♡ 02 ♡
Já passava das cinco da tarde quando cheguei no grande prédio da empresa de meu pai. Era primavera mas, por alguma razão, o céu se fechou e uma chuva leve caía. Eu caminhava debaixo do guarda-chuva transparente quando a figura de um homem parado a poucos metros chamou minha atenção. Ele aparentava ter por volta de 30 anos e seu rosto estava coberto por uma máscara; por cima da roupa e capuz pretos usava uma capa de chuva e segurava nas mãos um cartaz, já quase arruinado pela água, que pedia justiça por seu pai.
Meu coração se apertou quando vi o nome da Lux Like e em seguida o de meu pai estampados em letras grandes como os responsáveis pela tragédia que aconteceu com o membro de sua família. De vez em quando, ele gritava coisas como "façam justiça, malditos" ou "meu pai não merecia morrer por uma empresa tão suja", e mesmo que ele parecesse fora de si, eu não pude deixar de me compadecer do rapaz. Seus pés estavam encharcados pela chuva e a imagem em minha frente era a mais triste que eu já havia visto em muito tempo.
Me aproximei do homem, parando em sua frente.
— Desculpe me intrometer, mas… o que aconteceu?
Eu realmente não sabia nada sobre isso, mas definitivamente iria descobrir. Se a empresa de meu pai era mesmo culpada, eles fizeram o máximo para esconder da mídia e evitar escândalos.
— Meu pai reclamou por anos que uma das máquinas de produção não era segura, que a fiação antiga podia machucar alguém e nunca foi ouvido. Ele morreu eletrocutado porque aqueles malditos não tiveram coragem de arrumar uma máquina. A vida do meu pai não valia nem um milhão de wons pra eles! — seu tom de voz estava alterado e ele apontava para o prédio atrás de mim sem parar. Aquilo foi como um desabafo. Eu suspirei, olhando para o chão por um instante.
— Sinto muito por sua perda — o encarei novamente, seus olhos estavam marejados — Eu… conheço algumas pessoas na Lux, vou te ajudar no que puder.
— Agradeço por isso, mas falar com qualquer um que trabalha nesse inferno não vai adiantar. São todos demônios! Aliás, o melhor que você pode fazer é se afastar de todos que tenham ligação com essa empresa, eles vão acabar te arrastando pro buraco, assim como fizeram com meu pai e com toda a minha família.
Balancei a cabeça sem ter mais nada pra dizer. O homem havia me deixado sem palavras e tudo que consegui fazer foi deixar meu guarda-chuva em sua mão e sair dali em direção à entrada do prédio. Depois de passar pela porta giratória, prendi o cabelo em um rabo de cavalo, os fios molhados em meu rosto me incomodavam. Suspirei fundo, caminhando com passos pesados até o elevador.
Apesar da minha aparência bagunçada pela chuva, nenhum dos seguranças me impediu de passar, eles sabiam quem eu era. A única que me parou foi a Sra. Yang.
— Srta. Kim, eu entendo que é urgente, mas o Sr. Kim está ocupado, não pode te receber agora.
— Sra. Yang, eu sei que meu pai deve estar apenas jogado naquela cadeira de milhares de dólares enquanto vê as ações da empresa subindo. Isso não é estar ocupado — tentei barganhar, ela fechou os lábios em uma linha — E eu já disse várias vezes, pode me chamar de Jiwoo.
— A senhorita é filha do presidente, devo te tratar com a formalidade adequada.
— Por favor, me chama de Jiwoo! — teimei, como uma criança fazendo birra. A secretária tinha pelo menos 50 anos, eu quem devia respeito a ela.
— Srta. Jiwoo é o máximo que consigo — ela cruzou as mãos em cima da escrivaninha.
— Fechado! Já é alguma coisa — lancei uma piscadela para a mulher — Agora eu vou ver meu pai — informei, já com as mãos na porta do escritório —, mas não se preocupe, vou dizer que você tentou me impedir e eu te bati até me deixar passar.
Ela suspirou derrotada e eu passei pela grande porta, pigarreando para chamar a atenção do mais velho, que estava virado de costas para a entrada. Bati a porta atrás de mim, vendo-o se virar em minha direção.
— Não sabe mais bater, Jiwoo?
— Eu bati, mas você não escutou — menti, e ele pareceu duvidar de sua audição — Escuta pai, tem um homem lá fora e…
— Céus, Jiwoo, você está uma bagunça! — ele tirou os óculos de leitura para me encarar — O dinheiro que te dou não é o suficiente pra você se arrumar de um jeito decente? Se o filho dos Green te vir assim, não vai querer se casar com você.
— Ótimo, porque não quero me casar com ele — meu pai me fuzilou com o olhar; levantei os braços em rendição por um momento, não era sobre aquilo que eu queria falar — Como eu ia dizendo, tem um rapaz protestando lá fora. O pai dele morreu eletrocutado por uma máquina da sua empresa…
— Nossa empresa, Jiwoo. Pare de falar com esse desdém de algo que vai ser seu um dia — ele se encostou melhor na cadeira de couro giratória — Não sei o que você viu ou ouviu, mas não se meta nisso.
— Eu já me meti. Falei pra ele que vou ajudar, aquele homem precisa de justiça.
