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Nath e Eileen

Algum lugar do Mundo Sombrio

A missão era investigar as movimentações de uma bruxa desconhecida, que estava viajando através da barreira com uma frequência fora do normal. Os anjos da resistência tinham um controle sobre as atividades das Criaturas Sombrias em ambos os mundos, e os indivíduos que queriam a paz, cediam de bom grado as informações. A intenção era manter uma comunicação entre as criaturas, com o intuito de fortalecer a resistência aos opressores.

As duas tinham treinado a parceria, e eram a formação ideal para entrada, investigação e saída furtivas de qualquer lugar. Treinaram também o uso de amplificadores de poder, assim Eileen poderia estender o seu poder de movimentação pelas sombras, levando Nath consigo, e a Bruxa, por sua vez, teria alcances ainda maiores com seus portais.

Elas tinham levado consigo sensores de atividade mágica, rastreadores de poder, e alguns bloqueadores,  além de armas mágicas, caso precisassem.

Das sombras, elas viram um portal se abrir, e se puseram em estado de alerta, pois, pela assinatura mágica, se tratava de um portal dos magos, mas não era artificial, o que dizia que o mago que sairia dele, seria de uma família tradicional, por ter mágica natural.

Ligando a sua câmera, Eileen registrou quando, do portal, saíram dois magos e dois soldados vestindo uniforme e capacete, escoltando uma jovem humana, que parecia ser prisioneira.

— Alô, Pete — Eileen disse em uma espécie de comunicador — consegue me ouvir?

— Alto e claro, Leen — o Bargheist respondeu, com ar presunçoso — como era de se esperar de uma invenção minha.

— Deixa pra se gabar depois — ela disse, rindo da confiança dele —, estou enviando visual. Consegue identificar os indivíduos através do banco de dados?

— Vou verificar, e já retorno — ele disse — enquanto isso, mantenha distância, se eles tem magia natural, podem ser perigosos.

— Entendido — Eileen respondeu, e voltou a atenção para o grupo que saiu do portal, e agora esperava por algo, até que outro portal se abriu, agora de natureza sombria, e segundo a assinatura mágica era da bruxa que estavam rastreando. Do portal a Bruxa saiu, com um vestido apertado e longo. Ela andava com elegância e firmeza, e era seguida por soldados que usavam uniformes e capacetes iguais aos que traziam a jovem cativa.

— Como ela consegue andar com aquilo? — Eileen perguntou, referindo-se ao vestido que a bruxa usava, que era apertado em todo o seu corpo, definindo completamente suas curvas. O sapato de salto que ela usava, também parecia ser desconfortável, ainda mais para andar no piso irregular da floresta onde estavam, mas ela os usava com uma destreza ímpar.

— Nossos vestidos são mais longos que os seus, realmente — Nath disse —, mas não são tão apertados assim. Quem será aquela jovem que está com eles?

— Eu não sei — Eileen respondeu —, mas não podemos fazer nada por ela agora. São dois magos, a Bruxa e os soldados, seria arriscado demais.

— Pete — ela chamou no rádio mais uma vez —, conseguiu alguma informação sobre eles?

— Um dos magos é Klaus Storm, tio do atual líder dos magos, já o outro não aparece em nenhum registro — ele respondeu pausadamente, como se lêsse as informações no momento em que falava —, a bruxa realmente é desconhecida.

— As assinaturas de poder do segundo mago são semelhantes às da Mãe — Pete continuou, após uma pausa —, o que diz que ele conseguiu seus poderes através de um pacto rúnico também. Talvez por isso não conseguimos reconhecê-lo através do banco de dados.

— E quanto aos soldados — Nath perguntou —, que tipo de criatura são?

— Eles tem traços de magia, mas são humanos — ele disse, meio incerto da resposta —, o que me intriga é a assinatura de calor deles que está na temperatura ambiente a dezessete graus celsius. Apenas vampiros tem uma temperatura corporal tão baixa.

— Nós estamos voltando, Pete — Eileen disse no rádio —, não podemos arriscar mais, agora que sabemos que os magos estão envolvidos.

— E quanto à garota? — Nath perguntou, a interrompendo — Não podemos deixá-la com eles!

— É arriscado demais, Nath — Peter disse —, a ordem é voltarem imediatamente.

— Eu não conseguiria dormir pensando que poderia ter ao menos tentado salvá-la — a bruxa disse, olhando para a amiga com um olhar de súplica.

