um gole de sua bebida.

— Que seja. – ele não discutiria com Dexter sobre isso, seria batalha perdida já que o ruivo nunca aceitaria Anelise como sua ex.

Simon, ocupou o banco ao lado de Dexter após buscar uma cerveja, brindou com a garrafa em cima do balcão e em seguida com Dexter. Ele sabia o que a garrafa aberta significava e respeitava o gesto, era raro uma vez em que bebiam e não abriam uma cerveja para o soldado abatido.

— Você conseguiu a placa do carro? – Dexter questionou.

— Sim, mas não deu em nada.

— Então não temos nada. – praguejou.

— Eu não disse isso. – Simon sorveu um gole de sua cerveja e se pôs a falar: — Segui o carro pelas câmeras de trânsito, até um depósito próximo à saída da cidade, consegui uma imagem de um dos caras, estou limpando a imagem para rodar no reconhecimento facial. – coçou o vão entre os olhos se sentindo frustrado.

— Isso já é alguma coisa.

— Sim, mas não crie esperanças, a imagem está muito ruim. – disse fazendo Dexter assentir com a cabeça.

— Eu sei que você vai conseguir algo. - disse. — Então, você vai ir jantar com a gente?

— Não. Vou para a cama.

Dexter ergueu a sobrancelha e em seguida desceu o olhar para o relógio em seu pulso, checando as horas. Ele queria insistir para que Simon o acompanhasse, mas aprendeu há muito tempo que o homem não gostava de estar rodeado de outras pessoas.

Dexter deixou a garrafa de cerveja vazia em cima do balcão e se despediu de Simon. Ele tinha um jantar em família e mesmo que quisesse muito ficar no bar enchendo a cara, não podia recusar um convite de sua mãe e aproveitaria para discutir com o pai o próximo passo a dar com a proteção de Anelise.

Sentado atrás de sua mesa, Alessandro encarava o filho, enquanto ele lhe passava seu plano para manter Anelise segura. Estava feliz em ter Dexter por perto, mas odiava ver a sombra de tristeza abaixo de seus olhos.

— Tem certeza que tirar ela da cidade é a melhor coisa?

— Sim. – respondeu convicto. — Não dá para deixar que ela continue aqui, não quando tem uma mira na sua cabeça. Ela já sofreu dois atentados, não quero esperar por um terceiro.

— Essa é sua opinião profissional ou é porque ela é sua esposa?

— E isso importa? – questionou cruzando as pernas e relaxando na cadeira.

— Na verdade não, só estava curioso. – respondeu. — E para onde ela vai levá-la?

— Para a cabana. – respondeu.

— Ok, vou pedir para que Simon cuide dos preparativos. – disse Alessandro, se levantando. — Alguma mudança no quadro dela?

— Ainda não, mas os médicos esperam que ela acorde logo.

Alessandro concordou e saiu do escritório, sendo acompanhando por Dexter. Ettore e Keid estavam esparramados no sofá conversando com Ana, que assim que colocou os olhos sobre Dexter abriu um sorriso largo e se levantou indo abraçar o filho. Os irmãos Vassiliev se levantaram para cumprimentar o companheiro e em seguida o levaram para a área de lazer no fundo da mansão, onde Ettore buscou por cervejas e os serviu, enquanto se esparravam nas poltronas.

— Estou morrendo de fome. – disse Keid enquanto abria sua cerveja e bebia um longo logo.

— Seria estranho se você não estivesse. – comentou Dexter. Keid franziu a testa.

— Está falando como se eu fosse um morto de fome.

— E você não é? – replicou o irmão.

— Eu estou em fase de crescimento, preciso me alimentar bem. – disse mostrando os músculos e fazendo os rapazes rirem.

— Para os lados, só se for. – a voz de Alessandro soou atrás deles. — Ana está chamando vocês para jantarem.

— Vamos terminar a cerveja e estamos indo. – disse Dexter. Alessandro assentiu e voltou para dentro da casa, indo ao encontrando de Ana na sala de jantar.

— Como a Anelise está? – perguntou Ettore.

— Estável, mas ainda em coma. – contou. — Camille e Alex estão com ela.

— E como a Alex está? – perguntou Keid. O homem nunca demonstrava preocupação com nada, mas vez ou outra perguntava sobre a condição da loira. Todos sabiam o que ela significava para Conrad e após a morte do mesmo, tomaram para si o dever de cuidar e proteger a mulher que o irmão amava. Ettore, Keid eram mais que amigos para Dexter e Conrad, era família, eram irmãos.

Dexter coçou a cabeça e torceu a face, essa era uma resposta complicada de se dar.

— Melhor do que a uns meses atrás, sair de Chicago fez bem a ela.

— E o moleque? – perguntou Ettore sobre Zachary, filho de Conrad com a loira.

— Cada vez mais a cara do pai. – respondeu com um sorriso bobo ao falar sobre o sobrinho. — Ele é simplesmente a coisinha mais fofa que eu já vi.

— Vai destruir o coração das meninas quando tiver idade.

— Alex não quer nem pensar nisso. – disse rindo.

Os rapazes continuaram a conversar sobre coisas triviais enquanto bebiam o resto de suas cervejas, era bom terem um tempo descontraído no meio de tanta tormenta. Após descartarem as garrafas vazias, se juntaram a Ana e Alessandro, para enfim jantarem. 

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top