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O sol quente em suas costas torna a manhã na horta algo ligeiramente desagradável, uma rápida olhada em seus braços desnudos e Louis tem a confirmação de que a pele está quase tão dourada quanto a de Zayn, ao seu lado. Agora fazia pouco mais que cinco semanas inteiras desde que o senhor demônio do pântano partiu e, apesar de tentar afastá-lo de seus pensamentos tolos, tudo o que a criatura faz é permanecer escorregando entre as centelhas obscenas que borbulham dentro dos ossos da fada, levando-o a se esgueirar por caminhos malditos que jamais antes pensou sequer em considerar. Enquanto vira a terra adubada em silêncio, joelhos no chão e chapéu largo demais sobre a cabeça, ele tenta ignorar a culpa crescente que se revira dentro do seu estômago desde a primeira vez que se tocou através das lembranças do momento em que passou com Harry na torre leste. Ninguém descobriu o estrago no quarto ainda e, não importando quanto os seus esforços em consertar o caos foram realmente exaustivo, grande parte da bagunça ainda permanecia fora do lugar. Mas, ainda assim, para Louis esse não era seu maior problema no momento. A questão que girava dentro de sua cabeça a um par de dias era o fato de que ele, finalmente, havia descoberto onde ficava a suíte principal naquele grande castelo, um cômodo escuro como as trevas existentes dentro de um demônio, circulado por pedras tão negras quanto o chifre dele e cama larga que, apesar de todas as longas noites sem alguém para se deitar nela, ainda conservava o cheio suavemente familiar que provou-se mais do que capaz de fazer com que os joelhos de Louis tremessem ansiosos por um reencontro. Visitar aquele quarto estava perigosamente se tornando um vício que poderia esmagá-lo a qualquer momento e ele sabia disso, claro que sabia, não era mais uma pobre e tola criatura que vivia nas ruas e lutava dia após dia para sobreviver. Não. Agora ele estava forte, músculos crescia em seus braços, as pernas quase dobraram de tamanho e curvas crescentes em seus quadris e ancas agora eram claramente uma evidência a se observar. A cor em suas bochechas por trás do bronzeado, sem mais olhos fundos e cabelos quase tão longos que lhe batiam no ombro.
Sim. Louis estava diferente do que era antes e, às vezes, pensava que isso poderia bastar para que fosse suficientemente corajoso em voltar para o mundo exterior, enfrentar todas aquelas pessoas em Calia e olhar no fundo dos olhos de sua mãe uma única e última vez. Não aconteceria, no entanto. "Todos que vieram antes de você, partiram para longe. Voltar a qualquer uma das vilas não é uma opção e nos garantimos isso, pela segurança desse lugar" havia sido a resposta de Kendall quando a fada lhe perguntou sobre como jamais foram descobertos, no mesmo instante suas segundas intenções esmoreceram como se fossem feitas de areia próxima ao mar. Ele não tinha lugar algum para ir, nenhum destino que não fosse cruel demais para alguém deformado como ele, um aborto natural com asas mais brilhantes do que anteriormente, ainda que evidentemente incompletas. Uma fada masculino, de qualquer forma, não poderia ser bem visto em nenhum lugar sobre a terra de Gaia, possivelmente seria exposto em um circo de horrores como atração principal. Ou morto. Apedrejado como em tantas vezes antes.
Com um suspiro audível e pesado demais, Louis girou o pulso e enfiou algumas sementes dentro da terra escura antes de voltar a cobrí-la, partindo para o próximo buraco. Ao seu lado, Zayn empinou o nariz como se farejasse o ar, as narinas se abrindo largamente, olhos escuros, densos e sombrios demais por um instante longo antes de finalmente voltarem ao mesmo tom castanho melado de sempre.
— O que houve? — Louis não pôde deixar de perguntar.
— Uh, não tenho certeza — o gárgula deu de ombros, ainda que segundos depois estivesse de pé, as mãos sujas de terra sendo batidas ao lado dos quadris. Louis seguiu seus exemplo, ambos encarando o noroeste como se algo pudesse apenas surgir por entre as grandes árvores frutíferas ali. — Acho que... não, deve ser apenas um engano tolo.
