Capítulo 13
Depois de quatro anos desde o insignificante ataque rebelde, Illéa parecia ter encontrado a paz. O exército foi reforçado e exceto pelo treinamento que fizemos no ano passado não havíamos tido mais motivos para ir ao abrigo subterrâneo. Os rebeldes tinham praticamente se extinguido, assim como o sistema de castas que a dois anos não existia mais. Agora as castas eram apenas uma lembrança do passado, e para meus filhos muito menos que isso.
Maxon e eu éramos o Rei e Rainha mais amados pelo povo, todos estavam muitos felizes com o novo rumo que o país havia tomado. A abolição das castas deu oportunidades até então nunca cogitadas pelo povo. Agora todos podiam se casar com quem quisessem, estudar e trabalhar, sem se preocupar com rótulos. Illéa estava experimentando uma liberdade nunca tida antes, desde o fim das guerras.
É claro que foi necessária muita infraestrutura para atender à todas essas mudanças. O sistema de educação e saúde necessitou de muitas novas instalações, e o processo de incluir os Oito na sociedade não foi fácil, mas estávamos indo muito bem.
Eu passava a manhã no escritório ajudando meu marido com as questões estatais que eu havia aprendido a gostar. Não havia nada melhor que fazer o projeto de uma nova escola em um bairro pobre e depois ir na inauguração. Ver aquilo se tornando realidade. E depois conferir os benefícios que isso trouxe.
À tarde eu ficava com as crianças, que estavam tendo uma infância alegre e saudável. Ahren a cada dia lembrava mais o pai, que ficava bobo sempre que chegava perto dos filhos. E Eadlyn era praticamente a cópia de Amberly.
Depois do pronunciamento de que ela seria a futura rainha os jornalistas não saiam de cima um minuto. Toda e qualquer novidade sobre as crianças rapidamente parava na televisão ou nas revistas. Os primeiros passos, as primeiras palavras - que foram "papai", o que me deixaria magoada se poucos dias depois não viesse um "Mamãe Meri" de Ahren - sempre viravam notícia. Meri porque devia ser a parte do meu nome mais fácil de se pronunciar. Isso também me lembrava de Aspen, ele e Lucy haviam aceitado o conselho de Maxon dado alguns anos atrás e aceitaram uma casa só pra eles de presente, o que não os impedia de passar o dia todo no castelo sempre que quisessem. Lucy sempre vinha com Aspen quando ele fazia algum serviço no palácio. Eles ainda estavam passando por dificuldades, mas mesmo depois de mais uma adoção e uma gestação que não deu certo eles ainda estavam longe de desistir de ter um filho.
Os feriados eram as épocas mais felizes do palácio. Kenna trazia Astra e Léo - meu sobrinho mais novo - e junto com Eadlyn, Ahren e Kile praticamente botavam a casa abaixo. Logo seria a vez de Josie, a bebezinha de Marlee que ainda ficava no colo.
As noites simplesmente não tinham horas suficientes para Maxon e eu.
Estávamos vivendo um êxtase de felicidade. A cada pequena coisa nosso amor crescia mais e mais.
A cada passeio pelo jardim. A cada rosa que eu encontrava ao lado do meu travesseiro pela manhã. A cada carta de amor que mesmo depois de seis anos se casamento ele ainda me deixava quando viajava à trabalho. A cada café da manhã em família que sempre acabava com uma mancha de manteiga de amendoim em seu uniforme.
A cada " querida".
A cada "eu te amo".
A cada beijo.
A cada abraço.
A cada sorriso de nosso filhos.
As vezes eu me pergunto como teria sido a minha vida se eu não tivesse entrado na Seleção. Com certeza não seria infeliz, mas eu não saberia o que estava perdendo.
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Naquela tarde eu estava com as crianças e as babás no jardim. Eadlyn insistia em querer olhar cada tipo de flor nos arbustos, eu tinha que acompanhá-la e ficar agachada até minhas costas doerem e ela resolver sair correndo depois de ter achado algo mais interessante para fazer.
Ahren era mais quieto, preferia um livrinho e um brinquedo à um jogo de esconde - esconde.
Maxon apareceu bem quando eu mostrava algumas tulipas vermelhas a Eadlyn. Ela gritou "papai" e saiu correndo para ele, que a agarrou e a girou no ar enquanto ela ria e batia palmas.
- Olá, minha princesa - ele disse depois de uma sessão de cócegas em sua barriga.
Antes que ele pudesse terminar ela foi mais ágil e pulou para suas costas.
