♡ 23 ♡
Não vou negar que senti medo ao voltar àquela mansão. O lugar, que deixou de ser meu lar há muito tempo, parecia exatamente igual a quando saí. Imponente, luxuosa e sem amor.
Não procurei a Sra. Jeon assim que cheguei, queria conversar com meu pai primeiro, então, fui direto para o escritório da mansão, iria esperar por Kim Taesoo lá. Já era noite, então ele não demoraria. Passei a tarde no que provavelmente seria meu último dia trabalhando na loja de conveniência e em seguida vim pra cá.
Caminhei ao redor da sala; a mesa do escritório estava impecavelmente arrumada, exceto por uma pilha de papéis que meu pai provavelmente irá ler e assinar depois de chegar da empresa. Me sentei em uma das cadeiras e passei o tempo pesquisando notícias no celular. Não havia nada sobre a Lux Like nem escândalos envolvendo o nome de meu pai. Eu me lembrei de repente do homem que me seguiu e me atacou com a faca uns meses antes. Kim Taesoo não me deu nenhuma pista do que tinha acontecido com ele, apesar de eu ter certeza que o secretário Cho se encontrou com ele. Talvez tenha oferecido dinheiro para que ele permanecesse de boca fechada e não contasse nada sobre a morte de seu pai na Lux Like. Espero que não seja nada mais do que isso. Chantagear alguém é algo que sempre soube que meu pai é capaz de fazer.
E por falar no Kim…
Despertei de meus pensamentos quando ele entrou pela porta do escritório.
— Então você voltou mesmo — ele deu duas batidinhas em meu ombro ao passar por mim e sentar na cadeira imponente do outro lado da mesa — Estou curioso pra saber o motivo.
— O motivo é o mesmo que move o senhor — fui direto ao ponto, não queria que a conversa durasse mais que o necessário — Me diga o que preciso fazer pra voltar a desfrutar do seu dinheiro.
— Você já sabe o que precisa fazer — me encarou por cima dos óculos.
— Pode esperar pelo menos eu me formar? Casar enquanto tô na faculdade vai atrapalhar meus estudos — seu rosto negava, claramente, mas continuei tentando convencê-lo: — Eu posso pegar mais matérias e terminar o curso em menos tempo, dois anos no máximo, eu prometo.
Ele pareceu ponderar a ideia. Tudo que eu menos queria era me casar com Henry. Mas, se meu pai acreditasse em mim e aceitasse minha proposta, eu poderia pagar pela cirurgia de Hyeongjun e fugir novamente quando o assunto casamento voltar à tona. O problema era que meu pai não era nada, nada bobo.
— E quem me garante que você não vai fugir de casa de novo? Como fez agora?
— Vou assinar um contrato. Um que seja bom pra ambos os lados.
Na pior das hipóteses, posso me casar e me divorciar no dia seguinte. Só não posso deixar de ajudar Jisung e seu irmão.
— Contrato? Parece que finalmente está crescendo, Jiwoo — ele riu pelo nariz, quase debochando — Traga o contrato, se eu aprovar, você assina e faremos dessa forma. Não me agradaria se você perdesse rendimento na faculdade. Você tem que ser a número um, sempre.
— Claro, papai — quase torci os lábios, tamanho era o meu desgosto com aquela conversa — Então posso voltar?
— Essa mansão vai ser sua um dia, Jiwoo. E sabe que nunca deixei de te dar nenhum luxo desde que nasceu — ele abriu a gaveta embaixo da mesa, remexendo nas coisas ali — Tome. Assim que o contrato estiver assinado, serão desbloqueados. Só não esqueça: continue sendo sempre a número um.
Ele me entregou os cartões que havia confiscado quando fui embora. Eram três, todos sem limite. Eu, que nunca tinha dado o menor valor para aquilo, senti meu coração se aliviar ao pegar os objetos nas mãos. Poderia ajudar Hyeongjun a se curar.
Não importava a que custo.
— Pode deixar. Eu vou estar sempre no topo.
[...]
Alguns dias se passaram desde que voltei à mansão. Eu não trabalhava mais na loja de conveniência, foi um dos requisitos de meu pai para que eu ficasse aqui novamente. Agora, eu tinha aulas praticamente o dia inteiro, havia prometido fazer mais matérias para acabar o curso mais rápido e poder me casar com Henry. Eu sentia náuseas só em pensar nisso.
O contrato que firmei com meu pai foi redigido por um dos amigos de Hyunjin que é advogado. Era muito bem amarrado, só assim meu pai aceitaria assinar. É basicamente um termo em que eu prometo me casar com o filho dos Green assim que terminar a faculdade. Se eu não cumprir, terei que aceitar as consequências impostas nas cláusulas.
