Aviso de gatilho

Dois meses e duas semanas desde que eu não ouvia essa voz. Ver a minha antiga amiga e sequestradora me paralisou, eu era bombardeada por lembranças, as quais jurei esquecer. Senti minhas pernas fraquejarem, mas mesmo assim agarrei a mão de Rosa e sumi pelos corredores da casa. A mulher ao meu lado dizia palavras que eu não escutava, meus ouvidos zumbiam.

- Gina. - li seus lábios. - Precisamos chamar a polícia.

Assenti ainda zonza. Minha cabeça estava a mil, não sentia o meu corpo, mas por algum milagre, eu continuava de pé. Rosa olhou para o vestido a procura bolsos e me encarou.

- Deixei o celular na sua bolsa.

- Ela está...

Levantei o braço tentando indicar a alça dourada.

- Gina, cadê a sua bolsa?

Tentei respirar fundo.

- Sumiu. - falei com a voz trêmula.

- Tá tudo bem. - disse. - Estamos em uma festa repleta de pessoas, alguém nos ajudará.

- Não sabe que é falta de educação ir embora sem se despedir? - disse Kandy atrás de nós, essa garota parece uma assombração.

Eu segurei a mão de Rosa. Sentia os insultos roçarem a minha garganta, mas optei em ficar calada.

- Você fugiu? - perguntou Rosa.

- Eu paguei a fiança, um preço insignificante para o nosso reencontro.

Murmúrios se formaram ao nosso redor, eu já estava acostumada com o tumulto e sabia exatamente do que falavam. Nós. A minha única reação foi esconder-me no ombro de Rosa, a opinião pública, infelizmente, ainda me assombrava.

- Quem deixou essa mulher entrar aqui? - disse a dona da casa. - Tirem-a imediatamente.

Três seguranças saíram das sombras do salão para arrastá-la para fora. Kandy saiu com a cabeça erguida, como se fosse superior a mim. Fechei meus punhos nervosa.

- Mil desculpas, tomarei providências quanto a segurança.

Taylor se afastou, os cochichos foram substituídos pela música alta. Eu ainda sentia os olhares sobre mim, mas preferi ignorá-los.

- Quer ir embora?

Neguei.

- É o nosso primeiro encontro como um casal assumido. Não podemos ir embora.

Eu segurei a mão de Rosa.

- Me concede essa dança?

- Para de ser idiota. - disse aos risos.

Giramos pelo salão ao som de Treacherous (Taylor's Version). Encaixei a cabeça no ombro de Rosa, seu cheiro me enloquecia, meu corpo subiu aos céus e depois desceu, voltando aos braços de Rosa. Fechei os olhos, aproveitando o seu calor.

- Eu te amo. - sussurei sem nenhuma intenção dela ouvir.

- Eu também. - disse no meu ouvido.

Ergui o rosto.

- Você é a melhor coisa que já me aconteceu.

Ela tocou no meu rosto. Uma simples interação capaz de me fazer derreter. Fiquei na ponta do salto para beijá-la.

- Precisamos ir. - virei me deparando com Amy e Jake. - É uma urgência.

Nós saímos sem nos despedir, ignoramos a imprensa e fomos direto para a limosine.

- O que aconteceu?

- Charles nos ligou meia hora depois de Kandy ser expulsa... - comecei a tremer. - Ele parecia assustado, disse que alguém estava em casa.

- Merda.

O motorista fazia questão de parar em todos os sinais, inclusive os verdes.

- Dá pra ir mais rápido? - disse Rosa batendo no vidro.

A única resposta foi estacionar o carro em uma rua sem saída.

- Ei. - agora era Amy quem batia no vidro. - O que houve?

O motorista se virou. Ouvi Amy exasperar.

- Kandy. - falei surpresa.

- Você não foi muito gentil mais cedo. Tive que me certificar que não há ressentimentos entre nós.

- Você me sequestrou e ameaçou matar Rosa. - eu ri cinicamente. - Com certeza tenho ressentimentos.

Ela sentou-se no banco a nossa frente.

- Isso me magoou.

Vi Jake se mover pelo canto do olho. Kandy apontou uma pistola para o peito do homem.