- Ai! Eady, papai não tem mais fôlego para essas coisas - ele suplicou.
- Cavalinho! - ela insistiu.
Depois de algumas voltas com ela nas costas ele finalmente conseguiu fazê-la descer e veio até mim.
- Olá, minha querida.
Respondi com um beijo.
Ele pegou uma das tulipas vermelhas atrás de mim e a prendeu atrás de minha orelha.
- Quase nem aparece nos seus cabelos.
Sorri, e quando fui responder Ahren veio correndo pedindo a Maxon para brincar de cavalinho com ele também.
-Ah... Então lá vamos nós!
Ele pegou Ahren, o colocou nas suas costas e começou a girar e correr com ele pelo jardim, embalado pelos risos das crianças e das babás.
Eu também ria mas, em um segundo, passei a me sentir mal. Fiquei tonta e uma intensa onda de vertigem me atacou, me virei para as tulipas no intuito de disfarçar um pouco até que melhorasse - essa já era a terceira tontura que eu tinha uma semana! - mas só o que encontrei foi um enorme borrão vermelho. Minhas pernas vacilaram e eu não vi mais nada.
Quando acordei estava nos braços de Maxon subindo as escadas.
- America. America, meu amor, acorde!
- Maxon... - balbuciei.
Voltei a mim quando Maxon adentrou a ala hospitalar.
- Doutor, ela desmaiou - ele informou ao médico.
- Venha, venha. Coloque ela aqui. - ele disse apontando para o leito hospitalar
Depois vieram duas ou três perguntas que eu não consegui identificar, até que o médico pediu a Maxon para aguardar lá fora, e eu acordei.
Depois de alguns minutos com o médico fazendo exames de pressão e etc. eu finalmente encontrei minha voz.
- Doutor, não foi nada. Só estou muito cansada, eu...
- A senhora está grávida.
O QUÊ?
- O que disse?
- Isso mesmo que Vossa Majestade ouviu. A senhora está grávida.
- Mas, não pode ser.
- Claro que pode. - ele abriu um largo sorriso e disse a si mesmo sem importar que eu ouvisse - o povo vai ficar tão feliz!
Eu estava meio alegre e meio chocada, definitivamente não esperava por isso agora e nem desconfiava.
Eu e o médico concordamos com o sigilo dele, que não foi nada difícil de conseguir já que a quebra de uma ordem da rainha era recompensada com a demissão.
Nós ainda estávamos curtindo nossos primeiros filhos e eu sabia que Maxon, assim como eu, queria ter vários, mas não sabia se agora.
O médico me dispensou depois de uma hora e fui recebida pelo olhar ansioso e preocupado de meu marido.
Quando saímos da ala hospitalar ele finalmente perguntou.
- O que aconteceu, America? Por que você passou mal? Foi o excesso de trabalho, não é? Eu sabia que não devia exigir tanto d...
- Maxon, eu estou grávida.
Não pensei. Só falei. Na lata mesmo.
Ele me olhou confuso com aquela cara de "eu ouvi direito?" e seu olhar desceu até minha barriga como que buscando confirmação.
- Nós vamos ter outro bebê?
Balancei a cabeça em resposta, incapaz de falar com as lágrimas de felicidade inundando meus olhos.
- America, você me fez o homem mais feliz do mundo! De repente eu te amo um milhão de vezes mais!
E me beijou, com todo amor que sentia e me girou no ar pelos corredores.
- Vamos guardar segredo desta vez? - disse, depois de me soltar
Neguei com a cabeça.
- Não acho necessário, já que o médico já sabe. Que tal anunciarmos no Jornal de hoje?
- Eu acho uma ótima ideia. - e o sorriso mais lindo que eu já vira brilhou em seu rosto.
Fomos para o quarto e eu me dirigi a suíte, pedindo a Madeline para que avisasse as babás para tomarem conta das crianças o resto do dia, pois eu estava indisposta.
Madeline era uma amiga de Mary, que ficou feliz em ocupar seu lugar à quatro anos, quando ela saiu. Além disso sua irmã mais velha fora criada da Rainha Amberly, e se aposentou depois que ela morreu, sendo assim Madeline sabia muito bem como servir á realeza.
Mary tinha ido embora do palácio e eu garanti a ela uma boa vida. Nas festividades de fim de ano ela sempre vinha nos visitar e fiquei sabendo a alguns meses que tinha conhecido um rapaz, e eu estava muito feliz por ela. Não foi difícil achar uma substituta altura pois Madeline conhecia Mary e sabia como eu era, e estava muito feliz por servia à rainha. Já havíamos nos tornado amigas mesmo, depois de tanto tempo.