— Você viu alguém?
— Não — mais um dar de ombros. — É só uma sensação de familiaridade, um cheiro doce. Não se parece com nada que eu tenha sentido antes, no entanto. Como pode algo ser realmente familiar e desconhecido ao mesmo tempo?
Louis não sabia. E ele não sabia porque tudo em sua vida era apenas surpresa e desgraças e ainda mais confusões dentro e fora de sua própria cabeça como, por exemplo, o fato de ter se encolhido sobre a cama do senhor demônio do pântano por tantas horas na madrugada anterior que somente deu-se conta de ter adormecido ali quando o sol da manhã atingiu as pedras escuras, as fazendo brilhar diante de seus olhos. Louis sabia que não deveria ter feito algo assim, mas... por Gaia, apenas não conseguiu impedir que seu coração dolorido pelas questões fantasiosas dentro de si finalmente pudesse encontrar alguma paz ali, com o calor frio e enxurradas de lembranças guardadas naqueles lençóis, o bastante para que ele pudesse pensar ter ouvido um sussurrar ansioso por seu nome, quase como um gemido. Tão baixo e suave que, assim que chegou, partiu feito alucinação.
— Talvez seja o calor — o gárgula volta a dizer depois de um tempo, as sobrancelhas franzidas ainda encarando o noroeste. Esperando. E esperando. E esperando apenas mais um pouco antes do terceiro dar de ombros. — Vamos — disse finalmente — está muito quente para a horta, terminamos o trabalho quando o sol abaixar um pouco. Além disso, está quase na hora do almoço. Por que não sobe para tomar um banho antes, uh? Estamos imundos.
Louis concordou quase que imediatamente, sentia suas bochechas muito vermelhas e o suor fazia com que as vestes justas grudasse em seu corpo, não era algo agradável ainda que remotamente familiar. Quando vivia nas ruas, banhos eram algo que não podia desfrutar sempre que bem lhe entendesse, especialmente levando em consideração que sua única fonte de água era o lago onde costumava nadar sob a lua, em noites frias demais essa não era uma possibilidade viável. De qualquer forma, toda aquela coisa estava no passado, ao menos por hora, e Louis permitiu-se esquecer grande parte dos horrores que viveu desde muito cedo, comendo o que podia para manter-se vivo como se sua existência valesse alguma coisa para alguém além de si mesmo. Não valia. Subindo as grandes escadas de pedra que levava para os fundos do castelo, ele não pode deixar de dar uma última olhada para o meio das árvores em busca de algo além das sombras de largos troncos, alguma coisa nas palavras de Zayn fez seu estômago se contorcer em uma ansiedade curiosa, um pressentimento talvez e, novamente, o sussurro de seu nome pareceu lhe chegar aos ouvidos através do vento suave. Era como se... alguém o estivesse chamando, desafiando-o a encontrá-lo e, dessa vez, Louis sabia que não era o demônio do pântano. Não. Sua reação ao parar entre as grandes portas do castelo foi quase aterrorizante, como se pudesse cair de joelhos ali mesmo e cuspir todo o sangue de seu corpo para fora da boca, era como se algo pressionasse seu peito, garras ao redor do coração, ameaçando-o. Entretanto, não tardou a ir embora. Às vezes, Louis pensava que havia alguém às suas costas. Olhos malditos espiando através da nuca, observando-o viver um dia após o outro. Era uma presença sempre constante, algo que não se lembrava de ter consigo desde muito jovem, quando foi chutado para a rua e deixado à própria mercê. "Acho que apenas me acostumei a com a sensação, o bastante para me esquecer dela" disse a si mesmo, garantindo que não era nada de terrível, apenas consequências de todas as maldições e pragas que foram lançadas em sua direção durante tantos anos.
