Hachi
SEIS MESES DEPOIS
— Se vocês dois pensam que vão sobreviver ao Akira desse jeito, estão muito enganados! — O espadachim acertou um golpe na cabeça de cada um. — Agora levantem! Espero que vocês tenham dominado a técnica de aparar com os olhos vendados perfeitamente até a hora do jantar!
O senhor subiu os degraus e parou ao lado de Emiko.
— Seus filhos são um desastre. A menina até que leva jeito, mas o rapaz. Uma vergonha! Tem mesmo certeza de que são seus filhos.
Emiko sorriu.
— Tenho, Natsu. Você só precisa dar uma chance a eles. Kazuki vai te surpreender, mesmo que não consiga cumprir os seus prazos absurdos.
— Você cumpia — Natsu retrucou.
— Eles ainda são crianças.
— Se me lembro bem, quando te deixaram para mim, você tinha pouco mais de treze anos. Era formidável. Até hoje não consigo entender porque você largou o serviço. Era um bom trabalho.
— Natsu, você sabe muito bem porque eu parei. Não quero soar ingrata, mas, na próxima vez que tocar no assunto, eu cortarei sua língua.
O velho Natsu deu uma boa gargalhada, até que o resultado de seu tabagismo crônico transformou a risada em uma série de tossidas carregadas.
— Eu disse que aqueles cigarros ainda te matariam.
— A situação que você me colocou, me matará antes. Tenho certeza. — O velho a fitou com o olhar pétrido.
— Sobre isso... alguma notícia nova a respeito de Ariko?
Natsu assentiu.
— Conversaremos sobre isso mais tarde. No momento, eu agradeceria se você desse algum do seu talento para aqueles abestados.
— Já lhe disse. Não há com o que se preocupar. Eles têm talento de sobra.
Natsu subiu os degraus de madeira com dificuldade e entrou nos aposentos de seu dojo.
Emiko estava sentada no primeiro degrau, os pés descalços e o robe branco florido raspando no chão do pátio. Já era quase dezessete horas da tarde.
O dia estava perfeito— sem nuvens no céu, brisa suave e sol reconfortante —, teria sido um absurdo desperdiçar tamanha benção treinando sob o teto empoeirado daquele dojo.
Natsu havia colocado um colchonete e duas vendas pretas sobre os olhos dos dois. O treinamento de hoje era aparar com uma katana qualquer tipo de ataque ninja — sem contar o ninjustsu, é claro.
Os dois já haviam dominado o Byakugan. Emiko não entendia a necessidade das vendas. Se Ariko enfrenta-se as crianças agora, os olhos míticos seriam cruciais para o combate. Mas longe dela questionar as técnicas de seu antigo mestre. Ao menos, essas técnicas.
— De novo... De novo... De novo... — Kazuki repetia a cada golpe que tomava.
Mahina por outro lado, bufava impacientemente.
Cuidado minha filha, há mais mérito no trabalho duro do que no talento bruto, Emiko pensou. Precisava se lembrar de passar esse conselho, novamente, para a filha. Talvez ela tenha ignorado as últimas cinco tentativas. Era sempre assim, na primeira dificuldade que falhava, Mahina dessistia. O irmão por outro lado, nunca acertava de primeira, mas ficava horas a fio compensando suas dificuldades. A longo prazo, apenas uma das características é importante.
E era óbvio qual.
As duas espadachins de elite — ou assassinas de aluguel — eram bem pacientes com o treinamento dos jovens. Talvez até preferissem estar ali, considerando a taxa de criminalidade que se encontra o país do fogo. O que Emiko duvidada. Uma coisa que todas as serventes de Natsu tinham em comum era a sede de sangue.
Ela sabia bem.
Por isso, também, não encostou um dedo sequer em qualquer arma daquele dojo, e eram várias.
As horas até anoitecer passaram rápido. Emiko não interferiu momento algum no treino de seus filhos, mas também não tirou os olhos deles. Apesar de toda as comodidades que seu antigo sensei os dera, ela ainda tinha um pé atrás com a ordem das espadachins. E elas tinham com Emiko.
Jamais se dá as costas para a "justiça". Pelo menos era assim que chamavam. Emiko partira há mais de dez anos, mas a amargura de suas antigas irmãs perduraria por mais tempo que ela permaneceria viva naquela terra. Desde de que tratassem seus filhos bem e os ensinassem os meios para sobreviver ao caçador de ninjas, estava tudo bem por ela.
Finalmente Emiko encontrara Natsu — estava fumando no pátio dos fundos, fitando o céu estrelado.
— Você vai acabar se matando antes do tempo, velho — a antiga aluna brincou.
— E que tempo seria esse?
— Se esqueceu da promessa que eu fiz? Naquele segundo treino?
— Ah... — Natsu disse, um sorriso no rosto. — Como poderia esquecer? Aqueles olhos... tenho pesadelos com eles até hoje sabia?
— Chega de conversa fiada, Natsu. Preciso saber o que você sabe o Ariko.
Natsu apagou o cigarro no tronco de sakura.
— As notícias não são boas, Emiko. Ele matou seis pessoas que deram o azar de encontrar um pedaço do que seus filhos encontraram. Seis, Emiko! Uma droga de família inteira. — Ele endireitou a postura o máximo que sua escoliose permitiu. — E isso foi no país do vento. É aqui do lado. Não sabemos para onde ele irá a seguir, mas uma coisa é clara. Os seus filhos não estão prontos. Só podemos torcer que nenhum boato sobre as crianças espalhe pela cidade. A ordem ficara quieta...
Ele continuou falando. Emiko, no entanto, ficara presa a um fato inquestionável. Nenhum dos dois estava pronto. Nem mesmo ela ou a própria ordem seriam capazes de pará-lo.
Se Ariko vier ao país do fogo e souber de Mahina e Kazuki, estarão todos mortos.
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