os repentistas

- Só isso?? É tudo o que consegue? - se ele não gastasse tudo em cerveja duraria mais - Nosso pula-pula não é o maior você tem que fazer algo para atrair a clientela! Não seja mais inútil.

Inútil? Porque era muito útil um homem bêbado que batia na esposa, só criava dívidas e saía com várias mulheres.

- Que seja - disse num sussurro que não passou despercebido pelo pai.

- Como é que é? - apertou o seu braço forte para que ficasse marcado na pele morena - Você sabe o que acontece quando me desobedece.

Fedendo cachaça ele a olhou de cima a baixo e soltou um sorriso nojento.

- Tô achando que você está fazendo de propósito. É que nem a mãe.

O queixo dela trincou enquanto ele se afastava gargalhando. Não gostava nada de se lembrar das vezes - várias e várias - em que foi entregue para caras. Caras, rostos, corpos, com certeza não eram humanos. Eram apenas caras.

Se pelo menos o dinheiro fosse para a sua mãe...

Não podia perder o tempo sentindo raiva. Tinha que trabalhar. Esse era o foco. Foco. Foco. Foco.

Os repentistas andaram para mais perto dela. Pelo menos era nisso que ela colocava a culpa por ter se distraído tão fácil.

- Ele queria mostrar

Quem é que manda

Faz coxo andar

Levanta o humilhado

E escolhe quem tá prostrado - cantou o moreno lascando com toda estratégia da garota de trabalhar.

- Resolveu lavar o imundo

Perdoar todo o mundo

Com o seu amor profundo

E todo o defunto

Pode ressuscitar

Para testemunhar.

- E esse amor

Me fez largar

Tudo que me afastar

Do criador

Não tenho religião

Tenho é a salvação

Como norte da vida

E única saída

Do mundo de perdição.

Ela queria até acreditar nesse amor tão grande que os rapazes afirmavam existir. Mas a vida dela era totalmente incompatível com aquela mensagem.

Não seria salva. O único amor possível era o materno e o fraterno e, infelizmente, eles não estavam surtindo muito efeito. Nenhum deus parecia preocupado com isso. Essa era a verdade.

Os rapazes pararam com a rima e aumentaram o ritmo do pandeiro o que gerou gritos de animação dos que rodeavam.

- E olha que menina bela

Aquela de blusa amarela

Dá pra ver no rosto dela

Que gostou do nosso repente

E vai contá pros parente

A história do rei diferente.

Chegaram perto da menina de blusa amarela que ficou toda tímida quando entoaram gritos.

O moreno retomou e deixou todos de queixos caídos, como podia tão jovens e tão bons?

- E o moço tá gostando

Já tá nos filmando

Vai colocar no Youtube

E a mensagem vai espalhando

E todo mundo vai escutando

O repente que tô improvisando.

Em meio a risadas das pessoas, o olhar do garoto se encontrou com o da garota e ela sentiu que seria a próxima.

Na verdade, o que a garota sentiu foi um medo misturado com vergonha.

Por favor, não me escolhe.

O moreno cutucou o seu parceiro e quando ele olhou para a garota sorriu.

Será que eu me sujei? Ou algum pássaro... Ah, não!

O batuque do pandeiro interrompeu seus pensamentos. Os rapazes se aproximaram dela e começaram a improvisar.

- A moça do pula-pula

Também deu atenção

Não fique de cara fechada

Solte logo uma risada

Abra aquele sorrisão

Pra bambear meu coração.

Contrariando todo o esforço que ela estava fazendo, sua musculatura desobediente se alongou formando um sorriso tímido.

Agora entendi aqueles sorrisos. Típico.

- Quero te dar felicidade

Felicidade de verdade

Que vem para toda idade

Cheia de simplicidade

E não é pela metade.

Uma pena que ela não precisava de homem nenhum para viver. Essa felicidade oferecida parecia fajuta e transpareceu na cara de descrença da moça.

O menino que não era bobo, percebeu o mal entendido. Sempre tinha essa dificuldade de falar do Amor sem que parecesse uma cantada barata.

- Não tenha mal entendido

Esse Amor não vem de mim

Eu sou alguém ruim

O Amor que salva o perdido

Me deixou remido

O mesmo já não sou

Ele me libertou

E agora posso cantar.

Aquelas palavras, o sotaque e o ritmo aqueceram o coração da garota, mesmo que ela não acreditasse totalmente em tudo que foi dito.

Uma sensação gostosa que só vendo. As crianças que estavam no brinquedo aproveitaram a distração da garota e pularam até que ela percebesse que o tempo tinha esgotado.

A dupla continuou cantando e brincando com outras pessoas e crianças. Ela ria quando viu o rosto sério do seu pai do outro lado.

Aquilo serviu de estímulo para que esquecesse a alegria do pandeiro e focasse no trabalho.

Estava tão concentrada no ofício que nem percebeu que a chamavam. Só notou quando tocaram em seu ombro.

Todos os seus músculos retesaram pensando que era seu pai. O alívio foi imediato quando constatou que na verdade eram os cantores com seus instrumentos.

- Olá, meu nome é João - se apresentou o mais moreno - e esse palhaço aqui é o Paulo.

Aproveitando a deixa o loiro se curvou em uma reverência.

- É um prazer conhecê-los - já ia completar que não podia conversar e que era melhor eles sumirem se não quisessem encarar o seu pai, porém foi interrompida.

- E você? Qual é a sua graça?

- Juno.

OOOOOOI 

o que vocês tão achando? porque eu tô super ansiosa para saber.

esse livro foi um dos que eu mais me dediquei e deve ser por isso que tô nervosa pelo retorno, então não sejam tímidos!!!! Comentem e votem porque isso me inspira a escrever mais <3

toda segunda e quarta teremos capítulo novo e são só cinco - eu acho - será uma jornada curtinha mas, espero que todos se divirtam e apreciem.

   até mais ver, em francês,  au revoir                            

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