Tião - @ZildaMariano
Romeu foi sequestrado. Que interesse alguém teria em raptar um vira-latas que não vale um centavo, avança nas visitas e nunca faz xixi no lugar certo?
Só sei que o bilhete estava embaixo da tigela de ração, mandando que eu estivesse às 10h da noite no Lago das Capivaras, esperando por novas instruções. Lá estava eu: casaco, botas e pé de cabra. Frio do cão e eu só quero recuperar o meu.
O vento gelado estava para derrubar meu nariz, quando uma menina loira, branca como a lua apareceu na minha frente, sem que eu percebesse de onde veio.
_ Meu irmão foi feito prisioneiro. Ajuda a gente!
_ Foi você quem levou meu cachorro?
_ Não fique brava, moça! Ajuda o Tião e eu devolvo o bichinho.
Segui a menina até um casebre que nunca tinha visto por ali. Na casa paupérrima, os barulhos de pancada na madeira das paredes eram ouvidos de longe. Arrebentei a porta da sala e depois do quarto, e o rapaz estava lá. Nu, encolhido no chão, as mãos sangrando das tentativas de escapar.
Cobri o garoto com o casaco e senti um cheiro bom vindo da cozinha externa. Uma velha grisalha cozinhava no fogão a lenha.
_ Por que o menino estava preso?
Ela me lançou um sorriso desdentado e me estendeu o lanche mexicano.
_ Era para o bem da cidade, moça.
_ Mas o que ele iria fazer? – perguntei, mordendo o burrito.
_ Hoje é noite de lua cheia. Não sabe da lenda?
_Desculpa, não compartilho dessas crendices.
Mal afirmei e o uivo encheu o ambiente. Meu casaco jazia no chão ao lado de um enorme lobisomem cinza. A menininha tinha os dentes pontiagudos e os olhos vermelhos. Ainda apavorada, reconheci a pele branca e preta do Romeu curtindo na cerca. Não era chili no burrito, era a carne do meu melhor amigo.
Esse foi o meu último pensamento na vida.
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