♡ 03 ♡

O que meu pai tinha feito me deixou louca. Ele acha que tem direito de colocar um homem desconhecido para me seguir por onde quer que eu vá alegando que isso é pela minha segurança? Isso chega a ser ridículo.

- Então você tá me dizendo que aquele doido olhando pra dentro da nossa sala é o seu guarda-costas? - Seeun olhou para a porta, que tinha uma faixa vertical de vidro por onde era possível ver o lado de fora.

- Sim - suspirei derrotada, me debruçando sobre a mesa -, infelizmente.

- Eu teria mais medo daquilo ali do que de um sequestrador - apontou com a cabeça para a porta. Han Jisung estava com as mãos unidas na frente do corpo e os olhos vazios fixos em mim.

- Nem me fale. Meu pai me trata como um cachorro que ele pode prender na coleira na hora que quer. Ele pode pensar que não, mas eu avanço!

Falei a última parte olhando para Jisung. Pela sua expressão assustada, eu sei que ele leu meus lábios e entendeu muito bem o que eu queria dizer. Em seguida, ele voltou à mesma posição sem emoção de antes.

- Se precisar de ajuda pra se livrar dele, pode contar comigo.

Eu ri do comentário, agradecendo pela ajuda que ela estava me oferecendo. Nós voltamos a prestar atenção na aula em seguida. Yoon Seeun é uma garota simpática que veio do litoral para estudar na capital. Seus pais não são ricos, mas trabalham duro no restaurante de frutos do mar da família para manter Seeun na faculdade enquanto ela não consegue se sustentar sozinha. Ela me disse que a única coisa que a faz suportar a saudade deles é saber que tanto seus pais quanto seus irmãos estão a apoiando, mesmo de longe.

Isso é muito incrível.

Quando decidi o curso que queria fazer, meu sonho sempre foi estudar na Konkuk University, ao contrário de todos os meus colegas de classe do colégio de elite que frequentava, todos eles queriam ir para alguma das três maiores universidades da Coreia, mas eu sempre quis vir pra cá. Claro que meu pai sempre odiou essa ideia, mas também é claro que eu nunca desisti dela, afinal, foi aqui que minha mãe se formou. Ela era uma aluna brilhante de artes visuais e se graduou como melhor da turma; suas exposições eram muito visitadas e seus projetos sempre elogiados, sua carreira teria continuado a ser incrível se ela não tivesse se casado e sido obrigada a parar de trabalhar. Acho que ela se sentiria orgulhosa em saber que escolhi a mesma faculdade que ela, mesmo que em cursos diferentes.

O final da aula chegou sem que eu percebesse, saí da sala acompanhada por Seeun, que disse que sairia para procurar um emprego de meio período em alguma loja de conveniência do campus. Olhei de relance por cima do ombro, conseguia ver o guarda-costas logo atrás da gente, caminhando a apenas dois passos de distância; resolvi ignorá-lo, mas alguns minutos depois a sua perseguição me deu nos nervos.

- Tem mesmo que ficar tão perto? - perguntei, parando repentinamente no meio do corredor. Seeun e Han fizeram o mesmo.

- Desculpe, Srta. Kim, mas tenho que te seguir a pelo menos cinco metros de distância.

Ele me olhava de cima, como se fosse um ser superior; seu semblante permaneceu calmo.

- Ótimo! Então fique a cinco metros. Não ande colado em mim como uma sanguessuga, pode ser? - ele pigarreou, talvez tenha ficado um pouco envergonhado. Era isso que eu queria.

- C-certo - Han gaguejou; vi minha amiga segurar o riso colocando a mão na boca.

A garota e eu continuamos caminhando, agora do lado de fora do prédio de arquitetura, sendo seguidas a alguns metros pelo segurança particular. Bufei irritada.

- Eu devia ir procurar um emprego de meio período com você, Seeunie? - ela gargalhou de minha pergunta.

- Filhas de milionários não precisam de emprego de meio período, Jiwoo.

- Mas pensa como seria bom, eu poderia ir morar com você no dormitório e estaria livre das garras do meu pai - falei baixo, entrelaçando meu braço no da Yoon.

- Por que tá sussurrando? - ela riu, olhando como se me achasse louca.

- Meu pai contratou esse tal Han, ele pode muito bem estar sendo pago pra contar ao meu pai tudo que faço e falo. E eu não quero que ele saiba.

- Tem razão, não dá pra confiar em homem - sussurrou de volta -, vamos dificultar o trabalho dele daqui pra frente.

Depois de passar a tarde inteira trabalhando em uma planta baixa na sala de projetos, eu precisava ir para casa me arrumar. Tinha combinado de jantar com meu melhor amigo e já estava ficando um pouco tarde. Para mim, o tempo tinha passado voando enquanto eu desenhava, mas Jisung parecia acabado depois de ter ficado de pé o dia inteiro me vigiando. Parece que os guardas-costas não podem se sentar durante o expediente, ou então ele apenas gosta de ficar em pé e sofrer com dor no corpo.

