10
Matt
Cabana na floresta - Mundo sombrio
— Não, não, não — Matt se desesperou ao vê-la perdendo a consciência —, você não pode apagar aqui e me deixar sem respostas!
— Parece que ela já apagou! — uma voz aguda e esganiçada disse, vinda do buraco que se abriu na parede e olhando para o dono da voz, o jovem se assustou ao ver uma criatura pequena e amarela com orelhas grandes, queixo e nariz pontudos e olhos grandes e expressivos, ao lado de outra que era gigantesca e robusta, com o corpo coberto de pelos semelhante ao de um urso, mas com feições parecidas com as da primeira.
— Vo-vocês fa-falam? — ele perguntou, quase soltando o corpo da jovem no chão.
— E parece que você escuta, né? — o pequenino disse ironicamente, visivelmente desconfortável com o modo como o jovem os olhava — Sinal que somos saudáveis. Mas já que falamos e escutamos, que tal me dizer quem são vocês e porquê essa caçadora ajudou a gente?
— Eu devo estar ficando louco — Matt disse para si mesmo, ignorando o fato de estar com aquela jovem desacordada nos braços e aqueles seres estranhos na sua frente —, alguém deve ter colocado droga na minha bebida. Eu realmente devo estar em uma banheira de gelo sem um dos rins.
— Ou talvez eu esteja morto — continuou, começando a adquirir um tom histérico na voz —, só pode ser isso, eu morri e esse é o inferno ou algum lugar onde as almas vão e…
— Não é hora para perder a cabeça — ele foi interrompido pelo pequenino e amarelo ser, que se aproximou no ombro do gigante peludo e lhe deu um tapa no rosto que o fez precisar se equilibrar para não soltar a moça —, aquele Ogro que fugiu vai mandar mais soldados para procurar vocês e, sem ela, serão alvos fáceis. Vamos levá-los para a nossa vila e talvez os anciões os deixem se esconder lá enquanto ela se recupera.
— Vo-você disse talvez? — ele perguntou recobrando o foco, mas ainda em desespero.
— Sim — o pequenino respondeu indiferente —, o mais provável é que matem vocês dois para preservar a segurança do nosso povo, mas devemos tentar.
— Borgg não deixa matar a salvadora, Grigg! — disse o gigante peludo, com um sorriso e um tom gentil, que fez Matt se acalmar um pouco e entregar a jovem desfalecida para ele, que a pegou com facilidade e a colocou nos ombros.
— Vamos rápido então — o pequenino que se chamava Grigg disse —, fique perto de nós amigo da caçadora, e deixa que eu falo quando chegar na vila.
— Meu nome é Matt — ele disse, após acenar positivamente com a cabeça —, e eu não sou amigo dela, aliás nem sei quem ela é!
— Ela arriscou a vida por você, Matt — Borgg disse, já de costas e caminhando para a saída —, então sua inimiga ela não deve ser!
— Nossa, isso foi profundo, Borgg! — Matt ouviu Grigg dizer enquanto eles se distanciavam levando a jovem e sem pensar mais se apressou em seguí-los — Você devia escrever essas coisas!
— Borgg não sabe escrever! — o gigante respondeu e ambas as criaturas começaram a rir divertidamente, como se tivessem contado uma piada interna. E seguiram conversando com o jovem os seguindo de perto, admirado e assustado com a paisagem do lugar onde estava. A atmosfera era sufocante, como se estivesse em uma altitude muito elevada, ou vários metros embaixo d'água. Aquele não era o seu mundo, e ele nunca tinha sentido nada parecido.
Após caminhar por um tempo através da floresta, eles chegaram à um pântano fétido de textura lodosa e gosmenta, que parecia cobrir alguns quilômetros e que Matt imaginou ser impossível atravessar, pois as bolhas enfumaçadas que se formavam na superfície davam a entender que a substância que formava a charneca estava fervendo o tempo todo.
— Chegamos! — Grigg disse, pulando do ombro de Borgg e pousando com facilidade no chão, como se não tivesse peso algum.
— Como assim chegamos? — Matt perguntou confuso — A vila é esse pântano?
— Borgg gosta de Matt — o gigante disse rindo alto e sendo acompanhado pelo pequenino —, você é engraçado!
— Sua ignorância é divertida, Matt — disse Grigg que estendendo a mão fez materializar uma espécie de cajado de madeira que mais parecia um galho de árvore retorcido —, mas relaxa aí, e observa a magia acontecer.
