17

Matt 

Aldeia dos goblins - Mundo sombrio

— Olá bonitão — uma criatura parecida com Grigg disse ao entrar pela porta sobre o ombro de uma grande criatura semelhante a Borgg que carregava algumas roupas e um grande balde com água. Elas pareciam ter a mesma interação dos dois, e se não fossem as roupas femininas e a maquiagem, Matt poderia achar que eram eles, pela forte semelhança —, trouxe roupas e água limpa para você tomar banho. Você não sabe o quanto foi difícil encontrar roupas…

— Espera um pouco — ela mesma se interrompeu com um grito repentino, fazendo o jovem se assustar e quase cair da cadeira onde estava sentado —, Você sequer tocou na comida que nós fizemos.

— Está vendo Gaaki — a pequena amarela continuou seu monólogo dramático, saltando do ombro da amiga gigante —, os outros tem razão, a nossa comida é tão sem graça, que nem viajantes famintos têm coragem de comê-la.  Eu nunca mais cozinharei novamente!

— Não é isso! — Matt disse, sentindo-se culpado — Tudo parece muito apetitoso, mas eu acho que estou preocupado demais com a minha família para ter fome.

— E a sua família iria gostar se você desmaiasse de fome? — a pequena perguntou, pulando em cima de uma cadeira — Eu imagino que não.

— Sei não Frigg — a grandona que foi chamada de Gaaki disse, se aproximando após despejar a água que estava no balde em uma banheira que Matt nem tinha reparado que havia ali —, mas parece desculpa para não comer o que a gente preparou. Realmente nós não servimos nem para fazer comida.

— Olha eu vou comer um pouco após o banho, está bem? — ele perguntou, desconcertado pelos olhares de súplica que ambas lhe lançavam — Eu prometo!

— Porque não come agora? — Frigg, perguntou e foi logo pegando uma travessa que tinha o que parecia ser uma torta e colocando à frente dele — Comece por isso!

Sem muita alternativa, Matt pegou os talheres, que inclusive lembravam os talheres que usavam em sua casa, porém, mais rústicos e se serviu de um pequeno pedaço. Sob os olhares agora ansiosos das duas, ele levou o alimento à boca e imediatamente se surpreendeu com a textura e o sabor. Era realmente um tipo de torta, com um recheio cremoso delicioso.

— Isso está maravilhoso! — ele exclamou enquanto se servia novamente. — Esse recheio é de quê?

— Qualquer dia desses nós te falamos — Frigg respondeu, mudando sua postura e expressão, para uma de triunfo.

— Já pode entrar, Grigg — ela continuou, agora gritando, pouco antes de Grigg e Borgg entrarem pela porta —, eu venci a aposta.

— Vocês fizeram chantagem emocional — o amarelo resmungou —, isso não vale.

— Você não estipulou regras, Grigguezinho — Gaaki rebateu —, então vale sim!

— Me ajuda aqui Borgg! — Grigg pediu auxílio ao amigo grandalhão.

— Grigg não estipulou regras — o grandão respondeu, fazendo as meninas rirem —, Borgg estava lá.

— Você está do lado de quem, afinal? — Grigg perguntou indignado — Você devia…

— De que aposta vocês estão falando? — Matt perguntou, interrompendo-os.

— Grigg disse que Matt estava com tanto medo que não comeria nada — Borgg se adiantou a explicar — e Frigg disse que iria comer, porque ninguém resiste à comida delas.

— E eu ganhei! — Frigg disse triunfante — A aposta era se ia comer ou não e o bonitão comeu.

— Está bem, o quarto é seu! — Grigg disse derrotado — Vou começar a tirar as minhas coisas.

— Você não está esquecendo nada? — a pequenina amarela perguntou, colocando as mãos na cintura como se estivesse impaciente.

— Grigg apostou o cajado também — Borgg disse fazendo o amigo olhar-lhe com desaprovação.

— Não podemos negociar? — Grigg implorou — Foi herança da mamãe!

— Eu vou te deixar ficar com ele com a condição de que nunca o aposte novamente — Frigg disse com a expressão séria —, aliás, com a condição de que nunca mais aposte nada.

— Vai me deixar ficar com o quarto também? — Grigg perguntou aliviado por não ter que entregar o cajado.

— Vai sonhando! — ela respondeu — Pode ir tirar as suas coisas do meu quarto já!

