5: %Black Pollen%

~3300 palavras~

[25/11/2022- Sexta-Feira]

"E o jantar é..." Soren fez suspense enquanto carregava no carrinho feito de metal e plástico os pratos das cinco pessoas persentes na sala de jantar. "Sopa de legumes frescos, colhidos esta tarde."

"Não te apeteceu cozinhar mais, Soren?" Valac sorriu. Embora esperasse ter um jantar exótico e um banquete diversificado na sua frente, estava contente, sopa de legumes era a sua favorita, e o Soren fazia tudo com as quantidades certas e com as especiarias secretas certas.

Ele era o chef perfeito para o seu chef perfecionista e detalhista.

"Estou com preguiça."

Distribuiu os pratos pelos convidados casuais- Valac, Kuma, o senhor Alois, Cam e a si próprio. Eram as únicas pessoas que estavam dentro daquela casa, o resto dos empregados tinham sido dispensados pelo o seu chefe. Ele queria ter um jantar de família, sentia necessidade de o fazer. Apenas sentia falta do Noah, que não conseguiu estar presente esta noite por motivos tão intrínsecos como a vida do senhor Alois.

O Alois e o Noah eram os únicos membros daquela família- sem contar com o novo membro- que o Valac tinha desconhecimento sobre a sua história, e quando perguntava em momentos inconvenientes, ambos tinham a mesma resposta: "Noutro dia eu conto."

Valac quando chegou àquela casa, depois de ser acolhido por Carl, Alois já estava lá, com as barbas ainda um pouco negras e não totalmente brancas. O Noah apenas tinha aparecido na ICEFIELD, já sabido de tudo sobre a empresa e do trabalho exato que ele queria- ser segurança particular-.

Claro que o senhor Daemonium não hesitou, era sempre bom ter um guarda costas privado, e ainda por cima bonito, profissional e elegante. Não era?

Dava para lavar as vistas todos os dias, manter aquele gostoso do seu lado e ainda ser protegido sempre que precisar. Melhor sorte ele não tinha. Mas ele não entendia o porquê de querer ser estritamente segurança do Valac.

Iria averiguar isso, porém.

Valac Daemonium tem sempre todas as respostas para todas as suas perguntas.

"Bom apetite para todos." Soren desejou depois de agradecer à Lua e ao Sol por mais uma oportunidade de poder ter comida suficiente na mesa para alimentar a sua família.

Soren nem sempre teve toda a disponibilidade de alimentos para cozinhar o quanto podia, nem mesmo para se alimentar com um simples pão seco. Ele via-se perdido para se alimentar. Mendigo desde os 18 anos por mau núcleo familiar que desistiu de lhe pagar os estudos básicos, não demorou muito para as estratégias das ruas, de como sobreviver e se autossustentar com o pouco dinheiro que tinha. Nunca precisou matar ninguém, nem mesmo roubar, porque Soren era um crânio economicamente, mas sem sorte ao início da sua carreira.

Fora encontrado quase morto pelo Carl, poucos meses depois de ter acolhido Valac, numa das noites mais frias do Inverno prolongado de Oplya- o país mais frio do hemisfério norte-. E passado poucas semanas naquela mansão, em 2009, Carl percebe que aquele rapaz de 22 anos tinha um talento nato para a cozinha. Convidou-o a ficar na mansão em troca dos maravilhosos pratos originais que ele fazia, e mesmo depois da morte de Carl, anos depois, Soren continuou a servir a mansão como se tivesse um pacto inquebrável e imortal com aquele velho.

Anos depois, a fama ascendeu. Soren Phillips, o cozinheiro prodígio que cozinha sozinho e sem auxílio de máquinas, torna-se mundialmente famoso depois de servir à mesa um dos representantes do governo. Ninguém era capaz de explicar como um único homem conseguia fazer tantos pratos deliciosos em tão pouco tempo e sem a colaboração de máquinas de cozinha. Triturar sopa? Esse era um dos segredos daquele homem, que ele de certeza não contaria a ninguém. Ele usava tudo o que era natural: fogo, madeira, talheres de pau e facas feitas de metal que ele próprio soldara e limava todas as manhãs.

Ele dizia sempre a quem o perguntasse: "No tempo em que eu precisei de ajuda, apenas a Natureza esteve lá. Não preciso mais ninguém a não ser Ela."