Tanto meu pai quanto eu o assinamos, agora não havia mais volta. No mesmo dia em que assinamos, eu recebi a visita de Henry em casa.
— Tô tão feliz que você tá de volta, Jiwoo — por sorte ele tinha me encontrado na sala, se eu soubesse que viria, teria me trancado no quarto imediatamente.
— Não sei se posso dizer o mesmo — minha fala atravessada o deixou sem resposta — Você veio ver meu pai? Ele tá na Lux Like.
— Na verdade, não… eu vim ver você. Acho que temos muito a conversar.
— Henry, eu estou ocupada agora, tenho muito trabalho da faculdade pra fazer.
— Por favor, Jiwoo. Eu prometo que não vou tomar muito o seu tempo.
Suspirei, me sentando no sofá. Ele fez o mesmo em seguida.
— Certo. O que tem pra me dizer?
— Então, eu… ouvi sobre o contrato — continuei o encarando sem dizer uma única palavra. Ele limpou a garganta antes de continuar — Não sei o que te fez mudar de ideia, mas quero que saiba que respeito a sua decisão.
Naquele momento, a pessoa que me fez mudar de ideia veio à minha mente. Han Jisung. Não podia deixá-lo sofrer sendo que havia um jeito de resolver a situação. Mesmo que seja difícil pra mim no futuro, eu não vou me arrepender disso.
— Bom, acho que você pode me procurar em dois anos, então. Até lá, vou focar na faculdade e não vai me sobrar tempo nenhum pra diversão.
Tá, se ele não for embora depois disso, não sei mais o que poderia dizer. Fui o mais direta possível. Henry respirou fundo, assentiu com a cabeça e se levantou do sofá, se preparando para ir embora, entretanto, antes de ir, ele parou no meio da sala e se virou para mim, dizendo:
— Sei que não era isso que queria, mas eu vou ser bom pra você, Jiwoo. Vou passar a minha vida inteira tentando te fazer feliz se for preciso. Eu prometo.
E depois de dizer isso, foi embora.
Fiquei perplexa por alguns segundos com o que o Green falou. Ele realmente gosta de mim a esse ponto ou só está tentando me manipular por causa de negócios? De qualquer forma, não iria pensar nisso agora. Ganhei dois anos livres de qualquer proximidade com Henry ou qualquer outro pretendente “melhor” que meu pai pudesse arranjar para mim.
Me levantei do sofá e fui para o meu quarto, precisava ligar para Han. A ligação não chamou nem duas vezes, ele atendeu prontamente. Depois de frisar três vezes que estava tudo bem e que eu liguei apenas porque queria falar com ele, o rapaz finalmente parou de perguntar “mas a senhorita está bem mesmo?”.
— Eu só queria dizer que tá tudo certo pra sua volta. O secretário Cho já cuidou dos papéis de admissão, você só precisa pegar com ele e assinar.
— É sério?! — eu sorri com o ânimo em sua voz — Woah! Obrigado, Srta. Kim!
— Não foi nada, Han. Então… te espero pra ir pra faculdade amanhã cedo?
— Claro! Estarei aí!
— Ah, e eu não esqueci do que tinha te dito. Consegui um aumento pra você!
Ele ficou em silêncio por um segundo, por algum motivo, me senti envergonhada.
— Quer saber? Eu vou levar um café pra senhorita amanhã! Vou chegar mais cedo, quer que eu leve um bolo também?!
— Café é o suficiente — eu ri por dentro de sua animação. Com certeza trabalhar estava fazendo falta para ele — Então te espero amanhã cedo. Diz pro Hyeongjun que mandei um oi, tá bom?
— Vocês dois realmente viraram algo. Tudo que eu escuto aqui em casa agora é como a “noona é incrível”.
— Olha, seu irmão sabe das coisas. Queria ter sido sábia assim na idade dele.
Escutei a gargalhada de Jisung do outro lado da linha. Era a primeira vez desde que me contou sobre a doença de Hyeongjun que ouvia sua risada pra valer. Me senti feliz.
— O que posso dizer? A senhorita tem toda razão! — o silêncio depois disso foi inevitável. Por sorte, o rapaz não estava aqui para ver minhas bochechas corarem. Limpei a garganta, envergonhada.
— Bom, eu preciso ir! Até amanhã, Han!
Desliguei e soltei um suspiro que ficava entre o desespero e o alívio. Eu me perguntava por quanto tempo ainda ia esconder meus sentimentos por Jisung. Sabia que contar para ele era o melhor a se fazer, mesmo que eu não seja correspondida, mas agora não é a hora certa, Han já tem muita coisa em sua cabeça, pensei.
Mais uma vez, guardei para mim. Um dia talvez seja capaz de contar a ele e abrir meu coração.
Mas não hoje.
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