Me assustei com o tapa forte que meu pai deu contra a mesa.
— Quantas vezes já te disse pra não se meter em assuntos que não são da sua conta? Se esse homem descobrir que é minha filha, ele vai atrás de você, Jiwoo. Você não pode ser tão irresponsável assim! Sabe quantas pessoas odeiam nossa família por causa do meu sucesso?!
Eu pisquei algumas vezes tentando me recuperar do susto e assimilar toda aquela conversa.
— Desculpe, pai, mas o ódio das pessoas não é por causa do seu sucesso.
[...]
Eu estava deitada em meu quarto, me revirando de um lado para o outro do colchão. Não tinha dormido nada a noite e quando a manhã chegou parecia que um caminhão havia me atropelado. Meus pensamentos não me deixavam em paz, e eu só queria ter o poder de apagar o que havia acontecido com uma borracha. Olhei o visor do celular, eram 8h40 da manhã. Dei graças aos céus me dando conta que era sábado e eu não precisava ir para a faculdade.
A governanta da mansão, Sra. Jeon, veio até meu quarto e bateu na porta antes de entrar. Fiquei feliz com sua chegada, ficar sozinha estava sendo um tormento desde ontem a noite e, a mulher, que trabalha em nossa casa desde que eu era um bebê, é a única que me trata com carinho aqui.
— Tem alguém querendo te ver lá embaixo, Jiwoo. É o Sr. Henry.
Me cobri com o edredom, resmungando. Não queria vê-lo. A governanta veio até mim, me tirando debaixo das cobertas.
— Ele está preocupado com você, querida, vá até lá um pouquinho, ele está te esperando.
Mesmo relutante, acatei o conselho da Sra. Jeon, escovei os dentes e desci, ainda de pijama, para falar com Henry. Ele estava sentado no sofá, mas se levantou assim que me viu. Seu rosto era a definição de preocupação.
— Jiwoo! Seu pai me contou o que aconteceu! Você tá bem?!
— Eu tô bem, foi só um susto mesmo.
Na noite anterior, eu saí de casa por volta das oito, precisava tomar um ar fresco. Não fui muito longe, apenas caminhei até a loja de conveniência mais próxima e entrei para pegar uma bebida. Me lembro de ter dado poucos passos depois de sair da loja quando senti que estava sendo observada, olhei para os lados pensando que podia ser Henry, assim como da vez que ele foi me procurar na faculdade, mas não vi ninguém. Apertei o passo na direção de casa, mas a sensação de estar sendo perseguida não foi embora. Olhei para trás enquanto andava bem rápido, vi de relance um homem vestido de preto, boné e máscara da mesma cor. Ele estava me seguindo. Meu coração disparou e eu derrubei a bebida que estava segurando antes. Por sorte, um vizinho passou de carro na mesma hora, tapando a visão que o homem tinha de mim. Eu corri até em casa e entrei.
— Tem certeza? Eu posso te levar ao hospital se você quiser…
— Tá tudo bem, Henry, eu não me machuquei — abri os braços mostrando que estava inteira. Ele sorriu aliviado.
— Escuta, Jiwoo, seu pai me disse que-
No mesmo instante em que o Green abriu a boca, meu pai surgiu, vindo da entrada da mansão. Pelo barulho dos passos eu sabia que ele não estava sozinho, e isso se concretizou quando o mais velho surgiu na sala de estar. Caminhando do seu lado direito estava o secretário Cho, como sempre, mas não entendi a presença do homem desconhecido que vinha do seu lado esquerdo.
— Não podia ter se vestido de um jeito mais adequado pra sair do seu quarto, Jiwoo? Ainda está de pijamas.
Olhei para baixo, vendo minha própria roupa e me encolhi em vergonha. Não pelo meu pai ou o Sr. Cho, mas eu nunca tinha visto o outro rapaz que estava com eles, me senti envergonhada.
— Enfim, o que tenho pra dizer é rápido, então logo você pode voltar ao seu quarto ou fazer o que quiser — meu pai ajeitou as mangas do terno, como se estivesse se aprontando para fazer um anúncio — Eu já devia ter feito isso há muito tempo, mas depois do que aconteceu com você ontem a noite, não posso mais fechar meus olhos pra isso.
— O que você quer dizer com isso? — eu estava ficando apreensiva com o rumo da conversa. Olhei para Henry para tentar encontrar alguma pista do que estava havendo, mas ele estava parado de cabeça baixa em uma reverência leve ao meu pai.
— O que eu quero dizer com isso? — o mais velho fez um gesto para o homem desconhecido dar um passo à frente, que obedeceu — Jiwoo, de agora em diante esse é o seu guarda-costas, Han Jisung.
Meu olhar parou no rapaz, ele tinha uma expressão inabalável, como se não pudesse ter sentimento algum. Pra ser sincera, eu acho até que ele nem estava olhando para mim, apenas fez uma reverência profunda e voltou a olhar para um ponto qualquer dos móveis atrás de mim.
Fechei os olhos e respirei fundo por um segundo. Eu não podia dizer aquilo em voz alta então me segurei e apenas resmunguei baixo:
— Aish, você só pode ter enlouquecido, Kim Taesoo.
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