♡ 24 ♡

Quando o dia seguinte chegou, eu levantei mais cedo do que o de costume, estava animada com a volta de Han como meu guarda-costas oficialmente. Mas, antes de encontrá-lo para irmos para a faculdade, eu tinha que falar com meu pai. 

Como ainda não eram nem oito da manhã, imaginei que o acharia na mansão, mas ele não estava em seu quarto. Desci as escadas e fui até o escritório, bati na porta duas vezes, sem resposta. A abri devagar, apenas para confirmar que Kim Taesoo não estava mesmo ali. Bom, a única coisa que eu precisava mesmo era pegar a autorização que ele havia assinado para levar ao banco e desbloquear meus cartões de crédito, que eram vinculados aos dele, claro. Entrei no cômodo, indo até sua mesa de trabalho para procurar pelo papel. 

Por cima do móvel não havia nada, apenas os objetos de escritório que sempre estiveram ali e uma pasta de couro, que também não tinha nada além de documentos relacionados à Lux Like. Dei uma olhada em direção à porta entreaberta apenas para me certificar de que ninguém estava por perto e abri a primeira gaveta da mesa. Procurei fervorosamente, tentando achar o papel que precisava, mas o que encontrei foi algo muito mais importante. 

E perturbador.

Tirei uma foto de cada página do documento com meu celular e o guardei rapidamente de volta no mesmo lugar. Saí em passos largos daquele quarto, me sentindo tonta pela aflição do que tinha acabado de ler. Estava correndo como uma fugitiva de volta ao meu quarto enquanto olhava furtivamente para os lados para verificar se nenhum funcionário havia me visto saindo do escritório. Qualquer um deles, exceto a Sra. Jeon, não pensaria duas vezes em me dedurar. 

Senti um impacto ao esbarrar em alguém enquanto andava apressada e quase caí, se não fosse pelo fato de que a pessoa à minha frente era Jisung. Ele me segurou e sorriu quando o olhei. Eu me esqueci até como respirar corretamente vendo aquele sorriso em seu rosto. Por quanto tempo mais vou guardar isso pra mim mesma?

— Opa! Cuidado! — brincou, me ajeitando no lugar — Não vai ser sempre que vou estar aqui pra te segurar. 

— Mas se você não tivesse aparecido no caminho eu não teria esbarrado em nada, né? — ele balançou os ombros com minha resposta.

— Pode ser… mas por que a senhorita tava correndo igual uma fugitiva por aí? 

— Ah! É verdade! Tenho algo pra te contar, vem comigo!

Eu apenas terminei de pegar minhas coisas e arrastei Han comigo para o carro, tinha que contar a ele o que vi no quarto de meu pai antes da aula e faria isso logo no caminho, não aguentaria esperar.

Enquanto dirigia, desbloqueei meu celular e o entreguei a Jisung. Ele estava passando as imagens na galeria enquanto eu esperava ansiosa o rapaz terminar de ler.

— E então? Acha que esse documento é uma prova suficiente pra incriminar a empresa do meu pai?

Han permaneceu em silêncio. No documento havia vários casos de funcionários que perderam a vida em decorrência de seus trabalhos na Lux Like nos últimos anos, direta ou indiretamente. Era aterrorizante só de olhar. 

Quando encontrei aquele homem protestando na frente da empresa, buscando justiça por seu pai, eu prometi a mim mesma que o ajudaria. E agora eu tinha em minhas mãos algo que poderia revelar o que realmente aconteceu. Só tinha um problema, eu não sabia o nome dele. 

Isso agora não seria mais um problema, imaginava que Jisung soubesse o nome do rapaz. No documento que encontrei, havia fotos dos funcionários falecidos, era muito mais detalhado do que eu poderia imaginar e isso me causava arrepios e enjoo desde que coloquei os olhos nisso. Saber que meu pai não só estava ciente de tudo que acontecia mas ainda fazia de tudo para abafar as mortes causadas pela empresa dele me fizeram sentir ainda mais repulsa. 

— Han, você viu o homem que me atacou. Meu pai te pediu pra encontrá-lo. Você descobriu o nome dele, certo?

— Por que precisa saber o nome dele? — Jisung estava sério, e imaginei que eu poderia não receber a resposta que queria.

— Se eu souber o nome, posso descobrir se alguma dessas pessoas no documento é o pai dele. Preciso ajudá-lo.

— Acha mesmo que é uma boa ideia se envolver nisso? Com certeza é algo que incriminaria o Sr. Kim. 

Enchi as bochechas de ar e soltei em seguida com um suspiro. Talvez esse documento seja uma prova forte para que as famílias das vítimas tenham justiça finalmente, mas eu também sabia que Kim Taesoo é um rato sorrateiro que poderia dar um jeito de reverter as coisas em um tribunal. Existe muita sujeira envolvida nisso. 

