24 - Passeio no Shopping

A semana passa lentamente e hoje, nesse belo dia de domingo, ei de sair de casa pela primeira vez depois daquela festa horrorosa na casa do Leandro.

Leandro me chamou para sair com ele agora à noite, e eu aceitei, confirmando antecipadamente de que não seria nenhuma festa.

O relógio já marca 18:57hs, e eu estou terminado de me arrumar. Visto uma bermuda cintura alta e uma camisa folgada (na cor amarela). Calço um sapatenis na cor jeans, pego minha bolsa e saio.

_ Como estou? - Dou meia volta para que Lorena possa analisar meu lock .

_ Estás linda amiga! - Responde com um sorriso no rosto. _ Então... Vamos?

_ Claro! Vamos! - Entrelaço meu braço ao dela e saímos, encontrando meu pai e minha mãe na sala.

_ Nem preciso dizer, não é? - Adverte meu pai com um olhar sério. _ 21:00hs, nem um minuto a mais!

_ Mas, pai, - Questiono. _ O filme demora quase meia hora para começar! Sem contar que depois, ainda tem duas horas de duração!

_ 22:00hs, nem um segundo a mais! - Ele bufa.

_ Obrigado pai! Eu te amo! - Lhe dou um abraço. Dou outro em minha mãe e saio puxando Lorena pela porta da sala.

Eu aceitei o convite de Leandro, com a condição de que Lorena fosse comigo, e é claro que Ramon vai também.

Ramon veio nos buscar em seu carro super chique; um esportivo preto, estilo bem jovial. Fiquei de queixo caído. Quem diria que aquele nerd esquisitão estaria vindo nos buscar na porta de casa e com um carrão desse. É... o mundo dá voltas, e eu estou muito feliz por ele e pela minha amiga, é claro.

Entramos no Carro e Ramon sai rumo ao centro. Leandro já me espera na entrada do shopping. Ele está com uma calça jeans e uma jaqueta de couro por cima da camisa branca.

_ Estás linda! - Seu sorriso largo me deixa sem jeito.

_ Obrigada!

Sem demora, Leandro já tem os quatro ingressos em mãos e Ramon e Lorena se responsabilizam pela compra da pipoca e do refrigerante. Esperamos por eles na entrada da sessão por algum tempo.

Logo eles chegam e finalmente entramos e procuramos por acentos disponíveis. Estamos quase na última fileira de cadeiras. A vista daqui é ótima. Leandro está sentado ao meu lado, que está ao lado de Lorena, que repousa a cabeça no ombro de Ramon. Tudo na mais perfeita ordem.

Os trailers e propagandas invadem o telão à nossa frente, e depois de um bom intervalo de tempo, o filme para o qual compramos ingressos, finalmente começa.

Sobre o filme. Não gostei. Achei que era terror, mas só o que vi foi suspense em 99% das cenas, e como se não bastasse, quando eu estava começando a achar interessante, o filme termina em um final que quebra qualquer expectativa existente de um filme legal. Bem minha vida isso. Uma bosta.

Estou super estressada agora. Não que eu seja uma pessoa calma normalmente, mas esse filme me deixou pior ainda.

Durante algumas passagens do filme, Leandro ficava me olhando estranho e vez ou outra ele fingia que ia pegar pipoca só pra tocar na minha mão. Da primeira vez até pode ter sido acidentalmente, mas a partir da terceira, aí já é muita cara de pau mesmo.

_ O que queres? - Perguntei visivelmente chateada.

_ Nada, eu só... Só queria pegar pipoca! - Responde com a cara mais cínica do mundo.

_ Qual é Leandro, achas que tenho cara de trouxa? - Debocho.

Acho que falei um pouco alto, pois , as poucas pessoas que assistiam a sessão, se incomodaram a ponto de pedir silêncio.

_ Eu só tava pegando pipoca! Juro! - Ele sussurra para não fazer barulho.

