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Depois de uma semana quase infernal, Louis descobriu que lidar com sua própria magia não era algo tão fácil quanto supôs inicialmente, não quando a coisa parecia ter vida própria e estava zangada como um diabrete por ter sido mantida aprisionada por tanto tempo entre seus ossos, como se a própria fada tivesse algo em relação a isso. Ele não tinha, obviamente. E vinha dizendo isso à sua magia todas as malditas vezes. Ela era dona de uma teimosia irritante, no entanto, e se recusava a obedecer até mesmo os mais simples comandos. Voar, em contrapartida, não era mais difícil do que respirar. "Suas asas fazem parte de você, te tornam o que é, não deveria ser diferente de andar" disse-lhe o senhor demônio do pântano depois que Louis ergueu vôo com tanta facilidade que teve vertigens por horas seguidas porque... bem, suas asas sabiam perfeitamente bem como voar, mas ele não. Lidar com a altura, no entanto, não foi tão difícil assim. E, após sete dias de prática, ele quase podia considerar-se experiente o suficiente na arte do vôo para que experimentasse alcançar cada vez mais altitude, até que o ar de seus pulmões fosse ficando rarefeito. Quando descia com um sorriso no rosto e pés descalços, cabelos completamente arruinados ao redor do seu rosto porque a magia que deveria proteger os fios como fazia com qualquer criatura voadora ainda era uma maldita insana que não o permitia tocá-la. Em todo caso, sempre que seus pés voltavam ao chão, o demônio estava lá para recebê-lo com um sorriso largo no rosto. Louis descobriu que gostava de ver Harry sorrir, ele tinha dentes bem alinhados quando as presas demoníacas estavam escondidas. Louis também descobriu muitas coisas sobre o dono do castelo no pântano, descobriu sua paciência em ensinar e como o som da risada era grave pelas manhãs. Como ele poderia saber desse segundo detalhe? Bem, não era como se fosse um segredo que ambos estavam se vendo com ainda mais frequência depois que Louis tinha sido livrado da maldição que sangue que o acorrentava, tamanha era a frequência que em sete dias, cinco deles ambos acordaram com as pernas enroladas uma nas outras, os chifres do demônio enrolado de cabelos e as asas da fada lhes cobrindo como um cobertor natural.

Exatamente como naquela manhã específica.

Louis mordeu os lábios e empurrou o corpo para mais perto do demônio, até que ele aprendesse a usar sua magia revoltada para esconder as asas, dormir com suas costas viradas para Harry era impossível, não que o grande e poderoso demônio do pântano se preocupasse em ser aquele a ser abraçado. E... céus, Louis adorava passar seus braços finos ao redor daquele corpo largo e bem construído de músculos definidos. Se alguém tivesse lhe questionado, meses antes, sobre qual seria o suposto cheiro de um demônio, ele não teria vacilado em afirmar que o odor não poderia ser diferente ao estrume nas fazendas de besouros em Cordélia, talvez como os esgotos na residência do ogro Phill em Calia. Terrível. A verdade era tão distante de seus pensamentos preconceituosos que Louis poderia se sentir envergonhado se pensasse sobre isso, especialmente quando aquele demônio em específico tinha um cheio tão incrivelmente bom. Era como madressilvas e hortelã e enchia os sentidos da fada, agitando o sangue em suas veias e fazendo as batidas do pequeno coração aumentarem consideravelmente. Talvez ele estivesse louco. "Ou apaixonado" a ideia lhe infiltrou os pensamentos como erva daninha. Apaixonado? Encarando aqueles ombros pálidos e largos ao redor de seus braços, a respiração suave de Harry ardendo nas pontas de seus dedos enquanto o tórax dele subia e descia... bem, a ideia parecia bizarra. Quase. Exceto que não era.

— Uhm... — o demônio murmurou agitado, era como se ele pudesse sentir a inquietação crescente em Louis. Ou, talvez, sua ereção matinal devidamente pressionada contra sua bunda. — O que é isso, um presente? Ou somente está feliz em me ver?

