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Cathe

Floresta do Pôr do Sol - Montanhas Catskill

Mundo humano.

— Como assim está viva? — Cody perguntou — Você está ficando louca de vez?

— Vem comigo — ela disse, pegando um portal portátil em um de seus dispositivos.

— Largue esse portal agora, Cathe — ele ordenou, armando uma estaca de gelo na palma de sua mão —, ou eu terei que atirar!

— Atire se quiser, Cody — ela deu de ombros e, ativando o dispositivo, fez surgir um portal ao seu lado —, ou pode vir comigo e ver o que eu quero te mostrar.

— Cathe, não — ele tentou fazê-la para, mas ela o ignorou e entrou no portal, que permaneceu aberto —, droga!

Sem pensar mais, ele foi atrás dela e saiu em um grande salão, que pelas parede rochosas, devia ser dentro de uma caverna. Cathe estava em sua frente e na parede próxima a ela tinha uma mensagem escrita em letras grandes.

"Tudo nessa vida tem dois lados, alguns são opostos e outros iguais, mas se procurar no lado certo das coisas e pessoas, as chances de encontrar o que procura são muito grandes."

— Foi você que escreveu isso aqui? — ele perguntou, após ler a frase.

— Claro que não, Cody — Cathe respondeu, revirando os olhos —, dá para deixar de ser cabeça dura ao menos um pouco?

— A história é longa, tá — ela continuou —, mas eu vou tentar resumir, então vê se presta atenção!

— Cathe, não — ele começou a dizer, mas dessa vez, foi ela quem fez sinal para que ele se calasse.

— Agora é você quem irá só escutar, Cody — ela disse após ver que ele lhe prestava atenção — Quando eu saí aquela noite para caçar, eu não imaginava que iria me envolver em algo maior. Tudo o que eu queria era provar para você que eu era uma caçadora tão boa quanto você, para você ter orgulho de mim. Eu tinha acabado de descobrir que possuía magia natural, e precisava desenvolvê-la.

— Eu vi o Matt sendo atacado por vários vampiros, no meio da rua na periferia, e então matei os vampiros, mas não consegui matá-lo. Ao invés disso, eu o levei para um lugar no mundo sombrio, onde eu ia para treinar e o prendi lá.

— Eu fiquei mal por não tê-lo matado, ou por tê-lo deixado preso lá — ela continuou, após uma pausa — e após a nossa discussão em casa, eu fui até ele para soltá-lo ou matá-lo, mas chegando lá eu vi um goblin e um bugbear sendo atacados por ogros, e não resisti em ajudar, mas fui atingida e teria sido morta se o Matt não tivesse me salvado usando uma de minhas adagas que tinha caído.

— Eu gastei energia demais na batalha e com a pancada que levei, eu acabei desmaiando. Quando acordei, tinha sido levada para uma aldeia onde Goblins e Bugbears viviam em harmonia e mutualismo. A líder deles, que era uma Hobgoblin, cuidou de mim e me contou que eu e Matt éramos esperados lá, porque uma maga havia falado sobre nós.

— Ela me mostrou que vampiros estavam atrás do Matt, por ele ser filho de um híbrido de lobisomem e demônio com uma humana, e que queriam usá-lo como arma. Na visão do ataque à família dele, eu vi um mago usando portais para ajudar os vampiros.

— Você devia ter voltado e me falado sobre isso — ele disse, após assimilar o que tinha ouvido.

— Eu tentei — ela respondeu —, mas a aldeia foi atacada por demônios e ogros que procuravam pelo Matt, e ele não quis fugir, então eu lutei ao lado deles e vencemos a batalha. A anciã deles então me mostrou as lembranças da maga que tinha falado com ela da visão sobre o Matt e eu.

— Era a visão da mamãe, quinze anos atrás — ela disse, com os olhos marejados e a voz dando indícios de choro.

Cody se sentou no chão, com as costas escoradas na parede rochosa e enterrou a cabeça nas mãos. Era realmente muita coisa para assimilar, mas via verdade nas palavras da irmã.