— Preciso achá-lo, Han. Vou dar esse documento pra ele e deixar que ele leve meu pai à justiça. É o mínimo que posso fazer. Você sabe o nome dele, não sabe? 

— Eu falei pra senhorita, eu só segui ele e informei ao secretário Cho a localização, não sei nada mais que isso — eu parei o carro em um acostamento, precisava olhar bem para o guarda-costas pra saber se estava sendo sincero — E mesmo que eu soubesse, acha mesmo que eu te mandaria direto pras mãos do homem que tentou te esfaquear? Isso não faz o menor sentido!

— Eu sei, pensando por esse lado, você tem razão — passei as mãos no cabelo, os afastando para trás — Mas eu preciso ajudar ele, Han. O pai daquele homem morreu por culpa de pessoas que não se importam com nada além ter uma montanha de dinheiro. E infelizmente meu pai é o maior deles. Como posso viver de braços cruzados sabendo disso? 

Jisung suspirou, permanecendo em silêncio enquanto encarava o asfalto a frente quase em transe. Seu olhar estava longe. Eu diminuí o tom de voz em seguida, me sentia miseravelmente triste. 

— Essas famílias precisam de ajuda, Han… se eu não fizer isso, elas vão viver sofrendo pra sempre. Não posso deixar isso acontecer.

— Tudo bem — ele coçou a cabeça como se ela doesse — Me dê alguns dias, vou descobrir o nome e paradeiro daquele cara. Só por favor, não tente fazer nada sozinha. Promete? 

Balancei a cabeça assentindo.

— Prometo.

[...]

Quando a noite chegou e terminei tudo que tinha para fazer, Han me acompanhou até em casa e foi embora. Eu disse a ele que não sairia mais e que ele podia ir descansar e ficar com o irmão. Mas na realidade, tinha mais uma coisa que precisava fazer hoje. 

Fui até o estacionamento da mansão sem que ninguém me visse sair e entrei no carro. Os seguranças e porteiro me viram passar, mas nenhum deles pareceu se importar muito, isso era bom. Dirigi até o hospital onde Hyeongjun fazia seu tratamento. Há alguns dias decidi pagar pela cirurgia dele anonimamente, assim não correria o risco de Jisung negar a minha ajuda. 

Na recepção, informei meu nome e mostrei meu documento. Ao dizer para o que estava ali, a mulher me pediu para aguardar. Não demorou muito para que uma assistente social viesse ao meu encontro. A segui pelos corredores e subimos alguns andares de elevador, em sua sala, respondi ao questionário que ela me entregou em uma prancheta e a devolvi. 

Além da minha assinatura, a assistente também assinou o termo de confidencialidade sobre a doação.

Eu sabia que além de Hyeongjun, outras crianças também precisavam de ajuda, então eu passei o maior valor possível no cartão. Não podia usar um valor exorbitante ou o gerente do banco entraria em contato com meu pai sobre a transação, mas era suficiente para a cirurgia e internação de Hyeongjun e mais algumas crianças.

Provavelmente era a primeira vez que o dinheiro de meu pai estava sendo usado para algo realmente bom. Eu me senti bem depois de fazer isso. 

— Então posso confiar que vocês vão ligar o quanto antes pro irmão do Hyeongjun trazê-lo para a cirurgia, certo? 

A mulher soltou um pequeno riso nasal antes de responder:

— Amanhã mesmo faremos isso. Vamos verificar as agendas dos médicos e centros-cirúrgicos disponíveis e depois entrar em contato com os responsáveis. 

— Certo… assim fico mais tranquila.

— A senhorita deve gostar muito dele — falou, como se me conhecesse de longa data. 

— Ah, n-não! Q-que isso! — gaguejei sem nem mesmo perceber — Nós somos só amigos, nada mais!

— Eu estava falando sobre o paciente...

E eu senti a pedrada da vergonha me atingir. A mulher tentou disfarçar o sorriso zombeteiro em seus lábios, mas não foi suficiente para que eu não percebesse. Não me orgulho disso, mas naquele momento minha única opção foi entrar no jogo e fingir que eu também estava falando sobre o garoto.

— É c-claro! Eu também tava falando sobre ele! Hyeongjun, hehe… meu pequeno grande amigo! — levantei rapidamente, deixando o formulário em sua mesa — Conto com vocês pra ele ter uma ótima cirurgia e recuperação, certo? Certo! Então, ótimo! Tchau tchau!

E depois de falar como uma maluca, eu saí o mais rápido que pude, sem nem olhar para trás.


Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top