A voz grave de Harry queimou no cerne da fada, dando-lhe a certeza de que a segunda opção era a correta. Louis riu aliviado, o nariz correndo todo o caminho daqueles ombros e tomando para si o cheiro viciante que emanava do demônio.

Louis descobriu que adorava acordar com Harry.

— A segunda opção — murmurou, os dentes perigosamente próximos daquela orelha pontiaguda na qual já havia distribuído algumas mordidas suaves antes. — Mas eu poderia estar mais, na verdade.

— Poderia?

— Sim.

Enquanto o demônio arrastava os longos dedos para baixo das grandes asas de Louis, vibrações corriam por toda a pele da fada. O toque do demônio era como fogo líquido, incendiando-o da cabeça aos pés e afastando em definitivo toda letargia que poderia lhe restar. Quando a mão direita de Harry cravou em sua coxa, Louis gemeu.

— Diga-me como, então.

A intimidade que ambos vinham construindo um com outro diariamente era tão natural que Louis não sentiu-se receoso de esticar seu corpo sobre o demônio e roubar-lhe um beijo molhado daqueles lábios suaves. Beijar era bom e quando sua língua ansiosa degustou a dele com quase voracidade, seus corpos se aproximaram ainda mais. Louis ainda encontrava alguma dificuldade em controlar suas asas, então mantê-las para fora do caminho enquanto girava sobre o corpo bem definido do demônio sempre se mostrava um desafio. Nada impossível de se resolver, no entanto, porque segundos depois e lá estava ele montado sobre a cintura do senhor demônio do pântano, suas asas abertas em completo esplendor conforme mordiscada a boca na qual descobriu-se viciado. Quando suas ereções uniram-se em um aperto dolorosamente bom, o gemido que ressoou no fundo da garganta da fada era um espelhamento daquele que escapou através do beijo, proveniente de Harry. Depois de uma longa madrugada de foda, eles estavam nus com nada além de um fino lençol de seda escura mantendo suas peles separadas. Com um sorriso indecente no rosto, Louis apoiou ambas as mãos no travesseiro ao lado da cabeça do demônio e girou os quadris em busca de mais contato na região sul, suas bocas sem nunca jamais perderem o contato. Louis havia descoberto que gostava de sexo. Não, na verdade ele gostava do sexo com o senhor demônio do pântano, gostava o bastante para permitir-se perder a si próprio por horas enquanto aquela criatura poderosa lhe mostrava em detalhes o que era capaz de fazer.

Quando sentiu as unhas afiadas e negras do demônio afundarem na carne suave de seu quadril quase o bastante para ferir e sangrar, ele gritou em êxtase. Louis também havia descoberto que a dor e o prazer eram tão simultâneos quanto a ideia poderia soar assustadora a princípio. Mas não mais. Não depois de ver-se explorando cada detalhe de seu próprio corpo junto àquela criatura estranha de grandes chifres escuros e curvos. Agora, Louis sabia o que gostava e o que não e, agora, ele poderia dedicar-se apropriadamente em afundar naquelas ondas turvas de prazer que hora ou outra pareciam mais do que suficientes para cegá-lo.

— Você parece incrivelmente empolgado esta manhã — o demônio murmurou com as lábios escorrendo por todo o contorno do maxilar de Louis, sua língua quente e levemente áspera enviando calafrios vertiginosos diretamente para o pau vazando da fada. — Estamos comemorando algo?

Ele não respondeu e não somente porque não parecia haver palavras certas para oferecer a Harry algo além de seus gemidos já beirando à insanidade, mas também porque a verdade era que sim, ele tinha algo pelo quê comemorar. Quer dizer, há meses atrás ele estava sendo jogado dentro de uma carroça velha para ser entregue como tributo à um ser cruel, um demônio devorador de almas que acabaria com toda a sua vida cheia de maldições e lavagem de porcos. O Louis de meses antes jamais teria pensado que se encontraria nos braços de alguém terno o suficiente para fazer seu coração palpitar e seu pau gozar pelo que pareciam ser horas seguidas. Ele nunca antes tinha vivenciado nenhum tipo de afeto, proteção nem sentimentos que não vagassem tendenciosamente entre saco e desprezo. Agora... por Gaia, às vezes ele pensava que tudo aquilo poderia ser demais para alguém como ele.

