a água
- Vocês conseguem ver essas coisas em tudo. Não sei se consigo enxergar esse amor tão facilmente - Juno afirmou com tristeza olhando para as estrelas.
Afinal, como iria? Chegava a casa para se deparar com sua mãe apanhando e seu pai gastando o dinheiro com bebidas e farra. Seus quatro irmãos escondidos em algum cômodo, juntando todas as forças para não derramar uma lágrima.
João sabia como resolver. Ele estava ali para isto: mostrar a face do Amor quando nada o faz. Vivia assim e acreditava que só assim poderia viver.
- Eu também não, mas é uma questão de escolha para tudo mudar. Você quer enxergar? - Juno olhou para ele e Paulo que a fitavam. O silêncio foi a resposta.- Existem pessoas que já tem as suas crenças, outras gostam da sua vida como está. E sobre elas eu não posso fazer nada, não posso obrigá-las, não seria por amor. Mas, as que querem...
- Eu quero.
A garota mal tinha se escutado. Não estava preparada para uma resposta repentina. Aparentemente todo o seu ser necessitava de uma mudança repentina por isso, não a consultaram antes de falar qualquer coisa.
Pelo menos era isso o que Juno pensava quando João segurou a sua mão e saiu correndo feito um louco. Mais repentino que a fala dela. O que a assustou e a fez frear antes que garoto a levasse para qualquer lugar.
- Tá maluco? Eu tenho que cuidar do pula-pula - Deus tenha misericórdia! Será que seu pai tinha visto essa cena ou ela conversando com os rapazes? Era o fim dela.
- Achei ele bem grandinho, não consegue se cuidar sozinho? - João recebeu um tapa na nuca como resposta. Rindo, gritou - Paulo cuida do pula-pula.
Nervosa e com medo continuou sendo levada pelo menino, olhou assustada para o pula-pula e escutou Paulo batucando o pandeiro e o início de uma rima improvisada.
Com dois conto na mão
Cinco minutos de diversão
Só não dá mais alegria
Que Jesus no coração
Não conteve uma risada. Como poderia caber tanta criatividade em uma pessoa só?
Parou se soltando da mão que lhe puxava.
- Olhe aqui bixim, não ache que pode pegar minha mão e sair me arrastando para "me fazer enxergar o amor". Eu não sou nenhuma quen...
- Prometo ficar em locais com muita gente. Se eu te fizer alguma coisa pode gritar, chamar a polícia e tudo o mais. - estendeu a mão.
Não podia confiar em ninguém, ela sabia por experiência própria. Mas estavam numa festa junina, várias pessoas ao redor. Inclusive seu pai. E se ele visse? A essa hora já deveria estar bêbado, veria até o que não tinha.
- E você é uma deusa, esposa de Zeus. É só ele lançar um raio.
Foi com o missionário.
Chegaram a um barzinho arrumado com som ao vivo, algum MPB.
- Vamos ficar aqui - o menino sentou-se à mesa embaixo de um cajueiro que dava para uma rua movimentada e pediu duas garrafas de água. Só podia ser palhaçada, ir num bar e não pedir uma cerveja gelada.
Juno gostou. Era sempre desconfortável ter que se justificar do porque não bebia. Só de olhar a bebida amarela seu estômago revirava e se lembrava das tristezas que a dita cuja trazia.
Ventava bastante porque estavam em junho e a árvore contribuía mais. Logo, logo seu cabelo estaria todo mal amanhado.
- Está sentindo o vento? - João perguntou, mas não esperou por respostas - Jesus disse que seríamos como o vento, se nascêssemos do Espírito. "Ninguém sabe de onde vem nem para onde vai"... É liberdade, sabe? Não estar preso em nada, em ninguém... Anunciando a vinda da chuva...
Olharam para o céu estrelado que aos pais ia se cobrindo com nuvens alaranjadas. O que ele queria dizer com nascer do Espírito? Que história era aquela de vento? Muitas coisas ainda não se encaixavam na cabeça de Juno. Uma coisa, entretanto, chamava sua atenção.
Liberdade.
Queria ser livre daquela rotina. Livre do seu pai. Livre daquela vida. Queria se soltar. E essa vontade enorme parecia que explodiria a qualquer momento naquela jaula do seu corpo. Por isso, a proposta de nascer do Espírito parecia interessante.