E isso espantava os melhores restaurantes e maior parte dos jornalistas. Teve várias ofertas de emprego em todo o Globo, mas preferiu deixar o dinheiro de parte e continuar com a sua família.

Soren não ligava para um bocado de papel verde como tantas pessoas fazem. Dava mais importância se conseguia alimentar a família e se a comida estava de bom gosto.

☀️ ☀️ ☀️

Todos terminaram a sopa entre conversas e risos e deliciaram a ceia com chocolate e licor de avelã, um dos doces favoritos da Camoren. Alois recusava-se a comer mais do que 4 chocolates, mas o Valac obrigava-o sempre a comer mais e mais, sem ter em conta as consequências dos seus atos. Ele queria viver o momento ao máximo, preocupar-se simplesmente com o presente, deixar o passado de lado e não ansiar pelo futuro.

Segurou bem o manipulador dos jogadores dos matraquilhos e preparou-se para defender a baliza com o guarda-redes. A bola feita de pedra logo rolou, parando nos pés metálicos gastos do último boneco da equipa azul. Valac, como um bom estratega, calculou, em segundos, o ponto específico das barreiras de madeira para que pudesse fazer um ricochete e, sem tocar em mais nenhum boneco, marcar golo no canto inferior esquerdo.

O remate fora rápido, e ainda mais rápido para os olhos sonolentos e cansados do Kuma, que tentava com tudo ver o jogo por cima das costas do Soren, mas a fadiga já era tanta que, em dois em dois segundos, o seu corpo tentava se entregar ao sono contra a vontade do consciente da criança.

"Tu fizeste batota, Valac!" Soren ralhou.

"É o meu talento natural, querido." Sorriu. "Eu sou invencível."

Camoren, sem mais demoras meteu a bola dentro do campo pequeno da mesa e começou a jogar, apanhando todos os jogadores de surpresa. Todos menos o senhor Alois, ele estava concentrado desde a primeira bola. Valac não esteve a tempo de agarrar de novo os dois manípulos. A bola, chutada pela Camoren com a sua força de lobo, entrou dentro do buraco retangular- a baliza- e mais um ponto foi adicionado ao painel digital que indicava os golos marcados.

O jogo tinha ficado 6-4, ganhando a Camoren e o Soren.

"E a equipa CS ganha de novo!" Soren gritou, dando high-five à sua parceira dos matraquilhos. Ambos sorriam alto pela vitória.

Abriram mais uma garrafa de whiskey e encheram os copos até metade. Beberam tudo de shot, não preocupados com o nível de ressaca que podiam ter na manhã seguinte. Apenas cagaram-se para isso e aproveitaram mais uma noite.

Afinal, ninguém sabe o que acontece nos segundos seguintes. Ninguém sabe quando irá morrer, por isso deve-se aproveitar cada segundo ao máximo. Não é?

"Quem é o invencível agora, maninho?!" Estalou o murro ao Valac, em tom de deboche, orgulhosa demais para não emitir isso ao mundo, e mais importante, à cara emburrada e chateada do seu maninho.

Valac não se atreveu a responder, pois logo caiu na risada que aquela situação causava. E com aquela risada gostosa de se ouvir, todos os cinco começaram a rir, contagiados com aquela batalha de deboche. Valac e a Cam tinham uma irmandade muito grande de amor-ódio. Viviam fazendo estas batalhas infantis, mas já era um ato tão intrínseco na amizade deles, que não dava para contrariar esse instinto que os dois tinham.

☀️ ☀️ ☀️

"Muito bom, muito bom. Mas isto não fica assim." Passou o braço pelos ombros da irmã. "Deixei-te ganhar, se não ficavas triste comigo e eu não quero isso."

"Não conseguirias viver sem mim. Parasita."

"Cadela."

"Encontrado no lixo."

"Pelo menos alguém me quis, ao contrário de ti e dos teus milhares de casos falhados de encontrar alguma mulher.

"Que eu sabia, ninguém te quer também."

"Por acaso tem muito homem neste mundo que me quer. Posso citar uma lista enorme."

"Mesmo vadia."

"Prefiro uma organização sem fins lucrativos num homem só. Algum problema, mana?"

"Desde que não te mates, por mim, faz o que tu quiseres."

