Conto 1 - Segredo de um baile
Segredo de um baile
Sou jornalista e trabalho em uma empresa de publicidade e marketing. Este ano ela completa 25 anos e teremos uma grande festa: um baile de máscara.
Quando recebi o convite, confesso que fiquei extremamente encantada, não imaginava que seria uma mega festa. Para começar, a empresa alugou um antigo casarão do início do século 20, diz que pertenceu à família real Portuguesa. Um castelo na verdade.
Fiquei semanas procurando uma roupa que se adequasse as formalidades que a ocasião exigia. Isto porque precisava combinar com a máscara elegante que minha amiga Aline me enviou do Rio de Janeiro, quando lhe contei da festa. Ela tinha três tons: prata, azul turquesa e preta. Segunda etapa, o que fazer no cabelo?
— Aline, você me sugere algum penteado que combine com a máscara? — perguntei a minha amiga por mensagem.
— Pode ser um coque bem elaborado ou uma trança em relevo.
— Trança em relevo? — perguntei sem entender bem — Não seria embutida?
— Antonella! Que mundo vive? Embutida é coisa do passado, nem parece que trabalha numa empresa de publicidade.
— Isto mesmo, não é de moda.
— Vou te mandar algumas fotos.
— Ótimo — precisava encerrar a conversa. Amo Aline, mas ela fala demais. —Beijos minha amiga. Preciso ir agora, vou passar na loja para pegar o vestido, eles fizeram os ajustes e fica pronto hoje.
— Beleza. Mande fotos para eu ver como ficou. Beijos.
Desliguei meu computador depois que concluí um texto de uma nova campanha. A partir de agora até na segunda-feira não pensaria mais em trabalho.
Olhei no espelho e gostei do resultado. Além de sensual a maquiagem combinou perfeitamente com a máscara. No cabelo, não segui o conselho da minha amiga, optei por um estilo preso no alto com uma franja falsa que caia por cima da máscara. E vários fios soltos.
Chamei um táxi.
Ver o castelo de longe foi um espetáculo a parte. E a cada segundo que o carro se aproximava, ficava ainda mais bonito. Assim que o carro parou e eu desci, coloquei a máscara. O sentimento que me percorreu fez meu corpo se arrepiar.
A iluminação de entrada formava um corredor de fogo, isto porque foram usados tochas, em formato de taça feita com bambu natural.
A maioria das pessoas chegavam em casal ou com outra companhia. Eu não. Fui sozinha. Depois do meu último relacionamento eu decidi dar um tempo de homens e focar no trabalho. Queria uma promoção e batalhava por esse objetivo.
Assim que pisei no saguão de entrada fui parada para uma foto com personagens do Fantasma da Ópera.
Os garçons, eles circulavam com bandejas servindo bebidas, todos vestidos de brancos e pretos, e as máscaras pretas. As garçonetes serviam as comidas e suas máscaras eram brancas. Peguei uma taça de um vinho espumante e um canapé de algo que não entendi ao certo o que era.
Circulei.
Não reconhecia os colegas de trabalhos debaixo daquelas roupas, muito menos os patrões. Encostei-me a uma pilastra e fiquei observando as pessoas rindo e conversando. Uma mulher me chamou a atenção. Ela era elegante e em sua companhia um homem, que aparentava ser bem mais velho, porém sua atenção se encontrava em outro ponto do grande salão. Acompanhei seu olhar e me deparei com um rapaz alto, bonito, vestido todo de preto e com uma máscara em tom de bronze. Seu sorriso de lado e um manear de cabeça mostrou o lado direito, uma porta por onde ele entrou depois de alguns minutos. A mulher elegante, falou algo no ouvido do seu acompanhante e saiu na mesma direção do rapaz bonito.
Ali eu senti o cheiro de traição: um amante.
Sorri e sequei a minha segunda taça de vinho. Quando fui me virar para buscar algo para comer esbarrei num garçom com uma bandeja cheia de bebida. Infelizmente para mim, porque todo líquido virou sobre mim. Olhei minha roupa e tive vontade de gritar com aquele rapaz.
— Poxa vida! — falei, mas em pensamento a frase tinha três letras e não era tão educada.
— Desculpe. Por favor, me perdoe — ele diz. Preocupado olhando para os lados.
Em segundos, apareceram outras pessoas ao meu arredor. Um secava o chão, outra recolhia os cacos de vidros ou cristais. E um homem em especial pegou em minha mão e pediu:
— Acompanhe-me, por favor, quero ajudar a recuperar sua roupa.
— Não precisa, vou embora. Com certeza não tem o que fazer.
— De jeito nenhum. Não existe a palavra 'não tem jeito'. Tudo há uma solução.
Reconheci àquela voz e a frase de efeito. Sorri e o acompanhei. Sabia que me encontrava em boas mãos. Maikon era gerente de marketing e trabalhou muito na organização deste evento. Ele me conduziu para um quarto e junto levou uma de suas assistentes de organização para poder me ajudar.