Convenientemente, a água estava fria quando mergulhou seu corpo dentro da larga tina. A pele ligeiramente ardentes por conta da exposição exessiva ao sol pareceu chiar em contato com a água, borbulhando sobre os ossos e trazendo-lhe um pouco de satisfação. Com olhos bem fechados, braços descansando submersos e apenas o queixo para cima, Louis permitiu-se esvaziar a mente até o ponto onde não havia nada além de si mesmo vagando na escuridão deserta. E ele. Claro. Sempre ele. Depois de cinco longas semanas – talvez mais –, a fada finalmente havia se permitido ceder àquela coisa explosiva que sempre acontecia consigo mesmo quando se tratava do demônio. Harry. Trazê-lo para si em momentos íntimos como aquele tinha se tornado um hábito quase maldito, dentro de sua própria cabeça, Louis havia sido dele e feito ele seu por tantas vezes que eram incontáveis, olhos sempre muito bem fechados e lábios entre os dentes, Louis não tinha mais reservas pelas quais lutar por um pouco de pudor. Dentro daquelas paredes frias, ele sentia-se quase livre para tocar-se sem remorso, as pernas tão abertas quanto possível e mão no órgão duro como reação aos pensamentos obscenos onde Harry o lambia a partir dos dedos dos pés, trazendo a boca em suaves mordidas para o interior de suas coxas, arrastando-se sobre si e entrando tão fundo quanto os próprios dedos de Louis eram capazes de alcançar. Sob a água fria, Louis enrolou os dedos em torno de si, gemendo suavemente a princípio e perdendo parte do controle quando o primeiro dedo dentro de si se tornou dois. Entrando e saindo tão rapidamente quanto conseguia, em uma dança nada suave com seu punho mais acima e, dentro de sua cabeça, era Harry quem lhe fazia essas coisas, era ele quem despertava seus desejos mais obscuros, arrastando-o sobre os lençóis mágicos e empinando-o para cima, mordendo todos os lugares certos como havia feito no sonho tão distante e tão malditamente real que Louis jamais pôde esquecê-lo.
Girando o corpo até colocar-se de joelhos no fundo da tina, cabeça apoiada nas bordas, mãos escorregando para trás, Louis encontrou uma maneira de ir mais fundo. Uma das mãos abrindo-se enquanto os dedos da outra fodia a si mesmo, dois se transformando em três, água escorrendo para fora e gemidos tão ruidosos agora que ele poderia se envergonhar facilmente por fazer algo assim em meio ao dia, quando todos estavam acordados e a luz do sol invadia seu quarto como uma convidada. Mas... para o caos com tudo porque ele apenas queria sentir aquilo, imaginar que era o demônio reinvindicando-o como seu, colocando-se bem fundo dentro daquela carne macia e ansiosa por contato, por satisfação. Com um grito estrangulado na garganta ainda que mal contido, Louis encontrou o lugar que o fazia delirar, girando o dedo médio sobre o pequeno botão ali, ele viu-se ser levado por ondas e mais ondas de um prazer tão vicioso que poderia facilmente mandá-lo para a fogueira, queimando por deixar-se corromper pelos prazeres que uma fada jamais deveria contemplar. Sexo. Anseio. Necessidade. Tesão. Harry. Todas as palavras explodindo atrás de sua íris enquanto agarrava-se ao ápice, jorrando dentro da água, ferozmente. As asas esticadas atrás de si, vibrantes, batendo ansiosamente. Ardilosamente. Tanto de si que parecia jamais ter fim, os jatos quentes rodopiando para o fundo da tina enquanto Louis apenas continuava fodendo-se com mais velocidade no anseio violento de perdurar aquele momento por mais tempo, eternizar a sensação de vazar, preencher o mundo com seus próprios fluídos. Gozar. Era tão fodidamente bom que, por mais de uma vez depois da primeira, a fada perguntou-se porque nunca tinha feito aquilo antes. "Por que nunca houve ninguém" a resposta lhe veio imediatamente. Agora tinha. Por Gaia, agora tinha Harry.
Finamente dando-se por acabado, Louis arrastou os dedos para fora de si, a testa ainda apoiada na beira da tina conforme se concentrava em sua respiração, nivelando-a. Com os joelhos sensíveis, deixou-se cair dentro da água e, apenas quando abriu os olhos cheios das consequências de minutos antes, foi que ele permitiu-se relaxar. Por segundos apenas, no entanto, antes de congelar como se a própria Medusa o estivesse encarando naquele momento, olhos vorazes do outro lado do quarto, punhos cerrados ao lado do corpo e cabelos em cascatas suaves ao redor dos ombros. Mais longos do que Louis se lembrava.
