A vingança de Amélia


Depois que Vicente e Amélia se casaram, por dois anos eles economizaram, até que compraram uma residência.
Era uma cabana simples, mas confortável, diga-se de passagem, um lugar habitável, com o mínimo para a vivência.

Importante também é frisar, como era o lugar onde essa casa ficava.
Em uma vila modesta, às margens de uma floresta, que praticamente a rodeava.

A construção já era bem idosa, mas até que ficou bem charmosa depois que Amélia a arrumou
E Vicente, que sempre foi muito prendado, sabia fazer de tudo um bocado e um trabalho logo encontrou.

Eles eram novos na vizinhança, e era natural ter desconfiança com quem era recém chegado.
Mas Amélia logo se incomodou quando uma mulher na feira, a olhou de um modo atravessado.

— Posso ajudá-la de alguma maneira? Amélia tratou de ser ligeira e perguntou para a senhora.
E a dona, sem educação, lançou-lhe apenas um ríspido "não" e tratou de ir embora.

Ela ficou sem entender, o que estava a acontecer, e preferiu ignorar.
Mas enquanto pela rua andava, ela ainda cismava, que todos estavam a olhar.

Mais tarde já recolhida, na cama pensando na vida, ao marido ela perguntou:
Se alguém o olhou de modo estranho enquanto cuidava do rebanho, no trabalho que arrumou.

Ele disse não ter reparado de fato, mas na verdade teve pouco contato com pessoas durante o expediente
E pediu para ela ficar tranquila, pois, era por serem novos na vila, e que isso mudaria mais para frente

Acontece que o tempo passou, e para Amélia nada mudou, o que para ela não fazia sentido.
Até que uma praga sobre a lavoura se abateu, e todo rebanho da vila morreu, então Vicente foi demitido.

Em casa ele se surpreendeu, já que nenhum dos seus animais morreu, como aconteceu com todo o resto do rebanho.
Sua plantação também estava perfeita, enquanto no resto da vila, não haveria colheita, e isso sim era estranho.

Então ele resolveu investigar o que havia de diferente naquele lugar, onde resolveu morar com sua amada.
Mas ao voltar para o centro do povoado, se deparou com um amontoado de gente bem revoltada.

Indignados com tamanha desgraça, os moradores se reuniram na praça, falando que era a maldição.
E que deviam imediatamente, reunir toda a gente, para fazer a expiação.

Uma beata levantou a voz, dizendo que o verdadeiro algoz era a bruxa da casa velha.
E quase que imediatamente, o nosso querido Vicente, viu que falavam de Amélia.

Ainda sem entender direito, sentiu o coração pular no peito e observou com os olhos arregalados.
Quando a enlouquecida multidão, começou uma distribuição de tochas, foices e forcados.

Era impossível para Vicente, que toda aquela gente, pudesse querer fazer mal à sua amada.
Mas se lembrou que em sua propriedade, não teve praga como na cidade, e isso poderia declarar Amélia culpada.

Amélia não era envolvida com bruxaria, isso ele sabia, mas ninguém ali os conhecia intimamente.
Mas quando quis correr para avisar, sentiu algo o golpear e caiu inconsciente.

Em casa, sem saber de nada, Amélia estava preocupada, com a demora do marido.
Talvez voltando do trabalho, tenha decidido pegar um atalho, e tivesse se perdido.

Cansada de esperar, decidiu sair para procurar e entrou na floresta sinistra.
Mas naquela escuridão, mesmo com a lamparina na mão, não podia ter uma boa vista.

Ela estava apavorada, mas seguiu obstinada a encontrar o seu amado.
Então ouviu um pedido de socorro urgente, e era a voz de Vicente, que parecia estar machucado.

Saiu em disparada, sem pensar em mais nada, na direção do grito.
E chegando em um descampado, pela lua iluminado, viu Vicente todo aflito.

Ele estava em um tronco, sentado, com o rosto nas mãos enterrado, e ela soube que algo ruim aconteceu.
Tocando em sua mão, ela começou a ter uma visão e foi aí que ela entendeu.

Vicente foi agredido e levado até um altar improvisado, como se fosse um animal.
Ele também foi despido, para ser oferecido em uma espécie de ritual.

Amélia viu desesperada, sem poder fazer nada, seu marido ser imolado.
Depois erguido em uma pira, e ao som de uma lira, teve seu corpo queimado.

Aquele ali na sua frente, não era seu amado Vicente, só seu espírito desencarnado.
E mesmo com a dor em seu peito, ela sabia o que deveria ser feito e seu marido seria vingado.

Estranhamente calma, Amélia ofereceu seu corpo e sua alma, pois, era a única maneira.
E, ficando completamente nua, banhada pela luz da lua, foi possuída naquela clareira.

Passou-se algum tempo, após aquele evento, e a vida na vila voltou ao normal.
A “bruxa” havia ido embora, e eles pensavam que agora estavam livres de todo mal.

O rebanho se restabeleceu, a produção na lavoura cresceu e a vila estava feliz.
Sequer imaginavam, que a paz de que desfrutavam, estava por um triz.

Na próxima virada da lua, o povo saiu para a rua para as comemorações.
Mal se lembravam do casal, ao qual fizeram tanto mal com suas terríveis ações.

Mas gerando um grande espanto, a lua surgiu com um manto espesso e cor de carmim.
Naquela noite vermelha e fria, aquela gente mal sabia, que este seria o seu fim.

No meio da oração, o sacerdote teve o coração, arrancado de dentro do peito.
A cabeça caiu a rolar e o sangue jorrou sem parar, após um corte perfeito.

Sem dar chance para ninguém, a sombra seguiu também esquartejando todos sem dó.
Alguns em combustão espontânea, quase de forma instantânea acabavam virando pó.

Vermelhas ficaram as fontes, e corpos caíam aos montes, era uma grande carnificina.
E enquanto havia gente com vida, a criatura enegrecida, não completou a sua sina.

A vila abandonada, com o tempo foi tomada e pela floresta engolida.
A civilização que ali existiu, simplesmente sumiu e por todos foi esquecida.

Amélia se viu em uma estrada, sem se lembrar de nada, e recebeu ajuda de um casal de idosos.
Que nada lhe perguntou, apenas a ajudou, por serem gentis e generosos.

O casal não tinha herdeiro, e havia juntado dinheiro, para comprarem uma fazenda de animais.
Aceitaram dar-lhe um lar, já que ela podia ajudar com os trabalhos braçais.

Um tempo depois ela desesperada, disse estar com a regra atrasada e que a sua barriga cresceu.
A senhora sabia o que era e depois de uns meses de espera, um lindo menino nasceu.

Era uma linda criança, que trazia consigo a esperança e Amélia tinha um nome em mente.
Com olhos marejados e o coração em festa, ela deu-lhe um beijo na testa e então lhe chamou de Vicente.

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