— Vou precisar que tire o vestido que em poucos minutos eu te devolvo limpo e seco — disse-me ela sem rodeios.
— E eu vou ficar aqui, nua? — perguntei. Maikon riu e me jogou um roupão branco.
— O quê? — perguntei indignada. — Não vou vestir isso. Se acaso alguém me veja, vai pensar que estou fazendo algo que nem quero pensar.
Sua gargalhada foi ainda maior.
— Deixa de bobagem, Antonella, ninguém vai entrar aqui. Mas posso arrumar um uniforme de garçonete, mas já vou dizer que não vai combinar com sua máscara.
— Traga o uniforme completo então.
E foi assim que fiquei sentada por meia hora, sozinha, em uma cadeira vestida de garçonete e uma máscara branca em minhas mãos balançando de um lado para outro.
— Que demora! Ela disse alguns minutos — reclamei impaciente.
Levantei e comecei a circular pelo cômodo. Peças antigas decoravam o ambiente. Aproximei da janela que parecia mais uma porta de tão grande. Abri a cortina pesada e deparei-me com um jardim bem cuidado e iluminado. Um casal namorava circulava ao fundo. Um rapaz passou apressado e uma mulher procurava por alguém.
Escutei a porta se abrir e respirei aliviada. Porém, percebi a tempo que não se tratava da assistente. Um homem totalmente de preto entrou cauteloso e ainda observando lá fora. Eu me escondi atrás da cortina.
Escutei sons de gavetas sendo abertas e fechadas. Porta de armário bater e murmuro de xingamento. Arrisquei uma espiadela. Ele procurava por algo. Achou uma caixa. Tirou o celular do bolso e bateu algumas fotos. Neste instante percebi que ele também usava luvas. Intrigada com suas atitudes, eu mantive meu olhar no alvo do seu aparelho telefone. Retirei a máscara e apertei meus olhos para melhorar minha visão sobre a mesa: jóias.
Quem era este cara? — perguntei-me — um ladrão ou um espião? Mas quem deixaria jóias num castelo onde alugavam para festas particulares? Tudo muito estranho. Será que tinham espiões preparando para um grande roubo? Balancei a cabeça, negando e sorrindo. Acho que ando assistindo muitas séries policiais ultimamente. Procurei por meu celular no bolso, então percebi que não trouxera comigo.
Ele guardou tudo no armário dentro da caixa dourada, exceto uma joia. Esta ele analisou mais uma vez e a colocou no bolso interno do paletó. Fechou tudo e saiu discretamente.
Vozes do lado de fora me chamou atenção. Voltei meu olhar ao jardim e percebi um clarão e sons de fogos de artifícios colorirem o céu. Lindo! Aqueles poucos minutos foram como uma parada no tempo para apreciar um belo espetáculo, que visto de fora, com certeza teria sido mais interessante. Aplausos encerraram o espetáculo e uma voz vinda de algum microfone chegou ao meu ouvido. Certamente o presidente da empresa com seu famoso discurso, não escrito por ele, mas sim um dos muitos jornalistas.
— Senhorita, Antonella! — escutei meu nome.
— Sim — respondi saindo do meu esconderijo — estive apreciando os fogos aqui do meu camarote.
— Desculpe a demora. Aconteceram mais alguns imprevistos — justificou aparentemente nervosa.
— Sem problemas.
Peguei minha roupa e entrei na parte reservada entre o quarto e a suíte. Minha bolsa e a máscara encontravam-se sobre o móvel. Troquei-me e retoquei o batom.
Assim que adentrei novamente no quarto, eu estava sozinha. Minha curiosidade veio junto com a lembrança do cara e olhei o armário agora fechado. Pensei em olhar, mas meu faro de jornalista foi mais ético, pois se fosse algo ilícito ele não deixou provas do crime, como suas digitais.
Caminhei para o salão onde a música alta de antes, agora permanecia em silêncio, ouvia-se rumores e frases de indignações. Parei chocada com a cena. Um homem encontrava-se esticado no chão com sinal de sangue na lateral de seu corpo. Tampei a boca para não emitir nenhum som.
— O que aconteceu aqui? — perguntei a um convidado próximo a mim.
— Um assassinato pelo jeito.
— Isto eu estou vendo — respondi num sussurro.
— O que me preocupa não é com o morto — continuou ele —, este já era!
Olhei para o convidado sem entender seu raciocino e sua frieza com o ocorrido. Então perguntei:
— O quê?
— Agora somos todos suspeitos deste crime.
Minha cabeça rodou. Fixei meu olhar no morto e percebi que se tratava do senhor, acompanhante da mulher elegante que vi mais cedo.
— Meu Deus! — exclamei.
— Agora entendeu? — ele me perguntou.
— Sim. Tudo. — respondi montando uma história na minha cabeça.
Fim
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