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Presente
Novembro,2017

O dia estava horrível. Adicione "tomar um banho de enxurrada" a "ser quase atropelada por um motoqueiro com cara de maníaco" e logo depois "derrubar um copo de café fervendo em sua camisa rosa brilhante e nova." Fórmula para o dia perfeito.

Se havia alguma coisa de que Aurora tinha certeza absoluta é que a Lei de Murphy era completamente verdade.

Se algo tivesse alguma chance de dar errado na vida dela, com certeza daria.

Tinha aprendido isso anos atrás, e nunca esqueceria.

Chegou atrasada na editora. É óbvio que o posto de secretaria não era o melhor do mundo, mas ela adorava. Depois do desastre que a fez desistir de seu sonho como psicóloga, ela fez o que pôde para conseguir uma carreira boa (que poderia ser melhor, mas não vamos começar a reclamar) e conseguiu se reeguer mesmo com as adversidades.

Era um emprego ótimo. Aurora era boa no que fazia e conquistou vários amigos durante os 3 anos de serviço. Agora, uma chance de subir de cargo havia aparecido e ela lutaria com unhas e dentes pra conquista- lo.

__ bom dia Kat. __ passou pela mesa de sua melhor amiga e foi em direção a sua, do outro lado da sala.

__ já sabe da novidade? __ disse Kat.

__ hummm.... Algum autor de livros eróticos novo? Toda semana aparecem uns 10 e...

__ não. __ Kat riu. __ não sei por que se incomoda.... Que eu saiba você adora ler...

__ não disse que me incomodo. Vamos lá, me conte.. o que é então?

__ temos um novo sócio. Parece que é um cara bom nos negócios. __ colocou o pé com um salto vermelho sobre a mesa e continuou: __ Reed disse que é um gato.

Aurora revirou os olhos.

__ Reed diz isso de todos.

__ não sei naoo... de qualquer forma, Shay vai fazer uma reunião as 13h com todo o pessoal.

__ todo o pessoal... __ fez um gesto para envolve-las __ isso inclui a gente?

Kat bufou. Odiava socializar e acredite, todos da empresa sabiam muito bem desse fato.

__ sim. Parece que querem mudar alguma coisa que envolve todo mundo.

Okay. Isso era novo, pensou Aurora. Shay, formalmente conhecido com Shaylin Lloyd, era o dono da Cedric Books, a maior editora de Zanesville. Isso era novo pois Shay normalmente não gostava de mudanças. Era aquele tipo de chefe que só fazia as coisas de seu próprio jeito e não dava ouvidos pra ninguém. Foi realmente um milagre a Cedric ter durado todos esses 10 anos nas mãos dele.

Pra esse novo sócio mudar a cabeça de Shay assim, algo bem importante deveria estar acontecendo.

...

Aurora não gostava de lugares com muita gente. Tinha o costume de pensar que não era exatamente uma fobia mas na verdade... Sim, era. Um medo que foi criado na época da faculdade, quando deixou de confiar em qualquer pessoa. Resumindo, a pior fase de sua vida.

Então, quando o relógio bateu 12:55 ela caminhou até a presidência com o coração batendo rápido. Entrou na sala e escolheu seu lugar ao fundo do restante, de forma que não fosse vista diretamente. Qual seria o assunto daquela reunião? Nada tirava de sua cabeça que seria algo sério.... E se a empresa fosse fechar? Era uma das alternativas. Aurora sabia que as vendas tinham despencado nos últimos anos. Eles tinham tentado dar a volta por cima com ebooks, inovação e propagandas voltadas aos jovens, mas mesmo assim o crescimento foi quase insignificante. Se a empresa fosse fechar e ela fosse mandada embora... O que faria?

Seu coração acelerou novamente. Estava surtando atoa. Fechou os olhos e respirou 1, 2, 3 vezes. Quando voltou a realidade percebeu que Shay já estava fazendo seu monólogo. Será que ela tinha perdido algo importante? Provavelmente não. Ainda eram 13:07.

De seu lugar podia ver seu chefe, mas tinha alguém do lado dele que estava somente com a mão visível e o resto do corpo tampado pelos outros funcionários.

__...novas direções. Pra isso eu trouxe uma pessoa nova que acho que pode nos ajudar com isso. __ fez um gesto com a mão para que o outro homem se levantasse junto com ele.

__ senhoras e senhores, este é Kyle Lloyd. Mais conhecido como celebridade no mundo dos negócios e também por ser meu irmãozinho mais novo.

De repente o silêncio ficou mais mortal que nunca. Irmãozinho? Ninguém ali ao menos sabia que Shay tinha um irmão, e o pensamento de que ele fosse reformular a empresa com seu irmão não era nada parecido com o jeito que normalmente agia. Aurora estava realmente prestando atenção? Tudo parecia tão improvável que...

__ ele nos ajudará nessa nova fase. Estou confiante e espero que vocês também! Vamos brindar à nova Cedric!

Nesse exato momento o sócio - kyle, irmão de Shay- levantou de sua cadeira e sorriu para todos.
Seu rosto estava virado mas ainda assim Aurora notou o quanto os dois eram parecidos. Ele começou um pequeno discurso enquanto virava o rosto lentamente para olhar para todos os presentes ali.

__ estou muito feliz em ter essa chance para trabalhar com vocês. Como bem sabem, essa editora está em nossa família há sete décadas e depois de tudo...__ quando seus olhos encontraram os de Aurora, ele congelou.

Surpresa. Felicidade. Arrependimento. Medo.

Aurora viu todos esses sentimentos se misturando nele, mas não compreendeu. Em questão de segundos a taça que estava em suas mãos caiu no chão. Ele nem mesmo notou. Continuou parado sem piscar olhando-a, como se ela fosse um fantasma.

Quando ele sussurrou o nome dela, de alguma forma, ela soube.

Kyle.

Ele estava mais forte e seus cabelos mais curtos, mas agora que ela sabia, tudo fazia sentido. De repente, teve vontade de vomitar o Cheeseburger que havia comido no almoço. Isso não estava acontecendo. Isso... Não.

Todos a estavam olhando.

Sua voz não soou como sua quando ela deu meia volta e pediu licença para sair. Se não fugisse dali naquele momento iria cair desmaiada no chão.

E com certeza não queria fazer isso na frente dele.

Escutou o barulho dos saltos batendo no chão, assim como Kat a chamando, mas não podia parar.

Como? Como ele a tinha encontrado?

E como ousou ficar com aquela cara de bobo alegre depois de tudo o que tinha feito?

Estava segurando as lágrimas. Não iria chorar. Não iria. Não é porque um filho da puta destruiu sua vida que você fica anos remoendo os acontecimentos.

Só tinha um porém. Isso era exatamente o que ela havia feito.

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