♡ 01 ♡

O restaurante do hotel seis estrelas era deslumbrante, eu saí do elevador encantada com a visão noturna da cidade vista dali. Mesmo nas reuniões mais importantes de meu pai com seus principais parceiros de negócios, eu nunca tinha estado aqui, mas Henry fez questão de me trazer para jantar na cobertura mais luxuosa de toda a Coreia do Sul.

Depois de sermos conduzidos até a melhor mesa do lugar e entregar meu casaco para o funcionário do restaurante, Henry puxou a cadeira para que eu me sentasse. Agradeci o gesto, mesmo que eu não estivesse ali por vontade própria. 

O encontro às cegas, arranjado pelo meu pai, era mais uma de suas tentativas de negócio com um grande empresário estadunidense, porque não é suficiente para ele ser o dono e presidente da maior empresa de cosméticos do país, ele ainda ambiciona muito mais. E nada melhor para ele do que firmar uma parceria com a maior fornecedora de insumos para a indústria cosmética dos Estados Unidos, assim, a entrada no mercado ocidental será muito mais tranquila, segundo ele.

Permaneci em silêncio ao me sentar. Tudo que eu sabia sobre aquele homem era o que o secretário Cho tinha me informado por uma folha de papel com a ficha do meu "pretendente". De repente, o silêncio começou a me incomodar, então o quebrei.

— Sua família deve estar muito interessada na Lux Like pra te fazer voar da América até aqui pra um encontro às cegas. 

— Na verdade, eu vim pra ficar por um tempo e estudar...

Ele sorriu sem graça. Quase me senti mal por ter feito aquela suposição.

— Me deixe me apresentar primeiro. Henry Green — ele estendeu a mão para me cumprimentar — É um grande prazer te conhecer, Srta... 

— Kim Jiwoo — me curvei brevemente, apertando sua mão — Dispenso o senhorita. 

Henry Green era um rapaz alto e bonito, seus cabelos castanhos estavam bem arrumados e o blazer azul escuro caía perfeitamente bem em seu corpo. 

— Vamos dispensar as formalidades, já que temos a mesma idade, então? — ele sorriu largo, seu rosto ficou parecido com o de um filhote de cachorro.

— Tudo bem, eu realmente não me preocupo com esse tipo de coisa. Então, vamos pedir? 

Eu nem sequer havia olhado o cardápio, mas queria acabar com aquilo o mais rápido possível. Pedimos o menu recomendado pelo chef e jantamos, praticamente em silêncio a noite toda. Nem o vinho servido foi capaz de me fazer falar com ele mais que apenas o essencial. 

Estar ali me fazia sentir como se não tivesse controle sobre minha própria vida. Desde que terminei o colégio, meu pai tem me obrigado a ir em encontros como esses porque eu me recusei a ir pra faculdade que ele queria. Ser uma promotora não era nem de longe o que eu desejava, e eu não iria cursar Direito apenas pela pressão do mais velho. Ter alguém de confiança na promotoria facilitaria muito as coisas para ele quando problemas surgissem. Ele queria alguém para apagar o fogo quando suas ações o fizessem entrar em apuros.

"Se não quer ser promotora, vai se casar com o marido que eu escolher" 

As palavras que meu pai disse naquele dia ainda latejavam em minha cabeça. Tenho fugido desses encontros arranjados repetidamente há um ano, sempre arrumando desculpas sobre a personalidade dos candidatos ou dando um jeito de escapar de um jantar enquanto finjo estar doente. 

Sem minha mãe aqui, agora eu era a única que podia cuidar de mim mesma.

Não eram nem nove da noite quando Henry me deixou em casa. O Green abriu a porta do carro e segurou minha mão para me ajudar a descer antes de me cumprimentar. 

— Isso pode soar meio egoísta, porque sei que você não queria ter ido a esse jantar, mas eu realmente gostei muito de hoje. Será que… da próxima vez..? 

— Desculpa, Henry, mas não acho que vai rolar uma próxima vez — apertei os lábios em uma linha — Obrigada pelo jantar. 

Entrei em casa segurando os saltos na mão. Queria ir diretamente para o meu quarto, mas tinha que passar em um lugar antes. Bati na grande porta dupla de madeira apenas por costume, pois entrei antes mesmo de receber permissão. 

— Chegou cedo, Jiwoo — ele girou na cadeira do escritório para me olhar — Como foi o encontro? Gostou do filho dos Green?

— E isso realmente importa? — soltei uma risada nasal — Eu gostando dele ou não, você vai continuar fazendo só o que favorece sua empresa, então vamos passar a parte do papo furado e ir ao que interessa. 