Chamei Paige para que me preparasse um banho.
Me vesti com uma roupa leve e fui para o quarto, mas antes me virei para avisar Paige.
- Hoje tenho um anúncio para fazer no Jornal Oficial e gostaria que encontrasse um vestido bem bonito para mim. Não precisa ser novo, mas eu me perco naquele guarda roupa que tem coisas que nunca usei e gostaria que procurasse para mim.
- Sim, majestade.
- Obrigada - sorri - estarei no quarto descansando.
Fui para o quarto e me deitei na cama, surpresa que ela não me deixou confortável fui para o sofá no fim do cômodo. O quarto ficava tão vazio sem Maxon.
Ele chegou quando eu já estava terminando o primeiro capítulo de um livro aleatório.
- O que está lendo, minha querida? Algum manual de como ser mais linda a cada dia? - ele me deu um daqueles seus sorrisos encantadores.
- Talvez - e o beijei.
- Está pronta para contar a novidade hoje?
- Na verdade, estou sim.
- Ótimo porque você tem uma hora para se arrumar.
- Não acho que vá dar tempo.
- Então vá assim mesmo, já está deslumbrante.
Ele examinou meu quase pijama com um olhar tão intenso que me fez corar. Agarrei a gola de seu uniforme o o beijei com fervor.
Até que Paige apareceu na porta da suíte pigarreando, nos pegou no pulo. Eu e Maxon rimos e ela parecia envergonhada.
- Perdão, majestade, eu...
- Tudo bem Paige - sorri - Encontrou o vestido?
- Encontrei, quanto tempo temos?
- Uma hora.
- Tudo bem.
Me virei para Maxon.
- Te vejo em uma hora.
Ele piscou para mim, e Paige me arrastou para a suíte.
- Então, majestade. Qual é a novidade? - Madeline perguntou enquanto colocava meu cabelo em diferentes posições para ver como ficava melhor.
- Vocês só saberão na hora no Jornal.
- Mas nenhuma pista?
- De jeito nenhum.
Eu ri.
- Eu acho que já sei o que é - disse Paige.
E seu olhar denunciava que sabia mesmo.
- Eu acho que é o que você está pensando.
- Que ótimo! Eu sou sempre a última a saber dar coisas por aqui, não é? Tudo bem, tudo bem.
Paige e eu rimos da birra de Madeline.
- Tá bom, vou contar.
Eu disse enquanto ela voltava com minha caixinha de joias prateadas para combinar com o vestido azul.
Me sentei na cadeira e enquanto Madeline fechava o colar de brilhantes em volta do meu pescoço eu falei.
- Estou grávida.
Elas soltaram gritinhos e pularam de alegria, até me abraçaram, demorei a perceber o sorriso que tomava conta do meu rosto.
Elas não paravam de me dizer coisas bonitas e o quanto estavam felizes. Eu calçava os sapatos quando elas se perguntavam se seriam gêmeos de novo.
- Nem pense nisso - eu disse entre risos - Eadlyn e Ahren me dão um baile, se eu tiver mais um casal de gêmeos, meu cabelos ruivos ficarão grisalhos antes dos 30.
Elas caíram na gargalhada.
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Ao chegar no estúdio vi que já estava tudo pronto, Maxon e eu nos dirigimos para os tronos. Eu julgava que Gavril já soubesse mas não percebi que estava quase estragando a surpresa quando me peguei cantarolando baixinho e acariciando o tecido acima do meu ventre, eu ri e afastei as mãos, Maxon estendeu a mão e acariciou minha bochecha, deixando escapar um "Eu te amo" através do sorriso, se ele achava que ninguém tinha visto se enganou.
- Ah, os pombinhos! - exclamou Gravril, vindo em nossa direção - Rainha America - ele inclinou a cabeça ma minha direção - Como vai?
- Estou ótima, Gavril, melhor impossível - tinha certeza que meu sorriso tomava metade do meu rosto.
- Fico feliz, Majestade. Rei Maxon, como tem passado?
- Muito bem, Gravril, muito bem.
- Que maravilha. Mas o que todos querem saber hoje é o verdadeiro motivo dessa programação. Provavelmente não é para falar das novas escolas e hospitais que foram construídos em Zuni - ele riu, e Maxon o acompanhou.
- Não, hoje não. Apesar de que essas são construções que vão beneficiar imensamente a população de Zuni, não é isso que viemos comunicar hoje.
- Então qual seria o real motivo, Majestade?