Matt sorriu com a cena, enquanto observava eles saindo da cabana e discutindo. Se lembrou de Lilly e de quando a provocava, só para vê-la sair do sério. Não sabia como tinha ido parar naquela confusão e nem a quanto tempo estava longe de casa, então Karen e Hugh deviam estar muito preocupados e sua irmãzinha devia estar arrasada.

Se as coisas que ele viu e estava vendo eram reais, então talvez ele também fosse uma dessas criaturas. Isso explicaria porque ele tinha apagões e rompantes de ira descontrolada, além do porquê de ele ter sido preso naquela cabana por uma caçadora.

Algo terrível veio à sua mente — e se ele se descontrolou e machucou eles? E se os matou e era isso que estava bloqueado em suas lembranças? — Agora ele estava com medo de se lembrar, mas fazia mais sentido do que ele queria que fizesse.

Levantou-se e caminhou até a banheira no canto do quarto e ao tocar a água percebeu que a temperatura estava agradavelmente morna. Não adiantava ficar se martirizando antecipadamente, então decidiu tomar um banho e tentar relaxar até que a anciã lhe trouxesse respostas.

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Cody 

Parlamento dos Magos - Mundo humano

 

 

No pátio principal do Parlamento, o cenário era de caos e morte. Alguns embates ainda aconteciam, mas foram rapidamente dissipados com a intervenção de Cody e dos outros pleiteadores da liderança.

O líder não pode deixar de reparar nos jovens em ação. Essa era realmente uma geração poderosa, como diziam os rumores. Vivi Spats, filha de Roger, usava sua manipulação sombria para anular alguns ataques dos inimigos, dando cobertura para que Letti Tiberius, a irmã de Philip, aplicasse os primeiros socorros aos feridos. No centro da batalha, como um tanque estava o jovem Ray Erick, que com sua magia de manipulação de terra, tinha revestido habilmente seu corpo com rochas, se tornando invulnerável aos ataques, e em um canto afastado, lutando lado a lado enquanto protegiam os recrutas desarmados, estavam Mandy Erick, irmã gêmea de Ray, manipuladora de vidro e Sue Michaels, filha de John, com sua magia de eletricidade.

Além dos jovens impetuosos que ele viu em ação, uma outra jovem chamou sua atenção. Anna Blake, filha de Irina Blake, a Oráculo que acompanhou Kenneth e Margareth Storm na fatídica missão diplomática que os vitimou. Todos os magos que foram nessa expedição foram mortos na emboscada. Além de Irina, Clóvis e Miranda Erick, pais dos gêmeos Ray e Mandy, perderam suas vidas.

Tanto os gêmeos, quanto Anna teriam direito a pleitear a liderança se não fossem apenas jovens de dezesseis anos, já que eram os remanescentes de sua linhagem mágica, sendo que os anciãos de suas famílias já eram membros do conselho dos Élderes.

Mesmo sabendo que esses guerreiros e guerreiras que perderam suas vidas naquela noite estavam cumprindo seus deveres, Cody não deixava de se sentir culpado, já que foi a sua mãe quem havia insistido no encontro. Essa não era a única mágoa que ele e Cathe guardavam de sua mãe. Margareth tinha escondido deles a sua natureza humana, e contava histórias inventadas de sua infância como maga, talvez para que eles não sofressem nenhum tipo de descriminação, ou algo parecido. Mas seu tio Klaus tratou de contar para eles toda a verdade.

— Senhor Líder, precisamos restaurar as barreiras, para que eles não possam entrar e nem usar armas — o comandante dos guardas disse, com tom de urgência — eles vão demorar algum tempo até o próximo ataque. Pelo visto o portal demora a ser carregado.

— Só o Phillip sabe manipular as barreiras — Cody respondeu, tentando pensar em uma alternativa —, mas ele está ocupado lá dentro.

— Senhor — uma voz feminina o chamou, e ao olhar na direção da mesma, ele viu que se tratava de Letti Tiberius, que havia acabado de prestar os primeiros socorros aos feridos e fazia uma reverência à sua frente —, eu não sou tão habilidosa quanto o meu irmão ainda, mas eu acho que consigo anular de vez as barreiras e, enquanto isso, dá tempo do Phill chegar.

