♡ 05 ♡

Eu costumava amar esse dia quando era mais nova. Me lembro claramente do cheiro dos bolos que minha mãe trazia em cada aniversário meu, cantando parabéns e me dizendo para fazer um pedido com os olhos fechados. Se eu tivesse mesmo a chance de ter um pedido realizado, com certeza pediria que ela voltasse. 

Quando levantei da cama de manhã, Jisung não estava na porta como no dia anterior, talvez estivesse de folga, já que era domingo. Confesso que me senti estranha sem a presença dele ali, é vazio sem ele me seguindo irritantemente para todo lado.

Senti um cheirinho gostoso ao me aproximar da cozinha, vi a Sra. Jeon de costas, cozinhando algo no fogão, cheguei perto dela, inspirando o máximo daquele aroma. Não era trabalho dela como governanta cozinhar, mas depois que minha mãe partiu, não teve um único aniversário meu que ela não tenha cozinhado para mim. Eu sou realmente muito grata por isso.

— Hum… esse cheirinho tá incrível, Sra. Jeon!

— Só o melhor para o aniversário da minha menina! 

Eu sorri, recebendo um abraço da mais velha. Ela me deu parabéns e em seguida começou a encher a mesa com vários pratos, os meus favoritos para ser mais exata. O café da manhã estava tão incrível que eu não sabia nem por onde começar a comer. Me sentei na cadeira, chamando-a para se sentar e tomar café comigo, mas ela disse que ficaria feliz somente em me ver comer bem.

— Comece pela sopa de algas. Não é um aniversário de verdade se você não a tomar — recomendou, tirando a tampa da pequena panela de porcelana branca. A fumaça da sopa subiu.

Obedeci, tomando o caldo e comendo todos os acompanhamentos que a governanta havia preparado para mim. Minha barriga já estava quase cheia e a Sra. Jeon continuava apenas me olhando comer. Eu deixei os pauzinhos de lado para perguntar a ela o que estava me deixando curiosa.

— Sra. Jeon? 

— O que foi, querida?

— O Han não veio trabalhar hoje? — ela me encarou estranhando a pergunta. Mesmo assim, respondeu.

— O Sr. Han precisou sair para resolver assuntos pessoais, mas logo vai estar de volta. Até lá, é melhor que você não saia de casa, tudo bem? — fiz uma careta, indicando que odiava ficar presa e depender de alguém para poder ir ou vir, a governanta pareceu notar, pois continuou: — Aliás, logo vai chegar visita, você precisa estar em casa para recebê-los.

— Visita?! — exclamei — Quem tá vindo, Sra. Jeon? 

— Isso é uma surpresa. Agora vá se arrumar, Jiwoo. 

Fiz o que a governanta me disse, passei pelo closet e escolhi um conjunto, um casaquinho com botões dourados e saia, ambos brancos. Parei na frente do móvel no centro do closet, olhando pelo vidro para decidir quais acessórios usar. Meu olhar parou na gargantilha de ouro que Henry havia me dado de presente ontem. O jantar foi bem agradável, apesar de eu ter ido obrigada pelo meu pai, o Green é um garoto muito bonito e legal, merece encontrar alguém que goste dele de verdade. Mais para a direita, vi o colar choker e brincos dourados que Hyunjin me deu uns anos atrás, ficaria perfeito com a roupa que escolhi. 

Eu já estava praticamente pronta quando escutei a campainha tocar, saí do quarto e fui em direção à sala de estar, me deparando com as minhas duas pessoas preferidas no mundo. Não consegui conter meu sorriso enorme.

— Vovó! Vovô! Vocês vieram! — corri para abraçar os dois, sendo retribuída instantaneamente.

Já fazia mais de um ano que não os via, eles moram em Jeju, numa casa linda com vista para o mar. Tenho muitas saudades das férias que passei lá com minha mãe.

— Feliz aniversário, minha pequena Jiwoo — minha avó disse, sorrindo enquanto segurava minha mão.

— Parece que foi ontem que você era uma bebezinha, você cresceu tão rápido — foi a vez do meu avô falar, deixando um beijo no topo da minha cabeça — Está cada dia mais parecida com sua mãe.

Olhei para o lado, a Sra. Jeon nos olhava sorridente, concordando com a fala de meu avô. Eu os agradeci, com as bochechas já doloridas de tanto sorrir. 

— Já tem planos para o seu aniversário ou quer sair com esse casal de velhos pra jantar? 

— Não existiria plano melhor que esse, vó! — exclamei, animada.

— Ótimo, porque acho que você vai querer usar seu presente agora mesmo.

— Eu ouvi a palavra presente? — eu não fazia nem ideia que meu pai estava em casa até ele aparecer vindo do escritório da mansão — Oh, meus sogros estão aqui, a que devo a honra?

Meus avós se entreolharam, é claro que ele não se lembrava. 

— É aniversário da sua filha — meu avô disse, sua voz soou ríspida pela primeira vez. Meu pai pigarreou, tomando um gole do whisky que trazia em sua mão.

— É claro que eu estava só brincando. Nunca me esqueço do aniversário da minha Jiwoo. Né, filha? 

Eu não respondi, apenas ignorei sua fala. Meu pai nunca se importou com isso, ele nem sequer gosta da presença dos meus avós maternos, se fosse por ele, eu já teria cortado os laços com os dois há muito tempo, tudo porque eles são contra a forma que meu pai sempre agiu com minha mãe e agora comigo. 

— Bom, nós já estávamos de saída. Imagino que o senhor não vá se juntar a nós, certo?

— Agradeço pelo convite, mas tenho uma reunião com o seu futuro sogro — revirei os olhos, me virando para sair — Espere, Jiwoo! Pra que tanta pressa? Me deixe pelo menos buscar o seu presente no escritório.