Deixou a Camoren à porta do seu quarto e trocaram olhares. Valac amava de coração a sua irmã e ela amava-o da mesma forma. Era dois orgulhosos que odiavam dizer que se amavam freneticamente, que não conseguiam imaginar o mundo sem a presença do outro, mas deixavam isso bem claro com o contacto, físico ou intelectual.

"Boa noite, Cam." Abraçou-a pelos ombros e apertou-a forte.

"Boa noite, mano."

E ficaram assim, durante alguns minutos. Era também difícil de explicar como o Valac demonstrava os seus sentimentos. Mesmo com o Kuma, ele não dizia nada acerca dele, demonstrava. Não contava, mostrava. Mesmo se aquele homem se tornasse mudo, ele conseguia se expressar com as suas ações com bastante facilidade. Era um facto que ele amava em si próprio e tinha orgulho disso.

Depois de se separar da irmã e vê-la entrar dentro do quarto sem nenhum perigo, Valac caminhou em direção à sua suíte trancada, no fundo daquele mesmo corredor. Ele ouviu uma respiração pesada e lenta vinda do quarto de porta castanha- do Kuma-.

Deve estar a ter um pesadelo.

Pensou em entrar no quarto, ver se estava tudo bem, mas o seu corpo pedia descanso. Há inúmeras noites que ele não dormia as horas recomendadas para a sua idade e isso notava-se pelas olheiras fartas e o corpo dolorido.

☀️ ☀️ ☀️

Mas também não fora naquela noite que ele dormira até à nove da manhã- horário estipulado para ele, com tempo suficiente para se arranjar e estar a horas na ICEFIELD para aquela enorme entrevista-.

Eram perto das seis da manhã- três horas depois de ele ter adormecido-, quando alguém abriu a porta daquele quarto e abanou com força o corpo mole e enorme do Valac, pedindo para que ele acorde rápido. Quem quer que fosse deve estar bem ciente que estaria morto assim que aquele homem se levantasse.

"Eu já acordei caralho!" Gritou contra quem o tivesse a abanar daquela maneira bruta. Faltou pouco para que esmurrasse aquele ser idiota que teve a merda de ideia de acordar o Valac Daemonium daquela maneira. Era o Alois. "Eu espero com todas as minhas forças que tu tenhas uma boa razão para me acordares assim!" Sentou-se na cama e esfregou ou olhos.

"É o Kuma, senhor." A sua voz estremeceu. "E-Ele não está bem."

"O que é que ele tem, Alois? Vá direto ao ponto." Indagou enquanto se levantou com uma raiva excessiva no corpo. Odiava ser acordado.

"Ele está cheio de febre, não para de vomitar e tossir. Tem que vir rápido, senhor, por favor." Pela primeira vez, Alois tinha agarrado o pulso daquele homem e o puxado.

Valac detestava ser agarrado com força por um motivo talvez fútil e que podia ser tratado com um pouco de chá e um comprimido.

Porém, assim que ele entrou dentro do quarto da criança, sentiu o cheiro horrendo do vómito inundar as suas pupilas olfativas abruptamente. Havia uma boa quantidade de vómito verde e branco em cima do tapete, ao lado da cama, onde o Kuma estava. Deitado de lado, ele parecia nem conseguir mexer mais um dedo de tanto esforço que estava a fazer para expelir o que é que fosse do seu organismo.

"Meu Sol."

No momento em que a criança ouviu aquele timbre de voz, levantou a cabeça pendida na almofada, também vomitada, e fungou. Ele estava fraco, todo tremido, com a tez um pouco mais pálida, os olhos lacrimejados e cheios de olheiras. Elevou um dos seus bracinhos finos e chamou o Valac com os gestos das mãos que se fechava e abria lentamente.

Ele aproximou-se lentamente do mais novo, ficando ao lado da Cam, que agarrava alguns bocados de papel de cozinha- provavelmente para limpar a boca do menino-. Assim que se aproximou o bastante, tocou na mão dele e acarinhou-a, mesmo que os níveis de raiva ainda estejam altos.

Ouvia-se a respiração forçada do Kuma, estava corrompida, parecia que algo estava a apertar a sua pequena garganta, fechando as vias aéreas lentamente e dolorosamente. Não tardava muito para que ele não conseguisse respirar mais nada.

"Ele precisa de ir no Hospital."