Meu pai se levantou, segurando o copo de whisky que tomava antes de eu entrar na sala. Apesar de parecer decidida, eu engoli em seco quando ele se aproximou.

— E o que é que interessa? 

— Minha faculdade. Você prometeu que me deixaria cursar arquitetura se eu fosse a esse jantar. 

— Primeiro preciso saber se o encontro correu bem. Eu disse que te deixaria fazer esse curso ridículo se o acordo com os Green der certo. O noivado de vocês faz parte disso.

Revirei os olhos, soprando pelo nariz novamente. Se isso era tão importante para o meu pai a ponto dele finalmente ceder e me deixar ir para a faculdade que eu queria, eu podia tirar proveito disso.

— Tô vendo que esse acordo é mesmo muito importante pra você, papai. Nesse caso, diga ao Sr. Cho pra resolver tudo na faculdade e me matricular amanhã mesmo se quiser que eu veja esse tal de Henry mais uma vez.

[...]

Quase dois meses se passaram depois do meu primeiro jantar com Henry Green. A primavera estava em seu auge e as cerejeiras estavam carregadas de flores por todo lugar. Assim como a primavera, meu bom humor também estava em seu auge, porque agora eu era uma caloura do curso de arquitetura. Eu caminhava pela rua cercada dos dois lados pelas lindas árvores que pintavam o lugar de rosa nos arredores do campus enquanto tomava meu ice americano quando minha atenção foi tomada.

— Ei, Jiwoo! — a garota correu em minha direção com o braço erguido.

— Oi! — cumprimentei sorrindo — Você chegou cedo!

Era Yoon Seeun, minha colega de classe mais próxima. Na verdade, eu diria até que já podemos nos considerar amigas, mesmo que a gente tenha se conhecido há dois meses apenas. 

— Não mais do que você — a garota estava ofegante por ter corrido para me alcançar — Eu precisava passar em um lugar, então saí mais cedo do dormitório. Mas e você? Sempre chega esse horário? 

— Praticamente — vi seu rosto adquirir uma expressão julgadora, mas eu podia entender. Ninguém mentalmente saudável perde horas preciosas de sono só para chegar mais cedo na faculdade. Tratei de me explicar: —  É que eu gosto de desenhar na sala de projetos.

Isso era verdade. Eu poderia passar o dia inteiro desenhando e não me cansaria nunca, e ficar na sala de projetos é como um refúgio para mim. A definição de lar que eu tenho com certeza não é mais a mesma desde que perdi minha mãe. Sem ela por perto pra me proteger, minha casa se tornou só um lugar cheio de imposições e vazio de afeto. E é por isso que eu me sinto tão bem quando estou desenhando. Minha mãe era uma desenhista espetacular. Agora, cada traço que faço no papel, é como estar mais perto dela, como se não estivéssemos separadas por dimensões diferentes. 

Seeun deu de ombros, saltitando em minha frente na direção do edifício do curso de arquitetura.

— Hum, eu também gosto de desenhar, mas não mais do que gosto dormir.

Mais tarde, depois da aula, estava dando uma volta no campus com destino à biblioteca, pelo sistema de consulta descobri que eles tinham um livro que estava louca para ler. Estava prestes a subir as escadas do prédio quando senti que estava sendo observada; olhei para trás, vendo apenas os olhos do homem que tinha o rosto escondido por um buquê de tulipas brancas. 

— Elas significam perdão — Henry estendeu as flores para mim — Não quero que saia comigo quando sei que está sendo obrigada a fazer isso, Jiwoo. Sinto muito por aquele encontro.

Depois daquele jantar terrível arranjado pelo meu pai, eu nunca mais havia trocado uma única palavra com Henry. De alguma forma, ele conseguiu meu número, mas eu ignorei todas as suas mensagens e ligações. Talvez isso o tenha feito vir até aqui hoje.

Me aproximei lentamente, pegando o buquê de sua mão. O Green pareceu sincero, então resolvi aceitar. 

— Tudo bem, a culpa maior é do meu pai — ele coçou a nuca timidamente —, se não fosse com você, aquele jantar teria sido com outro. É difícil escapar.

— Posso te pagar uma refeição? Faz parte do pedido de desculpas, prometo — sorriu, fazendo uma figa com os dedos.

Eu sabia que o rapaz estava sendo verdadeiramente gentil, mas ainda assim não queria me aproximar dele. Isso é tudo o que o meu pai quer. E tudo o que meu pai quer, é o que eu menos quero.

— Obrigada pelo convite, Henry, mas vou ter que recusar.

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