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— ESPERA.

Ela parou, eu corri até alcançá-la.

— Bom dia, Diaz.

— Bom dia, Linetti.

Eu sorri já procurando uma brecha para cantá-la.

— É uma pena uma blusa da Valentino ter que ser jogada no chão.

Ela franziu o cenho.

— Do que está falando?

Terminamos de descer as escadas, não a cantaria onde eu possivelmente cairia.

— Sua blusa é Valentino.

Ela olhou para o meu pescoço.

— Uma vez eu li na internet que pessoas as quais gostam de flores, usam colar de flor.

Eu acompanhei o raciocínio.

— Você está usando choker, o que isso significa?

Eu ri, ela sorriu.

— Droga.

— Eu ganhei, pode pagar.

Dei uma bala à ela.

Acordei com o doce som de Call Me Maybe.

— Alô? — apoiei minha cabeça na mão.

— Linetti, volte ao trabalho. — Holt me encarava da porta do seu escritório.

Eu apenas assenti e desliguei a chamada. Me espreguicei e comecei a rir sozinha me lembrando da aposta com Jake, simplesmente colocar Call Me Maybe como toque para o Holt, foram as duas cervejas mais fáceis que já ganhei na vida.

Encarei minhas unhas, o azul já descascava, preciso pintá-las urgente. Se ao menos eu tivesse tempo, eu ri novamente, como se estivesse ocupada. Abri a primeira gaveta e retirei minha necessaire com os meus essenciais.

Coloquei os meus fones de ouvido e comecei a retirar o esmalte com removedor. Dançava enquanto endireitava as minhas unhas com a lixa, até ser alvo de um livro. Me agachei para debaixo da minha mesa.

— EU TENHO 25 ANOS, SOU MUITO JOVEM PARA MORRER.

Percebi que a música havia parado e passos se aproximaram de mim. Um par de tênis esportivo parou em minha frente, eu engoli o nojo e olhei para cima. Jocelyn estava com as mãos nos bolsos me olhando com desprezo.

— Eu entendo, esse trabalho é bem difícil. Passar o dia todo sentada, tomar café, mecher no celular, ignorando a responsabilidade. — ela ajeitou o cabelo. — É complicado.

Eu levantei cruzando os braços.

— O que quer?

— Cadê a cordialidade, Linetti?

— Na sua...

— Temos algum problema aqui? — disse Holt se aproximando.

— Sua assistente estava fazendo as unhas ao invés de trabalhar, ela nem ao menos me viu chegar, eu poderia ter roubado esse local.

— E roubou?

— Não.

— Ótimo, tenha um bom dia.

— Eu preciso que...

— Eu disse tenha um bom dia.

Jocelyn marchou furiosa para longe de nós. Eu encarei Holt constrangida.

— Desculpa cara.

— Volte ao trabalho.

Ele não parecia bravo comigo, o que me fez ficar contente, pelo menos essa relação eu não arruinei. Recolhi as minhas coisas do chão, por sorte nada havia quebrado. Beijei o vidro do meu esmalte cinza.

— A mulher assustadora não vai te machucar. — sussurei ao meu precioso esmalte.

— GINA.

Meu corpo arrepiou, reconheço essa voz a quilômetros de distância, não pode ser, nós nos despedimos. Olhei em direção a mulher irritada.

— Rosa?

Eu soltei o esmalte, ouvi-o quebrar. Podia me ver em seus cacos, eles refletiam-me como eu refletia Rosa.

— O que você fez?

— Eu...

— Você?

Ela parecia brava, mas só parecia, estava bonita, cheirava bem. Suas narinas não estavam dilatas e seu tom de voz estava forçado, era um teatro, mas para quem? Eu estava tão surpresa em vê-la que mal conseguia formar frases.

— O gato comeu a sua língua?

Eu deixei uma risada escapar, percebi o canto da sua boca se mover, ela abriu um leve sorriso que durou milésimos de segundos. Eu apenas a admirava, apreciava tudo o que eu perdi, toda aquela beleza, toda aquela mulher.

— Não se faça de idiota. — ela me puxou pela camisa, ficamos a centímetros de distância. — Jocelyn está nos observando, não olha agora, só faça o que eu faço.

Eu assenti encarando os seus lábios. Ela seguiu o meu olhar e depois de uma respirada me soltou.

— Eu acho melhor você se retirar, Diaz. — fingi nojo, mas a minha vontade era pular e rodopiar em seu colo.

— Você é uma péssima assistente, sempre foi e sempre será.

Eu ri.

— Como se você fosse uma ótima espiã.

— Pelo menos eu me interesso pelo meu emprego, e você? Está presa à essa mesa, no mesmo trabalho pro resto da sua vida. Olhe ao redor Gina, não há saída. — suas palavras me atingiram mais do que gostaria de admitir. — Você julga ser única, tomara que seja, porque ninguém merece ser como você. — ela apontou ao seu redor. — Você não tem amigos, está sozinha.

Eu fechei o punho tentando conter as lágrimas. Gina Linetti não chora em público, os únicos escândalos que crio são através da minha dança.

— Pra quem vai voltar para casa essa noite? Seus gatos?

— Cala a boca. — as palavras mal saíram da minha boca.

— Ou talvez você alugue alguém para te fazer companhia.

Eu a empurrei.

— Isso só foi uma vez! — as lágrimas finalmente me venceram. — Eu só preciso de mim, porque eu sou suficiente. — saí correndo tentando não atrair atenção para mim, não sei se consegui, estava ocupada demais repetindo suas duras palavras. Tudo havia ficado pessoal demais para uma mera farsa. Eu não sabia em que ponto a encenação acabava e a verdade começava.

Escutei passos e me preparei para sair correndo novamente.

— Sou eu.

Eu voltei a sentar no chão frio do estacionamento.

— Você viu?

Jake assentiu.

— Posso? — apontou para o meu lado.

Dei de ombros, o homem sentou-se.

— Rosa só disse tudo aquilo para Jocelyn deixá-la em paz, ela é um pé no saco.

— Rosa parecia acreditar no que ela dizia.

— Ela é uma boa atriz, meses aqui e nós mal sabemos a sua verdadeira história.

Eu sorri.

— Ela gosta de ser misteriosa, pra ser sincera, é atraente.

— E você?

— Eu sou atraente.

Ele riu.

— Você acredita no que ela disse?

Eu me encolhi no meu moletom.

— Eu não sei.

— Você sempre está tão certa de tudo.

— Nem sempre. — eu ajeitei minhas mangas evitando contato visual. — Eu não gosto de demonstrar fraqueza, mas quando o seu maior medo está ali, você só... você sabe.

Ele assentiu retirando pedrinhas do chão.

— O seu maior medo é ficar sozinha?

— Não, é ser esquecida. Se eu ficar sozinha, há uma grande chance dele se tornar real.

— Você não vai ficar sozinha, eu não vou deixar.

Eu sorri e o abracei.

— Obrigada por estar aqui.


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