— Ela queria ir sozinha — ela continuou, agora já chorando — e queria nos contar a verdade sobre ela ser meio humana, mas o papai não deixou. Ele chamou a comitiva e eles se encontraram com as criaturas em um cânion. Estavam prestes a firmar uma aliança quando foram atacados por soldados infiltrados e por vampiros armados com armas mágicas. A última visão que Irina Blake teve, foi a de que eu ajudaria um jovem a mudar o rumo da guerra, e o papai em seu último desejo, pediu que a mamãe ajudasse as criaturas a formarem uma resistência, já que os magos estavam corrompidos, e pediu que Clóvis, Miranda e Irina, juntamente com ele, transferissem suas últimas reservas de magia para a ela, para que ela sobrevivesse.

— E esta era a sede da colônia da resistência que ela formou? — Cody perguntou. Ele estava chorando também, por ter passado todos esses anos achando que a mãe estava morta, e ainda a culpando por tudo.

— Sim — ela respondeu, sentando-se do lado dele —, mas precisou fugir daqui por algum motivo, e agora não sei para onde ela foi.

— Segundo a mensagem que ela deixou para você, maninha — ele disse, passando a mão em volta do ombro dela e puxando-a para um abraço —, ela está do outro lado dessa cadeia de montanhas, possivelmente nas montanhas Wittenberg.

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Letti Tiberius

Zona rural de Nova Iorque - Mundo Humano.

A propriedade dos Tiberius era onde ficavam as alas médicas em caso de calamidade. Pois a família era especializada em magia natural de cura, e tinham desenvolvido meios de usarem instrumentos para canalizarem magia de cura através de runas também. Então os magos médicos eram treinados em sua propriedade.

Os feridos dos atentados ao Parlamento estavam sendo tratados em hospitais de campanha construídos após os primeiros ataques, e Letti era a responsável pelos tratamentos mais delicados. Ela ainda não sabia o que faria quanto à traição de seu pai e seu irmão, mas não podia abandonar os pacientes ali, pelo menos não até eles estarem fora de risco.

Um paciente chamou sua atenção. Ela não o conhecia, mas ele aparentava ter a idade de seu pai, então não seria um soldado. Ele foi encontrado embaixo de uma das plataformas que caiu, e teve uma das pernas esmagadas, por isso foi preciso fazer a amputação do membro, e Letti o ajudava com sua magia na cicatrização e cuidava de outro traumas que ele sofreu.

Ele disse que seu nome era Veränder, e que era um mago andarilho, estava no Parlamento para prestar homenagens aos guerreiros que morreram para proteger os magos. Disse ser mais velho do que parece, e que viu o mandato de cinco líderes, e lamentava por pensar que Cody seria o último líder dos magos, e que os eventos que ocorreram seriam o princípio do fim.

Ele parecia ser apenas um louco, mas ela decidiu perguntá-lo o que ele sabia sobre necromantes.

— Nós podemos ser presos só por tocar nesse assunto — ele respondeu, fazendo uma cara de preocupado —, mas eu irei te contar o que eu sei.

— Há oitenta anos atrás uma equipe maga foi formada por jovens brilhantes e audaciosos, que se intitulavam cientistas da magia. — Veränder começou a sua história, assim que ela se sentou em uma cadeira do lado da cama dele — Esses jovens, admirados com a magia de algumas criaturas sombrias, começaram a usar corpos de determinadas criaturas vivas e mortas para desenvolver mecanismos de defesa contra esses poderes, mas na verdade queriam mesmo, era aprender a usar esses poderes também, tanto com dispositivos e runas, quanto como magia natural.

— Porém — ele continuou, depois de tomar um gole de água —, a natureza já tinha nos dado todos os poderes naturais que precisávamos para combater as criaturas sombrias, e esses experimentos foram considerados profanos pelo Conselho dos Élderes da época, por se tratarem de poderes como: a leitura de mentes e controle sentimental dos Hobgoblins; a transferência de espírito, ou possessão dos Demônios; as transfigurações dos Doppelgangers; além de outras magias que poderiam ser perigosas se dominadas por magos, até porque magos estão sujeitos a sentimentos humanos como a ganância.

