Capítulo 3 - Verdades à tona
— O que está acontecendo? — perguntou o homem loiro totalmente confuso. — Você o conhece, Alexia?
— Conheço sim, Rodrigo — respondeu Alexia perplexa de imediato.
— Quem é ele? — indagou Rodrigo.
Não houve resposta.
— Eu perguntei quem ele é! — gritou Rodrigo enquanto apertava o pulso da mão de Alexia.
— Não toque nela! — gritou Marcus avançando em direção a Rodrigo e o empurrando para trás.
Neste momento era imprescindível que uma briga entre os dois não ocorresse, mas Alexia, movida por suas emoções, entrou no meio deles tentando afastá-los um do outro, porém não conseguiu. Foi puxada para trás por Rodrigo e caiu no chão. Isso fez com que Marcus ficasse mais furioso ainda e partisse novamente para cima de dele. Os dois começaram a trocar socos e, Alexia, apavorada, correu para fora de casa para pedir ajuda aos vizinhos.
Não demorou muito para que alguns moradores das casas ao redor saíssem na rua aos gritos de Alexia implorando por ajuda e entrassem na casa para conter a briga dos dois. Aos puxões, Marcus foi afastado de Rodrigo, este que também foi segurado para não avançar e retomar a briga.
— Você é o amante dela, não é?! — gritou Rodrigo furioso enquanto tentava se soltar dos homens que o seguravam. — Eu sabia que essa vaca estava me traindo!
Alexia, que havia entrado logo após os vizinhos, estava ao lado de Marcus, e sentiu-se ofendida. Então, antes que o silêncio tomasse conta do local e as pessoas ali presentes acreditasse na acusação de Rodrigo, ela deu um passo à frente e disse — eu não te traí. Este é o meu ex-marido que eu já havia mencionado.
— Ex-marido?! — disse Marcus caótico.
— Isso mesmo — afirmou Alexia. — Já não existe mais nada entre nós, Marcus.
Ao ouvirem esse nome, os vizinhos que estavam ali presentes temeram. Era possível notar um olhar de espanto na maioria, e alguns até saíram da casa cochichando e voltaram para suas residências. Enquanto isso, Marcus estava sem reação. Ele queria uma justificativa, mas estava desiludido demais para sequer tomar alguma atitude.
— Saia daqui! — gritou Rodrigo.
Foi possível enxergar uma lágrima cair dos olhos de Marcus enquanto este se dirigia para fora da casa. Alexia se comoveu por um momento em seu interior, mas manteve-se firme.
Alexia agradeceu aos vizinhos que vieram ajudá-la e logo todos voltaram para suas casas. Rodrigo havia ido ao banheiro para limpar o sangue que estava escorrendo de seu lábio devido ao ferimento causado na briga. O clima estava tenso entre os dois. Alexia sabia que Rodrigo estava irritado com ela, pois mesmo após alguns minutos depois do ocorrido ele agia como se ela não existisse e a ignorava totalmente.
Sem saber mais o que fazer, Alexia o interrompeu antes que ele saísse do banheiro. — Você vai me tratar assim até quando? — indagou séria.
Rodrigo a olhou nos olhos e, nesse momento, ela se arrependeu de ter perguntado tal coisa. Nunca havia visto tanto ódio nos olhos de uma pessoa, e não conseguiu ter reação até que foi atingida no rosto por um soco e caiu no chão.
— Escuta aqui, sua vadia! — gritou Rodrigo enquanto levantava-a pelos cabelos. — Se eu souber que você e aquele cara tem algum caso, eu mato você e ele, entendeu?!
Amedrontada com a reação de Rodrigo, Alexia começou a chorar. — Por favor, para — implorou ela em meio aos prantos.
Percebendo que havia passado dos limites, ele a soltou. Um sentimento repentino de remorso tomou conta de si, mas Rodrigo não quebrou sua postura e saiu, deixando-a caída no chão.