— Tudo bem — Eileen disse, não resistindo —, vamos observar mais um pouco, e havendo uma brecha, nós tentaremos, mas se eu ver que é muito arriscado, nós daremos o fora. Entendido?

— Entendido! — Nath respondeu com um sorriso.

Elas se aproximaram pelas sombras, ficando a uma distância segura. Os dispositivos tecnológicos de Peter impediam que seus poderes fossem rastreados pelos magos, o que facilitava o trabalho de espionagem. De onde estavam agora podiam ouvir o diálogo, que não parecia nada amigável.

— Vocês são uns incompetentes — elas ouviram a Bruxa dizer, reagindo a uma conversa que não tinham ouvido de onde estavam —, os Vampiros tiveram o híbrido na mão e o deixaram escapar!

— Eu peço perdão, Lady Beatrice — o mago careca, que Peter havia dito que era humano disse, após fazer uma reverência —, eles saíram de minha presença com o híbrido completamente dominado, usando uma coleira inibidora de poder. O ataque da caçadora foi um imprevisto, mas eu lhe trouxe a irmã adotiva dele. Tenho certeza de que ela pode ser uma ótima isca.

— Ela é uma bela jovem — o mago identificado como Klaus disse —, tenho certeza de que Lorde Thayron irá gostar do presente!

— Imagino que você não saiba que seu pai está vivo, não é mesmo Klaus? — a Bruxa chamada Beatrice disse — Você sabe o que Thayron faz com incompetentes, não sabe?

— Impossível! — o mago gritou, surpreso — Eu vi o corpo dele se desfazer com as flechas de purificação!

— Vocês o subestimaram — ela disse —, assim como Lorde Thayron, ele também domina as ciências mágicas ocultas e escapou de vocês facilmente. Você deve voltar imediatamente ao parlamento e manter vigilância contra ele e o que quer que ele possa estar tramando contra nós. Pode ser que ele tenha apenas fugido, mas nunca se sabe.

Sem dizer mais nada, o mago abriu seu portal e o atravessou, deixando os outros que vieram com ele ali.

— Você, Gignac, virá comigo! — ela continuou, voltando-se para o careca e abrindo novamente o seu portal — Temos outra missão para você. Tragam a jovem, ela parece estar fraca e precisa se alimentar, depois decidimos o que fazer com ela.

— Nós vamos perdê-los! — Eileen disse para Nath, assim que todos passaram pelo portal e ele começou a se fechar, mas ao olhar para o lado, não viu a bruxa, e olhando para onde estavam os inimigos, viu a companheira surgindo de um portal — Droga, Nath!

— Nós precisamos conversar sobre essa atitude, Nath — Eileen disse, se aproximando —, você é nova na equipe e suas atitudes impulsivas podem prejudicar as missões!

— Me desculpe, amiga — Nath respondeu —, mas eu precisava ser rápida para pegar a assinatura do portal dela. Eu sei para onde eles foram, mas pode ser arriscado segui-los, então, se quiser, a gente volta para a base.

— Peter, na escuta — Eileen disse no rádio —, estou com problemas na comunicação, podemos perder o contato a qualquer momento, mas assim que der, eu entro em contato novamente.

— A comunicação estava boa, amiga — Nath disse, após ver Eileen desligando os comunicadores.

— Se vamos salvar a garota, tem que ser extraoficialmente — a demônio respondeu —, temos que ser rápidas para nos escondermos assim que sairmos do portal, para não sermos vistas.

— Entendido — Nath respondeu, levando a mão à testa em uma continência, fazendo a amiga rir e rindo junto.

Abrindo o portal elas o atravessaram, e saíram próximas à uma grande construção sem muros, mas com soldados que, não fosse pelas sombras de Eileen, as teriam visto. Movendo-se pelas sombras, elas se aproximaram, e viram a jovem sendo levada pelos soldados até um cômodo que parecia ser uma cozinha, que por sinal era muito bem equipada. 

— Nada de soldados e suas armaduras sujas na minha cozinha — uma senhora negra e gorda disse, enquanto empurrava os dois soldados para fora.

— E você, pequenina — ela continuou, agora carinhosamente, voltando-se para a jovem —, parece que não come direito à dias. Vem, vou preparar alguma coisa para você!

— Olha, eu sei que está aqui contra a sua vontade — a senhora disse, enquanto mexia nas panelas e armários apressadamente —, mas você deve ser importante para eles, senão não teriam trazido você para cá. Os outros humanos que chegam nunca comem, e parecem não ter pensamentos próprios.