- Seja lá o que está pensando, a resposta é não.

Amy segurou o braço do namorado.

- O que fez com Boyle?

- A ligação foi falsa. Eu passei tempo o suficiente para gravar a voz de todos vocês.

Suspirei aliviada.

- O que acham de dar uma voltinha?

Não respondemos.

- Vou considerar isso um sim.

Ela voltou ao volante.

- Nem pensem em fugir, não há saída.

O carro deu meia volta em alta velocidade. Segurei a mão da minha namorada.

- Eu tenho um plano. - disse Jake. - Só me cubram.

- Jake, não.

Ele abriu a porta do carro e em seguida se jogou. Amy fechou a porta. Encarei Kandy, sua visão estava fixa na rua.

- Vai dar certo. - repetia Amy para si.

Percorremos kilômetros até chegarmos na casa de Kandy.

- 1, 2, 3... Falta um. Onde está o narigudo?

- Jake sumiu? - perguntou Amy, sua atuação era péssima, mas Kandy era pior atriz então deu de ombros.

- Desçam.

Rosa e Amy desceram. Kandy me segurou pelo braço e apontou a arma para a minha cabeça.

- Não ousem tentar nada.

Rosa fechou os punhos, mas não disse nada. Subimos o morro em fileira, as duas na frente, eu e a psicopata atrás.

- Abre. - ordenou.

Amy obedeceu e entrou sem cerimônia. A casa estava igual com a mesma decoração branca entediante e cheiro de ervas alternativas.

- Fiquem a vontade. - disse acendendo um cigarro.

- O que você quer?

- Poste uma selfie comigo, desminta tudo e eu as deixo ir.

- Você só pode ter enloquecido.

Kandy se aproximou de mim, o suficiente para eu engasgar com a fumaça.

- Você destruiu a minha vida!

- Foi você quem me sequestrou!

Kandy apoiou a cabeça na mão entediada.

- Bem que Lorenzo disse que era dramática.

Senti um arrepio percorrer a espinha. O nome soava dolorosamente familiar. Lorenzo, o homem que me ameaçou durante um ano, me esfaqueou e ainda tentou atirar em mim.

- Vocês se conhecem? - minha voz falhou.

- Fiz muitos contatos na prisão. - disse sem emoção. - Ele me contou seus segredos, mas como sou uma pessoa boa decidi não te ameaçar.

- Você literalmente nos sequestrou. - disse Amy irritada.

- Cala a boca princesa, a conversa não chegou no castelo.

A minha assistente torceu a boca ofendida. Procurei Rosa, não a achei em lugar algum, tentei me manter calma para Kandy não perceber.

- Sobre a selfie... - ela tirou uma faca da bota, não era atraente como Rosa. - Vamos tirar agora ou agora?

Cruzei os braços.

- Está se fazendo de difícil. Não por muito tempo.

Ela agarrou Amy por trás e apontou a faca para sua garganta. Eu tremia, não conseguia agir.

- O que me diz Gina?

Abri a boca, mas nada saiu, estava paralisada pelo medo. Amy fechou os olhos aguardando o pior.

- OLHA A BOMBA.

Em milésimos de segundos minha visão ficou turva, não enxergava dois palmos a minha frente. A fumaça me fez tossir, me encolhi na tentativa falha de me proteger.

- Vamos. - a voz de Rosa ecoava nos meus ouvidos.

Ela me pegou no colo e me tirou daquela confusão. Jake segurava Amy como se ela fosse um vaso frágil.

- NÃO.

Kandy jogou a faca sobre nossas cabeças. O gás lacrimogêneo fez seus olhos ficarem vermelhos e sua mira piorar, o objeto cortante atingiu o muro a metros de nós.

- Vocês não vão embora. - disse apontando para o nada. - Não antes do meu comeback.

Apertei meus olhos, forçando-os a focar.

- Vai se fuder.

Consegui ver a sombra de Kandy e dei um soco em seu rosto.

- Agora pelo Lorenzo. - dei outro soco derrubando-a no chão.

- Caramba Gina.

- Vamos.

Autora: oi gente, notícia triste, faltam dois capítulos para essa fic acabar :(

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