Puta merda.
×××
Seria facilmente considerado um esforço desnecessário fingir que não estava ansioso para o regresso e Harry já havia desistido de mentir para si mesmo há mais tempo do que o próprio tempo, possivelmente. Então, enquanto atravessava o longo caminho de pedra até a entrada do castelo que chama de lar, ele apenas tentou não correr. Pelo inferno sagrado, Harry queria tanto vê-lo. A princípio, não esperou que sua viagem fosse durar mais do que alguns dias, tento em vista todas as modernidades humanas da atualidade que correspondiam quase que de igual patamar com os feitiços milenares de teletransporte. No entanto, uma vez em Chicago, Liam o convenceu a dar uma olhada nos grandes em busca de pistas para ter, ao menos, ao com o quê começar. Toda a coisa demorou muito mais do que o esperado e agora, cinco semanas depois, Harry não conseguia pensar em algo que desejasse fazer mais do que colocar seus olhos sobre Louis, a pele suave, a íris tão azul quanto o céu sobre suas cabeças, quadris largos e perfeitos para serem seus e... oh merda, aqueles lábios com os quais sonhou beijar, deliciar-se, escorregar sua língua por todo o contorno, guiá-lo ao redor de seu pau. Porra.
Passando por Kendall com apenas um aceno para os olhos estreitos e felinos, Harry não se preocupou em dar justificativas acerca do convidado que o seguia de perto, eles já eram velhos conhecidos para que a dispensa de apresentações fosse viável. Por cima dos ombros, apenas pôde observar de relance o quanto sua familiar parecia desgostosa com a presença de Payne, não que ele pudesse culpá-la por isso, claramente, todos entre os demônios sabiam dos rumores sobre o rastreador, das crueldades sacanas descansando sob as unhas como se fosse apenas normal. E era, para grande parte de seus semelhantes. Fosse como fosse, demônios da encruzilhada não eram bem vistos apesar da clara utilidade, fazer trabalhos direto com humanos não era mais uma prática tão comum quanto um dia já havia sido, especialmente quando a humanidade aprendeu a cultivar a podridão dentro de suas almas distorcidas, alimentar-se disso era quase como mendigar restos. Nenhum demônio de herança direta dos Senhores das Trevas ousaria andar em tal companhia, talvez por isso eles fossem tão comuns em cidades distorpes onde, basicamente, se transformavam em deuses. Encontrá-los ou até mesmo trazê-los para vilas mágicas não era o que poderia ser considerado de bom tom, mas... bem, que se fodesse. Harry já estava farto de todas as coisas que os outros achavam sobre si mesmo para preocupar-se com os olhos injetados de Kendall e as más línguas de demônios hediondos e sangrentos que não demorariam mais do que dois segundos em arrancar-lhe a cabeça se houvesse a oportunidade, afinal ele era um mestiço. Não importava sua ordem ou descendência, quiçá a legião que servia ao seu pai. Nada disso era relevante. Ele era um mestiço. Filho de uma humana. E, apesar de ter que sofrer o inferno para perceber, acabou dando-se conta de que ao final é somente isso que importa.