— Coloque-se em mim — gemeu com seu quadril ainda fazendo círculos dolorosos, o pau queimando em contato não direto com Harry. Ele precisava de mais. Precisava de tudo. Curvando-se e alcançando a orelha do demônio em sua língua, Louis disse: — Quero sentí-lo, senhor, no fundo do meu corpo. Em minha alma, também. Complete minha existência e faça-me implorar por mais.

Não foi preciso pedir uma segunda vez, nunca era assim como Harry jamais fazia algo que não fosse de seu agrado ou sem sua prévia aprovação. Naquela manhã enquanto os raios do sol de inverno entravam pelas janelas e pequenos flocos de neve serpenteavam no céu cinzentento, Louis foi beijado com devoção. Ele sentia-se quase capaz de explorar as palavras não ditas de Harry conforme o demônio habilmente os girava de modo que Louis acabasse com o rosto pressionado contra os travesseiros macios, a bunda erguida em um convite explícito e suas asas abertas, fora do caminho como deveria ser. Louis detestava quase não ser capaz de mergulhar naquela imensidão verde dos olhos de demônio enquanto era fodido, mas não havia muito o que fazer com suas asas grandes demais e a magia floral ainda não fazendo nada para ajudá-lo. Quando Harry deixou um beijo no final de sua coluna, tudo tornou-se um borrão repleto de prazer para que ele pudesse se preocupar com algo além do momento presente. E, quando a língua quente escorregou entre as bochechas de sua bunda, Louis teve que conter o impulso de afastar-se. Quer dizer, ele ainda tinha as provas da noite anterior pegajosas dentro de si. "Quero sentir meu gosto em você" a voz ardente do senhor demônio vibrou dentro de sua cabeça, relaxando-o o suficiente para que seus joelhos tremessem ansiosos agora. Harry sempre parecia saber o que lhe afligia e, claro, jamais perdia a oportunidade de suavizar seus sentimentos.

Seus olhos apertaram com força no momento em que a língua atingiu a sensibilidade de sua entrada, circulando com avidez ainda que gentilmente. Harry parecia sempre saber o que fazer para que ele perdesse o controle sobre seu próprio corpo, afundando-se ainda mais nos travesseiros, Louis mordeu os lábios para não gritar e acabar por acordar todo o maldito castelo. Seus quadris moviam-se por conta em direção ao rosto do demônio, à língua expediente e à maneira como as sensações vibravam em seu corpo, levando-o tão alto aos céus quanto duas asas jamais poderiam fazer realmente. Quando um par de dedos se juntou à língua, devidamente umedecidos e empurrados em direção ao ponto exato para fazer com que Louis queimasse, seu pau pulsou, vazando quase ao ponto de jorrar todo o seu prazer para fora. E, somente quando Harry sentiu-se satisfeito em torturá-lo de forma tão malditamente cruel, foi que Louis o sentiu forçando a entrada. Deslizando para dentro. As garras escuras puxando suas asas apenas o suficiente para doer enquanto aqueles quadris incrivelmente poderosos impulsionavam em um ritmo crescente. Suave a princípio apesar de logo cair à beira da loucura. Merda. Merda. Merda!

Louis gozou em mãos livres enquanto o senhor demônio do pântano o fodia duro, selvagem, sem nenhum tipo de limite moral envolvido ali. Eles eram corpos cheios de tesão senso saciados um no outro, jorrando um no outro, marcando-se mutuamente como pertencentes. Iguais. Vinculados por algo que ia muito além daquele quarto em um castelo frio no pântano e, sentindo o pau de Harry pulsar dentro de si, a fada não pôde mais negar a si mesmo que a droga de seu coração estava sendo devorado como assim deveria ser a princípio. Não havia mais como fugir. Não haviam mais motivos para querer fugir. Finalmente Louis pertencia a algum lugar, a alguém.

