11 - hard feelings
Por favor, você poderia ser mais sensível?
E eu vou me sentar perto de você
Vamos esperar um minuto antes de admitir que estamos terminando
Acho que estamos no inverno
Nossos corpos estão jovens e tristes
Estou na Jungle City estúdios, está tarde e essa música é para você
Porque eu me lembro da adrenalina de quando éramos nós dois para sempre
Antes de todos os ventos do arrependimento e da desconfiança
Lorde – Hard Feelings
– △ –
O céu estava cinza apesar do clima quente e abafado, anunciando que logo mais uma daquelas tempestades de verão que Matt odiava chegaria em breve – e ele xingava por isso mentalmente enquanto caminhava até a casa de Lis, seus fones tocando AJR no volume máximo pois ele queria ignorar toda e qualquer coisa do mundo externo.
Ele raramente se irritava com as coisas, uma de suas maiores qualidades era saber sempre manter a calma independente da situação, ele sabia engolir sua raiva como se fosse algum chá amargo horrível mas que era necessário por um bem maior. Porém, naquele momento, ele se encontrava extremamente puto da vida e nem sabia se era consigo mesmo, com Lis ou com aquele clima de merda.
Suas costas suavam sob a camisa e seus óculos pareciam incomodar ainda mais que o normal, a armação escorregando sobre o nariz úmido.
Aquela maluca havia ido até a casa dele no dia anterior, dizendo que o amava e aquele monte de palavras lindas que por um momento o fizeram ter esperança de que talvez as coisas pudessem se acertar e eles pudessem ser um casal feliz e normal de novo, mas tudo isso foi pro saco quando em plena seis da manhã ele acordou apenas para ler uma mensagem de Lis que dizia: "Me desculpa Matt, mas não me procure mais. Não dá pra gente continuar com isso desse jeito."
E é claro que ele não pôde responder porque havia sido bloqueado.
Ele também sentia que não conseguiria mais levar as coisas para frente do jeito que estavam, gostando de Lis mas ao mesmo tempo mentindo para ela e ficando escondido com Henri nas horas vagas, mas não era daquele jeito que se resolviam as coisas.
Primeiro ela dizia que o amava e não conseguia ficar longe dele e agora inventava de cortar contato do nada como se essa fosse a melhor e mais mágica solução para tudo sem nem o deixar dar uma resposta? Nem fodendo.
Em frente ao sobradinho amarelo de esquina, encarando a entrada vazia da casa, sua raiva diminuiu e deu lugar à uma ansiedade que se prendeu a seu peito e entalou em sua garganta. O que ele diria?
E poderia estar puto o quanto fosse, mas desde que se descobrira apaixonado por Lis aquela garota havia se tornado seu maior ponto fraco, e como se faz para brigar com seu próprio ponto fraco? Ele não conseguia, nunca havia conseguido e tinha quase certeza de que daquela vez não seria diferente.
Por mais que ela tivesse atitudes idiotas e burras de vez em quando, muitas que o indignavam até o fundo de sua alma, ele sempre tinha medo de machucá-la, uma palavrinha errada ou mal colocada e ele sabia que ela ficaria mal o resto do dia. Era sempre muito complicado lidar com ela, mas era uma consequência que ele sempre esteve disposto a sofrer para tê-la por perto.
Respirou fundo e guardou o nervosismo para si junto de sua irritação, assim como havia feito tantas outras vezes e, desligando a música em seu celular, subiu até a varanda e deu três batidas hesitantes na porta.
Demorou apenas alguns segundos até que a mesma se abrisse, revelando um Eliel ainda de pijama e com um tédio claro explícito em seus olhos verdes cansados.
– A Lis não tá – ele disse de prontidão antes que Matt pudesse perguntar qualquer coisa e, quando o mesmo iria responder, uma voz já extremamente familiar gritou do andar de cima.
– Quem é que tá aí?
– Tem certeza que ela não tá? – Matt questionou com certa ironia apenas para ver Eliel revirar os olhos e bufar.
– Entra, ela tá lá em cima – ele informou dando espaço para o mais alto passar e fechando a porta logo em seguida. – Mas já saiba desde agora que ela não quer te ver. Nem você e nem o Henri.