— Indignados com o conselho, alguns dos jovens continuaram fazendo tais experimentos de forma clandestina — Veränder disse, abaixando o tom, como se isso fosse um segredo —, até que foram longe demais: Tentando dominar a magia da criação de seres, eles chegaram a uma equação entre a magia de vivificação de plantas das Sìtiches, o controle espiritual dos Demônios e as magia naturais e elementais de cura e de terra, e criaram uma espécie de golens de barro, que podiam ter raciocínio próprio, mas que se tornavam instáveis emocionalmente, e por isso eram perigoso.

— Vendo que estavam passando dos limites, um dos jovens os denunciou ao conselho, e então esses magos foram banidos para o mundo sombrio, sem dispositivos ou portais, e com runas que não os deixariam voltar ao mundo humano tatuadas pelo corpo. Esse grupo de magos renegados, passou a se chamar Necromantes, e nunca mais foram vistos no Mundo humano outra vez.

— Me surpreende inclusive ouvir uma jovem como você mencioná-los — o velho disse, com ar de suspeita —, porque os registros sobre esse grupo foram destruídos, e quem viveu aquela época com exceção dos membros do conselho dos Élderes e dos membros do grupo de magos cientistas, sequer ouviu falar da existência deles.

— Eu nem sei onde ouvi falar disso — ela desconversou —, só estava com esse nome na cabeça, nem sabia se era loucura minha, ou se tinha lido em algum livro de fantasia, mas por algum motivo eu liguei o nome "Necromantes" aos ataques.

— Enfim, faz sentido — ele continuou —, o jovem que fazia parte do grupo e os denunciou, se chamava Kaius Storm, e ele se tornou líder, cinco anos depois.

— Bom, senhor Veränder — ela disse, com um sorriso —, eu preciso cuidar de outros pacientes, muito obrigada pela história!

— Quando uma história revive, pequena — ele disse antes dela sair —, é porquê surgiram novos personagens e a parte deles precisa ser contada também. Alguns personagens precisam sair de cena para que outros possam protagonizar, então é importante aproveitar as "deixas", mesmo que se tenha que improvisar.

Com um sorriso, ela caminhou até as outras tendas. E seguiu cuidando dos feridos por toda manhã, até que um soldado lhe trouxe uma mensagem do seu irmão, dizendo que iria almoçar com o pai deles e que queria que ela estivesse presente.

Mesmo a contragosto, ela seguiu pra casa reunindo todo autocontrole que possuía. A história que Veränder havia lhe contado sobre os Necromantes ainda ecoava em sua cabeça, mas agora precisava se concentrar em não se entregar para Phillip e Phineas Tiberius, que ela nem sabia se devia continuar os chamando de irmão e pai, depois do que eles fizeram.

— Como está indo com os feridos, filha? — Lorde Phineas perguntou assim que ela entrou em casa.

— Está indo bem, pai — Letti respondeu, mas a palavra "pai" queimava em sua garganta, de forma desagradável —, eu irei tomar um banho, antes do almoço.

— Não demore, querida — ele disse, carinhosamente —, seu irmão já está quase chegando e o almoço está para ser servido.

Sem dizer nada ela foi até seu quarto e após se despir, entrou embaixo da água quente do chuveiro. Mesmo com o calor da água que lhe relaxava os músculos, ela não conseguiu conter o choro. Sua vida estava desmoronando, e as duas pessoas a quem ela mais admirava, se mostraram inescrupulosas e vis, então ela estava se sentindo sozinha e desamparada.

— Achei que você não viria mais, irmãzinha — Phillip disse, em tom divertido, sentado à mesa — estamos famintos aqui!

— Me desculpem — ela disse, séria e forçando um semblante cansado —, eu estou bem cansada e acabei ficando mais do que pretendia no banho.

— Tudo bem, era só brincadeira — Phillip se desculpou, vendo que ela não continuou com a brincadeira —, você realmente parece cansada, aconteceu algo com os pacientes?

— Não, eles estão bem — Letti disse, com um sorriso fraco —, eu é que estou assimilando todos esses ataques ainda. E estou muito triste com todas as mortes, estou torcendo para que peguem os traidores logo, e que eles sejam punidos da pior forma possível.

— Amém! — Lord Phineas disse, fazendo um sinal para que as empregadas trouxessem a comida — Imagino que seu irmão esteja cuidando disso, não é mesmo, Phill?