- Aqui está - o garçom colocou as duas garrafas em cima da mesa - cinco reais.
- Eu não tenho dinheiro - sussurrou a jovem.
- Eu sei - sussurrou ao pagar.
Provavelmente foi ali, naquele gesto tão simples que a visão dela começou a voltar.
- Letis gou - disse o rapaz fazendo um movimento com as mãos para que ela se aproximasse. Entregou a garrafa e partiram.
- Eu amo a sensação de beber água quando estamos com sede. O frescor, o alívio. Imagina alguém te falar que não precisará mais de água porque teríamos água jorrando de nós.
Juno olhou para João, desconfiada. Já estava sem entender muita coisa, agora com esse papo de beber água que estava jorrando da gente. A única coisa que ela pensou era em xixi, porém achava difícil que ele se referisse a isso.
- Eu ia falar que o CAPS é aqui perto - Juno disse sincera.
João gargalhou e disse que quem falou aquilo foi Jesus. Agora pronto, era só o que faltava para piorar sua vida: chamar o Filho de Deus de doido. Ela iria descer de tobogã.
- Existia uma mulher. Se casou várias vezes e estava com um homem de outra - explicou pacientemente.
- Vixe - não sabia que na Bíblia tinha uns casos assim.
- Essa mulher se encontrou com Jesus.
Era incrível isso, ele achava. Como Jesus escolhia falar com pessoas que não tinham nada de especial e as mais sujas. Dava ânimo para João porque ele estava longe de ser totalmente limpo.
- Naquela época, mulheres não podiam ficar no mesmo lugar que homens. Porém, uma mulher como ela não podia pegar água no poço no mesmo horário que as outras mulheres - João continuou com muita emoção, parecia que ele esteve lá - Toda vez que ela ia buscar água no horário dos homens todos viam que ela era pecadora. Impura. Suja. Imunda. O maior desejo dela devia ser nunca mais voltar. Aí, aparece um homem falando que ela não precisa mais. Ainda parece loucura?
As coisas começavam a se ajustar na cabeça da jovem. Não era simplesmente a água, nunca é só a água. O buraco sempre é mais fundo. Porém, algumas coisas ainda não se encaixavam, o que seria aquilo de jorrar e como ela não voltaria?
- Seria como você ter uma dor de garganta e um médico disser tome bastante água para curar. E Jesus falar, eu te curo e você não precisará de água.
- Mas, ela parou de beber água assim do nada? Ficou trancafiada em casa? - Juno expressou suas dúvidas.
- Lembra que eu disse que a água trás alívio? Essa mulher procurou alívio em vários homens, nenhum foi suficiente. Jesus tinha o alívio suficiente para ela e para os outros. Porque agora ela seria fonte de alívio para os outros... A vida de mulher na seca atrás de água acabou agora ela seria um rio que levaria água e não teria mais sede...
- Porque ela já tinha o suficiente... - a garota pensou alto - tipo... Tipo, um cacto? Pode tá o calor que for ele tá lá, verdinho, verdinho. E tem água dentro.
- Exatamente assim, você tá esperta! Entendeu rapidinho - João elogiou.
- Não sou como Atenas, é claro, mas dou meus pulos.
Poucos metros a frente tinha uma fogueira e uma galera - pouca, não muito graúda. Alguns sentados no chão escutavam e acompanhavam cantando um forró que saía da sanfona, outros dançavam, até a chama parecia embalada.
Tinha tempo que ela não dançava. Não era das melhores, não, longe disso, mas a sensação do balanço, os giros enquanto o vento brincava com os seus cabelos a acalmavam. Traziam tranquilidade e diversão.
Vendo que a jovem tinha os olhos fixos nos casais, o missionário pensou em alegrá-la com uma dança, apesar de não ter uma coordenação motora muito boa.
- E tu sabes dançar forró? - Juno perguntou olhando desconfiada para o rapaz.
- Não faço a mínima ideia - os dois riram - vamos, só de brincadeira. Você tem cara de quem trabalha demais, é bom distrair a mente.
Ela não perderia aquela oportunidade, não importava com quem dançasse.
gente meu wattpad no celular ficou pagando de doido aí só consegui postar agora
me fala aí o que tão achando? esse é o penúltimo capítulo e eu já tô com saudade.
como que vocês acham que vai terminar?
votem se estiverem gostando, é só clicar na estrelinha
até mais ver, em francês, au revoir
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