— Eu sei exatamente o que você precisa — a mais velha continuou seu monólogo, vendo que a menina continuava calada e retraída —, ninguém resiste ao macarrão cremoso da Dona Aparecida, e eu vou colocar bastante queijo. Faço questão de que seja o de lá da minha terra, pois o queijo de Minas Gerais é o melhor que existe nos dois mundos.

O cheiro da comida estava maravilhoso, e as duas precisaram conter o ímpeto de entrar e pedir um prato. A senhora cozinheira manipulava a colher de pau como um maestro com suas batutas rege uma sinfonia, e por fim, desligando o fogo, pareceu terminar o preparo, então enchendo um prato com o macarrão cremoso, o levou até a mesa onde a jovem estava e se sentou de frente para ela, esperando ela comer.

Sem pensar muito, a menina começou a comer, fazendo a senhora abrir um sorriso de satisfação, que mostrava visivelmente que ela amava cozinhar e amava ainda mais ver as pessoas comendo as comidas que preparava.

— Eles estão atrás do meu irmão — a jovem disse, chorando, após comer quase todo o macarrão —, mataram meu pai e minha mãe, e agora querem me usar para atraí-lo e capturá-lo.

— Mas o que o seu irmão tem de tão importante, para ser caçado assim? — a mulher perguntou, pegando o prato vazio para enchê-lo novamente.

— Disseram que ele era híbrido ou algo assim — ela respondeu, enxugando as lágrimas —, e algo sobre ele ser uma peça importante para vencer a guerra. No início parecia um pesadelo, mas agora eu vi que esses monstros realmente existem, e que o Matt é um deles. Tudo o que eu queria era acordar e ver que a minha família está bem, mas sei que não será possível!

— Infelizmente, minha pequena — a senhora disse fraternalmente, voltando para a mesa, sentando-se e entregando novamente a ela o prato —, o mundo sombrio é real e as criaturas sombrias também, inclusive nós estamos no mundo sombrio. Já fazem dez anos que eu cozinho para Lorde Thayron, e como eu não tinha mais família, foi fácil vir para cá e viver fazendo o que gosto. Ele me trata muito bem até. Eu fico longe das perversões dele, e ele me deixa quieta na minha cozinha.

— Me desculpem por entrar assim — Nath disse, pegando as duas de surpresa ao entrar na cozinha, após escutar a conversa delas —, mas vimos os soldados trazendo você pra cá contra a sua vontade e viemos te libertar.

— Precisamos ir agora, Nath — Eileen disse, entrando logo em seguida — os soldados nos viram.

— Vocês são loucas! — a senhora disse, levantando-se de sobressalto — Se o Lorde Thayron pegar vocês, ele irá matá-las, ou fazer coisa pior!

— Você vem com a gente? — Nath perguntou para a jovem, que olhou para Dona Aparecida, e após o sorriso dela, se levantou apressadamente.

— Vem com a gente também, Dona Aparecida! — a jovem chamou

— Eu vou continuar por aqui mesmo — ela respondeu com um sorriso —, sinto que é o meu lugar, mas desejo boa sorte para vocês!

— Use seu portal, Nath — Eileen gritou, vendo — é mais rápido.

— Estou tentando — a Bruxa respondeu —, mas não funcionam aqui.

— A única magia que funciona aqui dentro é a de Lorde Thayron! — a cozinheira disse — Eu vou tentar atrasar os soldados, então saiam pela outra porta e sigam pelo corredor à esquerda. Vocês sairão no depósito e depois estarão do lado de fora.

— Muito obrigada! — a jovem disse abraçando a mulher —, talvez voltemos a nos encontrar algum dia.

— Talvez — Dona Aparecida respondeu, retribuindo o abraço —, mas agora se apressem!

As três garotas saíram da cozinha e viraram à esquerda, saindo em um depósito, conforme a mulher havia dito. Um soldado apareceu e as cercou, forçando-as a entrarem em combate corporal contra ele. Eileen acertou-lhe uma sequência de golpes, terminando com uma rasteira que o fez cair de costas no chão, e imediatamente, retirando uma adaga de seu cinto, ela cravou no olho  dele, e para então foram em direção ao portão. Antes de sair um barulho as fez olhar para trás, para ver que mesmo com a adaga fincada no olho, o soldado estava de pé, e partia para o ataque.

— Vejo que conheceram meu Adharta, meninas — uma voz masculina disse, acompanhada pelo som de palmas,e olhando na direção de onde a voz veio, elas viram um homem usando uma sunga de banho e sem camisa, mas com um roupão por cima dos ombros —, eu não sei quem são vocês e nem porque estão aqui, mas estão com algo que é meu. Deixem a garota humana e eu penso em deixar vocês irem.

