22 - sorry, I love you

Eu estou me segurando, mas acho que não aguento continuar desse jeito
Crio coragem e dou um passo mais perto
Até esse passo foi tão difícil
Ainda demorei muito, mesmo depois de tomar a decisão

Mas talvez tenha sido tempo demais
Não acertei o momento, e parece que estou sendo punido
Não acredito que, para chegar mais perto de você
Acabei construindo uma parede da qual não posso me aproximar


Stray Kids – Sorry, I Love You


– △ –

A luz azulada da televisão refletia nas lentes quadradas do garoto que assistia ao episódio antigo e de qualidade precária de Power Rangers sem realmente prestar atenção em qualquer coisa, vestindo seu melhor pijama amassado e com o rosto entediado espremido contra a palma da mão.

Se encolheu no sofá quando a avó entrou na sala em seus passos lentos, arrastando os chinelos pelo piso enquanto segurava com todo o cuidado do mundo uma caneca do Homem-Aranha de onde exalavam nuvens de vapor.

Ela entregou o chocolate quente para o neto e sentou ao seu lado, dando tapinhas carinhosos em seu joelho.

– Achei que estava precisando disso pra dispersar um pouco toda essa energia negativa que tá te rondando há semanas, precisa relaxar e dormir um pouco também – ela disse e Henri agradeceu, assoprando a bebida antes de dar um gole breve. – Parece que perdi alguma coisa, como se tivesse voltado uns anos no tempo porque te ver assim com uma caneca de super-herói na mão assistindo essas coisas bobas me lembra de quando era só um menininho atentado.

– Vó... – Henri reclamou sem deixar de esboçar um sorriso.

– Quando as coisas ficam difíceis voltar pro conforto da infância pode ajudar um pouco, não é? – Ela disse de maneira compreensiva e o neto assentiu. – Você quer conversar, meu bem?

Os dedos de Henri se tensionaram, apertando ainda mais a cerâmica colorida da caneca em sua mão, e ele soltou um suspiro cansado antes de responder.

– Queria que o Erick estivesse aqui – disse baixinho. – Ou que eu estivesse lá.

– Vocês dois... Sempre muito ligados, né? Literalmente almas gêmeas – eles riram fracamente. – Mas talvez seja bom se darem esse tempo, seu irmão precisa melhorar e você também, querido.

– Eu tô bem.

– Você pode tentar me enganar mas não a si mesmo. Você é um bom menino, só se desgasta demais por problemas que não são seus, e sei que é porque gosta e quer ajudar as pessoas que ama, mas tente amar a si mesmo também.

– Eu acho que fiz uma coisa bem ruim, magoei alguém de quem gosto muito...

– Todos cometemos erros, o problema começa quando estes erros são intencionais ou não causam arrependimento – ela gesticulou para que o garoto deitasse em seu colo e assim Henri o fez, deixando a metade de seu chocolate quente sobre o crochê da mesa de centro e apoiando a cabeça nas pernas da avó que acariciou seus cabelos com as mãos enrugadas como fizera tantas outras vezes quando ele era criança. – É difícil perdoar em meio a dor, mas ela também é uma boa menina e gosta muito de você.

Em momento algum Henri citara Lis como a causa de sua aflição, no entanto já estava tão acostumado com aquele tipo de coisa vindo da avó que resolveu apenas ignorar o fato e dar continuidade à conversa.

– É, eu sei. Eu também gosto muito dela mas parece que deixei tudo meio esquisito.

– O amor em si é esquisito na maioria das vezes, é abstrato e difícil de entender, mas é bom se soubermos lidar com as coisas do jeito certo.

– Eu só não sei se é amor ou se fiz confusão.

– Se não a amasse não teria voltado depois de tanto tempo, certo? – Dona Emy disse e Henri se encolheu quando suas bochechas esquentaram e assumiram um tom forte de vermelho.

– Não, eu não... Não duvido do que sinto pela Lis, só... Tem outra pessoa...

– Ah sim, o loirinho!

Vó! – Ele resmungou escondendo o rosto sob uma almofada, fazendo a senhorinha rir. – Às vezes essa sua habilidade de perceber as coisas realmente me assusta.

– Não é preciso muita habilidade pra ver as marcas que apareciam misteriosamente no seu pescoço depois de ele dormir aqui.

– Meu deus, acho que vou desmaiar – ele sentiu que poderia desfalecer de tanta vergonha, nunca tinha pensado naquilo e saber que sua avó tinha notado agora o fazia querer sumir ali mesmo.