– É, eu já sei muito bem disso.
Eliel subiu as escadas sem qualquer ânimo e Matt não fez muito diferente, subindo os degraus como se de repente aquilo exigisse um enorme esforço, sentia-se cansado antecipadamente por já ter em mente o que provavelmente estava por vir.
Lis estava deitada na cama, lendo algum livro qualquer quando avistou as duas figuras paradas na sua porta, empalidecendo por alguns segundos antes de seu rosto adquirir um tom rubro de raiva direcionada ao irmão caçula.
– Eu não disse que não queria ver ninguém?
– Sim, mas você é burra – Eliel retrucou sem pensar duas vezes e deu de ombros. – Se soubesse manter a boca calada não ia mesmo precisar ver ninguém. Bom, tanto faz, vou descer pra vocês poderem discutir a relação em paz.
E assim o menino fez, descendo as escadas com a mesma lentidão com a qual havia subido, deixando Lis e Matt sozinhos no quarto – o que era uma péssima ideia na visão de ambos.
– Ele parece estar cada dia mais rebelde – Matt comentou na tentativa de quebrar o silêncio gelado que pairava entre eles e Lis suspirou.
– É, pelo menos agora ele fala comigo – respondeu se lembrando que seu irmão havia se fechado para o mundo por um longo tempo depois do trauma que sofrera no incidente com a casa e as bonecas, inclusive para a própria irmã que, antes de tudo, costumava ser sua melhor amiga e a pessoa com quem ele mais gostava de conversar apesar das intriguinhas habituais e comuns entre irmãos.
Aquilo ainda era um assunto muito delicado para ambos, e Matt pôde notar a mudança de humor de Lis quando tocara no assunto. O ar se tornara pesado e ele conseguia imaginar as coisas que estavam passando pela cabeça dela no momento – o que o deixava ligeiramente preocupado e desesperado em evitar que ela tivesse mais uma crise mas ao mesmo tempo com medo de se aproximar demais e acabar piorando as coisas, afinal, ela já havia deixado bem claro que queria cortar o contato por hora.
E ele nem deveria estar ali. Já estava começando a se arrepender, o que estava querendo com aquilo? Tanto ele quanto Lis sabiam que mais uma "conversa" daquelas não daria em nada, e justo por isso ela já havia começado a se afastar.
As pessoas tendem a tomar decisões estúpidas quando estão com raiva, e ele infelizmente era uma pessoa como qualquer outra, que sentia raiva e que tomava suas devidas decisões estúpidas.
– E-eu... – gaguejou ainda parado na porta e Lis se sentou na beirada da cama, o olhar baixo pousado em seus pés descalços.
– O que veio fazer aqui? – Perguntou claramente cansada e provavelmente pelo mesmo motivo que o próprio Matt havia subido as escadas com tanta dificuldade e cansaço há apenas alguns minutos atrás.
– Queria saber como você estava – mentiu. – Não consegui te ligar...
– Você sabe porque não conseguiu me ligar Matt, você não é nenhum idiota, muito longe disso na verdade – Lis interrompeu e o fitou com os olhos castanhos inchados e avermelhados, sinais de um choro recente. – E por isso deveria ter entendido o recado e respeitado o fato de eu quero ficar sozinha pelo menos por agora.
– Eu só queria conversar – disse quase num murmúrio, engolindo em seco e sentindo mais uma vez gotas espessas de suor descerem pelas suas costas com a diferença de que desta vez não tinha nada a ver com o clima quente e abafado.
– Eu também queria mas esse é o problema, a gente nunca conversa, pelo menos não de verdade. A gente se vê e se encontra na promessa de que vamos resolver as coisas mas nós dois sabemos que isso não acontece, ao invés de resolver só fazemos mais bagunça – ela jogou e Matt não respondeu porque sabia que era verdade, e aquilo o atingiu como um tapa. – Quando fui à sua casa ontem fui com a mesma intenção com a qual você veio aqui agora e você sabe o que aconteceu, porque você também fez acontecer e isso não dá mais pra mim, desculpa.
