♡ 31 ♡

Nunca tinha enfrentado uma madrugada tão esquisita quanto aquela. O galpão que Jisung havia mencionado ficava em uma área mal iluminada e afastada da cidade. A pouca luz que conseguia ver naquela noite escura era a da lua, que aparecia vez ou outra entre as nuvens no céu, além de alguns postes a alguns metros de distância dali. Nós ficamos dentro do carro com os faróis apagados, olhando o movimento quase nulo nos arredores do galpão. 

Tudo ali era sujo e mal arrumado, chegava a dar arrepios. Parecia uma área industrial que foi abandonada há anos. Um único veículo estava parado perto do prédio onde Jisung achava ser o cativeiro de Dojun, era uma moto popular preta, não muito nova.

— Aquela moto estava ali quando veio da última vez? — perguntei, Han balançou a cabeça confirmando.

— Aquela moto e mais dois carros — informou — Pode ser que fossem da gangue também. 

— Quer dizer que podem estar em um número menor lá dentro — constatei, Han esticou o pescoço tentando ver melhor o lado de fora — Não vamos conseguir ver nada daqui, temos que chegar mais perto!

— Não mesmo, é perigoso Ji- mas antes que ele pudesse completar a frase, eu saí do carro — Jiwoo! 

Han continuou me chamando, tentando me fazer parar enquanto me seguia apressado, olhando para os lados constantemente para se certificar de que não seríamos vistos. Eu continuei andando, chegando até a grande porta de ferro e encostando meu ouvido nela para tentar escutar algo.

— Shh — pedi ao rapaz, fazendo um gesto com a mão na boca — quero ver se tem gente lá dentro. 

Ele me encarou com um olhar que dizia claramente “por que é que você nunca me escuta?” e esperou três segundos até pegar a minha mão e me puxar dali. 

— Vem comigo — sussurrou, nos tirando da frente da porta. 

Demos a volta no galpão, correndo meio agachados enquanto tentávamos não fazer nenhum barulho. Quando paramos na parte de trás do prédio, Jisung soltou minha mão. 

— Veja — apontou para a pequena janela velha na parede. Logo me abaixei, tentando ver algo lá dentro e não ser vista por ninguém. 

A janela era praticamente no chão, do lado de fora não era possível reparar, mas o galpão era, na verdade, um tipo de porão, que ficava abaixo do nível da rua. O vidro da janela era tão velho e desgastado, que foi difícil enxergar por ele. Uma única fresta, causada por uma pequena avaria, me deixava ver o interior do lugar. 

Continuei forçando a minha visão para o lado de dentro, enquanto Jisung permanecia de pé atrás de mim, vigiando para que ninguém nos pegasse ali. Era um pouco difícil dizer com certeza, mas identifiquei o que parecia ser uma pessoa deitada próximo à uma parede, não era perto o suficiente pra saber se era realmente Jin Dojun e se estava preso ali. Tudo que eu realmente sabia, era que havia alguém lá dentro. E, no segundo seguinte, descobri que aquela não era a única pessoa. 

O barulho dos passos na direção do corpo deitado me fez recuar da janela. Levantei depressa, olhando para Jisung com o rosto amedrontado. Mais uma vez, ele segurou a minha mão e me tirou dali. Nós corremos até o carro e entramos depressa, Han dirigiu por volta de dois quilômetros para nos afastarmos do galpão e estacionou o carro na frente da primeira loja de conveniência que encontrou. 

— Me lembre de nunca mais deixar você me convencer a fazer esse tipo de coisa — ele respirou fundo e soltou o ar de um jeito dramático. 

— Me lembre de nunca mais tentar te convencer a fazer esse tipo de coisa — também suspirei, levando a mão ao peito. Realmente tinha me assustado com o que aconteceu — E se ele tiver me visto pela janela? 

— Não acho que ele tenha conseguido te ver — Jisung finalmente soltou o volante, os nós dos dedos estavam brancos por ter segurado forte — E mesmo se tiver visto, você fez um ótimo trabalho escondendo seu rosto com essa roupa toda.

Soltei um riso nasal.

— Viu só? Te falei pra não fazer piada do meu look de investigação. Se não fosse por ele, eu podia estar encrencada agora. 

— Tem razão — concordou — Mas acho que, se viemos até aqui, temos que descobrir mais alguma coisa. Vem comigo. 

Eu não entendi muito bem o que ele quis dizer, mas apenas assenti e o segui quando ele saiu de dentro do veículo. Nós entramos na loja de conveniência 24 horas e fomos até o balcão, onde uma garota arrumava alguns produtos nas prateleiras próximas. 