De qualquer forma, ele não esperou por nada. Seus pés pareciam se mover de maneira natural, guiando-o através dos corredores até aquele quarto em que esteve tantas vezes às costas de Louis, esgueirando-se pelas sombras enquanto a fada dormia, entrando em seus sonhos, tomando-o para si ou apenas velando seu sono como o maldito que era. "Eu sou o que sou e isso é tudo o que sei" disse a si mesmo em busca de algum conforto porque, não importava o quão moral ele tendia a ser nas escolhas cruéis de sua vida, Harry entendia o que era. Entendia seus limites assim como era completamente ciente dos anseios corroendo seus ossos, as tendências malévolas e imorais rangendo sob sua pele, implorando para apenas tomar o que lhe era direito ou não, permissão nunca havia sido a questão da coisa. Quando a porta apareceu diante de si, ele finalmente parou. Passou ambas as mãos entre os fios dos cabelos e liberou seus chifres depois do que pareceu Eras, era bom tê-los de volta. Respirando com um pouco de dificuldade, pensou se entrar como um boi em aposentos que não era seu poderia ser algo intruso, mas... bem, tudo era seu ali. Seu castelo, sua propriedade. Seu. E havia tanta necessidade em apenas olhá-lo, garantir que seus motivos para partir não haviam sido movidos por repugnância e sim a necessidade de manter-se dentro das próprias calças enquanto buscava por ajuda mais apropriada. Harry sentia que a justificativa não poderia mais esperar por um segundo sequer. Era agora. Era a hora de abrir-se como um tolo e apenas ajoelhar diante de Louis enquanto esperava pela palavra final. A dele, claro.
A porta se abriu com um ranger baixo, tão suave que não poderia ter sido escutado por ninguém além de si mesmo, especialmente para o corpo meio apoiado na borda da tina com as asas abertas e vibrantes, o azul tingindo o restante do corpo através da luz do sol batendo nelas. Ele parecia estar sofrendo e, por instantes rasos, Harry considerou ajudá-lo no que quer que estivesse acontecendo. Um passo adiante e então a cena ficou clara. Droga. A forma como a fada se movia, os dedos enterrados dentro de si, os gemidos, os sussurros suaves, o nome escapando daqueles lábios doces e ecoando na água, cabelos ligeiramente mais cumpridos em uma bagunça rudimentar ao redor da cabeça baixa, asas tão abertas quanto as pernas, água sendo espirrada ao redor. Para Harry... oh, doce inferno, aquilo apenas era uma e somente uma coisa. E ele sabia que deveria partir, dar meia volta e deixá-lo com sua própria intimidade. Apenas ir embora. "Vá, dê meia volta e saia daqui, seu bastardo miserável" disse a si mesmo, implorando, mas seus pés eram mesquinhos demais para mover-se e os olhos verdes rapidamente foram tingidos do meus escuro negro, seu próprio pau chutando como um louco dentro das calças enquanto Louis explodia na água, as asas agitando convulsionamente, os goles longos de ar cheios de um grito mal contido e... porra, o nome sussurrado mais uma vez flutuando pelo ar como se para tentá-lo, instigá-lo a se aproximar, desafiá-lo a mergulhar em Louis, tão fundo quanto fosse possível e então mais fundo ainda.
Droga.
O demônio sabia que devia ir embora.
Ele sabia.
Mas não foi.
Seus pés apenas permaneceram no mesmo lugar, o corpo tenso, incapaz de tomar a decisão certa e... inferno, qualquer decisão que fosse. Ele ficou lá, encarando a cena diante de si como se o mundo pudesse explodir ao redor e queimar seu corpo até os ossos porque, diabos, nada parecia minimamente capaz de movê-lo. Nada. Absolutamente nada. Nem mesmo aquele par de olhos azuis encarando-o com horror, as bochechas tão vermelhas quantos os lábios, a pele agora bronzeada esticando por sobre os músculos magros bem definidos enquanto ele se movia com rapidez, colando as asas às costas, puxando a toalha por sobre o corpo e arrastando os pés para fora da água até não ter para onde fugir porque a porta estava atrás de Harry e o demônio não iria para lugar algum.
— Oh... — Louis começou, a voz rasa enquanto palavras eram cuspidas sem fazer sentido algum além de soar como gemidos angustiantes, dolorosos. Ele estava terrivelmente nervoso agora, as mãos tremendo ao redor da toalha, os joelhos a um segundo de ceder. — E-eu... uh, senhor, e-eu... o quê...? Quer dizer, e-eu só...