O galpão do depósito era grande e elas corriam para a saída, mas um grupo de soldados pararam na porta cercando-as. Outros grupos de soldados vieram de outros lugares também, mas quando pensaram que estavam perdidas, um portal se abriu no meio do galpão, e a bruxa e o mago careca saíram com mais alguns soldados, mostrando que no galpão a magia era permitida.

— Vamos, Nath, precisamos do portal agora! — Eileen gritou para a amiga, vendo a última oportunidade.

— Ele está na minha mente — a bruxa respondeu, referindo-se ao homem de roupão, que sorria para elas —, eu não consigo visualizar lugar algum para onde poderíamos ir.

— Eu sei que não entendo muito de poderes — a jovem disse —, mas parece que qualquer lugar é melhor que aqui.

— Eu vou tentar — Nath disse, conjurando um portal mesmo sem conseguir visualizar para onde iria —, mas não posso controlar para onde vamos.

— Não temos escolha, vamos — sem pensar, Eileen segurou o braço da jovem e pulou com ela no portal, seguida de Nath que fechou a passagem antes que os soldados as alcançassem.

Elas saíram em uma espécie de deserto. O ar era uma mistura do ar do Mundo Humano com o do Mundo sombrio, e o solo era pedregoso e seco. O sol que banhava o local era vermelho e fosco, além de não ser muito quente, o que dizia que as noites ali eram escuras e frias. Para Eileen isso poderia ser até uma vantagem, mas para Nath e para a humana, poderia ser terrível uma noite sem sol. Nath estava bem debilitada devido ao esforço para tirá-las do depósito de alimentos de Lorde Thayron, e precisaria descansar antes de tentar levá-las para casa, então precisaria encontrar algum abrigo naquele deserto pedregoso, antes que anoitecesse, se é que ali anoitecia.

— Pete, consegue me ouvir? — Eileen ligou o rádio e chamou, mas só recebeu em retorno a estática — Droga, o rádio não funciona!

— Talvez se encontrarmos uma frequência correta para o tipo de atmosfera desse lugar, a gente consiga fazer funcionar! — a jovem disse com convicção, fazendo as duas olharem na sua direção com curiosidade — Meu pai era radioamador, e me explicava a funcionalidade das ondas e frequências.

— O rádio estava programado para o Mundo humano e para o Mundo Sombrio — Eileen disse, pensativa —, e o Peter nunca erra em suas invenções, então se o problema for a frequência atmosférica, nós não estamos em nenhum dos dois mundos.

— Isso é possível? — a jovem perguntou e as duas olharam para Nath, que tentava entender que lugar era aquele.

— Talvez seja — a Bruxa respondeu, ainda pensativa —, dentro dos portais existem algumas brechas e eu já ouvi casos de bruxos que caíram no meio de um portal e nunca mais foram encontrados. Isso sugere que existem outros espaços entre o Mundo Sombrio e o Humano.

— Isso quer dizer que estamos presas aqui? — a jovem perguntou.

— Não exatamente — Eileen respondeu —, nós temos uma Bruxa poderosa, amplificadores de poder, um rádio comunicador e uma especialista em rádio comunicação. Vamos achar um lugar para nos protegermos da noite e pela manhã, quando a Nath estiver recuperada, a gente pensa em algo.

— Lá ao longe, parece ter uma montanha e uma floresta — Nath disse, olhando através de um binóculo —, É estranho não dar para ver a olho nu, mas segundo a leitura do binóculo, são dez quilômetros.

— Se não começarmos a andar, jamais chegaremos lá — disse a jovem humana.

— Eu gostei de você, sabia — a demônio disse, sorrindo —, meu nome é Eileen e essa é a Nath, eu sou Demônio e ela Bruxa, mas não se assuste, teremos tempo para dar mais detalhes.

— É um prazer conhecer vocês — ela respondeu com um sorriso radiante, enquanto caminhavam —, o meu nome é Lilly, e eu acho que já não me assusto com mais nada.

Todas sorriram, e caminharam na direção da cadeia de montanhas, à procura de um abrigo naquele lugar desconhecido.

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Letti Tiberius

Wallkill, Condado de Ulster

Nova Iorque, Mundo Humano.

