00. prólogo
PRÓLOGO ──── ato um
FOI uma longa e estressante viagem no expresso, já que o barulho e as buzinas do trem me irritavam e não me deixavam dormir em paz.
Minha mãe, Vinda Rosier, não se permitiu despedir de mim na estação. Desde a queda de Grindelwald, meu pai biológico, minha figura materna simplesmente decidiu apagar seu nome do mundo bruxo. É claro que deu-me a liberdade de escolher se me tornaria uma bruxa ou não, e aceitou com desgosto a minha decisão. Seu único conselho foi: Não entre para a Sonserina.
Por alguma razão desconhecida, era como uma ordem para mim. "Não se misture com os demais", dizia também. Apesar do verde-musgo e a cobra me seduzirem, tinha posto em minha cabeça que iria para Grifinória ou para Corvinal. "Lufa-Lufa é muito bondosa para ti", outra vez minha mãe aconselhara.
Ela possuía um grande conhecimento sobre Hogwarts, que por vezes me deixou desconfiada se fora aluna de lá. Porém, nunca me foi confirmado ou dado a entender, pois minha linhagem de puro-sangue vinha da França, assim como mamãe... Ela dizia que Hogwarts era um castelo amaldiçoado; por mais que tivesse triunfo no mundo da magia, seus corredores eram cobertos por trevas e morte.
— Oi. — Alguém me interrompeu do meu transe.
Observei um garoto, tão novo quanto eu, de olhos castanhos maliciosos.
— Posso entrar? — Assenti de maneira controlada, sem abrir a minha boca. O rapaz adentrou na cabine e sentou-se à minha frente.
A curiosidade me atiçava ao ver aqueles cabelos ondulados e encaracolados, o olhar oblíquo – talvez com um pingo de maldade – e a boca sempre contraída para dentro.
— Riddle — ele sussurrou assim que percebeu meu olhar. — Tom Riddle. E seu nome? — perguntou mais firmemente.
Abri um sorriso pequeno, sem expressar muito.
— Athenodora. — Percebi a pergunta em seu mirar ardiloso; estava curioso para saber o meu sobrenome. Logo, senti um cheiro irritante adentrar minhas narinas.
Meio-trouxa. O nojo me atingiu com força.
— Não sabia que era meio-trouxa. — A raiva tomou instantaneamente seu rosto jovial.
Acreditei que ouvi o sibilar de uma cobra, o que me deixou espantada, mas Tom Riddle não me deixou procurar por nenhum ofídio possível ali.
— Acredite, nem um pingo do sangue trouxa que tenho vai me impedir de ser o maior bruxo de todos — os sussurros raivosos me assustaram.
O sibilar vem dele! É como se fosse uma cobra ameaçada!
— E como você pode dizer isto com tanta certeza, trouxa? — provoquei-o mais, sentindo o prazer me tomar ao vê-lo irritado.
— Eu sei todas as famílias puras. Eu sou tão informado quanto um bruxo puro! — começou a dizer com o queixo levantado, me desafiando.
Mamãe iria gostar disso. Eu revirei meus olhos.
— Athenodora Grindelwald, já que insiste. — O choque foi instantâneo. Agora, ele soltava o ar lentamente pela boca, tentando assimilar o que tinha acabado de falar com o que eu havia lhe contado.
— Isso é impossível. Grindelwald não tem filhos.
— Sinto muito te decepcionar, trouxa, mas creio que não pesquisou direito. — Sorri maleficamente. Um ponto para mim, bobinho. Cruzei os braços, permanecendo no olhar desafiador. — Mas agora fiquei curiosa, quem são seus pais? — Arranhei um pouco mais sua ferida. Percebi em seu olhar a humilhação que sentia.
O meu sorriso se desfez e o silêncio caiu sobre nós. E assim permanecemos até chegarmos em Hogwarts.
Lá, estranhamente, fomos recebidos por uma idosa de cabelos brancos. Não me parecia ser uma bruxa, porém não me vinha um cheiro esquisito, como os que eu recebia perto de trouxas. Seu sorriso era amigável demais, suas palavras eram doces demais.
— Sejam bem-vindos à Hogwarts! — a velha falou ao abrir os portões de um imenso refeitório onde o teto não existia, apenas o espaço sideral e estrelas flutuando ali, por vezes caindo brilhos em cima de nós.
Eu olhei admirada, e sem querer, observei Tom Riddle analisar aquilo com frieza. Não era sua paixão, e estava evidente. Que garoto mais estranho.