Me acomodei um pouco mais no acento. Maxon se virou para as câmeras.
- Povo de Illéa, é com imensa alegria que eu comunico que minha esposa, Rainha America, está grávida de nosso terceiro filho. Illéa ganhará mais um herdeiro!
O estúdio explodiu em aplausos, haviam muitas pessoas ali. Residentes do palácio; conselheiros; além de Lucy, sem Aspen, que estava em serviço.
Podia jurar que ouvi a senhorita Brice cochichar com alguém "mas já?" fazendo minhas bochechas ficarem mais vermelhas do que meus cabelos.
Mas eu não podia esconder, estava irradiando felicidade.
- Que notícia maravilhosa, majestade. - Gavril disse, cessando os aplausos - agora o palácio vai ficar cheio de crianças - ele riu.
- Com certeza, desde que nenhuma delas invada o estúdio de fraldas como Kile fez está tudo ótimo - pisquei para Marlee, e todos riram.
- Como se sente, majestade?
- Estou muito bem, a gestação ainda não está avançada. Estou muito feliz, sempre quisemos ter muitos filhos. - segurei a mão de Maxon e ouvi a plateia suspirar.
- Illéa certamente ficará muito feliz com essa decisão. Agora todos tem certeza que a Rainha America foi uma ótima escolha, Rei Maxon. Tão amada quando sua mãe.
Os olhos dele marejaram, e pude perceber que ele tinha um carinho muito maior do que eu imaginava pelos Schreave.
- Se ela for amada pelo povo como é por mim, eu não duvido.
- A Rainha Amberly é insubstituível - emendei - Mas espero ser uma ótima sucessora.
O jornal prosseguiu com Gavril falando coisas bonitas e lembrando de alguns momentos com a Rainha Amberly e o Rei Clarkson, a edição de hoje foi um tanto quanto nostálgica, e eu sabia que minha mãe e May estariam chorando em casa do outro lado da TV.
- America! Estou tão feliz por você! - gritou Marlee quando saímos do estúdio - Quem diria hein?
Rimos juntas e eu a abracei.
- Boba, como estão Kile e Josie?
- Como sempre: dando trabalho.
Como que para confirmar uma babá chegou com Josie chorando e gritando pela mãe no colo.
- Madame Marlee, Joselyn está chamando pela senhora.
- O dever chamava - dei um cutucão em Marlee e ela deu um suspiro brincalhão, fingindo cansaço. Ou talvez não estivesse fingindo, e falou enquanto pegava Josie no colo:
- Nem todos tem a sorte da Rainha America, dois filhos que são praticamente santos!
- Não sei de onde você tirou "santos", não tem ideia de como Eadlyn é agitada - eu disse rindo e logo sentindo falta da minha filha - Aliás, onde ela está?
Marlee olhou para trás guiada pela mesma voz fina que eu.
- Aqui, mamãe!
Eadlyn veio correndo e pulou no meu colo, e eu a enchi de beijos.
- Cuidado, querida. Terá que pegar leve com a sua mãe agora - Marlee disse, piscando pra mim.
- Como assim, mamãe?
- Explico depois. Prontos para o jantar?
Ela fez que sim com a cabeça e eu dei um beijo em sua bochecha pegando - a no colo.
- Onde está seu irmão?
- Tá lááááááááá no quarto.
Me virei para uma criada que passava pelo corredor.
- Chame Ahren por favor, diga que estamos esperando ele na sala de jantar, peça para a babá trazê-lo. - disse mais para mim mesma - não gosto que ele suba essas escadas sozinho.
- Papai! Cavalinho!! - Eadlyn disse se agitando no meu colo assim que Maxon surgiu no corredor, ele fingiu voltar para trás e ela reclamou fazendo todos rirem.
Ele se aproximou pegando-a do meu colo e me dando um beijo.
Fomos todos para a sala de jantar, logo Ahren chegou com a babá, Lucy se sentou perto de mim, fazia alguns dias que eu não a via, ela tinha ido fazer alguns exames no exterior dos quais eu não sabia o resultado, e não queria perguntar ali.
O jantar foi o mais animado de todos, muita gente, alegria, crianças na mesa e Maxon ao meu lado, sempre com aquele olhar que me fazia sentir como se fosse a pessoa mais importante da face da terra.
Contemplei a cena. As pessoas que eu amava, rostos felizes, Maxon, meus filhos, e o bebê que ainda estava para chegar. E que já enchia meu coração da mais pura felicidade. E percebi que sempre foi assim que eu sonhei em terminar meu dia.
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