— É sim, pai — Phillip respondeu, com um sorriso dissimulado —, estamos fazendo todas as investigações possíveis, e o Klaus já está preparando o novo Conselho de Élderes, em caráter de urgência, devido à tragédia.

— Que bom, Phill — ela disse, forçando um  sorriso tão dissimulado quanto —, precisamos devolver a paz para o nosso povo.

Letti ficou calada durante a maior parte da refeição, enquanto seu pai e seu irmão conversavam sobre política e outros assuntos, como se nada estivesse acontecendo. A mente dela voou para Veränder e para a história que ele contou, e uma frase ecoou no caos de seus pensamentos:

"Me surpreende inclusive ouvir uma jovem como você mencioná-los, porque os registros sobre esse grupo foram destruídos, e quem viveu aquela época, com exceção dos membros do conselho dos Élderes e dos membros do grupo de magos cientistas, sequer ouviu falar da existência deles."

— É isso! — ela disse em voz alta, chamando atenção deles.

— É isso o quê, minha filha? — Lorde Phineas perguntou, curioso com a explosão repentina dela.

— Eu descobri como proteger as barreiras do Parlamento contra sabotagem — ela disfarçou, usando uma questão que ela já tinha resolvido mas não tinha falado com ninguém —, mas eu pretendo aplicar primeiro antes de falar com alguém, ou talvez nem fale com ninguém, afinal se só eu souber como funciona, caso haja algum problema, só eu serei responsabilizada.

— É um pensamento ousado e inteligente, Letti — Phillip disse, sorrindo —, Parabéns, você tem evoluído muito!

Ela apenas sorriu, e terminou a refeição. Algum tempo depois, Phillip voltou ao trabalho e ela também. Quase se entregou, mas conseguiu contornar, e agora precisava confrontar Veränder e saber quem ele realmente era. 

— Voltou rápido, pequena — Veränder disse, com um olhar de que já sabia o que ela iria dizer.

— Você disse que quem viveu aquela época, com exceção dos membros do conselho dos Élderes e dos membros do grupo de magos cientistas, sequer ouviu falar da existência deles — ela já chegou indo direto ao ponto —, então se você viveu naquela época, qual dos dois você é?

— Por que eu tenho que ser apenas de um dos dois grupos? — ele respondeu de modo enigmático.

— Caramba — ela disse sentindo a sua cabeça explodir, enquanto pensava no tipo de magia em que os magos cientistas trabalhavam: a transfiguração dos Doppelgangers, o controle mental e espiritual dos Demônios e a equação dos golens — o senhor é realmente incrível mestre Kaius, mas o que impede de eu te entregar para o meu irmão.

— Eu sei que não irá — ele respondeu confiante.

— Espera, o senhor leu a minha mente? — Letti perguntou preocupada.

— Não, pequena — ele respondeu rindo —, eu não li a sua mente.

— Agora que eu me dei conta de que não sei quais magias o senhor domina — ela ponderou, pensativa — se era um dos cientistas da magia, o senhor pode fazer qualquer coisa.

— Aliás — ela disse, olhando para ele — o que o senhor pretende fazer agora?

— Você irá me ajudar a fugir daqui, e eu te ensinarei tudo o que sei — ele disse, calmamente —, nós temos uma batalha a vencer, mas eu estou velho demais para usar tanta magia.

— O senhor acha que eu consigo? — ela perguntou receosa.

— Você é uma jovem brilhante, Letti —, o mais velho disse — e a sua magia natural de cura faz do seu corpo o mais resistente a reservas de magia. Cody e Cathe precisarão de você.

— E eu estarei pronta, Mestre — ela disse, agora sem hesitar — nós iremos essa noite!

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Cathe e Cody

Floresta do Pôr do Sol - Montanhas Catskill

Mundo humano.

— Cathe! — Grigg disse assim que ela saiu do portal junto com Cody — O Matt foi atrás de você e nós achamos que vocês tinham nos abandonado aqui.

— Nós não, Grigg — Frigg disse, interrompendo o irmão — Gaaki e eu dissemos que eles estavam apenas namorando e já iam voltar. Aliás, quem é esse outro bonitão, amiga?

— Então amigos, esse é o meu irmão Cody — ela o apresentou, e ele apenas deu um aceno tímido —, e eu imagino que perdeu outra aposta, não é, Grigg?