Eu não me surpreendi quando ele mencionou um presente. Quando se trata de coisas materiais, Kim Taesoo nunca deixou de me dar nada, mas eu realmente não consigo me lembrar de uma única vez que ele tenha ido ver uma apresentação minha na escola. Uma das funcionárias da cozinha serviu bebidas aos meus avós e os dois se sentaram no sofá, eu não consegui nem me sentar, queria sair dali o mais rápido possível.

Permaneci parada mesmo depois de ver que meu pai voltava, caminhando em minha direção com um envelope preto nas mãos. O tamanho era de uma folha de sulfite.

— Aqui está, Jiwoo. Abra — me estendeu o envelope, eu o peguei, tirando o papel de dentro.

— São ações da empresa — constatei, mesmo sem acreditar muito no que estava escrito. 

— Está dando ações para Jiwoo?! — meu avô pareceu não acreditar também.

— É isso mesmo — o Kim sorriu de lado. Eu continuei lendo o documento até entender finalmente o que estava acontecendo.

— Eu só tenho direito às ações se me casar com o filho dos Green? — esbravejei, olhando indignada para o homem. 

— Qual o problema? Esse é o melhor para todos, Jiwoo. 

— Eu não vou me casar com o Henry — respondi pausadamente, quase sem expressão na voz. Amassei o papel e joguei com força no chão. Nesse momento, vi Han chegando na sala, se curvando em uma reverência profunda para todos ali.

— Você não tem escolha — ele me fuzilou com o olhar. Eu estava quase derrubando as lágrimas que tentava segurar quando uma sombra surgiu no meio de nós dois. Jisung estava ali.

— Com licença, mas você não estava de saída, Srta. Kim? Eu vim para acompanhá-los.

Ainda escutei meu pai xingar baixo alguma coisa, se apoiando na poltrona mais próxima e contorcendo os lábios de raiva. 

— Tem razão. Vamos sair daqui logo.

[...]

Depois que finalmente me acalmei, minha avó me convenceu que deveríamos continuar a comemoração do meu aniversário. Eu mal acreditei quando, na frente da mansão, meus avós me deram a chave de um SUV. O carro esportivo era alto e tinha rodas grandes; eu adorei assim que bati os olhos. A pintura azul escura da lataria brilhava, e eu não me contive ao sair correndo para entrar no veículo. 

Nós quatro fomos ao meu restaurante preferido. Hyunjin se juntou a nós um pouco mais tarde e comemoramos juntos a noite inteira, ele também sente muita falta do vovô e da vovó. Apesar de ter negado algumas vezes, Han Jisung acabou cedendo e se sentando para jantar conosco depois de eu ter dito que ele não podia negar isso à aniversariante. Mesmo com todos os problemas, a noite foi muito agradável e eu não poderia estar mais feliz. Quando nos despedimos já eram quase 11 da noite. Meus avós foram embora com Hyunjin, passariam a noite na casa dos meus tios e iriam embora pela manhã. No final da noite só restava Jisung e eu. 

Dirigi de volta para casa com Han sentado no banco do carona. Dessa vez, eu não tinha bebido nem mesmo uma única gota de álcool, então não haveria motivo para nenhum tipo de confusão ou mal entendido com o guarda-costas. Quando chegamos na mansão, o manobrista entrou no carro para guardá-lo e eu caminhei para dentro ao lado de Han. Esfreguei os braços quando uma brisa fresca passou e senti meus cabelos esvoaçarem. O olhar do garoto estava parado em mim.

Não sei dizer quanto tempo passamos nos olhando, mas sei que foi o suficiente para que eu me arrependesse de ter feito aquilo. Seus olhos eram tão profundos e tão perfurantes ao mesmo tempo que senti como se ele soubesse tudo que eu estava pensando naquele exato momento. Não que eu estivesse pensando em algo que precisasse ser escondido, mas era um pouco assustador como parecia que ele tinha acabado de ler todos os meus pensamentos.

Mordi os lábios ansiosa e caminhei depressa para dentro, tentando esconder minha expressão. Só parei quando cheguei em meu quarto, passando pela porta e a fechando quase totalmente. Deixei apenas um vão aberto para dizer ao garoto que chegou no corredor logo depois de mim:

— Não vou mais sair de casa hoje, então você pode ir descansar. Prometo que não saio daqui — eu já estava prestes a trancar a porta em sua frente quando Jisung a segurou com a mão. Seu rosto ficou bem perto do meu.

— Pode me esperar só um pouco? Tem algo que quero te dar.

Eu apenas assenti sem dizer nada, já era quase meia-noite e o dia havia sido bem longo. Poucos minutos depois, Han voltou; ele passou pela porta que estava apenas encostada enquanto cantava parabéns segurando um pequeno bolo nas mãos. As velas acesas tremeluziam e eu me lembrei na hora de como eram os meus aniversários quando minha mãe era viva. Não existia sensação melhor que essa.

— Sei que tá um pouco em cima da hora, mas o que vale é a intenção — disse depois de cantar, olhando o horário no relógio em seu pulso — Feliz aniversário, Srta. Kim! Vamos, faça um pedido!

Aquele momento foi mágico para mim. Eu não precisava de presentes caros, só precisava daquilo… um gesto de carinho. Fechei meus olhos, desejando ter uma vida feliz com a pessoa que eu escolher para estar ao meu lado no futuro e apaguei as velas. Tenho certeza que meus olhos estavam brilhando quando os abri.

— O que você pediu? — perguntou com um rosto curioso. 

— Só uma coisa boba em que acabei de pensar.

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