"Valac, se tu fores no hospital, eles tiram-te a criança!" Camoren avisou com a voz rouca, ao lado dele, com o olhar preocupado e defensivo, não queria que nada acontecesse àquele menino. "Ele não tem os papeis nenhum, ainda não está legalizado no país. E se os médicos descobrirem isso, chamam a polícia por suspeitas de tráfico."

"Mais vele ele ser tirado de mim e ficar bem, do que o deixar neste estado ao meu lado." Olhou para o Alois. Também estava com feições reprovadas, e isso criava dúvidas no Valac. Normalmente o velho tinha razão. Mas, porra, não ia deixar a criança assim. "O Noah?"

"Está a caminho."

"E o Soren?"

"A caminho também. Ele teve de sair."

Valac não sabia o que fazer, estava nervoso, o cérebro ainda lento para que consiga raciocinar com lucidez. Se o levasse no hospital, tinha de arranjar forma de combater o possível caso que possa se formar. Tinha de arranjar alguém que esteja dentro da instituição rapidamente para que crie ficheiros dentro daquele sistema.

Mas quem?

Kuma, instantaneamente, gemeu de desconforto e inclinou-se mais para a borda da cama, pendendo mesmo a cabeça. Pôs a língua de fora, a saliva espessa caía no chão. Voltou a tremer freneticamente e a cerrar os dentes. Não queria vomitar mais! O esófago já lhe ardia bastante, a boca estava muito amarga, sabia mal, cheirava mal!

Mas foi obrigado a vomitar mais uma vez.

Camoren rapidamente agarrou os caracóis definidos que estavam suados e colados à testa do menino e puxou-os para cima. "Shh, calma, Kuma, calma." Quando ele parou de vomitar o líquido amarelo que tinha no estômago, ajudou-o a voltar para dentro da cama. Limpou-lhe os restos do líquido que estavam à volta dos lábios com um lenço húmido e fresco, deixando-os menos assados e queimantes.

Valac sentou-se ao lado dele, deixando de lado o cheiro horrendo e a visão nauseante que tinha na frente. Continuou a acarinhar a barriga dele, na tentativa de aliviar um pouco as náuseas que ele sentia. Kuma estava a ferver, até mesmo para o filho do Sol. Suava imenso, já tinha até manchado as costas da t-shirt que tarjava e o suor pingava-lhe da testa.

"Kuma, querido." Valac chamou-o com calma, a voz baixa. "Anda, vamos para a casa de banho, okay?" Afastou os cabelos das orelhas para que consiga ver os seus olhos. Estavam secos. A criancinha aceitou com um gesto da cabeça.

Tentou se sentar na cama, mas as náuseas voltaram com força. Em contrapartida, encostou a cabeça ao braço de Valac e respirou fundo. "Alois, limpas isso?" Valac disse baixo, não partido o contacto visual com o Kuma, estava preocupado com o estado dele, desta vez, mais a sério.

"Claro."

Assim que o Alois saiu do quarto, Valac agachou-se na frente da criança e agarrou-a pela barriga, puxando-o contra o seu corpo. Ele nem tinha força para se agarrar nos ombros, como fazia toda a vez. Estava a ficar cada vez mais apático, e isso era um sinal bastante grave.

"Quanto é que tem de febre?"

"39,5ºC."

Caminhou, com o Kuma no seu colo, em direção da casa de banho mais próxima, e sentou-o no chão, encostado à parede, perto da sanita. Agarrou nas pregas da t-shirt do pequeno e tirou-a do seu corpo, atirando-a para dentro do cesto da roupa suja.

"Cam, pega-me nessa tolha e molha-a com água fresca por favor."

Camoren não estava a entender nada do que o Valac estava a fazer, mas ainda assim obedeceu aos comandos do seu Alpha.

Com a ponta húmida, tentou molhar o rosto delicado do Kuma, mas este, mesmo com movimentos lentos, conseguiu esquivar-se. "Querido, é só água, okay? Vou passá-la no teu corpo para que fiques mais fresco." Tentou ser o mais simples possível a explicar o que iria fazer para que a temperatura baixasse o mínimo que seja. Valac morria de medo de febres altas.