— Boa noite — Jisung cumprimentou. A moça se levantou, um pouco surpresa com nossa presença ali. Não deve ser comum ter clientes em um lugar tão afastado a essa hora.

— Boa noite — cumprimentou de volta, tirando a atenção do que estava fazendo antes — Precisam de ajuda? 

Tive a impressão de ver um olhar receoso na garota, então tirei o capuz e a máscara que estava usando antes. Talvez ver que eu também era uma mulher pudesse dar algum tipo de segurança a ela.

— Na verdade, a gente queria perguntar uma coisa, se não for te atrapalhar. 

Ela deu alguns passos, parando atrás do balcão.

— Tudo bem, são raras as chances que tenho de conversar com alguém aqui. É bom ter companhia, pra variar. 

Esbocei um pequeno sorriso fechado para ela antes de questionar:

— Você trabalha aqui há bastante tempo? 

— Alguns meses, na verdade. Eu precisava ganhar dinheiro pra comprar os álbuns do meu grupo favorito. Stray Kids, vocês conhecem, né?! Eles são incríveis!

Jisung e eu nos entreolhamos, aquela garota falava pelos cotovelos e isso com certeza era uma boa notícia para nós. 

— Ah, claro, Stray Kids é ótimo — Han coçou a cabeça de um jeito engraçado, eu sabia que ele não conhecia nada sobre o grupo mencionado, mas parecer interessado podia fazer a atendente se abrir ainda mais.

— Mas então… Gyuri — li o nome da garota no crachá do avental —, você viu algo estranho por aqui nos últimos meses? Homens que parecem perigosos ou algo do tipo? 

— Estranho tipo vocês? — ela riu de sua própria pergunta — brincadeira, deixa eu pensar…

Ela coçou o queixo com a mão. Jisung parecia intrigado com o jeito da garota, mas eu a achei muito engraçada, com um humor único. 

— Olha, uns homens com cara de mau já vieram aqui algumas vezes, sempre compram lámen, cigarro e bebidas — ela continuou com um rosto pensativo, quase caricato — Uma vez, um deles me perguntou se eu sabia onde ele podia comprar gasolina aqui perto, obviamente eu não soube responder… mas não era só ele ir até um posto? 

Han e eu nos entreolhamos, isso podia significar que o homem queria colocar fogo em algum lugar ou apenas abastecer um carro sem combustível. Não era uma pista muito boa. 

— Você não viu mais nada? — Jisung a pressionou, ela pareceu se retrair com o questionamento incisivo. Entrei na frente dele.

— Tudo bem, Gyuri, obrigada pela ajuda — sorri — Posso te pedir só mais um favor?

Ela balançou a cabeça afirmando.

— Se esses homens aparecerem de novo, você me avisa? — por sorte, sua resposta foi positiva mais uma vez. Nós trocamos nossos números e guardei o celular de volta no bolso — Pode me ligar a qualquer hora, mesmo.

— Pode deixar comigo, unnie — Gyuri jogou o cabelo para trás em um movimento encenado — Sempre quis bancar a detetive. Vai ser uma ótima ocasião pra isso.

— Obrigada — agradeci, Han apenas olhava nós duas com uma expressão confusa — Da próxima vez que nos encontrarmos, vou te dar um álbum autografado do Stray Kids!

— É sério, unnie?! — ela colocou as duas mãos na boca, eu soltei um riso nasal achando uma graça. 

— Uhum — fui me afastando do balcão, rumo à porta da loja, já acenando um tchau para a garota — E a propósito, meu bias é o Seungmin! 

— O meu também! — exclamou alegre, retribuindo o aceno. 

Já fora da loja, Jisung me acompanhou depois de uma pequena corrida, cutucando meu braço para me chamar.

— Que história foi aquela de bias? Você nem mesmo gosta desses grupos de kpop. 

— Ora, não pense que sabe tudo sobre mim — gargalhei, entrando no carro e passando o cinto. Ele entrou apressado em seguida.

— Então… você gosta mesmo desse tal de Seungmin? 

Eu estava me divertindo com aquilo, então resolvi apenas continuar:

— Bom, você acabou de me ouvir dizer que ele é meu bias — segurei o riso, tentando parecer séria — É claro que gosto dele. 

De repente, o garoto começou a gaguejar, sem conseguir sequer começar sua próxima frase. Nunca pensei que veria isso na minha vida, então aproveitei o máximo. Ele estava claramente com ciúmes, e eu estava extremamente feliz com isso. 

O encarei, ele estava corado. E eu pensei em como um corpo tão másculo podia ter um rosto tão fofo como aquele que estava vendo em minha frente. Era de enlouquecer. Soltei um riso nasal.

— Vamos embora, Sung, ou vou acabar te beijando aqui mesmo. 



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