— Eu, que nada — o Goblin respondeu, sem graça —, parei com as apostas.

— Não perdeu porque não tem nada para apostar mais — Borgg disse, rindo —, e Frigg não quis ver ele andando pelado pela floresta, senão ele apostaria as roupas.

— Escutem amigos — Cathe disse, após rir deles — Eu preciso da magia de camuflagem de vocês. Cody, os Goblins te darão cobertura enquanto você liberta o Matt e nos encontra para passarmos pelo portal.

— Eu nem sei quem é esse cara, Cathe — Cody disse, carrancudo.

— Mas você sabe quem sou eu — ela disse, olhando-o nos olhos —, faz isso por mim.

— Tá bom, eu faço — ele respondeu —, mas depois vamos conversar sobre essa história de "namorando".

Sem falar mais nada, eles deram a volta e pararam em um ponto da floresta alguns metros atrás de onde Matt estava preso. Podiam ver a cúpula de gelo em que os quatro jovens magos pensavam que Cathe e Cody estariam. Frigg e Grigg combinaram algo, e apontando os cajados fizeram a magia acontecer.

— Pronto, amigo — Grigg disse para Cody, que não via mudança nenhuma no cenário —, sua vez.

— Mas eu não vi nada de diferente! — ele disse, confuso.

— Apenas confia, bonitão — Frigg disse, lançando-lhe uma piscadela — pode ir até lá e desfazer a sua magia de gelo. A camuflagem não é para você, é para eles.

Cody olhou para sua irmã, que fez um sinal de incentivo, então, sem pensar mais, ele partiu sem fazer barulho até onde estava Matt, que se assustou por vê-lo fora da cúpula onde tinha se prendido junto com Cathe.

— O lance é o seguinte, Matt — o mago sussurrou-lhe no ouvido antes de desfazer a magia que o prendia —, a Cathe me disse para confiar em você, então eu irei soltá-lo e iremos até ela, mas se você fizer qualquer coisa que trair a confiança dela e a magoar de alguma forma, eu juro que mato você!

Com um movimento, toda a magia de gelo de Cody se desfez, incluindo a cúpula e a parede gelada que fez com que os jovens magos esperassem a conversa que ele teria com sua irmã. Mesmo sem ter nada mais entre eles, os magos pareciam não vê-los. Estavam sentados e esperavam, como se tudo estivesse congelado ainda. Os dois, saíram para o local onde Cathe e os outros os esperavam, e Matt a envolveu em um abraço apertado, como se tivesse pensado que a tinha perdido, e isso incomodou Cody, ao mesmo tempo que o fez acreditar um pouco mais naquele sentimento.

— Ei, sem agarramento — o mago disse —, precisamos sair logo daqui.

Desfazendo o abraço, Cathe ativou um de seus portais, onde todos entraram.

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Jovens magos

Floresta do Pôr do Sol - Montanhas Catskill

Mundo humano.

A conversa entre Cody e sua irmã já estava durando tempo demais, e mesmo sem ter noção do tempo ali no escuro da floresta, eles sabiam que já tinham se passado horas desde que ele se prendeu lá com ela.

— O que será que eles tanto conversam, hein? — Ray perguntou, entediado por ter que esperar — O Cody podia ter deixado aquele cara solto pra gente lutar enquanto espera.

— Vamos pegar os Goblins enquanto esperamos — Sue sugeriu fazendo-os a olharem com um olhar de estranhamento —, que foi? Eles são criaturas sombrias, não são?

— Mas parecem tão indefesos — Mandy disse —, eu nunca achei legal caçar criaturas indefesas, que não atacaram ninguém.

— Então acha que devemos esperar que eles machuquem alguém para só depois agirmos? — Sue perguntou, como se aquilo fosse um absurdo total —, Alô, pessoal, acordem! Nós somos caçadores, nosso trabalho é acabar com a ameaça das criaturas sombrias ao Mundo humano!

— De que ameaça estamos falando, Sue? — Vicky disse, com tom reflexivo — Eles são tão ingênuos que atacamos dois dos amigos deles e eles sequer perceberam que tá rolando uma batalha na floresta, com raios, fogo e etc. Você quer simplesmente que a gente vá lá e mate eles assim do nada?