– Então a gente... Nós vamos mesmo terminar agora? – Perguntou e seu cérebro o xingou inúmeras vezes por aquela pergunta, porque ele não queria saber a resposta.
E Lis engoliu em seco e permaneceu em silêncio, sentindo suas mãos tremerem e sua respiração falhar pois ela, por sua vez, não queria ter que dar a resposta. Mas era necessário e seu corpo pareceu entender isso mais do que seu cérebro visto que sua boca se moveu como que por vontade própria ao pronunciar as três letras que acabariam com o dia e as esperanças de Matt de uma vez por todas.
– Sim.
Sem coragem para sequer tentar questionar ou dizer mais alguma coisa, Matt apenas assentiu e se virou para ir embora.
Esperou que Lis viesse atrás, que o segurasse pela mão e se desculpasse, dizendo que havia tomado a decisão errada e queria que ele ficasse ali, com ela. Mas nada disso aconteceu fora de sua imaginação e ele desceu as escadas sozinho desta vez, segurando seu orgulho e engolindo a vontade de voltar lá e implorar para que ela mudasse de ideia, para que pelo menos desta vez eles resolvessem verdadeiramente as coisas sem precisar acabar com nada ou machucar ninguém.
Ao sair da casa respirou fundo e esperou. Não sabia ao certo o quê estava esperando, só sabia que não conseguia chorar, ou gritar, ou ter qualquer outra reação, sua mente se recusava a aceitar como real tudo o que estava acontecendo – desde os acontecimentos de somente cinco minutos atrás até os do baile da escola no qual Lis o deixara sozinho sem direito a quaisquer explicações.
Era quase impossível de acreditar no quão absurda sua vida havia se tornado em somente algumas semanas, em como tudo estava perfeito até o dia em que uma pequena bagunça se embolou em outras várias e causou uma tragédia dramática adolescente que agora ele não sabia como resolver – e tudo com a contribuição do próprio Matt, claro, que ao invés de se aquietar para não piorar tudo pensou que talvez fosse uma boa ideia ficar justamente com a pessoa que havia sido a responsável por ter feito Lis lhe presentear com o belo par de chifres que agora fazia sua cabeça doer.
Enquanto ligava mais uma vez a música em seu celular na esperança de que a melodia soasse mais alta que os pensamentos e arrependimentos gritando em sua cabeça, trombou com uma figura pouco mais baixa que ele mesmo, usando uma camisa xadrez vermelha que se destacava contra todo o ambiente cinza daquele dia mórbido.
– O que... – Henri ia perguntar algo mas desistiu quando Matt esboçou um sorriso amargo sem quaisquer resquícios de um sorriso real, já sabendo que o garoto estava prestes a passar pelo mesmo processo pelo qual ele mesmo havia passado há alguns minutos.
– Boa sorte – foi tudo o que disse antes de sair andando e deixar Henri plantado na porta de Lis sem entender nada.
Ninguém entendia. Nem Matt e muito menos Lis, e sabe se lá quando alguém teria a sorte de passar a entender alguma coisa ali.
– △ –
Olá, como estão? Espero que ótimos <3
Sei que essa atualização foi um pouco mais rápida que o de costume mas é porque eu também sei que andei atrasando e demorando muito na postagem de novos capítulos e queria compensar isso.
Mas me contem, o que estão achando do livro até agora? Estamos indo chegando fundo no drama e eu espero de coração que estejam gostando de ler tanto quanto eu estou gostando de escrever - até porque recentemente eu li Vermelho, Branco e Sangue Azul e amei muito muito muito e me encheu de inspiração, acho que eu tava precisando de um bom e velho romancinho pra me dar o impulso necessário pra voltar a escrever (pois é, eu tava dando uma desanimada e foi esse um dos motivos de ter demorado tanto pra postar, mas voltamos a ativa e espero que estejam tão animados quanto eu!)
Muito obrigadas a todes que ainda estão acompanhando, obrigada também pelos votos e comentários que sempre me animam e me motivam a continuar, vocês são uns anjos e sou grata demais por todo o carinho ♥
Então... Vamos lá que ainda tem muita coisa pra acontecer! Beijos e até a próxima amores da minha vidinha ♥
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