— Pode ser uma boa ideia, assim os guardas podem se defender usando armas — Cody respondeu —, mas pode ter inimigos lá fazendo a escolta das barreiras. Você não pode ir sozinha, chame eles para irem com você — ele apontou para os jovens que haviam vencido suas batalhas e estavam empolgados enquanto Ray contava vantagem de como estava bom em matar vampiros.

— Perdão, senhor — ela disse, levantando-se —, mas não acho que tenho essa autoridade de delegar-lhes a tarefa.

— Tem razão — Cody disse sorrindo, e com um aceno, a chamou e seguiu até onde os jovens estavam.

— Ray Erick — ele disse ao jovem assim que chegou perto, interrompendo a empolgação dele, e fazendo-o se virar em uma reverência junto dos demais —, é realmente impressionante a sua força, assim como a habilidade de todos vocês. À Letty Tiberius foi delegada a função de desativar as barreiras que estão corrompidas, e preciso que a sigam e a protejam caso precise. Posso contar com vocês?

— Sim senhor — todos eles responderam em uníssono e então seguiram Letti para a área das barreiras, que ficava do outro lado do parlamento.

— Devemos nos preparar, Cody — Roger disse, se aproximando e colocando a mão no ombro dele —, pelo que os guardas falaram, o intervalo entre um ataque e outro não é longo, e não podemos ser pegos de surpresa.

— Vamos preparar o terreno então! — ele disse, e com a mão, chamou um dos guardas que estava ali desde o início — Onde exatamente os portais se abrem? — perguntou, quando o homem se aproximou.

— Eles aparecem em locais variados, senhor — o soldado disse —, tivemos quatro ataques, sendo que o primeiro portal se abriu próximo ao portão, na segunda vez, avançou alguns metros à frente, na terceira apareceu no centro do pátios, e na última apenas se deslocou para a direita do centro.

— O centro deve ser o alcance máximo das criaturas que estão manipulando os portais — Cody disse, enfim, após pensar um pouco —, então precisamos de armadilhas no perímetro onde eles podem surgir, assim vamos reduzir a força deles no momento em que aparecerem.

Seguido por Roger e John, Cody começou a produzir as armadilhas. Usando a sua magia das sombras, Roger fez alguns buracos no chão pelo perímetro. Em alguns, Cody conjurou estacas de gelo afiadas que empalariam os inimigos assim que pulassem dos portais, e em outros, John fez surgir redes elétricas poderosas, que fritariam qualquer coisa que as tocasse. Roger também deixou uma névoa sombria que cegaria temporariamente os inimigos, facilitando a queda nas armadilhas, além de os deixar incapacitados de se defender de outros ataques caso escapassem dos obstáculos.

— Agora descansem um pouco, amigos — Cody disse, vendo que os dois magos mais velhos haviam gastado muita energia nas armadilhas —, precisamos estar recuperados no momento do ataque.

— Senhor líder! — uma voz alarmada chamou, vinda de um canto do pátio, e olhando na direção de onde veio, Cody viu que era Anna Blake, e que ela estava com um olhar de urgência.

— Você viu algo? — John perguntou, se aproximando dela.

— Haverá um ataque na área das barreiras — ela disse, com lágrimas nos olhos —, eu vi magos mortos lá.

— São nossos filhos, senhor — Roger disse, preocupado —, o que faremos?

— Vocês dois vão! — Cody disse sem pensar muito —, com ajuda das armadilhas, eu seguro eles aqui.

— Mas, a nossa prioridade é proteger o senhor, Líder! — John disse, visivelmente dividido entre o dever do juramento e a preocupação com sua filha.

— Isso é uma ordem, senhores — Cody disse com tom sério, mas um olhar de cumplicidade —, protejam nossos jovens!

Sem questionar, Roger e John partiram para a área das barreiras, para se juntar aos jovens.

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Vampiros 

Floresta proxima às minas - Mundo humano

 

 

O exército vampiro marchava decidido, valendo-se das brumas da noite fria. Eram pelo menos cinquenta soldados fortemente armados com armas mágicas de diversos modelos. Se aproximavam da região das Minas, onde o oráculo disse que se localizava o refúgio da resistência.

O trato era simples — eles forneceriam vampiros recém transformados para os caçadores matarem e justificarem o gasto das armas, que seriam fornecidas a eles com a condição de que acabassem com os chamados Anjos da Resistência, que estavam ficando cada vez mais fortes e atrapalhavam os negócios.