— É o que nos treinaram para fazer! — Sue insistiu — Não somos fiscais de comportamento, somos caçadores!

— Calma lá, sue — Ray entrou na conversa —, eu até concordo com o seu argumento, mas é sério que você se sente à vontade executando filhotes e crianças. Tipo tem um limite para a insensibilidade, não acha.

— Droga, pessoal! — Sue gritou, e desabou de joelhos, com as mãos no rosto, em um choro copioso e amargurado — Vocês têm razão! Eu enlouqueci de ódio, parei de pensar, e ainda trouxe vocês comigo.

Os três se aproximaram dela e a abraçaram. Ela sentiu o afeto deles e se deixou levar, chorando tudo o que não tinha chorado até agora.

— Tá tudo bem amiga — Vicky disse, chorando também —, pelo menos não fizemos nenhuma besteira.

— Não por falta de tentativa, né? — Sue respondeu, agora rindo, ainda entre as lágrimas e os outros riram também.

— Vamos levar a Cathelyn a julgamento e se ela for culpada, irá pagar — Vicky disse, enxugando as lágrimas —, inclusive por nossas maquiagens borradas.

— Ah não, eu devo estar parecendo um palhaço na chuva — Sue disse, assustada, ao lembrar da maquiagem —, Mandy, preciso rápido de um espelho!

— Mandy Erick, a garota dos espelhos — Ray disse, mudando o tom de voz, como se estivesse em uma propaganda —, a melhor amiga que uma garota pode ter!

— Cala a boca, Ray — Mandy disse rindo, enquanto entregava um espelho para cada uma das amigas.

— Pessoal, acho que fomos enganados — Vicky disse, assim que se olhou no espelho.

— Filhos da mãe — Sue gritou, olhando no espelho também.

Conjurando um espelho maior, eles puderam ver pelo reflexo, que o lugar onde estavam a parede de gelo, a cúpula onde Cody e a irmã conversavam e o cara preso na árvore, agora havia apenas a floresta e as marcas da batalha.

Correndo na direção da clareira onde as criaturas que vieram com Cathelyn deveriam estar, não encontraram nada também, e então aceitaram que deveriam voltar para casa, e aceitar que perderam aquela batalha.

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Lorde Trayron e Beatrice

Castelo do Exílio - Mundo Sombrio

O portal se abriu no pátio do castelo e ela saiu elegantemente em seu longo e justo vestido, sendo seguida pelos soldados. Beatrice era a porta-voz de Thayron no Mundo humano, uma vez que as runas do Exílio o impediam de voltar, e tinha poder de decisão em todos os assuntos do Lorde Necromante, mesmo antes de falar com ele.

Durante a guerra, poucas Bruxas permaneceram no Mundo Sombrio, a maioria tinha fugido para o mundo humano devido à facilidade de se passarem por humanos, mas ela preferiu ficar. Era extremamente habilidosa com portais, e isso era bem útil para sobrevivência, tanto para fugir do perigo, quanto para comércio, já que não existia transporte público no Mundo Sombrio.

Lorde Trayron a encontrou em seus primeiros dias de exílio, e ela foi essencial para que ele se tornasse o Lorde Necromante, pois com seus portais, ela o ajudou a sobreviver. Assim que foram banidos, mesmo dominando alguma magia, ele e seus companheiros sabiam que sem equipamentos, dificilmente sobreviveriam ali naquele ambiente hostil, então decidiram fazer um pacto de sangue, onde acordaram que quando qualquer um deles morresse, o poder mágico deste seria transferido para os demais em partes iguais, tornando os outros mais poderosos para sobreviverem. Desta forma, por muito tempo, ele viveu fugindo, sendo transportado por Beatrice em seus portais.

Depois de alguns anos, todos os outros Necromantes tinham morrido, e todo poder havia se acumulado com ele, que se tornou poderoso o suficiente para continuar seus experimentos e dominar outras magias. Tendo Beatrice como sua tenente, ele criou seu império, com soldados meio humanos, meio golens, usando sua magia profana para mesclar elementais de terra criados por ele, à humanos que Beatrice "recrutava" no Mundo Humano e levava para o Mundo Sombrio.