_ Ah é? Querias a pipoca? Então toma! - Empurrei rudemente o balde com pipoca nos braços do garoto e saí a procura de um banheiro.

Abri a porta do banheiro rapidamente e tinham duas garotas tirando foto no espelho. Eu estava super irritada por motivo nenhum. Não sei o que acontece comigo, estou com os hormônios a flor da pele, isso nunca aconteceu comigo antes. Claro, eu sempre fui um tanto estressada, mas não a esse nível. Eu estou ficando histérica.

As garotas não parecem se importar com minha presença, pois elas continuam tirando suas fotinhos ridículas como se não tivesse ninguém mais aqui além delas mesmas.

Caminho até uma das pias e ligo a torneira, jogando um pouco de água no rosto, e como eu sou um tanto desastrada, deixo cair um pouco de água na bermuda clara que uso, deixando parecer que me borrei toda.

_ Ai merda, merda, merda! - Resmungo, enquanto pego alguns lenços de papel para tentar absorver o máximo de água que consseguir. Foi então que percebi que as garotas estavam rindo mais no canto, provavelmente de mim. Aff... Que patricinhas ridículas essas.

_ D-Do que estão rindo? - Pergunto um pouco irritada e nervosa ao mesmo tempo.

_ Não é da tua conta! - A maior responde em tom de deboche.

_ Olha com tu falas comigo sua...

_ Sua o quê? - Ela põe a mão na cintura enquanto a outra ri descaradamente. Isso me deixa irada e minha única vontade é de voar na cara dessa ridícula e arrancar esses cabelos platinados dela. Foi então que algo estranho começou a acontecer; as paredes pareciam móveis e as luzes piscavam como se estivesse tendo uma queda de energia no shopping.

_ O-O que está acontecendo? - a menor perguntava visivelmente assustada, enquanto segurava o braço da outra.

_ O que fizeste? - A maior perguntava irritada com uma expressão séria em direção a mim.

_ Como assim? Eu não fiz nada! - Exclamo em auto tom.

_ Não se faça de boba garota! Sei que estás tentando meter medo em nós, mas fique sabendo que não vai funcionar! - Quando ela diz isso, minha raiva aumenta gradativamente a medida em que ouço o ranger das paredes brancas que parecem se contorcer, é quando eu estava prestes a esbofetear a garota, a porta do banheiro se abre e tudo volta ao normal. É Lorena.

_ Sami? O-O que houve? - Pergunta ela ao adentrar no lugar e ver a situação em que me encontro.

_ N-Não, nada! Eu só... Só me molhei! - Bufo. Enquanto tento me explicar para Lorena, as garotas vão saindo sorrateiramente e antes de atravessar a porta a garota platinada me deixa um insulto, "Bruxa!". Não resisto e vou com toda a minha raiva pra cima dela, mas antes que possa alcançá-la, Lorena segura em meu braço, impedindo-me de prosseguir.

_ Amiga para! O que estás fazendo? Olha só sua condição. Tem certeza que vai querer arrumar briga estando com o braço suspenso desse jeito? - Ela aponta para o meu braço que está suspenso pela tipóia. Por um momento eu havia até esquecido que estava usando essa coisa.

_ Tem razão, eu... Agi sem pensar! - Foi exatamente o que aconteceu, agi sem pensar. Isso meio que se tornou rotina desde a festa de sexta à noite.

_ Vamos voltar? Leandro tá preocupado contigo. Ele disse que tu saíste estressada com ele!

_ Pois é... Acho que é a TPM! - Dou uma gargalhada.

Durante o caminho até a sessão, conto para Lorena sobre o que aconteceu no banheiro; as garotas irritantes, meu excesso de stress, as luzes que piscavam, as paredes que se moviam, etc. Claro, ela achou tudo muito estranho, chegou a pensar que eu estivesse zuando da sua cara, mas logo achamos uma explicação lógica pra tudo isso. As luzes do banheiro estavam com um mal contato e devido ao vai e vem que elas faziam, tive a impressão de ver as paredes se movimentarem, mas tudo não passou de um efeito de miopia, causado pela falha nas luzes.