Um GPS com as coordenadas os guiava, e dizia que estavam a pouco mais de um quilômetros da cadeia de montanhas, mas se era uma cadeia de montanhas, porque não podiam vê-las ainda? A floresta era relativamente fechada, mas o caminho em si era uma linha reta, e dessa forma, tinham que estar avistando as montanhas no horizonte.

— Essa merda deve estar com defeito — disse o Vampiro que levava o navegador —, já para estarmos vendo as montanhas!

— Tem alguma coisa errada — o líder deles disse, ordenando que parassem com um aceno. Estavam a poucos metros do fim da cadeia de árvores e um grande descampado que parecia sem fim estava à frente. Receoso, ele seguiu sozinho até sair do meio das árvores, e enfim viu a cadeia de montanhas que devia ser o local onde as minas estavam, o que o fez dar um leve sorriso, que se desfez assim que ele viu um raio de luz brotar vagarosamente entre as rochas.

Imediatamente, ele percebeu que se tratava da luz do sol, e começou a voltar apressadamente para a floresta. Ao verem o líder voltando desesperado, os demais vampiros olharam além de onde ele estava, e viram a luz do sol avançando em direção a eles.

— Armem a cobertura, rápido — o líder gritou, sabendo que a proteção das árvores não seria suficiente para protegê-los.

— Mas senhor, isso não tem lógica! — o vampiro que estava com o navegador disse, sem entender o porquê daquela luz — Ainda é noite.

— Você também está vendo isso não está, Vicenzo — o líder disse, segurando-o pelos ombros enquanto os outros vampiros construíam a cobertura com auxílio das árvores —, se quiser pode ficar aí com sua lógica, pois, eu é que não irei arriscar!

A menos de um quilômetro deles, Peter observava, usando a mira de um canhão de raios ultravioleta, torcendo para que a Ilusão de Vyk durasse tempo suficiente para os reforços chegarem. Caso algum vampiro ameaçasse sair para comprovar, ele o acertaria com o pulso do canhão, fazendo com que ele se desintegrasse, como aconteceria se fosse atingido pela luz solar de verdade.

Ele contava com o medo dos vampiros, porque a carga da arma, daquela distância, só daria para disparar duas vezes, então se saíssem três vampiros para verificar, o plano iria por água abaixo.

— Estão nos fazendo de idiotas, senhor — Vicenzo disse ao lider, já debaixo da cobertura improvisada, olhando novamente para o navegador e depois para o clarão que já alcançava o início da floresta —, não sei como estão fazendo isso, mas deve ser algum truque. Eu irei lá fora, não vou deixar me enganar assim!

— Não vai não, seu idiota — O líder disse, segurando-o pelo braço —, você é o único que sabe mexer com a tecnologia das armas e se precisarmos de alguma manutenção, só você que poderá fazer.

— Fabrizio, Lorenzo  — o líder gritou, para dois soldados — Vão até a entrada da floresta e verifiquem a veracidade daquela luz.

— Sim senhor! — os vampiros disseram, e, mesmo hesitantes, saíram da proteção. Com passos temerosos, eles seguiram até a linha que a luz fazia, e que avançava à medida em que o sol subia no céu.

Os dois se mantiveram parados, como se tomassem coragem para testar se a luz era real, mas antes que pudessem decidir, a luz avançou, como se uma nuvem espessa tivesse saído da frente do sol, e ao tocar a pele deles, os fez se desintegrarem instantaneamente.

— Na-não é possível — Vicenzo disse, ao ver a cena —, devia ser noite ainda, então de onde veio esse sol?

— Eu não sei, que porra de sol é esse — o Líder disse, aterrorizado com o fato de que em breve estariam cercados pelo sol, e que seriam alvos fáceis para os inimigos —, mas sei que ele mata a gente, e a menos que ele desapareça novamente, nós não poderemos atacar e nem recuar.

Aproveitando o sucesso parcial da estratégia de Peter e Vyk, Eileen e Cam coordenavam a retirada, organizando os mantimentos e bagagens com a ajuda de outros refugiados, e Nath se concentrava, usando um amplificador de poder, para criar um portal para as coordenadas que a Mãe havia lhe deixado.

Tinham muito trabalho pela frente e trabalhavam o mais rápido que podiam, mas estavam dependendo do sucesso da ilusão de Vyk e do retorno dos demais Anjos da Resistência.

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