Me levantei da cadeira, guardando meus materiais na mochila e a grande folha de papel com minha planta desenhada dentro do tubo de projetos. Han estava me esperando perto da porta, dessa vez do lado de dentro.

- Vou sair pra jantar com meu melhor amigo hoje, você pode ir embora mais cedo.

- Meu expediente só termina depois de te acompanhar até sua casa, Srta. Kim.

- Sério isso? - contorci os lábios em desgosto - Estou te dando a noite de folga e nem assim você larga do meu pé?

Talvez ele tenha pensado que era uma pergunta retórica, porque não me respondeu. Continuei meu caminho como se ele não existisse, passei em casa para tomar um banho e esperei meu melhor amigo me buscar. O caminho foi extremamente desconfortável. Eu estava sentada no banco da frente, ao lado de Hyunjin, que dirigia, mas a presença de Jisung sentado bem no meio do banco traseiro me deixou inquieta.

- Então esse é o seu segurança? Ele vai jantar com a gente?

- Guarda-costas - Han corrigiu o outro, que revirou os olhos instantaneamente -, e não, não vou jantar com vocês, estou trabalhando.

- Mala! - Hyunjin falou em meio a uma tosse forjada. Me segurei para não rir.

Mesmo em um ambiente fechado e acompanhada por alguém da minha confiança, Jisung insistia em me vigiar de perto. Hyunjin e eu estávamos sentados na mesa mais afastada da entrada do lugar, conversando e bebendo enquanto nosso pedido não ficava pronto.

- Então seu pai te arranjou um futuro marido finalmente?

- Finalmente? Já faz um século que ele tenta arranjar esses encontros às cegas horríveis pra mim. Dessa vez ele teve sorte, só aceitei porque assim poderia ir pra arquitetura como queria.

- Você devia aceitar de uma vez, sua vida vai ficar muito mais fácil. Só case logo com esse Henry e viva no luxo até morrer.

- Até parece - virei a dose de soju de uma vez -, sabe que não sou submissa igual você.

Hwang Hyunjin e eu somos próximos desde que nascemos praticamente, e pra ser sincera, seria muito difícil encontrar um amigo melhor que ele. Seu pai é um deputado muito importante e ele vem de uma família muito respeitada na sociedade coreana. A única razão para meu pai não ter me prometido em casamento a Hyunjin é porque nós somos primos. Nossas mães são irmãs. Quer dizer... eram.

- Não sou submisso, só gosto de levar uma vida confortável. Não quero problemas com meu pai.

- Aigoo - resmunguei, o encarando com olhos semicerrados - Um dia você ainda vai perceber que é como uma marionete dele, Hyun.

Quando nosso jantar chegou, eu já tinha tomado algumas doses de soju, o suficiente apenas para me fazer perder a vergonha e rir de piadas ruins.

- Aliás, onde o tio Taesoo arrumou esse segurança pra você? - perguntou entre uma mordida e outra.

- Não faço ideia. Se eu soubesse que ele ia contratar alguém pra me vigiar dia e noite eu não teria contado nada sobre o homem que me seguiu naquele dia.

Hyunjin deu de ombros, tomando um gole de refrigerante.

- O que eu sei é que esse cara não tem nem altura pra ser um guarda-costas. Ele sabe lutar pelo menos?

- Boa pergunta - eu ri ao responder, me levantando da mesa em seguida - Já venho, preciso ir ao banheiro.

Ajeitei o cabelo olhando no espelho depois de lavar e secar as mãos. Já me sentia meio tonta pelo álcool que bebi.

- Ya! - levei a mão ao peito, soltando um suspiro assustado ao dar de cara com Jisung do lado de fora.

- Desculpe, não queria te assustar. Eu estava só...

- Fazendo o seu trabalho, eu sei - o cheiro de Han invadiu minhas narinas. Me senti entorpecida por um segundo.

O guarda-costas estava a apenas um passo de distância de mim. Talvez o soju tivesse me batido muito forte, porque eu não achei insuportável a proximidade exagerada dele dessa vez. Olhei para cima, focando em seu rosto. Ele não era tão baixinho assim quanto Hyunjin achava.

- Sim - concordou. Eu nem mesmo me lembrava o que tinha falado antes - E mesmo que eu não seja tão alto quanto seu amigo, garanto que ele não ganharia de mim mesmo se eu estivesse com as duas mãos amarradas.

- O q-que? - minha voz balançou com a sua fala ao mesmo tempo que tropecei em meu próprio pé, cambaleando para trás. Céus, eu devo estar muito bêbada.

- Meu trabalho é cuidar de você - senti suas mãos em meus braços, segurando meu corpo no lugar - E eu sou muito bom no que faço, Srta. Kim.

- Jiwoo. Me chame de Jiwoo.

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