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Emiko percebeu que suas duas crianças — as coisas mais preciosas de sua vida, os que a fizeram mudar, evoluir — estavam aflitas. Ela deu um abraço em cada uma e disse que prepararia o jantar sozinha e que as duas poderiam fazer o que quisessem nesse meio tempo, também os avisou que durante a refeição teriam uma conversa séria.

Mahina estava sendo consumida pela vontade de mostrar ao irmão o que aprendera brincando com a água e com as folhas, então o puxou pelo braço e foram ao quintal dos fundos.

— Kazuki, olha só o que eu posso fazer. — A menina, com os cabelos longos presos por uma fita na porção medial, apanhou duas folhas e as segurou na altura dos olhos do irmão. — É incrível!

Mahina franziu a testa concentrada. A folha da mão direita retorceu-se primeiro, algum tempo depois a da mão esquerda partiu-se em duas. O irmão ficara boquiaberto com a cena, a princípio jurava que a irmã estava pregando-lhe uma peça; mas depois que ela fez pela terceira vez, cedendo às demandas, ele acreditou. Os dois sentaram-se com as costas em uma grande árvore, Kazuki olhava firmemente para uma folha que segurava com as duas mãos e nada acontecia.

— Será que a nossa mãe nos contará sobre isso no almoço? — Kazuki perguntou cabisbaixo porque não conseguira fazer o que a irmã fizera tantas vezes.

— Você contou a ela que eu estava junto?

Kazuki balançou a cabeça em negação e Mahina respirou aliviada. A menina decidiu não mostrar ao irmão o que podia fazer com a água porque percebeu que ele ficou triste por não pode-lo fazer também. A vida dela baseava-se em formas de tirar o irmão do sério, mas jamais o deixaria triste e as poucas vezes que o fez sentiu-se um lixo.

A noite finalmente começava a preencher os céus, Kaguya brilhava intensamente naquela noite. Emiko gritou pela janela para que viessem jantar. Os dois se levantaram e estapearam os trajes para tirarem a poeira, não queriam acordar uma fera adormecida no corpo de sua mãe. Os dois retiraram as sapatilhas e as deixaram na entrada, como era de costume, e se dirigiram para a mesa.

Quatro velas iluminavam o prato de legumes e o peixe assado que Emiko comprara mais cedo no vilarejo ao sul. As crianças se assustaram ao verem a katana posta sobre a mesa, os dois sentaram-se sobre os joelhos, assim como a mãe, e esperavam que Emiko se pronunciasse.

— Crianças, o que falarei para vocês hoje é de extrema importância. — A mãe saltava os grandes olhos azuis de uma criança a outra enquanto falava. — Envolve as mudanças que estão acontecendo no mundo e envolve também o meu passado. — Mahina e Kazuki entreolharam-se com o canto dos olhos, evitando ao máximo mexerem a cabeça. — Vocês compreendem?

Com um ascendo rápido de cabeça os dois assentiram, Emiko respirou fundo. Ela teria que reviver seu passado antes que pudesse conta-lo as crianças e não queria lembrar um minuto sequer dos tempos em que propagou sofrimento à outras pessoas. Fechou os olhos, respirou fundo e começou a contar as crianças.

— Há onze anos um pedaço da lua, a que fora formada na última grande batalha, se soltou e dividiu-se em vários fragmentos que caíram por todo o mundo. Desde então várias pessoas começaram a ganhar novamente os poderes das antigas lendas shinobi. Depois disso tudo piorou, há décadas não há um lugar no mundo que não esteja em constante conflito e derramamento de sangue. Eu sei, eu estive nesses lugares. — Ainda de olhos fechados ela apanhou a Katana e num movimento sútil fatiou o peixe assado na metade, as crianças arregalaram os olhos. O corte fora tão preciso que sequer arranhou a tábua sob o peixe. — Mas depois que o chakra voltou, algumas pessoas tornaram-se mais poderosas que outras, muito mais poderosas, pessoas que já eram ruins tornaram-se piores e outras foram corrompidas. Tudo começou a ruir e depois que eu fiquei grávida fugi para o norte. Para que vocês crescessem num lugar de paz.

Mahina estava com os olhos cheios de água.

— Mamãe? Eu vou virar um monstro? — As lagrimas começaram a escorrer no rosto alvo e delicado da menina. Emiko abriu os olhos e contemplou a expressão desesperada da filha e depois encarou Kazuki por não conta-la a verdade, mas ficou feliz por protegido a irmã.

— Não, minha linda lua. Você não se tornará um monstro, nem você Kazuki. No entanto pessoas ruins virão atrás de vocês e eu não estarei sempre aqui para protege-los. Vocês precisaram aprender a se defender e eu os ensinarei tudo que sei, enquanto tivermos tempos. — Ela repousou a Katana novamente no centro da mesa. — Agora vamos comer. Amanhã começaremos a treinar.

Os três agradeçam pela comida e começaram a comer. Estava deliciosa, há tempos Emiko não prepara uma refeição tão farta, ainda assim havia um gosto amargo ao final da refeição. Um gosto de preocupação.

— Não se preocupem, eu cuidarei de tudo. Agora os dois, direto para a cama! Vão, vão. — Acenou que se apressassem.

Enquanto lavava a louça à frente da janela era como se pudesse enxergar e ouvir o seu passado. O tinido metálico das lâminas de suas irmãs se chocando velozmente durante um treino, o sangue quente que vazava dos corpos logo sem vida de seus adversários, o grito desesperados de mulheres que perderam os maridos. Os olhos de Emiko encheram-se d'água, mas lagrima alguma caiu. O semblante em seu rosto ficou sombrio, a memória de um rosto de um homem invadiu-a mente, ela derrubou um dos copos de madeira ao chão e agarrou firmemente à quina da pia.

— Um dia farei você pagar. — Jurou à Kaguya, com os olhos transbordando ódio e rancor.

Apanhou o copo e afundou todas as emoções para a caixinha de onde fugiram. Amanhã será um novo começo e ela sabia que precisava estar no controle de si.

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