Seguidamente após ter caminhado alguns metros sem destino algum, Marcus parou e sentou-se em um banco de uma praça comum onde ele costumava visitar com sua ex-esposa, Alexia, e sua filha Catarina. Lembranças começaram a tomar toda sua mente e, por mais que tentasse resistir, era em vão. Tudo que viveu até aquele momento junto ao motivo de sua esperança e foco foram totalmente destruídos. Foi como se todo seu esforço durante aqueles anos não valessem nada. Sua cabeça estava totalmente fora de ordem recebendo diversos pensamentos e seu coração não conseguia discernir os próprios sentimentos devido ao estado de choque.
Enquanto estava completamente perdido em si mesmo, Marcus não percebeu que um garoto estava se aproximando cautelosamente em sua direção até que o menino o chamou. — Marcus?
Marcus levantou o rosto lentamente e viu um garoto que nunca havia visto antes, magro e moreno, vestindo um uniforme de futebol e, aparentemente, com resquício de um breve suor no rosto. — Você me conhece de onde?
— É você! — afirmou o garoto com um tom de espanto na voz. — Minha mãe disse para eu nunca me aproximar de você quando você saísse da cadeia porque você é muito perigoso, mas eu não pude deixar de ter a certeza de que era você. Cara, eu consegui te reconhecer de longe!
— É..., ela tem razão. Eu não imaginava que teria tanta repercussão o meu ato sendo que é algo comum hoje em dia.
— Comum? Desde quando liderar um grupo de tráfico de armas e drogas é comum?
Marcus surpreendeu-se de imediato. Através de sua reação era possível deduzir que ele não estava sabendo dessa parte de sua própria história. Sua feição era de espanto enquanto olhava para os olhos do menino buscando alguma resposta, porém sem palavra alguma. Com isso, o garoto, assustado, começou a se afastar, mas Marcus levantou-se e caminhou lentamente pegando impulso para andar em uma velocidade maior em direção ao menino como se estivesse impaciente por explicações. Porém, não percebeu que estava o amedrontando devido ao impacto que aquela informação o causou.
— Alguém me ajuda! — gritou o garoto enquanto começava a correr apavorado.
O pedido de socorro da criança chamou a atenção das pessoas que ali estavam e dois homens se aproximaram de Marcus e o seguraram pelas costas. Uma confusão foi gerada instantaneamente ao perceberem que ele estava no parque. Alguns indivíduos começaram a dizer que era uma tentativa de sequestro para conseguir dinheiro, e Marcus ouviu isso, mas não pode reagir, pois o tumulto estava começando crescer ao seu redor. Muitas vozes e gritos começaram a ecoar no local e a agitação estava se abrangendo cada vez mais. — Me solta! — berrou Marcus em meio àquela multidão.
Depois de fazer muito esforço conseguiu se soltar do rapaz que o segurava. — Não se pode mais conversar com uma criança agora? — indagou nervoso enquanto olhava para as pessoas que estavam em sua volta.
— Ninguém quer por perto alguém que está jurado de morte! — disse alto uma voz masculina no meio do povo, e a concordância das pessoas que ali estavam veio em sequência com um forte clamor de afirmação.
— Jurado de morte? — indagou Marcus confuso.
— Os caras da favela estão atrás de você — respondeu novamente a mesma voz de antes —, e principalmente o Zazá.
Marcus não entendeu o que estava acontecendo e, antes que pudesse anunciar sua falta de conhecimento em relação ao assunto, um carro subiu à calçada e foi na direção da multidão que estava ao seu redor e todos se afastaram rapidamente. O veículo parou perto de Marcus e a porta da frente do passageiro abriu. — Entre, rápido! — disse a motorista do carro.
Ele reconheceu essa voz e entrou no carro às pressas. Não olhou para a condutora, apenas fixou o olhar no tapete que estava sob seus pés e disse: — Por que você me traiu, Alexia? —, e virou-se para ela.
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