Milagrosamente a paisagem do pântano começou a mudar, e aos poucos uma vila com pequenas porém charmosas construções começou a surgir no lugar do líquido viscoso e até o fedor foi se dissipando à medida em que caminhavam pela estrada de chão que surgiu.
— Borgg, Grigg, se afastem deles e coloquem a caçadora no chão! — uma voz imponente ecoou chamando a atenção deles e olhando ao redor, Matt se viu cercado por criaturas semelhantes à Grigg sobre os ombros de criaturas semelhantes a Borgg, porém bem mais intimidadoras e sérias que os dois. Os pequenos seguravam lanças, arcos e outras armas de longo alcance, enquanto os grandes portavam grande machados, martelos e clavas rústicas.
— Caçadora salvou Borgg e Borgg vai proteger caçadora! — Matt viu o gigante dizer após sua expressão mudar para uma mais feroz, que ele não havia visto antes. — Se Krugg for matar ela, vai ter que matar Borgg também!
— Que seja então! — Krugg retesou a corda do arco e se preparou para atirar, mas uma voz feminina mais velha o fez interromper a ação.
— Acalmem-se jovens! — Matt viu uma figura se aproximar e todas as criaturas se curvarem e se ajoelharem assim que a viram. Ela se parecia com Grigg, porém tinha uma pele vermelha ao invés de amarela e era mais alta. Aparentava ter mais ou menos um metro e sessenta de altura e esbanjava sabedoria em seu olhar e em seu tom de voz. — Ninguém precisa morrer!
— Mas ela é uma caçadora, anciã — Krugg protestou, ainda de joelhos —, não podemos arriscar que encontrem a nossa vila.
— Alguma vez eu errei em minhas decisões, jovem comandante? — ela perguntou, calmamente se aproximando de Borgg e examinando a jovem que estava desacordada em seu ombro.
— Não, senhora — o comandante respondeu baixando a cabeça —, peço-lhe perdão, mas é que eles não deviam estar aqui.
— Eu entendo a sua preocupação — ela disse agora olhando diretamente para Matt que abaixou o olhar, sentindo a presença dominante e ilustre dela —, mas ao que parece, aqui é exatamente onde eles devem estar!
— Venha comigo, jovem — ela disse, dirigindo a palavra para Matt, que sequer conseguia olhar em seus olhos —, imagino que você tem muitas perguntas, mas você precisa se alimentar. Depois de cuidar da caçadora eu quero conversar com você.
— Sim senhora! — foi a única coisa que ele conseguiu responder e então a seguiu na direção de uma cabana que ficava na parte mais alta da aldeia, enquanto Borgg levava a jovem que eles chamaram de caçadora, e com a qual estava estranhamente preocupado, para outra cabana.
Ele não sabia nada sobre ela, a não ser que foi ela quem o prendeu naquela cama. Precisava saber porque estava preso e porque não se lembrava de nada. Tinha que voltar pra casa ou ao menos avisar alguém que estava bem, afinal Lilly, Karen e Hugh deviam estar bem preocupados, ainda mais por que não sabia por quanto tempo estava fora.
Após ter uma fase problemática na adolescência, ele tinha prometido a si mesmo nunca mais dar desgosto a eles, já que o adotaram e sempre o trataram com muito amor e só de pensar que poderiam estar angustiados com a falta de notícias já se sentia extremamente culpado.
Mas na atual situação, não tinha muito o que podia fazer, então decidiu apenas aceitar a oferta da senhora que parecia ser a rainha das criaturas estranhas e do lugar estranho onde estava agora.
— Nós somos estranhos pra você, e você é estranho para nós, Matt — a senhora disse enquanto eles caminhavam, o pegando de surpresa por ser exatamente o que ele estava pensando e por ela saber seu nome —, e o que é estranho sempre nos assusta. Eu não vou mentir, jovem, o que está bloqueado na sua mente não é nada bom e talvez por isso que você o tenha bloqueado. Tem certeza de que quer se lembrar?
— Na verdade, não tenho certeza — ele respondeu —, mas eu sei que preciso!
— Entre e coma, por favor! — ela disse abrindo a porta que dava para uma sala com uma mesa farta — Assim que eu cuidar da moça, eu voltarei para conversarmos, e caso demore, tente dormir um pouco.
Sem dizer nada, ele entrou na sala e se sentou à mesa. Toda aquela comida parecia deliciosa, mas ele não tinha apetite. Ia apenas esperar a senhora voltar com suas respostas.
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