Ele pertencia à Harry.

E enquanto o sentia retirar-se de dentro de seu corpo, beijando-o como se o amasse... por Gaia, a fada apenas pôde rezar a toda e qualquer deidade presente para que o demônio pertencesse a ele também.

×××

Não importava para onde ele tentasse correr, seus olhos sempre acabavam sobre o mesmo lugar. Ele, sempre ele. Louis. A fada parecia bem agora com as bochechas cheias de forma, tão redondas e carnudas quando a bunda. E o sorriso em seu rosto era um tipo de recompensa que fazia o coração demoníaco de Harry pulsar um pouco mais rápido. Mesmo estando do outro lado do salão, curvado sobre um vaso de magnólias com o cenho franzido em concentração enquanto tentava fazê-las crescer mais e Zayn, o gárgula, lhe dava algum apoio... por satã, Louis cheirava à sexo. O próprio aroma do demônio parecia fixo na pele quase dourada, marcando-o como propriedade. Sim. A ideia de tê-lo era boa o bastante para enviar correntes de energia sexual diretamente para seu pau que sempre permanecia em estado constante de alerta na presença de Louis, sempre mais do que pronto para encontrar um lugar com privacidade suficiente para fodê-lo. Harry nunca tinha estado assim antes, tão viciado em perder-se dentro de alguém. Nem mesmo com ela. Afastando as lembranças de sua antiga futura companheira morta, o demônio decidiu que era hora de desviar o olhar antes de acidentalmente colocar fogo na droga da flor.

— Há algo diferente nele — a familiar miou aos seus pés, devidamente sentada nos quadris na forma de uma grande pantera. Ken era uma exibicionista de merda, especialmente diante de convidados. — Um cheiro não característico, não consegue sentir?

A única coisa que Harry sentia em relação à Louis era a vontade quase insana de arrastá-lo novamente para o quarto e congelar o tempo lá dentro pelos próximos quinhentos anos para, somente então, permitir-se fazer uma pausa para o café.

— Ele está bem.

— Eu não disse que não estava — a familiar empurrou as garras afiadas do tamanho de um punho mediado para fora, lambendo-as em letargia. — Apenas vendo coisas onde não existem, no entanto.

— Provavelmente.

— Uh — passando para a garra seguinte, Kendall continuou: — Estive em Calia essa manhã, há um leprechaun realmente em luto por lá. Acredita que o garoto construiu uma lápide de argila? Tenho certeza de que Louis ficaria feliz em saber que era querido por alguém na sua vida antiga.

O demônio sabia exatamente para onde estava sendo encaminhada aquela conversa, ele lidava com a familiar por anos demais para deixar passar as insinuações implícitas em suas palavras. E, em alguma parte claramente humana de si mesmo, Harry sabia que estaria sendo um maldito mesquinho ao não permitir esse encontro. Mas... do que diabos um demônio herdeiro direto de Belzebu poderia temer além de sua paz individual? Oh, ele sabia a resposta. Claro que sabia. Estava tão malditamente escrita dentro de seus ossos que somente um tolo poderia ignorar.

— Não estaremos recebendo mais convidados, Ken.

— Durante todos esses anos juntos, já tive alguns bons adjetivos negativos contra você para cuspir em momentos como esse — ela continuou, completamente ignorando a declaração incisiva do demônio. — Covarde, no entanto, nunca esteve entre eles.

— Eu não...

— Mentiroso tampouco, querido — miou. — Mas, aparentemente, as coisas vêm tomando formas realmente distintas nos últimos tempos, diga-me, o que o assusta mais? Perder ele ou saber que nunca de fato chegou a tê-lo, uh?

Às vezes o demônio odiava como sua familiar tinha o dom maldito de entrar dentro de sua alma escura e descobrir tudo o que havia lá, destrocar e expor seus maiores segredos apenas para deixar as malditas feridas abertas, prontas para o golpe final.