– Mas por que essa confusão toda? Vocês parecem se dar tão bem e ele parece ser uma boa companhia e influência.

– E-eu não sei, tenho medo de ter feito uma bagunça por um sentimento que nem é real, ou de ainda piorar essa bagunça por não ter percebido isso antes.

– Ele te faz feliz? – Dona Emy perguntou e Henri agarrou a almofada contra o peito, pensando antes de afirmar em silêncio.

– Ele é engraçado, e é bonito, e muito romântico apesar de não gostar de demonstrar muito isso, e sempre me deixa falar por horas sobre as coisas que gosto sem cansar de me ouvir, e me manda mensagens bonitinhas de bom dia, e... Ele cuida da Lis – disse terminando a frase num murmúrio suave por entre um sorriso tranquilo que carregava felicidade e carinho em sua forma mais pura. – Esse tempo todo em que a deixei aqui ele cuidou dela, ficou do lado dela, ajudou ela a melhorar e deu todo o amor que eu não pude dar. E no começo acho que eu tive ciúmes, talvez insegurança, mas agora... Eu não sei, só... Como eu poderia não gostar de alguém que ama a pessoa mais importante pra mim de uma forma tão bonita e verdadeira?

– Você não fez bagunça, querido. Nunca te vi dizer coisas tão bonitas e poéticas assim antes então pode ter certeza que está tão apaixonado quanto aqueles dois – ela riu ao ver a vergonha estampada no rosto do neto como uma máscara neon chamativa. – Me deixe ver uma coisa, só um minuto.

Dona Emy se levantou e seguiu pelo corredor, entrando no quarto e dando tempo de Henri checar o celular, abrindo o Twitter onde um post de Matt de minutos atrás chamou sua atenção, suas sobrancelhas se franzindo cada vez mais a cada palavra lida.

– Puta que pariu...

– Henri Aurich! O que eu já disse sobre palavrões nessa casa? – Sua avó reclamou, acomodando-se na mesa da cozinha e embaralhando um punhado de cartas coloridas em suas mãos.

Ela chacoalhou a cabeça em desaprovação quando Henri murmurou um pedido de desculpas distraído, então gesticulando com a mão para que ele se juntasse a ela; ele assentiu e em passos trêmulos foi até a avó, puxando uma cadeira ao seu lado e se sentando, os olhos baixos e as mãos suadas fruto do pânico momentâneo que o assolara, se perguntando se Lis já tinha visto aquilo – porque da última vez em que tinham se visto ela não parecera nada feliz e, se Henri a conhecia bem o suficiente, sabia que Matt postar uma coisa daquelas estava longe de funcionar como um calmante para a garota, na verdade teria justamente o efeito contrário e ele definitivamente não queria estar perto quando o resultado daquilo viesse.

A idosa ainda terminava misturar o baralho ao mesmo tempo em que fazia algo como uma oração, os olhos fechados e a voz tão baixa que Henri mal podia entender o que estava sendo dito.

– Eu estava ensinando a Marie Ann a ler cartas, ela te contou? – Perguntou com um sorriso ao finalizar o que estava preparando e Henri negou. – Ela tem uma sensibilidade impressionante, e depois que você foi pra casa dos seus pais ela ainda vinha aqui todos os dias, conversávamos bastante.

– A senhora sabe que o nome dela é Lis, né? – Henri finalmente corrigiu depois de anos ouvindo a avó chamá-la de forma errada e a resposta de Dona Emy foi uma breve risada.

– Não tem nada que eu não saiba, querido – disse piscando para o garoto e começou a puxar cartas aleatórias do baralho arroxeado, colocando-as sobre a mesa com o verso virado. – Mas e você? Sabia que o motivo de ela ainda vir aqui todos os dias não era eu ou o interesse repentino em tarô?

Ela colocou uma última terceira carta na fileira e cuidadosamente deixou o restante da pilha ao lado, Henri parecendo tenso pela questão levantada pela avó.

– Acho que ter algo que a lembrava de você funcionava bem como um conforto – concluiu e virou a primeira carta à sua direita. – Ah, a Roda da Fortuna.

– Não sei o que significa – ele disse baixinho observando o desenho na carta.

– Essa representa uma situação do seu passado, pode simbolizar uma viagem, mudanças importantes capazes de abalar não só a sua vida, mas também a de quem é próximo à você.