Essas novas criaturas, foram chamadas de Adhartas, e eram humanos melhorados, pois eram mais fortes, resistentes e não sentiam dor, o que fazia com que não parassem de lutar até estarem mortos.

— Me dê notícias boas, para variar, Beatrice — Thayron disse, assim que ela entrou na sala. Ele tomava banho em uma grande banheira inspirada em uma Thermas Romana, juntamente com seus servos e servas —, depois se quiser, tire esse vestido apertado e venha relaxar, a água está uma delícia.

— O Parlamento é nosso, Thay — ela disse, se servindo de uma taça de vinho —, mas não conseguimos nenhum Storm.

— O Parlamento já é um passo importantíssimo — ele disse, abrindo um sorriso e pegando a sua taça, a ergueu como brinde na direção dela, que retribuiu —, se nada der certo, o Klaus há de servir, a magia dele é fraca, mas o sangue de Kaius corre nas veias dele.

— Por falar em Kaius — ele continuou, após colocar a taça de lado e dar um beijo de língua em um rapaz que emergiu do espaço entre as suas coxas —, ele fugiu?

— Segundo o filho do Lorde Tiberius, ele teria morrido nas explosões — Beatrice disse, confusa —, será que ele mentiu?

— Não acho que mentiu — Thayron respondeu, puxando uma mulher para perto de si e a beijando também —, eu imaginei que Kaius iria continuar desenvolvendo as nossas pesquisas. Com certeza ele usou magia proibida para forjar a própria morte.

— Quer que eu volte lá e mande eles o caçarem? — a Bruxa perguntou, incomodada por ter levado informações erradas.

— Não precisa, Bea — ele disse, calmamente, e com um sinal, mandou que os servos e servas ficassem de pé, exibindo seus corpos nus —, olhe só que belos espécimes nós temos aqui! Venha se divertir com a gente!

— Talvez outra hora, amigo — ela recusou com um sorriso —, eu preciso me encontrar com uma liderança vampírica. Ao que parece, eles receberam notícias de um híbrido de Demônio, Lobisomem e Humano. Imagina o potencial desse rapaz, e imagina as experiências que você pode fazer com ele.

— Você trabalha demais amiga — ele disse enquanto se jogava no meio dos servos que haviam começado uma troca de carícias grupal.

— Alguém aqui precisa trabalhar — ela gritou.

— Mas que estraga prazeres! — ele gritou — Me dê ao menos uns dez minutos, e enquanto isso, vai comer algo, tá muito magrinha!

Sorrindo ela foi até a cozinha, onde um servo lhe serviu um prato com carne e pão. Olhando para o humano que trabalhava sem parar, limpando, servindo e arrumando, ela sentiu uma pontinha de pena. Imaginou como devia ser horrível ser privado de seu livre arbítrio, e era isso que Thayron fazia, usava a magia de controle mental espiritual, para retirar a vontade própria dos humanos que ela levava para ele. Ela comeu em silêncio, estava realmente com fome. Desde que seu amigo Necromante concluiu o planejamento, ela tem trabalhado incansavelmente para fazer dar certo, e não iria descansar até conseguir.

— Você não sabe o que perdeu! — Thayron disse, entrando na cozinha minutos depois, e sentando-se à mesa, foi servido de um omelete, que se apressou em comer — Eu poderia ficar aqui, sabe, com você e com os humanos que você me traz, mas nós merecemos muito mais. Esse híbrido pode ser a chave para o próximo passo na evolução dos magos, e eu vou mostrar que é possível, nem que tenha que empurrar-lhes as minhas experiências goela abaixo!

— Você é um conquistador, Thay — Beatrice disse, enquanto espera ele acabar de comer —, jamais conseguiria ficar aqui e deixar de lado tudo o que pode conquistar no mundo humano. Ainda mais sabendo que quem te baniu para cá, continua vivo e usando o que vocês descobriram juntos.

— Ah o Kaius — ele suspirou, depois de limpar a boca com um guardanapo —, eu era apaixonado por ele, mas ele não me notava. Eu já te falei isso?

— Só um milhão de vezes — ela disse, e ambos caíram na gargalhada, antes de saírem da cozinha rumo à reunião que Beatrice tinha mencionado antes 

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