"As tendências demoníacas são cruéis, filho, por isso deve aprender a controlá-las, conter-se, manter-se sob extrema vigília, sempre. Não faça nada que possa lhe trazer desgraça posterior, Haz. Você é o melhor de ambos, jamais se esqueça" as palavras de sua mãe morreram dentro de seu ouvido, lembranças de alguém jovem demais para entender que ser o que era não se resumia a apenas condescendência. Alguém com sangue nas mãos e um corpo sem vida enterrado entre as árvores aquosas do pântano. Harry conhecia perfeitamente bem o que suas tendências demoníacas eram capazes de fazer e isso... por satã, deveria ser o suficiente para trazê-lo de volta à realidade. Lembrar-se de sua mãe e lembrar-se dela era sempre o suficiente para fazê-lo engolir o próprio desejo sanguinário que corria em suas veias. Era sempre o bastante. Porém... droga, aparentemente não era mais.
Antes que pudesse controlar seus próprios pés, lá estava ele crescendo diante de Louis, tão próximos que o demônio podia jurar ser capaz de sentir o calor que emanava da fada, lamber a mágica inconsciente dele, trazê-la para fora e finalmente colocar suas mãos naquela pequena criatura que ocupa a sua mente a semanas tão longas quanto eternidades. No fundo de sua cabeça, ele sabia que não era certo, mas... que se fodesse o correto, na verdade, porque suas mãos cheias de longas garras escuras despertas agora estavam se arrastando como cobras pelas clavículas bem marcadas de Louis, a pele parecendo desfazer-se sob seu toque enquanto os olhos azuis continuavam fixos dentro de seus próprios olhos, sugando todas as verdades dentro de sua alma que ele não estava disposto a compartilhar com quem quer que fosse. "Perdoe-me, mãe, mas não há mais volta para mim. Estou no inferno e gosto disso, sou herdeiro de Belzebu. O fogo é meu destino. Deixe-me queimar" rezou para a alma de sua mãe antes de puxar Louis para si, seus corpos separados apenas por suas roupas de viagem e a toalha ao redor da cintura dele. A fada masculino não lutou em nenhum momento, apenas deixou-se guiar, aproximando-se com suavidade, olhos perdidos entre grandes questões enquanto jamais desviavam de Harry. O controle estava tão longe agora, tão distante. Suas unhas escuras, as pontas dos dedos enegrecidos afundaram na carne o suficiente para deixar marcas e, dos lábios de Louis, tudo o que saiu foi um gemido abafado. Porra.
— Louis — a palavra lhe escapou quase como uma súplica, algo que nem ele mesmo poderia classificar adequadamente.
Com as bochechas rosadas, a fada masculino parecia ainda mais adorável. Não havia mais quase sequer sombra da criatura franzina que chegou ao castelo tantas semanas antes, dentro das íris azuis demais, tudo o que Harry conseguia enxergar era o mundo se desdobrando em incontáveis perspectivas novas, transcendentais. Era quase como se Louis estivesse finalmente conhecendo a realidade de sua própria existência.
— Estive fora por um tempo — ele volta a dizer depois de alguns poucos segundos, seus braços ainda em volta do corpo bem marcado da fada, o próprio volume de sua ereção encontrando algum conforto contra o abdômen tenso de Louis. — Você parece bem.
— Sim — em nenhum momento, ele desviou os olhos. Era como se não houvesse medo ou estranheza na maneira como o demônio o tocava, como se sempre tivesse sido assim, como se Louis quisesse que assim fosse. — Mas... uh, o senhor voltou.
— Me chame pelo meu nome — sussurrou.
— Certo — Louis pareceu vacilar, os lábios meio trêmulos antes de continuar. Quando falou, no entanto, não pôde ser mais claro nem se tentasse adequadamente. — Bem vindo de volta, Harry. Estive... pensando, por muito tempo e... acho que... bem, depois de agora a pouco, tenho certeza de que não preciso pôr em palavras o que quero dizer.