Passou, então, a toalha pelo rosto com passadas calmas, limpando o suor já grudado à sua pele mulata. Partiu para o pescoço e pelos braços, deixando as axilas para último. Não demorou muito para que a toalha ficasse morna e que tivesse de ser encharcada outra vez. Desta vez passou pelos locais mais quentes do corpo: axilas, virilhas e na barriga, tendo sempre atenção aos sinais de desconforto do pequeno.

Não o queria deixar desconfortável com o toque.

Mas ele parecia não ligar para o que estava a acontecer, estava no seu mundo, perdido outra vez naqueles olhos alaranjados do homem na sua frente. Sabia que nele podia confiar. Era um sentimento nato, que ele não conseguia negar. Sabia que ele nunca o iria magoar.

"Valac."

Noah apareceu de repente um pouco desajeitado à porta da casa de banho. Não sabia como aquele rapaz era capaz de estar apresentável todas as horas do dia, apenas conseguia. Estava fardado, penteado e com o olhar sério. Como a Cam diz: ele é um robô.

Contudo, ao contrário de um robô, ele tinha a respiração acelerada, estava cansado de ter corrido até ao segundo andar e em completa ansiedade e preocupação com o estado da criança. Não sabia se o Alois tinha sido dramático ao dizer todos aqueles sintomas, mas não quis não acreditar no nível de urgência da situação.

"Milagre."

"Sabes o que ele tem?" Camoren perguntou ao roer as unhas curtas e naturais. Talvez ela seja a pessoa mais em pânico naquele momento. Pelo menos dava indícios disso.

"Tenho as minha suspeitas."

Noah caminhou até ao lado do seu chefe, agachando-se também ao pé da criança, que nem sequer olhou para ele. Estava apático, parecia até estar em letargia.

Perda transitória de consciência, náuseas, vómitos, febre alta e dificuldade respiratória?

"O que lhe deram ao jantar?"

"Sopa de legumes. Mas não é reação alérgica, porque ele já comeu noutro dia e não teve nada disso."

"Eu não disse isso. Presumo que seja algo pior, Valac." O chefe olhou para ele. Como é que ele conseguia ser tão profissional, Meu Sol? "Kuma?" Tocou na mão do pequeno, pedindo um pouco da sua atenção. "Olha para mim, Kuma." Obedeceu. Quando os seus olhares cruzaram, Noah conseguiu ver uma marca bem pequena no canto do olho direito. Era roxa.

"Deram-lhe uma das Nove Ervas."

"A-As Nove Ervas?" Camoren perdeu a cor. As Noves Ervas foram consideradas um mito devido à sua raridade e falta de informação. Os seus extratos naturais são altamente venenosos e letais, sendo que foram bastante utilizados no tempo em que o Humano era nómada e precisava de caçar para sobreviver. Eles usavam estas plantas para abater os animais de grande porte em pouco tempo.

Mas algo naquele pequeno miúdo deixava-o mais forte do que um Tigre-Dente-de-Sabre ou do que um mamute.

"Qual delas, Noah?"

"Pela pupila roxa no olho dele, presumo que tenha sido envenenado pela Ningrum Platyodon." Valac suspirou pesadamente, louco por saber o que deveria fazer. Sabia que nenhum médico da atualidade conhecia esta planta e muito menos o antídoto. Apenas os nativos à Lua sabiam destes espécies sobrenaturais de venenos.

Ningrum Platyodon é uma planta de quarto folhas roxas, que guardam no seu ventre um pólen negro e brilhante. Aí estava o veneno, o príncipio ativo com um nome tão difícil de escrever que ninguém durante milhões de anos conseguiu decifrar. Tratavam-no por BP- Black Pollen-.

Os átomos do polén, quando absorvidos pelo sangue, atrofiam todos os sistemas em questões de horas. Começa com tosse e obstrução das vias aéreas pelo o inchaço dos músculos internos do pescoço, náuseas e vómitos provocados pela sensibilidade que o polén deixava no sistema digestivo, passando pouco tempo depois para febres altas pelo atrofiamento do termóstato natural do corpo que podia até chegar a casos de hipertermia mortal. Com os vómitos e o suar constante, o ser entraria em desidratação rapidamente, o que acelerava a sua morte. E se o ser não morresse por apneia ou desidratação, o polén, depois de algum tempo, conseguia causar convulsões constantes e contínuas até morrer por acidentes durante a convulsão.

Isto era o que estava intrínseco dentro do cérebro do Noah.

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