— Louis está bem aqui — grunhiu, deliberadamente ignorando a pergunta em questão. — Há um teto sobre sua cabeça, comida quente em seu prato e pessoas que se importam genuinamente com ele. Sua antiga vida deve estar enterrada assim como todo o sofrimento proveniente de lá, incluindo leprechauns em luto. É assim que é e é assim que será.

— Não seja tão mesquinho em privá-lo de algo assim, Harry. É quase cruel.

— Sou um demônio — chiou, a irritação ameaçando encher seus ouvidos. — O que mais esperava?

Ele odiava o fato de ter que se colocar em uma situação tão desgastante, odiava ser a droga do vilão ainda que a ideia de estar protegendo Louis pudesse lhe trazer algum conforto. No entanto, inferno, quem diabos Harry estava tentando enganar? Aquilo não se tratava de proteger ninguém, não. Aquilo que tratava de manter sua própria bunda livre de qualquer desconforto que poderia – ou não – vir a acontecer se ele ousasse trazer um pedaço do passado de Louis para aquele pequeno momento de paraíso que ambos vinham construindo. O que a fada faria? Voaria para longe com seu velho amigo leprechaun? Voltaria para Calia e então assumiria seu lugar devido ao lado das irmãs que sempre o desprezou? Decidiria que as paredes frias de um castelo no meio do pântano não era o bastante para ele, não quando tinha lindas e fortes e azuis asas para levá-lo através de uma exploração mundial? Droga, eram tantas as alternativas que Harry somente se recusava a arriscar. "O amor é paciente, querido, e não há prova maior do que abrir mão daqueles que queremos bem. Deixe-os ir, ame-os quando voltarem e continue amando-os se escolherem partir. Um Passarinho não foi feito para voar assim como um demônio como seu pai nasceu para as chamas do inferno. Mas ali está ele, batendo manteiga em uma vida humana por livre e espontânea vontade. Deixe-os escolher permanecer e tudo ficará bem" as palavras de sua mãe queimou dentro do peito. Ela estava prestes a partir na época, tão fraca junto à cama quanto a idade lhe permitia. Não importou quantos feitiços e favores seu pai cobrou, a vida de um ser humano é naturalmente destinada ao fim. No final, Anne morreu. E seu pai sucumbiu com ela. Ele havia nascido para o inferno e, ainda assim, escolheu um destino diferente. Por amor. "Mas Louis não me ama" pensou com a língua pesada arrastando no céu de sua boca, o gosto amargo da incerteza preenchendo seus sentidos.

Do outro lado do salão, aqueles olhos azuis cheios encontraram os seus. Quando Louis acenou com um sorriso crescente em seu rosto, aparentemente feliz porque as magnólias no vaso tinham crescido alguns poucos centímetros, o demônio sentiu-se miserável.

— Você sabe o que é o certo a se fazer — Ken voltou a dizer, agora entretida em uma das patas traseira. — Além disso, eu já o convidei, então acho que sua recusa seria realmente desagradável agora.

As palavras delas levaram cerca de treze segundos para serem devidamente compreendidas e, quando aconteceu, o demônio do pântano não sabia que arrancava aquela cabeça felina em completa fúria ou arrastava seus temores para o fundo da própria cabeça porque ele era o melhor de ambos os mundos, de acordo com sua mãe, e o melhor de ambos os mundos não destruiria o maldito leprechaun assim que a criatura pisasse em sua propriedade. Harry não teve tempo o bastante para pensar sobre porque, meio minuto depois, uma coisa loira pareceu brotar entre as fumaças escuras de Payne. Droga. Harry sabia que manter o demônio da encruzilhada em seu castelo a longo prazo não seria uma ideia muito boa, o maldito traidor era parecido demais com Kendall para que pudesse ser confiável. De qualquer forma, tudo meio que aconteceu rápido demais. Quer dizer, Louis praticamente saltou para o colo daquele idiota de boca cheia que parecia realmente eufórico com a visão daquelas asas cheias e azuis. O leprechaun as tocava com familiaridade demais enquanto o próprio Louis girava sobre os calcanhares e as abria mais, feliz e sorridente, batendo-as orgulho. Harry se viu obrigado a murmurar um feito de inibição para que não acabasse por colocar fogo na maldita criatura.