Ele não precisava. E, ainda assim, a parte obscura e densa da alma demoníaca de Harry queria ouví-lo dizer mais do que gemidos baixos em seu nome enquanto se liberava na água fria, as asas se contraindo em prazer. "Oh, doce inferno, eu o tenho exatamente onde quis e não sei se isso é algo bom ou o próprio satã atiçando a corda para que eu a enrole ao redor pescoço" pensou enquanto tentava decidir entre afastar-se ou apenas beijá-lo como queria, lhe roubar o fôlego como um amante cheio de saudades faria. O problema era exatamente isso, eles nada eram além de duas criaturas coexistindo dentro de um espaço em comum. Completo opostos. Água e fogo. Fada e demônio. Bem e mal. Ambos amaldiçoados por suas próprias história, ambos tentando provar a si mesmo conforme sobrevivem. Para Harry... bem, já não restavam muitas formas de fazê-lo, no entanto.
— Tenho uma surpresa para você — disse enfim, uma das mãos subindo para o pescoço, dedilhando o contorno do maxilar com completa devoção. Olhos jamais desviando das poças azuis de Louis. — Trouxe alguém para nos ajudar, para ajudar a encontrar uma maneira de fazer sua magia vir a tona, eu...
— Por isso foi embora?
A acusação era tão pertinente nas palavras quanto o alívio e, claro, Harry sabia que deveria saber sobre a culpa que cairia nos ombros da pobre criatura. Tão belo, tão incrivelmente quebrado.
— Eu não fui embora, Louis — garantiu, os dedos agora brincando com o lóbulo da orelha macia. — Eu jamais vou. Não recebeu meu bilhete?
— Bilhete?
— Sim, eu... — Harry havia deixado uma nota simples para a fada antes de partir, algo tão cru e desprovido de seus reais sentimentos que pensou ser melhor ele não tê-lo visto, de qualquer forma. Sorrindo, passou os dedos pelos longos fios caindo ao redor do rosto dele. — Bem, não importa. Agora estou aqui, finalmente estou em casa e nós poderemos te ajudar adequadamente.
— Certo — com movimentos suaves, Louis finalmente se afastou, ainda que apenas o suficiente para desvencilhar-se do abraço. — Sobre antes, quer dizer, o que fizemos. Eu... uh, não tenho certeza, mas... acho que algo aconteceu. Essa necessidade crescente, quase gritando sob minha pele, eu... eu acho que quero fazer de novo, Harry. Eu acho que preciso fazer de novo.
Fazer de novo.
Oh, santíssimo inferno.
Faziam tantos anos desde a última vez que Harry tinha sentido sei coração pulsar em tamanha violência que quase se assustou, as veias dentro do seu corpo queimavam com a hipótese de apenas realmente ter ele sob suas mãos. E... pobre fosse sua alma, porque o demônio apenas conseguiu garantir de não se livrar das próprias roupas ali mesmo. Tossindo um pouco somente para aliviar a tensão, ele finalmente sorriu. Tão largo quanto não fazia há anos, centenas deles.
— Tudo bem — murmurou com a certeza da cor ardendo em sua pele enchendo seus sentidos de alguma excitação que nada tinha a ver com o pulsar insistente em suas calças. — Nós podemos fazer de novo, podemos fazer tudo o que for preciso para ajudá-lo a...
O demônio engoliu suas palavras no instante seguinte porque... puta merda, Louis apenas tinha colado seus corpos por vontade própria agora, aqueles olhos oceânicos contendo todas as desgraças e bençãos dos mares dentro de duas íris o encarando era como arder na jaula do capeta, Harry sentiu que poderia desmaiar e isso não fazia sentido nenhum. Imitando seus gestos anteriores, Louis explorou o contorno de seu maxilar com cuidado, tão suavemente que seus dedos pareciam plumas em contato com a pele do demônio.
— Meus desejos não estão relacionados à suposta magia escondida sob minha pele — murmurou. — Estou apenas fascinado pela ideia de você, Harry.
Sem sequer conseguir falar qualquer coisa remotamente adequada, o demônio apenas concordou rapidamente. Merda. Não era qualquer criatura sobre a terra que tinha o poder de arrancar as palavras de um demônio, mas... bem, lá estava aquela pequena e impertinente fada masculino lhe tirando os pés do chão. Não fazia sentido. "O que algumas semanas podem fazer com alguém?" pensou quase em gritos dentro de sua própria cabeça.
Não que estivesse se queixando, obviamente.
Ele não estava.
E ele nunca iria.
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