Ao voltarmos para a sessão e nos sentar nos acentos pertencentes a nós, trato logo de me desculpar com Leandro pelo meu ato agressivo para com ele.

_ Tá tudo bem! Ok? Não tem porquê se desculpar! - Diz ele com um sorriso simpático.

_ Obrigada! - Respondo meio sem graça e voltamos a assistir o filme chato que passa no telão.

Ao sairmos da sessão, explico minha situação para Leandro e ele me empresta a jaqueta dele para que eu possa amarrar na cintura e disfarçar o molhado na bermuda.

Após o filme, vamos até a lanchonete para nos alimentar melhor. O lugar é preenchido por uma música calma e harmoniosa, que me trás uma sensação de leveza e paz.

Nos sentamos em uma das várias mesinhas quadradas disponíveis no lugar e logo um garoto com o uniforme azul, vem nos atender. Cada qual faz seu pedido e logo o garoto se retira nos dando um sorriso simpático.

Poucos minutos depois ele retorna com nossos pedidos em uma travessa prateada. Ele não tira o olhar de mim por um instante sequer e isso já começa a me incomodar. Logo que sai, ele vai conversar com outra atendente que me olha da mesma forma. Com certeza estão falando de mim.

Leandro parece perceber meu olhar para o garoto no balcão, então resolve perguntar o motivo do interesse.

_ Não é nada demais! Só estou um pouco incomodada, pois ele não para de olhar pra cá! - Bufo.

_ Ok! - Ele dá de ombros, fazendo pouco caso.

Ao terminarmos nossos lanches, o garoto volta novamente para fechar a conta. Como esperado, ele fica me olhando como se algo o estivesse incomodando e não tivesse coragem o bastante para falar.

_ Olha cara! - Leandro chama sua atenção. _ Desde que chegamos aqui que tu ficas a olhar para a Sami aqui! O que queres? - Pergunta visivelmente irritado.

_ Desculpa cara! Eu não estou interessado na sua namorada se é o que pensas!

_ Espera! Nós não... - Tento explicar que Leandro e eu não temos nada, mas sou interrompida pelo mesmo.

_ Então fala cara! Qual é do interesse?

_ Calma Leandro! - Lorena chama sua atenção, pois os poucos clientes que frequentam o lugar já começam a olhar meio torto para nossa mesa.

_ Eu... posso saber onde - O garoto louro de olhos castanhos direciona seu olhar para o meu pescoço. - onde conseguiu esse colar?

Ponho a mão sobre o colar que Leandro me deu no meu aniversário e sinto uma aflição tomar conta de mim.

_ Fui eu quem dei para ela! Porquê? - Leandro pergunta confuso.

_ É que... Ele me lembra muito o colar que sumiu do museu! Aquele alí! - Ele aponta para um cartaz na janela de vidro da copa. O colar é realmente muito parecido, na verdade, é idêntico. _ Posso saber onde comprou?

_ Claro eu... Comprei quando fui ao museu com meu irmão! Na loja de bijouterias! - Explica Leandro.

_ Tá tudo bem! Me desculpa o constrangimento, eu só fiquei curioso! - Ele põe o dinheiro no bolso do uniforme e sai, deixando-me confusa.

Ramon e Lorena me observam como se tivessem tentando entender o que se passa e Leandro parece pensativo, assim como eu.

Pego minha bolsa da cadeira e levanto para me retirar do lugar. Todos se levantam também e saímos calados até está completamente fora do shopping.

_ Já queres ir? - Pergunta Ramon ao olhar para mim.

_ Eu levo ela! - Responde Leandro rapidamente.

_ Mas, ainda falta bastante para as 22:00hs! - Questiona Lorena. Obviamente que ela quer ficar mais tempo com o Ramon e eu compreendo isso. Ela é minha amiga e só quer se divertir um pouco mais com o namorado.