Voltei a mirar a visão para a frente antes que fosse pega no flagra, e a aquela idosa nos direcionou até o pé dos degraus, diante de um pilar com um chapéu.
— Apresento-lhes o Chapéu Seletor. — Os dedos tremidos acarinharam o topo do adorno e surpreendeu a todos nós, os novatos, quando vimos o objeto ganhar vida e feições nada amigáveis. — Ele dirá a qual casa você pertencerá. Por agora, vamos começar o ritual de início do ano letivo!
Eu detestava o positivismo na voz daquela mulher. Tratava-nos como crianças de seis anos, inocentes demais para saber a crueldade do mundo. Pelo menos eu sabia mais da metade. Vinda Rosier, ou a minha culta mãe, já me apresentou várias.
O objeto começou a cantar e suspirei entediada. Avistei a senhora abrir um rolo de papel velho e tentar focar no primeiro nome assim que o chapéu terminou sua canção irritante.
— Athena West — ela chamou. Meus olhos acompanharam uma garota de cabelos escuros e olhos verdes atravessar a multidão de novatos e sentar na cadeira ao lado do pedestal.
A idosa retirou o chapéu de onde repousava e colocou em cima da cabeça da menina. Avistei, intrigada, o adorno murmurar como se conversasse com a morena, que tinha os olhos verdes virados para cima, observando a aba de couro. Como eles construíram esse chapéu? E como ele durou tanto tempo?
— Lufa-Lufa! — o Seletor gritou. Ouvi a mesa cheia de estudantes de uniforme com linhas amarelas aplaudir e comemorar.
Voltei a olhar para frente, ainda mais intrigada com o chapéu.
— Athenodora Grindel... — A idosa ofegou alto assim que leu meu nome completo. Ela procurou por mim na multidão.
Suspirei frustrada.
— Grindelwald, madame. — Avancei, com um sorriso falso em meu rosto.
Eu me sentia humilhada naquele momento, tantos olhos espiando-me e me julgando. Meu sobrenome me amaldiçoaria pelo resto da minha vida.
— Ah! Sim, sim... — Ela ajeitou o óculos finos no nariz, me observando de cima para baixo. — Pois bem, Athenodora Grindelwald. — Ouvi as exclamações seguidas dos estudantes de Hogwarts, incluindo as dos professores, que sentavam-se em uma longa mesa reta atrás do Chapéu Seletor.
A mais velha hesitou por alguns segundos, porém pegou o chapéu e o colocou na minha cabeça. Senti como se algo estivesse vasculhando minha mente, me deixando extremamente desconfortável.
— Hum... — A voz grossa do objeto soou. — Sedenta, como sua mãe... — murmurou. Segura de que ninguém estava o ouvindo, o que seria algo para o meu alívio, fechei a cara.
— Decida logo — sussurrei, impaciente.
— Por que não posso te colocar na Sonserina, minha cara? Admira e se sente seduzida pelo verde e pelo veneno — o chapéu me desafiou. Suspirei frustrada.
— Ordens superiores — sussurrei mais uma vez, irônica, lembrando do olhar implacável de minha mãe sobre mim.
— E o que prefere, filha de Grindelwald? — senti o objeto dizer aquilo com igual sátira, me causando mais irritação. — Grifinória, os leais e justos, ou Corvinal, os sábios e frios, ou Lufa-Lufa, a casa dos bondosos?
Agora sim, o chapéu tinha feito algo decente. Abri um sorriso.
— O que acha, Chapéu Pensador? — sibilei pela terceira vez, da mesma forma sarcástica que o objeto havia me tratado.
— Na minha humilde opinião, Grindelwald é um nome problemático.
— Chapéu idiota! — falei de forma brusca. Ouvi uma risada vinda dele, impressionando-me que este sentisse algo, apesar de ser um objeto.
Senti a invasão sumir e o Seletor moveu as abas de couro, como se tomasse fôlego.
— Corvinal! — O alívio foi quase instantâneo, pois tinha minhas dúvidas de que o chapéu me ferraria.
Percebi que ninguém da minha nova casa havia se levantado. Um sentimento de ódio puro me atingiu com força. Vi o trouxa Tom Riddle franzir o cenho para mim e mover seus lábios.
— Sinto muito.
Ele simplesmente não entendia o que estava acontecendo, e era tão claro notar em seu olhar sobre mim. Era como se ele fosse uma ovelha e eu um lobo faminto.
Rangi os dentes e andei até o fundo do salão, me sentando nos últimos lugares vazios da grande mesa da Corvinal. Vai ser um longo ano.
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