Quando Payne se colocou ao seu lado, ele parecia extremamente satisfeito pelo desconforto que tinha causado no anfitrião.

— Sabíamos que sua reação seria terrível — ele ralhou com um longo cigarro de hortelã queimando entre os lábios, costumes imundos de uma vida muito próxima dos humanos. — Mas recorrer a um feitiço de inibição? Amigo, você realmente foi laceado, uh?

— Cale a boca.

— Meu amigo aqui sempre foi um maldito ciumento — Ken me miou no que parecia um riso ou, talvez, um rugido contido. — Não tenho certeza do que diabos ele pensa que vai acontecer agora, mas tenho certeza de que envolve Louis fugindo pelo céu com o leprechaun entre as pernas, ambos rumo à uma lua de mel na costa.

— Cale-se você também.

— Um demônio se apaixonar por criaturas mortais soa como a droga de uma tragédia vitoriana — Payne bufou em uma piada de mal gosto. Quer dizer, Harry não estava apaixonado. Certo? — Em todo caso, tenho notícias interessantes sobre o pai.

Enquanto a fada agarrava-se ao leprechaun como um maldito carrapato, Harry resolveu ignorá-los. Tentar, ao menos.

— O encontrou?

— Sim — o demônio da encruzilhada jogou o cigarro inacabado no piso de pedra, segundos depois e a coisa apenas pulverizou. — Ele morreu a alguns anos nos arredores de Tôgoba, sob feitiço.

— Não soa como algo real — Ken miou, agora garantindo a limpeza da cauda. — O que diabos poderia manter um demônio sob feitiço assim?

— Minha maior aposta até agora é a mãe.

— Uma banshee não tem capacidade mágica o suficiente para manter um demônio em correias por tanto tempo — a familiar logo contrapôs. — Elas não são tão poderosas assim, até onde eu sei.

— Sozinhas não, de fato — Payne voltou a dizer, seus olhos castanhos fixos na comoção logo à frente.

Harry sabia o que ele não disse, quase podia ouvir as engrenagens daquele cérebro funcionando. Louis esteve sob maldição de sangue por muito tempo, basicamente toda a sua vida. A magia dele não era como deveria ser. Arrisca, arredia. Calejada. Quase como se tivesse sido escravizada por tanto tempo que aprendeu a recuar, lutar contra qualquer tipo de sujeição.

— Ele é poderoso — o demônio da encruzilhada continuou. — Vocês sentem o que um mestiço como esse garoto poderia ser. A magia vibra dentro dele. Forte. Parte banshee e metade demônio. Ele poderia ser invencível. Cruel. O orgulho de satã.

— Mas ele não é — Harry sentiu sua língua formigar, ansiosa para sair à defesa daquele garoto que expandia suas asas com alegria pouco mais à diante. — Não há nada de quebrado dentro de seu coração, não importa o quão terrível tenha sido sua vida. Louis é bom. Ele não é como nós.

Nenhum dos outros dois pareceu ter algo a dizer ou discordar e então, quando Louis acenou em sua direção tão entusiasmado quanto somente Gaia permitia, o demônio do pântano sorriu em retribuição. No final, ele possivelmente só estava se preocupando demais. Louis não iria partir com o leprechaun ainda que tivesse essa escolha posta à mesa. "Eu não quero partir, eu não vou partir. Eu estou em casa, Harry" a lembrança daquelas palavras encheram o coração frio do demônio que, afastando suas malditas inseguranças para longe, deu o primeiro passo em direção ao amigo do homem com quem poderia desejar acordar todas as manhãs.

Não que Louis precisasse saber nisso, no entanto.

E, também, não que o senhor demônio do pântano tivesse alguma intenção de contar.

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