Conto 25 - Fim cruel
Desafio: término de namoro
Lena Rossi — Texto baseado no livro: A intérprete — Não postado. Visão do Danilo
Palavras: 1.198
Link:
Heloisa cruzou os braços no peito, nitidamente brava comigo, sua respiração profunda e forte eram a prova disto. Eu não sei o porquê me agrada tanto irritá-la, talvez o fato de ela revidar e não abaixar a cabeça para o que eu falo. Sempre petulante e com a língua afiada. Pois a maioria das pessoas com quem convivo faz exatamente o contrário. A Maika, minha assistente, é a única que ainda consegue bater de frente comigo, mas ela nem conta, pois quase poderia ser minha mãe.
Ela, no entanto, não me dirigiu mais a palavra. Ficou em silêncio até seu celular tocar. E eu, claro, que olhei para o aparelho em seu colo a fim de ver de quem se tratava. A foto de um rapaz apareceu na tela e isso foi algo que me incomodou. Pior ainda foi perceber seu jeito submisso ao falar com ele, tentar justificar a sua ausência naquela noite e ainda não ter ligado por trabalhar até mais tarde. E ele parecia não gostar.
Por mais que eu soubesse que não era da minha conta e uma puta falta de educação, eu fiquei concentrado em sua conversa e ainda pensei que seria melhor que tivesse no viva voz, mas...
— Sei que precisamos conversar, mas não poderá ser hoje — ela tentava dizer em tom mais baixo.
— Sim. Pessoalmente — respondeu, depois de escutar algo. — Não insista, por favor. Resolveremos depois, agora não posso falar.
O que seria o assunto que ela precisava falar? Fiquei mais curioso. E o que mais me estranhava era o seu tom. Onde estava a Heloisa autoritária e atrevida?
— Sim. É sobre nós, mas... — Parava de falar, escutava e tentava continuar. — Não agora. Não por telefone. Não assim... Victor, por favor...
Parei no sinal e aumentei o som da música. Ela me olhou atravessado e abaixou o som novamente. E para atormentá-la eu não resisti. Falei:
— Seu atrevimento é apenas comigo?
Seus olhos se estreitaram em minha direção e eu sorri e conclui:
— Não conhecia este seu lado cordeirinha.
Foi como mexer num vespeiro.
— Victor, cala essa sua boca! Eu queria terminar da forma correta, mas já que você insiste, eu falo agora. Está tudo terminado entre nós. Pronto!
Assustei com sua honestidade e jeito autoritário surgir. Em seguida ela perguntou se ele continuava na linha. Acredito que foi o tempo para ele engolir o fora e começar a famosa DR.
Claro, ele não aceitou aquelas palavras de uma pessoa que até minutos atrás se comportava delicadamente. Eu confesso que adorei. Esta era a minha menina que conhecia.
— Não! Sem conversa! E agora preciso desligar — respondeu, o que quer que seja que ele tenha pedido. — Assim é melhor, não precisamos nos olhar e nem criar mais este mal estar e nem cobranças.
E desligou.
— Quer falar sobre o...
— Cala a boca, Danilo!
Em outra circunstância ela teria descido do carro ali mesmo, mas eu me encontrava feliz com o desfecho daquela ligação. Acredito ainda que fosse culpa minha em provocá-la e fazê-la terminar de forma tão cruel o namoro: grossa e mal educada.
Sorria por dentro.
— Heloisa, eu quero me desculpar, não devia ter dado palpite no seu assunto. Mas não tive como ficar alheio a sua conversa.
— Eu que devo uma explicação e um pedido de desculpa. Por favor, me desculpe por ter falado daquela maneira com o senhor. Eu não deveria...
— Tudo bem! Ambos perdoados. Vamos mudar de assunto.
No caminho eu puxei assunto sobre o seu gosto pela arquitetura e falei um pouco do meu trabalho. Ela pareceu surpresa ao saber que eu antes de ser diretor e presidente fui engenheiro de obras e supervisor. E que sinto falta de acompanhar mais de perto as construções.
Parei em frente à portaria e desafivelei o cinto de segurança.
— Não precisa me acompanhar. Obrigada, senhor Danilo.
— Tire esse senhor, por favor, Heloisa. Eu fico me sentindo com 70 anos.
Ela deu uma risadinha, pois outro dia para me provocar, falou que pareço um centenário. E na hora que eu iria retrucar, uma batida na janela do carro, chamou nossa atenção. Era um rapaz que falava alto.
— É assim que trabalha até tarde, Helô? — perguntou com a voz arrastada, os olhos vermelhos e caídos.
Destranquei a porta e no instante que ela iria abri-la, segurei seu braço.
— É seguro você sair?
Olhou para mim com aqueles grandes olhos um pouco preocupada, mas não vi que se assustava.
— Vou ter uma conversa direito com ele.
— Não acho uma boa ideia. Ele não me parece no seu estado normal.
Ela olhou para fora, ele gesticulava e falava algumas coisas de forma alterada e sabia de que eu falava.
— Obrigada pela preocupação. Vou subir com ele e meus amigos de apartamento estarão lá.
— Tem certeza?
Apenas balançou a cabeça afirmando saiu.
— Vai me dizer que não é o que estou pensando, Helô? — ele perguntou assim que ela desceu do carro.
— Victor, nós vamos subir e conversar lá no apartamento. Sem escândalo aqui na rua. — falou caminhando em direção a portaria.
Ele a puxou com força pelo braço a fazendo voltar em sua direção.
— É assim? Termina comigo daquela maneira e já está com outro?
— Victor! Pare com isso! Ele é o dono da empresa em que faço estágio no qual estou prestando aquele outro trabalho que te falei.
— Seja honesta, Helô! Admita! Quer que eu acredite que estava trabalhando até essa hora?
— É a verdade. Agora acredite se quiser.
— Se você pensa que é assim, está enganada. Não vou acreditar nessa historia. Quero saber a quanto tempo estava me traindo?
— O quê? — Ela virou para ele com ar de indignação. — Se não quiser acreditar, problema seu, Victor. E não tem mais conversa! Pode ir embora. Como já te disse não temos mais nada para nos falar!
Eu de dentro do carro, um pouco mais afastado, apenas os observavam. Desejava que ela entrasse no prédio e o deixasse para fora. Mas ele a puxou novamente e com força. Eu tive que sair do carro e entrar no meio da conversa.
— Não escutou o que ela falou, rapaz? — perguntei — Vaza daqui, antes que eu chame a polícia e você será enquadrado por dois crimes. Violência contra a mulher e uso de substância ilícita. Isto se eles não encontrarem mais alguma coisa em seu poder.
Ele, que antes parecia cheio de coragem a perdeu na minha presença. Além da diferença de altura entre nós, o que o fez parecer menor, o medo foi evidente na sua expressão.
— Calma aí, cara! Ela é minha namorada!
— Pelo que escutei, ela disse bem claro que não tem mais nada com você. — Olhei para Heloisa. — Confere?
— Sim.
— Mas vamos conversar, não é mesmo, Helô?
— Outro dia, Victor. Além de estar tarde, você não está em condições hoje.
— Helô... — ele insistiu.
— Vá embora, rapaz! — falei alto e com vontade de pegá-lo pela cola da camisa e jogá-lo longe. — Vamos entrar, moça?
— Quem é você?
— Não é da sua conta.
O porteiro abriu o portão e nós dois entramos e o tal Victor ficou do lado de fora sem dizer mais nenhuma palavra.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top