Mestre Kaius, ainda como Veränder e Letti Tiberius planejaram fugir, mas antes de sair da propriedade de Lorde Tiberius, ele conjurou novamente a sua magia proibida, para mudar a fisionomia de Letti e para reanimar um cadáver, ao qual deu a fisionomia dela, assim a ausência dela não seria notada. Eles entraram em um portal e fugiram para uma cabana grande em Wallkill, propriedade que o mestre Kaius mantinha sem o conhecimento de ninguém, mas antes, encantaram o golem, para que conseguissem controlá-lo como a uma marionete, mesmo à distância.

Já na segurança de seu novo lar, eles acompanhavam, através da visão da cópia de Letti, tudo o que ela fazia e viram quando os jovens magos, que tinham ido por conta própria, atrás de Cathe voltaram. Segundo eles, Cody tinha ajudado a irmã a fugir, e Klaus tinha aproveitado para jogar todos os magos contra os irmãos Storm, convencendo as famílias tradicionais a nomeá-lo Líder dos magos até que pudessem organizar outra eleição.

— Nós precisamos avisar o Cody sobre o que está acontecendo — Letti disse, alarmada com os acontecimentos —, se ele voltar para casa vai ser preso, e vão dar um jeito de matá-lo.

— Acalme-se, querida — mestre Kaius disse, agora já com a sua fisionomia original —, agora que sabemos que os necromantes estão agindo, eu preciso preparar você antes de enviá-la até o meu neto. E não se preocupe, se ele fugiu com a Cathe, eu sei para onde eles irão e sei que ficarão sabendo de tudo o que está acontecendo.

— O senhor acha que eu serei capaz de dominar a necromancia? — ela perguntou, com a voz cheia de incertezas.

— Eu tenho certeza, Letti — o mais velho  respondeu, colocando as mãos no ombro dela —, mas vamos chamar de Ciências ocultas da magia.

— Ela chegou! — ele continuou, após ela estar mais calma — Venha, quero que conheça alguém.

Chegando da porta, ela viu uma mulher que aparentava ter seus cinquenta anos, que aliás, era a aparência de Mestre Kaius também. Ela tinha cabelos pretos, lisos e longos, pele morena e traços indígenas que faziam dela uma mulher incrivelmente linda. O homem se apressou para ir até ela, e tomou de suas mãos uma caixa aparentemente pesada, que ela trazia consigo.

— Letti, essa é a Jaya — ele disse, assim que se aproximaram da jovem —, ela vai nos ajudar com as coisas.

— Você é — Letti começou a dizer, ainda admirada com a beleza da mulher, mas a mesma a interrompeu.

— Sim, eu sou humana — Jaya completou, sabendo qual era a pergunta —, e sei tudo sobre vocês. O meu povo cultua vocês como deuses a séculos. Kaius me salvou de um ataque de lobisomem a trinta anos atrás e desde então…

— Vocês estão juntos! — Agora foi a vez da jovem completar, abrindo um sorriso ao entender tudo — Isso é maravilhoso, e é um grande prazer conhecê-la!

— Vai ser ótimo ter você aqui conosco — Jaya disse sorrindo —, você tem uma aura muito boa!

— Jaya tem uma sensibilidade acima do comum, para humanos — mestre Kaius disse, após entrar e colocar a caixa em cima de uma mesa —, mas nós não quisemos enfrentar o parlamento para ficarmos juntos, como meu filho Kenneth e Margareth fizeram. Ao invés disso, nós vivemos aqui todos esses anos, como humanos mesmo. Quando eu não podia vir, ela ficava com a tribo, mas sabíamos que chegaria o dia em que eu viria de vez.

— É nítido o amor de vocês dois — a jovem disse —, mas e quanto à sua imortalidade?

— É aí que você entra, minha jovem — ele disse, segurando nas mãos de Jaya, e ambos olhando para Letti —, eu vou te ensinar tudo o que sei, e te prepararei para manipular uma grande quantidade de poder. Eu irei separar a essência dos meus poderes, da minha alma humana e passarei a ser mortal também, mas para isso eu preciso que você receba e assimile toda a essência que eu liberar.

— Eu estarei pronta, mestre — ela disse sorrindo!

— Agora eu vou preparar o jantar — Jaya disse, sorrindo também —, quando estiver pronto eu chamo vocês.

Os dois seguiram para uma sala, que tinha algumas estantes cheias de livros e sentaram-se em poltronas. Com um aceno, mestre Kaius acendeu a lareira, impressionando Letti com a variedade de magias que ele dominava. Ali começava o treinamento e ela estava disposta a aprender o máximo que pudesse, para ajudar a derrotar seu irmão, seu pai e os necromantes aos quais eles se aliaram.

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