1 - love
Você se arruma, se veste todo
Para ir a nenhum lugar em particular
De volta ao trabalho ou à cafeteria
Isso não importa, porque já é o bastante
Ser jovem e apaixonado
Lana Del Rey – Love
– △ –
O sol estava forte e o clima quente de início de verão fazia a nuca de Lis suar – não passava das dez da manhã e era a primeira semana de férias, mas por mais que quisesse não conseguia voltar a dormir, ansiosa demais para conseguir relaxar, então, ainda deitada, passou a distraidamente fuçar a galeria de seu celular.
Torceu o nariz para algumas selfies horrendas que tirara algumas semanas antes e riu quando passou por fotos e vídeos completamente aleatórios e fora de foco que gravara totalmente bêbada nas vezes em que saíra com Hanna, Kate e Matt – vez ou outra Sara, Marin, Travis e alguns outros adolescentes apareciam também, rindo, xingando e cambaleando depois de uma noite agitada regada a bebida barata, mas o foco era sempre suas melhores amigas ou seu namorado, com os olhos azuis brilhando por trás das lentes de seus óculos de grau e o aparelho prata refletindo sob a luz do flash sempre que abria um sorriso.
Sentiu um frio na barriga ao pensar em Matt, desejou que desse logo oito da noite para ele vir buscá-la e poderem ir juntos ao baile da escola do jeito que ela sempre havia sonhado.
Muitas coisas ruins haviam acontecido logo Lis chegara em Winter Hills – tinha sobrevivido a uma verdadeira história de terror, ficado manca por uns meses e sido praticamente abandonada pelo garoto por quem era verdadeiramente apaixonada sem direto à explicações ou despedidas, no entanto as coisas realmente mudaram assim que o ensino médio começou – ou recomeçou se considerasse que havia reprovado o primeiro ano devido a faltas e inúmeros problemas relacionados à sua saúde mental.
Uma bela porcaria. Se lembrou do primeiro dia na escola, do quanto se sentira estranha e de como, devido à ansiedade social de merda que a fizera sofrer por anos e anos, sentiu os olhares de julgamento quando passou pelos corredores cheios de desconhecidos – porém, de alguma forma, ela acabou por se aproximar de Hanna Mark, a patricinha popular da escola com sua maquiagem impecável e cachos perfeitos que, por algum motivo, era melhor amiga de Katherine Sanchez, a garota de cabelos azuis que vivia arrumando brigas, fumava maconha durante os intervalos e gostava de ir a shows de procedência duvidosa de bandas de rock desconhecidas.
Sem dúvidas era um trio estranho, e de início Lis sentia como se estivesse invadindo o espaço das duas, mas logo percebeu que Kate era tão louca e desequilibrada quanto ela e Hanna era a pessoa mais doce e otimista que já conhecera, sempre fazendo de tudo para ela se sentir bem e enturmada, tanto que lhe apresentou Matthew Lim, o nerd que de alguma forma também conseguia ser extrovertido e popular com seus olhos azuis e cabelos claros, o típico modelo de garoto perfeito.
Saíram juntos, foram ao cinema e aos outros pouquíssimos lugares interessantes de Winter Hills. Deram festas no casarão de Hanna, beberam, fumaram e conversaram sobre tudo, e quando se deu conta, Lis já não conseguia imaginar sua vida sem Hanna e Kate e, principalmente, sem Matt.
Ela confiou nele para contar sobre tudo o que acontecera, sobre a dor que sentia e como ainda ficava mal por tudo constantemente, vendo seu irmão tendo ataques de pânico e sofrendo de estresse pós-traumático devido a tudo o que acontecera na maldita casa das bonecas, e Matt a ouviu, cuidou dela e ficou ao seu lado até que um dos dois se apaixonou primeiro.
Lis até o presente momento não faz muita ideia de quem foi, mas sabe que sempre teve dúvidas sobre aquilo, pensando se deveriam deixar de lado aquela tentativa de romance e voltar à boa e velha amizade – afinal, em algum outro lugar escondido de sua galeria onde ela se recusava a fuçar, haviam outras fotos e vídeos – fotos e vídeos de uma Lis um pouco mais magra, com os cabelos longos e despenteados e usando camisetas amassadas de anime se divertindo ao lado de um garoto com cabelos escuros e olhos verdes que ainda faziam seu peito doer.
E pensar naquilo fez sua garganta se fechar mais uma vez e seus olhos arderem. Sempre repetia para si mesma que já faziam dois anos, precisava superar, Henri não iria mais voltar e agora ela tinha outra pessoa, alguém que realmente se importava com ela, que não tinha lhe deixado sozinha durante o mais difícil e doloroso período de sua vida.
Parou de se sentir triste e sentiu raiva, secando os olhos e se levantando em seguida, determinada a não deixar que fantasmas perturbassem sua vida de novo.
Caçou o contato de Matt em seu celular e ligou, esperando impaciente enquanto chamava. Olhou seu reflexo no espelho do guarda-roupa, analisando os cabelos despenteados cheios de pontas duplas, as sobrancelhas mais grossas do que gostaria e um par de bochechas cheias demais que a fazia se sentir como um buldogue – o conjunto perfeito de coisas que a fazia se questionar mais vezes do que o necessário o que o garoto vira ali a ponto de gostar dela em um sentido romântico.
– Oi minha gatinha – Matt disse assim que atendeu a ligação e Lis sorriu automaticamente ao ouvi-lo chamá-la daquela forma. – Tudo bem?
– Sim, eu só... – ela suspirou e riu de si mesma, por que havia ligado afinal? – Sei lá, queria falar com você.
– Tem certeza de que tá tudo bem? São nove da manhã Lis e estamos de férias, você normalmente estaria dormindo esse horário – ele respondeu demonstrando claramente estar preocupado e Lis mordiscou o lábio, dando uma risadinha sem graça.
– Não é nada, juro, você sabe que eu te contaria se não estivesse bem. Acho que só estou ansiosa para hoje à noite, você sabe – ela confessou e soube que Matt estava sorrindo do outro lado da linha. – Eu nunca tive amigos assim e nem um namorado legal e consequentemente nunca participei dessas coisas de escola...
– Que bom que isso mudou, fico feliz em te ver feliz.
– É... acho que vou comer alguma coisa, desculpe ter te ligado do nada, eu sou doida. Bom, te amo.
– Tudo bem minha gatinha, pode ligar de novo se precisar, eu também te amo – ele respondeu e Lis desligou, sentia como se estivesse tendo um mini infarto.
Seu coração estava acelerado e em seu rosto corado havia um sorriso enorme que não iria sumir tão cedo. Aquele dia tinha tudo para ser perfeito, e ela não deixaria nada estragá-lo, muito menos um certo garoto de olhos verdes que estava a sabe-se lá quantos quilômetros de distância e provavelmente nem fazia questão de se lembrar dela.
Aquilo tudo podia ir se foder, afinal, pela primeira vez em muito tempo, ela estava verdadeiramente feliz.
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