– Já sei – resmungou com desânimo sem querer realmente ouvir sobre aquele assunto mais uma vez, as pontas de seus dedos sorrateiramente se enfiando por baixo dos óculos para coçar os olhos secos e cansados.

– Agora veremos seu presente – a senhorinha informou e virou a carta do meio, erguendo as sobrancelhas. – Os Enamorados. É engraçado que uns meses antes de você voltar, Marie Ann tirou essa mesma carta, só que para o futuro.

– E o que ela diz?

– Que vocês dois estão num triângulo complicado, no sentido romântico é claro. Por parte dela tinham muitas dúvidas e confusão envolvidas, medo e hesitação, mas você... Você sabe bem o que quer, querido.

– Eu sei? – Indagou confuso mas não surpreso.

– Sim, e precisa ajudá-la a chegar em uma conclusão também, e eu sei que vai – disse virando a última carta que fez Henri engasgar ao ver o desenho ameaçador no papel.

A morte? Isso não me parece um final muito feliz – guinchou e Dona Emy lhe deu tapinhas tranquilizantes no dorso da mão.

– Não significa necessariamente algo ruim, mas sim um fim, uma conclusão. Pode ser a resolução de uma aflição, de um momento turbulento – explicou e Henri franziu o cenho ainda sem se dar por vencido.

– E como eu sei se é mesmo sinal pra uma coisa boa? Esse negócio é cheio de significados ambíguos e mensagens escondidas – insistiu em tom de reclamação e a mais velha puxou uma quarta carta do topo da pilha, entregando-a diretamente para o neto ao invés de colocá-la na mesa ao lado das outras.

– Porque depois do seu suposto fim existe paz, esperança e talvez até mesmo um acerto de contas. É como dizem, depois da tempestade sempre vem um arco-íris, e no seu caso o arco-íris está bem nítido no seu destino. Não se pode fugir do destino, não é querido? – ela sorriu do mesmo modo sagaz que fazia sempre que tinha certeza sobre o que falava, voltando a juntar as cartas com exceção da que Henri ainda segurava por entre os dedos.

Se levantou e deu um beijo na testa do neto, murmurando um boa noite antes de desaparecer pelo corredor com seus característicos passos arrastados.

O garoto ainda pensava nas palavras da avó, sem saber se agora as coisas tinham ficado mais claras ou mais confusas em sua mente; A Temperança era a última carta que a senhorinha deixara em suas mãos, a imagem de algo como um anjo com duas taças na mão, passando água de uma para a outra, servindo como sua última esperança de que tudo não estava cem por cento perdido ainda, existia a possibilidade de um recomeço, uma saída que antes não ocorrera a nenhum dos três porque as coisas estavam turbulentas demais.

Destino... Apesar do otimismo crescente essa ideia ainda lhe soava tão absurda quanto uma piada de mal gosto porque não conseguia imaginar um destino em que Lis não o odiasse, mas se a conhecia bem e se sua avó estava certa – o que costumava ser o caso na grande maioria das situações – uma boa conversa para esclarecer as coisas era o primeiro passo para que tudo se resolvesse.

Riu baixinho consigo mesmo por pensar que, no fim das contas, talvez Matt não estivesse delirando tanto assim.

– △ –

Postei e saí correndo, até ano que vem sz

Mentira gente, finalmente veio aí ihul *solta fogos rojão biribinha*

Como estão vidinhas? Espero sinceramente que bem e felizes ✨ (tava morrendo de saudades a :(

Achei que eu nunca mais ia sair do hiatus mas cá estamos e sinceramente eu tô muito feliz por estar voltando a escrever e me animar com isso mesmo que aos pouquinhos ❤️
Como eu disse num desabafo anterior eu tava muito descontente com cruel summer e com tudo o que eu faço no geral mas ter dado esse tempo acho que ajudou um pouco e tô menos incomodada com a história agora não sei, tô pensando ainda, mas pelo menos saiu capítulo novo e acho que justamente o que tava faltando era um pouco mais de destaque pro Henri, acho que ele tava muito vazio em comparação com a Lis e o Matt e sinceramente ainda quero melhorar muito ele maaaas já é um começo e eu adorei escrever esse capítulo!

Enfim, muito obrigada por terem esperado e pelo apoio nesse tempo que fiquei fora, já disse que amo vocês demais?? Espero de coração que tenham gostado e até a próxima ❤️

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