_ Vocês podem ficar mais um pouco, eu vou com o Leandro! - Respondo fraco.

_ certeza? Seu pai não vai achar ruim? - Pergunta Ramon ao observar Leandro.

Os dois não se dão muito bem. Leandro era um dos garotos chatos que zoava de Ramon quando este estudava na Nobregah. Hoje Lendro já não é mais assim, mas a rivalidade que Ramon tinha dele continua a mesma.

_ Não! Tá tudo bem! - Respondo forçando um sorriso. _ Vamos Leandro?

_ Claro! - Ele pega a chave do bolso da calça e caminhamos até onde sua moto está estacionada.

_ Por favor, vai devagar que só posso segurar com um braço! - Chamo sua atenção antes de subir na moto.

_ Claro! Não se preocupe! - Ele me dá um sorriso de canto e liga a moto em seguida.

Tudo ocorreu bem durante todo o percurso. Quando chego meu pai está na sala com minha mãe. Leandro entra comigo e meu pai logo o cumprimenta.

_ Boa noite Leandro!

_ Boa noite Sr.Jonas!

_ E Lorena? - Pergunta minha mãe.

_ Ela virá com o Ramon! - Respondo.

_ E porquê vieram tão cedo? - Questiona.

_ Sei lá! Tava com saudades de casa, eu acho! - Dou de ombros.

Me despeço de Leandro e subo para o meu quarto deixando-o à sós com os meus pais.

Ao entrar no quarto, jogo a bolsa na cama e vou até a janela para observar a noite. Ao abri-la, sinto a brisa fria adentrar o meu quarto. Inspiro-a e observo a bela lua crescente que clareia toda a extensão do jardim. Logo ouço o som dá moto de Leandro se distanciar no asfalto da pista.

Fecho a janela e deito na cama para refletir sobre o meu dia. Isso já virou rotina. Todas as noites antes de dormir, deito na cama e reflito sobre as partes mais importantes do meu dia. Talvez seja medo de acordar amanhã e não lembrar de nada, ou talvez eu esteja querendo ter a certeza de que tudo que estou vivendo é real. Uma coisa é certa; Algo não se encaixa e eu vou descobrir o que é.

Tiro meus sapatos, tiro minha roupa e vou até o banheiro tomar um banho e vestir meu pijama para dormir.

Já estando vestida adequadamente para assistir a nova maratona de sonhos programadas para essa noite, deito na cama macia, puxo a coberta e não demoro muito para fechar meus olhos.

E novamente, estou em uma mata escura, mas dessa vez estou correndo desesperada com minha respiração ofegante e uma dor terrível no peito. Estou muito cansada, mas algo me impede de parar. Talvez seja o medo de ser alcançada, ou talvez possa ser o desejo incontrolável que tenho de chegar a um lugar específico. Sei apenas que continuo correndo mais e mais e não pretendo parar por nada. A mata se estreita e o meu desespero aumenta. Tudo parece girar e as árvores rangem em meio ao silêncio. Minhas pernas fraquejam e eu não aguento mais correr. Deixo meu corpo cair em meio a umidade das folhas mortas e meus olhos vão se fechando aos poucos, mas em um último foco de luz que atravessam as frestas das árvores, ouço uma voz familiar sussurrar meu nome, 'Samantha... Meu anjo!'. É uma voz grave que deixa as batidas do meu coração aceleradas e uma leve sensação de segurança. Sinto seu hálito quente aquecer meu rosto e aos poucos vou perdendo a consciência.

Acordo com as batidas do meu coração aceleradas e olho para o lado. Lorena já chegou e dormiu sem tomar banho. Sei disso porquê ela está com a mesma roupa que estava quando fomos passear ontem à noite.

Dou uma breve observada ao redor e foco na janela do quarto. Através do vidro, posso observar que o dia ainda não nasceu completamente, então, logo passo a coberta por cima do rosto e volto a dormir novamente.

_ Boa noite... - Sussurro pra mim mesma.

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